quarta-feira, novembro 24, 2004

Política e Hipocrisia

Suha, a viúva de Arafat, receberá para além de uma soma avultada de dinheiro uma pensão mensal de 100 mil euros
Comunicão Social


Política e Hipocrisia


O conflito israelo-palestiniano e o Médio Oriente continuam temas obrigatórios dos telejornais mundiais. Tal o manancial de notícias que proporcionam e a importância que têm para a paz e a estabilidade no mundo.

A morte inesperada de Yasser Arafat congregou, por conseguinte, as atenções mundiais. Tanto mais que gerou um verdadeiro fenómeno mediático em França, com romarias fora do hospital aonde passou os últimos dias de vida.

E, como não poderia deixar de ser, não passou despercebida a luta de bastidores que teve lugar ao redor do seu leito de morte com a futura viúva a dirigir acusações graves à Autoridade Palestiniana. Que levaram, inclusivé, a um adiamento da viagem que o primeiro ministro palestiniano viria a fazer a Paris.

Acusações que tiveram a ver com uma hipotética usurpação de poder e que atingiram o mau gosto de falar no desejo dos outros líderes e companheiros de Arafat o pretenderem “enterrar vivo”. Tudo isto enquanto que a Autoridade Plestiniana reunia, pela primeira vez em 10 anos, com a cadeira do líder supremo vazia.

Mais eis que - quando tudo parecia comprometido - a serenidade volta ao redor do leito do líder agonizante e Suha Arafat recebe “carinhosamente” a delegação governamental palestiniana autorizando que o primeiro-ministro Ahmed Qurei veja o seu Presidente.

Depois o resto é conhecido. Arafat morre, finalmente, em Paris tendo um funeral de estado no Egipto e um funeral popular em Ramallah. Estando a viúva presente no primeiro e ausente no segundo. Enquanto nos mercados da Cisjordânia se ouvem “delirantes historias de intriga, suspense e traição”.

E a vida continua como a daquela família dos arredores de Ramallah que quase subsiste apenas de uma refeição diária de tomate frito e que não vê carne há mais de um ano mercê da falta de emprego, num ambiente de total desalento que a morte de Arafat só veio aumentar.

Lá longe em Paris, aonde já regressou, Suha Arafat volta à sua vida com uma pensão mensal que ronda os cem mil euros e que foi objecto da negociação efectuada em Paris. E que terá sido essencial para o fim sereno do resto da história.

Não cabe no âmbito desta crónica avaliar os méritos ou deméritos de Yasser Arafat como líder dos palestinianos. Desses se encarregará a história e o distanciamento que é necessário existir. Sendo certo que a sua personalidade moldou grandemente, nos últimos 40 anos, a face do Médio Oriente.

Cabe antes atentar na miséria profunda e nos graves problemas sociais que se vivem na faixa de Gaza e na Cisjordânia aonde jovens desesperados fazem fila para se fazerem explodir e conquistarem o estatuto de “mártires” numa escalada de violência sem precedentes.

E questionar como é possível que à sombra de um figura idolatrada por tantos se façam negociatas milionárias que vêm dar um toque de opereta bizarra ao destino de um povo tão carenciado e tão urgentemente necessitado de encontrar o caminho da paz e do progresso.

Quanta comida ou medicamentos se poderiam comprar para os bairros pobres de Gaza e da Cisjordânia com cem mil euros mensais?


P E D R O D A M A S C E N O





quarta-feira, outubro 27, 2004

Hotel do Canal


Hotel do Canal
Um bom exemplo


Em diversas ocasiões e de várias maneiras temos tido oportunidade de defender um conceito de turismo à escala dos Açores e que vise, primordialmente, dar novas oportunidades de negócio aos pequenos investidores açorianos. A favor de um crescimento verdadeiramente sustentável.

Embora defendamos um turismo de pequenas unidades, sobretudo nesta área do arquipélago, temos plena consciência de que os nossos centros urbanos têm necessidade da existência de hotéis de média dimensão que venham dar consistência e escala à nossa oferta. Questionando, embora, a dimensão de alguns hotéis que foram construídos bem como a sua proliferação excessiva.

Sendo um dado assente que a Região jamais será um destino de massas porque para isso não tem condições (sol e praia) e sendo certo que a época dos grandes grupos declina a favor de pequenos grupos e individuais não faz sentido a construção de grandes hotéis iguais aos que fazem em todo o lado.

Bem como não faz sentido que se caminhe para um excesso de unidades numa determinada área o que poderá ter como consequência a necessidade de ,a prazo, proceder a demolições! Como ainda recentemente aconteceu no município de Calvia em Maiorca aonde foi necessário demolir hotéis como única forma de reabilitar a zona costeira e atrair um turismo de mais qualidade!

A experiência de erros acumulados em matéria de desenvolvimento turístico, mesmo no nosso país, deverá ser suficiente para impedir o avanço para um figurino de turismo standardizado e despersonalizado que nada tem a ver com a nosso produto principal – a natureza. Impedindo desse modo soluções que em vez de valorizarem o nosso património, o agridem.

Por tudo isto a construção do novo Hotel do Canal na Ilha do Faial constitui um bom precedente. Sendo um hotel tradicional de média dimensão conseguiu valorizar uma zona da cidade da Horta que se encontrava relativamente abandonada e sem qualquer função útil. Conseguindo resolver, a nosso ver, bem o espaço entre o edifício da capitania e a igreja e constituindo-se num bom exemplo de integração urbana.

Tendo mencionado este exemplo a várias pessoas, algumas habitualmente atentas, tive a surpresa de me dizerem que – por acaso – ainda não tinham reparado! Nada por acaso, diria agora, porque de facto essas pessoas não repararam porque o hotel esta efectivamente bem integrado, quer em termos volumétricos quer em termos tipológicos.

O exterior embora discreto, casa alguma modernidade com o tradicional da envolvente. E por dentro tira o máximo partido da vista sobre o canal e o Pico que são, realmente, os dois grandes atributos da sua localização. Conseguindo assim uma unidade que, embora de hotelaria tradicional, conseguiu “fugir” a modernismos excessivos para encher o olho.

E não enchendo o olho consegue passar despercebido e ajudar a Horta a manter o seu carácter de pequena e simpática cidade açoriana, cativando, simultaneamente, um mercado que procura, crescentemente, hotéis interessantes e amigos do património em vez de hotéis “espectaculares” que ninguém espera nem deseja neste, ainda, paraíso atlântico.

Estão de parabéns os seus promotores e o seu projectista.


P E D R O D A M A S C E N O







terça-feira, outubro 19, 2004

Líderes Descartáveis

Pode-se saber muito e não se ter sabedoria, porque entre o conhecimento e a acção há um abismo.
Jacques Derrida


Líderes descartáveis
O consumismo já chegou à política?



Para orgulho de todos nós as eleições legislativas regionais decorreram com total normalidade e civismo e tiverem um desfecho, também, perfeitamente normal. Um partido ganhou e vai formar governo, outros tiveram menor votação e terão, a seu cargo, a oposição.

Á frente do partido ganhador está um político experiente quer do lado da oposição quer do lado do poder. Na liderança da coligação que ficou remetida para a oposição estava um jovem mas experiente político com a clara ambição de ser Presidente do Governo Regional.

Como é normal em democracia uns ganharam e outros perderam. Sem dramas e de forma suficientemente clara para que não ficassem dúvidas sobre a opção do eleitorado. Depois de uma campanha muita viva e em que todas as partes usaram de meios robustos para fazerem passar as respectivas mensagens.

É, pois, completamente surrealista que o - até há pouco horas antes - candidato alternativo a presidente do governo se demita no calor dos resultados. Como se o seu prazo de validade fosse uma eleição regional e depois é para deitar fora. Uma forma descartável de fazer política ou então, o que ainda é pior, um lider descartável!

Atitude que ainda poderia ter algum fundamento se tivesse sido o partido de que era líder a ter questionado a eficácia da sua estratégia ou a bondade da sua liderança. Mas, tanto quanto é dado saber, nada disso aconteceu, bem pelo contrário, sendo inúmeras as personalidades partidárias que insistiram e insistem para que se mantenha no seu posto.


Fica, portanto, a ideia de que se demitiu porque não lhe deram o brinquedo que pretendia. Não porque porque tivesse um projecto governativo alternativo devidamente estruturado e credível. Se assim fosse teria, apenas, que se dedicar, ainda com mais afinco, à luta política enquanto líder desse projecto.

Personalidades tão diferentes como Miterrand, Mandela ou Lula souberam lutar e esperar pela sua oportunidade. Porque haveria um jovem político açoriano de ser diferente? Apenas porque teria que enfrentar, como derrotado, um parlamento que lhe será, maioritariamente, hostil? Por mera falta de autoestima? Ou por ter chegado ao fim do prazo de validade?

A credibilidade da política e dos políticos não anda de boa saúde. Exactamente por episódios como este que trazem para a arena política o bicho feroz do consumismo - usar já e deitar fora. Para a próxima haverá mais e mais moderno: moda atrás de moda vem!

Depois do “fast food” e da epidemia do telemóvel o que nos faltava, mesmo, eram líderes políticos descartáveis. Parece que o consumismo chegou, de armas e bagagens, à política.



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quarta-feira, setembro 29, 2004

Eleições

A credulidade dos tolos é o património dos velhacos
Ditado Popular


E L E I Ç Õ E S


Aí estão – as eleições. Já se sente o cheiro e já se vêem os cartazes, sobretudo aqueles de não sei quantos metros que nem a nossa paisagem poupam e que vieram, pelos vistos, para ficar. E que vamos ter que gramar quer chova quer troveje.

Chegou o circo e as tendas já estão a ser montadas. O circo mediático aí está e não faltam, sequer, palhaços, acrobatas e mágicos! Virão, também, os artistas convidados, a música, os confetis e os balões. E as televisões farão directos e as habituais fofocas.

E bem lá por trás, num plano bem secundário, haverá conversas e promessas. Mas que serão muito abafadas pelas pancadinhas nas costas, pelos beijinhos e pelos porta a porta que quase cheiram a visitas de seitas que disso fazem vida e missão.

E, quase com toda a certeza, os assuntos verdadeiramente importantes ficarão, mais uma vez, por discutir. Tentar-se-á fazer num mês o diálogo e comunicação que se deveria ter feito em quatro anos. Todos procurarão o melhor sorriso e o charme adequado e muitos fugirão, como o diabo da cruz, do debate frontal e fundamentado.

O que sendo verdade cá, é verdade por todo lado aonde se vive este menor dos males a que chamamos democracia que até consegue pôr no poder quem teve menos votos! Democracia dos votos manipulados, comprados e oportunistas que põe, em pé de igualdade, com os votos sérios, esclarecidos e comprometidos.

Como em tudo na vida, há gente séria e capaz na política como há, também, os profissionais da demagogia e do oportunismo que aí encontram refúgio para a sua mediocridade e para a incapacidade de terem uma vida própria. Um bom paleio misturado com uma boa dose de desfaçatez e velhacaria ainda consegue fazer, nas nossa terras, um “bom” político.

Por tudo isto a política perde popularidade. Por tudo isto é crescente a abstenção sobretudo entre os jovens que, não tendo grandes convicções, não se sentem motivados para participar em actos que pouco lhe dizem, em termos práticos. A um excesso de “afecto” e proximidade das campanhas eleitorais sucede o afastamento e o alheamento, com as devidas e honrosas excepções.

Sendo estas eleições de âmbito regional e, sobretudo de ilha, bom seria que os eleitores fossem capazes de olhar, sem paixão, para o que foi e não foi feito e, sobretudo, conseguissem avaliar os candidatos pelo seu passado, pelos seus méritos e pelo trabalho desenvolvido. E não caíssem em partidarites agudas nem em cantos de sereia.

Porque a factura dos nossos votos virá sempre bater-nos à porta. Por muitos compadrios que existam e por muitos favores que se consigam, o futuro da nossa terra e dos nossos filhos dependerá, em grande parte, da qualidade dos nossos políticos. Os partidos são importantes porque são um pilar insubstituível da democracia mas, por isso mesmo, não podem tornar-se num simples sucedâneo dos clubes de futebol.

Os partidos são, ou deveriam ser, espaços e formas de intervenção cívica baseados em convicções e depositários de compromissos formais. Nunca trampolins de poder e escolas de como se pode vender gato por lebre!

O circo está aí e até pode ter piada se o espectáculo for bom. Mas ao soar o gongo final será tempo de metermos a mão na consciência e tornarmos o nosso voto num acto responsável e responsabilizante .

A política é, e deve ser, de todos nós.


P E D R O D A M A S C E N O


domingo, setembro 19, 2004

Quo Vadis Esquerda?

Apesar de sermos máquinas genéticas podemos virar-nos contra os nossos criadores
Richard Dawkins



Quo Vadis Esquerda?


A economia de mercado baseia-se na ideia de que os seres humanos só trabalham duro e mostram iniciativa quando disso possam tirar benefício económico, pessoal e directo. Uma premissa a que se pretende dar um caracter genético e imutável.

Premissa que, em conjunto com a lógica da sociedade de consumo, torna – no ver de muito boa gente – obsoletas as ideias de direita e esquerda. Daí que se apressem a proclamar o fim das ideologias. Que no fundo, mais coisa menos coisa, vai tudo dar ao mesmo.

E a esquerda, ainda com as orelhas a arder do descalabro da Rússia e países de leste, tem mostrado acentuadas dificuldades em assumir um papel pro-activo na definição daquilo que deve ser o seu caminho face ao falhanço do mundo comunista europeu. Porque no chinês outro galo canta...

Ou seja a esquerda permitiu que que se aceitasse de barato que quando se fala em benefício próprio se está falar de dinheiro. Quando, parece óbvio, que interesse ou benefício próprio tem um âmbito muito mais vasto do que o dinheiro.

Se é certo que a maior parte das pessoas querem ter vidas felizes, preenchidas e com significado e que tudo isso passa, em parte, pelo dinheiro não é menos verdade que este, por si só, fica longe de resover tudo. E que as pessoas sentem, também, necessidade de se sentirem necessárias, úteis e amadas.

E, de facto, o homem afluente da sociedade de consumo está cada vez mais stressado e incapaz de gozar os prazeres simples da vida sendo – crescentemente – escravo das gaiolas de oiro que vai construindo mas que lhe minam a saúde a alegria de viver.

Todos os estudos internacioanais têm demonstrado que não há uma correlação clara entre riqueza e felicidade. Demonstrando, pelo contrário, que as sociedades altamente competitivas não são aquelas em que a maior parte dos cidadãos se sentem felizes e/ou realizados. Como alguém disse: “ninguém pode viver uma vida privada feliz em estado de sítio, desconfiando de todos os estranhos e transformando a própria casa num campo armado”.

Sendo certo, por outro lado, que a maior parte das pessoas, independentemente do sistema económico e social em que vivem, respondem positivamente às oportunidades genuínas de participarem em formas de cooperação, mutuamente benéficas. Sendo essencial promover estruturas que promovam cooperação em vez de competição e tentem canalizar a competição para fins socialmente desejáveis.

Mantendo a esquerda os seus valores tradicionais de defesa dos fracos, pobres e oprimidos deveria ser, ela própria, a promotora de um modelo de sociedade que venha – realmente – defender aqueles. Substituindo muitas das suas utopias sociais por uma visão mais fria e realista que assegure essa defesa.

Aonde existir uma oportunidade de sobreviver sem trabalhar vai aparecer sempre alguém para a aproveitar. E, por isso, o desafio será desenhar um modelo social - cada vez mais rigoroso - que tenha em linha de conta, a dita “natureza humana” (sobre a qual saberemos sempre mais) mas que saiba potencializar, também, o lado altruísta e cooperativo que existe na maioria de todos nós e que é um dos ingredientes indiscutíveis da felicidade.

A economia de mercado e a sociedade de consumo não são, comprovadamente, a autoestrada da nossa felicidade. Atingido um patamar aceitável de progresso e bem estar é indispensável que nos voltemos para o culto da cooperação, da amizade e da solidariedade.

Quo Vadis Esquerda?


P E D R O D A M A S C E N O


terça-feira, agosto 31, 2004

Paisagem Protegida da Vinha e Secretaria Regional do Ambiente

Quem porfia e não cansa, sempre alcança!
DITADO POPULAR



Paisagem Protegida da Vinha
e
Secretaria Regional do Ambiente




Já vem de longe a defesa, nesta coluna, da criação de uma Secretaria Regional no Pico. Ideia álias assumida, em declarações públicas recentes, pelo actual Presidente do Governo Regional.

Com as eleições regionais, ali ao dobrar da esquina, é uma tema de grande actualidade e que bem poderia fazer parte do rol de promessas que as várias forças partidárias nos vão fazer mas, nomeadamente, as duas com hipóteses de chegar ao poder.

Defendemos primeiro a necessidade da criação de uma Secretaria do Ambiente que, entretanto, foi criada. Defendemos, a seguir, a lógica de que essa Secretaria faria todo o sentido na Ilha do Pico pelas suas carateristicas naturais das quais ressalta a integridade da nossa flora endémica - a Laurasilva.

A dimensão da ilha, a sua ruralidade e a montanha tornam o Pico um destino único para tursimo e usufruto da natureza. Surge, agora, a consagração da Vinha como património mundial que lhe vem trazer uma visibilidade nacional e internacional sem precedentes. Bem como as correlativas responsabilidades.

A verdadeira liquidação do conceito de ex-distritos que, apesar de trinta anos de democracia, ainda subsiste – embora de forma encapotada – só ocorrerá quando for criado outro real centro de decisão fora das ex-capitais de distrito. A tripolaridade, como alguns lhe chamam, só desaparecerá quando o poder deixar de ser milimetricamente distribuido por aquelas.

A abertura das novas ligações áreas directas com o exterior do Pico e de Santa Maria serão, também, um passo decisivo na descentralização do arquipélago e na consolidação de uma nova lógica de desenvolvimento regional. Um lógica assente na eliminação de assimetrias que se têm mantido por pura inércia e por força de lobis que queram a todo custo manter privilégios que já não fazem, hoje, qualquer sentido.

O próximo passo lógico será a criação de uma secretaria fora de Ponta Delgada, Angra e Horta. Os custos não serão, certamente, maiores e ter-se-á, desse modo, dado um passo verdadeiramente inovador num conceito de Região assente na realidade ilha (como de resto está na lei) e potenciador de novas abordagens do conceito de arquipélago.

Nesta linha de pensamento faz, também, todo o sentido que seja a segunda ilha do Açores em tamanho, a terceira em população e aquela que apresenta perspectivas de crescimento mais interessantes para além de S. Miguel e Terceira que venha a ser a contemplada.

Do mesmo modo que faz todo o sentido que seja a Secretaria do Ambiente a ser escolhida. Aqui encontrará a possibilidade de expressão máxima de um trabalho de proteção e valorização do ambiente e o enquadramento numa área de património natural da humanidade, moldura sem paralelo na Região.

Não se trata de uma questão de bairrismo. Trata-se de uma questão de elementar justiça e de criatividade política que só ficará bem a quem decidir dar esse passo histórico para o Pico e para os Açores.

A palavra cabe, agora, aos senhores políticos.


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segunda-feira, agosto 16, 2004

Os selvagens do nosso tempo

De pequenino se torce o pepino
Ditado popular



Os selvagens do nosso tempo


Bem sabemos que as questões da área da Educação são difíceis e que a sua solução será, a prazo, o passaporte para nossa viabilidade como nação. Apenas um elevado nível educacional da nossa população poderá permitir um desenvolvimento global.

O caso da Irlanda é um bom exemplo disso. De país na cauda da Europa “competindo” connosco pelos últimos lugares passou a país do pelotão da frente. Essencialmente porque apostou forte na área da Educação e das tecnologias de ponta.

Mas essas, são matérias de fundo que, tendo que ser resolvidas com brevidade, não impedem que outras – não menos importantes – mas mais simples sejam, entretanto, solucionadas. Questões que se prendem com áreas cívicas e de comportamento social.

Sendo as matérias curriculares e as estratégias de ensino problemas, inquestionavelmente, difíceis tudo levava a crer que questões de elementar comportamento cívico e social seriam simples de resolver. Mas, puro engano, a um maior nível de escolaridade parece corresponder uma crescente falta de conhecimento das mais elementares regras de cortesia e vida em comunidade.

Seja ao nível das crianças de mais tenra idade que vitimizam tudo e todos com os seus gritos estridentes e as suas correrias desordenadas em qualquer lugar público seja ao nível dos adolescentes e jovens que passaram a desconhecer que existem saudações entre as pessoas ou que poluem, indescriminadamente, o ambiente que os rodeia.

Tudo isto perante a omissão e complacência da generalidade dos pais que parecem resignar-se diante daquilo que começa a ser um fenómeno incontrolável. Pais tantas vezes com elevados níveis de escolaridade que debitam conhecimentos aos filhos sem, contudo, se preocuparem com o seu comportamento pessoal e social.

Fenómeno que, também, acontece ao nível das escolas, mesmo as do ensino básico, aonde se parece ter entrado num clima, também, de omissão por um conjunto variado de factores que vão desde problemas de disciplina até um laxismo que tem muito a ver com a atitude dos próprios pais.

Pais que, crescentemente, dedicam menos tempo aos filhos que trazem a este mundo – sabe-se lá tantas vezes porquê! – mas que, talvez por causa disso, se tornam progressivamente permissivos e, simultaneamente, reactivos ao papel disciplinador que os professores devem ter. Não educando nem deixando educar e criando nos professores uma atitude de desmobilização e desinteresse.

Sem defender um recuo para um modelo autoritário de educação e percebendo que as crianças e os jovens devem ter acesso a um pleno desenvolvimento das suas personalidades e potencialidades torna-se, contudo, imperioso que elas sejam ensinadas a respeitar limites. Limites que terão de respeitar em relação às outras pessoas, como indivíduos, e em relação à comunidade em que vivem.

Sendo que essa é uma das lições que podemos tirar da natureza. A biodiversidade, ou a diversidade de espécies, é uma das condições essenciais à manutenção do equilíbrio do nosso habitat. Sempre que uma espécie começa a crescer desmesuradamente à custa de outras que desaparecem gera-se aum desiquilíbrio que, por seu turno, põe em causa o ecosistema indispensável à vida.

As nossas crianças e os nossos jovens tem que conhecer os limites da sua própria liberdade e que são os limites da liberdade dos outros sob pena de se tornarem nos verdadeiros “selvagens” do nosso tempo. E, ainda por cima, bem mais depradadores.

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domingo, agosto 01, 2004

Vinha do Pico, Património Mundial e Desenvolvimento

Vinha do Pico, Património Mundial e Desenvolvimento


“A medida virá “penalizar” fortemente, em termos de desenvolvimento, o concelho da Madalena”
Presidente Camara da Madalena do Pico



A aprovação na China, por unanimidade, da Paisagem Protegida da Vinha do Pico como Património Mundial é um acontecimento de tal modo fundamental para a Ilha do Pico e para os Açores que custa a perceber porque, para além das reacções imediatas, pouco se tem dito ou escrito sobre o assunto.

A citação acima reproduzida do presidente de camara do concelho aonde se situa a parte mais importante desse vinha passará, sem dúvida, a fazer parte do anedotário político nacional pelo que representa de falta de visão de futuro. Aquele que deveria ser o primeiro a congratular-se é precisamento aquele que pretendeu matar, na praça pública, a galinha de ovos de ouro!

O reconhecimento mundial da riqueza da vinha do Pico como património vem, para além de prestar justiça ao trabalho insano dos nossos antepassados, confirmar a Ilha do Pico como um destinos incontornáveis para quem demanda os Açores em busca de de coisas que não poderá encontrar noutras paragens. Sabido que ninguém procura a Região atrás de sol e praias.

E o Pico que já contava com a notoriedade da sua montanha, da extensão da sua laurasilva (a mais bem preservada do arquipélago) e da saga baleeira passa a contar, agora, também com o reconhecimento mundial unanime da importancia de uma das suas actividades mais emblemáticas que nos deixou uma herança que poderá ser um das chaves fundamentais para o nosso desenvolvimento.

O Pico não se vai desenvolver porque - como pensa o autarca da Madalena - se vão construir muitas casas e adegas grandes ou hoteis dinossauricos, a torto e a direito. O Pico apenas se irá desenvolver na medida em que conseguir preservar a sua identidade patrimonial, seja natural ou erigida. Só, desse modo, conseguirá atrair visitantes que buscam o que ainda existe de autêntico por esse mundo fora.


Visitantes, habitualmente cultos e com posses, que não procuram os grandes hoteis (iguais a todo os outros em todo mundo) mas sim pequenas unidades integradas e turismo de habitação ou rural dando, desse modo, oportunidades de negócio para pequenos investidores locais que poderão completar outras actividades nomeadamente a agrícola.

O Pico terá que se afirmar pela diferença. Diferença que passa pela afirmação e preservação dos seus valores e actividades tradicionais. Se tentarmos imitar o que quer que seja – desde a Madeira ao Algarve ou mesmo a S. Miguel – estaremos irremediavelmente perdidos porque faremos sempre imitações mais baratas. A nossa força reside, precisamente, na nossa diferença.

E se o nosso desenvolvimento passa pelo turismo é preciso discernir qual o tipo de turismo. Que não será o turismo de grande unidades hoteleiras que apenas interessam a grandes grupos económicos ou a especuladores imobiliários mas o turismo de muitas coisas pequenas e boas sejam na área do alojamento, da restauração, do comércio ou da animação.

O turismo que interessa à Ilha é aquele que possa dar uma oportunidade ao maior número possível de pessoas que cá vivem e precisam de complementar os seus proventos familiares. Um turismo de face humana e personalizado que mobilize as populações locais e ajude a manter a autenticidade da nossa terra, único trunfo com que podemos contar.

A Paisagem Protegida da Vinha do Pico é, por tudo isso, uma grande oportunidade histórica de desenvolvimento.




P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, julho 07, 2004

Pornografia e Fundamentalismo


Pornografia e Fundamentalismo



De país conservador e tradicionalista, próprio do Estado Novo, Portugal oscilou, nalguns aspectos, para o outro extremo do pendulo. Hoje a pornografia é entre nós, como no resto da Europa, um fenómeno perfeitamente banal. E será dificíl fazer uma viagem através dos canais de televisão sem com ela topar, quase sempre, com material altamente escabroso.

E assim vão as coisas. Em vez de informação/esclarecimento sexual e planeamento familiar (que os sectores mais conservadores se apressam a condenar) estamos nós condenados a levar com pornografia barata e sórdida (que muitos conservadores se “esquecem “ de atacar). Pornografia que, ao fim e ao cabo e em termos práticos, se tornou na verdeira “educação” sexual dos nossos jovens.

Por razões que se prendem, no essencial, com questões comerciais. Pornografia vende e vende bem. Mesmo, e talvez sobretudo, para os sectores conservadores hipócritas que fazem um discurso público num sentido e que se comportam, privadamente, em sentido oposto. No fundo os herdeiros da mentalidade dos “ballet rose” da antiga senhora.

Uma sexualidade sã e verdadeiramente gratificante nada tem a ver com pornografia mas sim com hormonas, afectos e comunicação. E também com informação desinibida e correcta que nos venha dar um conhecimento adequado dos nossos corpos e da nossa fisiologia. Informação que nos ensine que sexo não é apenas uma maratona de posições, modalidades e parceiros.

Sendo uma força natural extremamente poderosa, o sexo tanto pode ser uma forma superior de gratificação afectiva como pode dar origem a perversões abomináveis como a tristemente célebre pedofilia. Perversões que são claramente estimuladas por uma pornografia que procura explorar todos os lados sórdidos da personalidade humana com o objectivo único de negócio.

Sensualidade e erotismo – facetas da sexualidade humana – nada têm a ver com pornografia. Pornografia que apenas mata a imaginação e os afectos banalizando, de forma grosseira, aquilo que os orientais sempre consideraram uma forma especial de comunicação entre seres humanos e de que cultivaram de formas extremamente requintadas.

Pornografia leva a que os sectores conservadores do mundo não ocidental exerçam um poder repressivo crescente sobre as mulheres: desde a ablação do clitóris até ao uso das “famosas” burcas. Uma reacção de pendulo no sentido oposto: quanto mais despimos as nossas mulheres e vulgarizámos o sexo mais eles tentam vestir as suas e reprimir o sexo.

De um lado a mulher ocidental totalmente banalizada e exposta, do outro a mulher oriental escondida e reprimida. Dois extremos de uma realidade que deveria, pela sua importância nas nossas vidas, centrar-se num ponto de equilíbrio entre liberdade e respeito e entre prazer e afecto.

Se é lamentável ver ser humanos reprimidos e despojados de direitos básicos não é menos lamentável vê-los objectos de mera recreação comercial sem quaisquer critérios estéticos ou de respeito.

Pornografia e fundamentalismo andam de mãos dadas.




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quarta-feira, junho 30, 2004

Uma coisa muito feia

Uma coisa muito feia


Ainda algo atordoado com o terramoto político que caiu sobre Portugal
Diogo Freitas do Amaral


Não tencionávamos voltar, tão cedo, à problemática do descrédito da política e dos políticos embora haja razões recorrentes para que esse assunto não saia da ribalta. Como foi o caso, ainda há dias, do epípeto de “sentença de merda” com que o insubstituível Avelino Ferreira Torres decidiu brindar a decisão do colectivo de juízes que o julgou e condenou.

O caso agora é, contudo, bem mais grave. Um primeiro ministro que reiteradamente afirmou a sua decisão inabalável de cumprir o mandato para que foi eleito – ao contrario de outros como dizia – e que ainda há uma semana se mostrava indisponível para ser candidato a um cargo em Bruxelas dá o dito por não dito e demite-se para assumir um tacho que, providencialmente, lhe caiu na sopa.

Uma pessoa que ocupava um cargo político da maior importância não teve o mais pequeno pejo em lançar o país, que dizia tanto o preocupar, numa inevitável turbulência de consequências ainda imprevisíveis. Matando, desse modo, dois coelhos de uma só cajadada: safar-se do beco político aonde estava encurralado e prosseguir o seu projecto de poder pessoal.

Qualquer eleição envolve sempre um contracto entre eleitor e eleito. O eleitor ao votar confere ao eleito um voto de confiança para que execute as suas promessas e compromissos eleitorais. O eleito ao receber um mandato assume as responsabilidades para executar aquilo com que se tinha comprometido.

Durão Barroso quando se candidatou, pelas listas do PSD, a primeiro ministro fê-lo para um mandato de quatro anos como ele próprio confirmou à exaustão. E os contractos, mesmo os não escritos, são para se cumprir, pelo menos para quem seja pessoa de bem. E ao proceder como procedeu o ex primeiro ministro demonstrou não ser pessoa de bem dando um exemplo lamentável de falta de integridade e de caracter.

E não serão os argumentos de patrioteirismo balofo que poderão branquear aquilo que ficará como mais um exemplo extremamente negativo sobretudo para os jovens que não acreditam, minimamente, na política nem nos políticos. E porque deveriam acreditar?

Durão Barroso foi escolhido para Presidente da Comissão Europeia exclusivamente pela negativa. Porque os grandes blocos não se entenderam, porque o primeiro ministro do Luxemburgo não quiz trair os eus compromissos eleitorais, porque o ex-primeiro ministro português não é uma figura controversa, porque dá garantias de não bulir com os grandes interesses em jogo, por pertencer a um país que não é grande e também não é recem chegado.

Não foi, certamente, escolhido pelo seu prestígio político angariado à frente de um governo suportado por partidos que acabaram de averbar una derrota humilhante, precisamente para a Europa. A ida de Durão Barroso para a Comissão Europeia apenas seria uma honra para Portugal se, cumulativamente, ela se fizesse pela positiva e num contexto de disponibilidade política do próprio. Doutro modo não passa de um tacho que, fundamentalmente, serve para quem o vai usufruir e que deixa um país à beira de um ataque de nervos.

Não faltava mais nada que agora, ainda por cima, nos devessemos sentir honrados por ter sido traídos. Era quase como se a nossa mulher nos tivesse traído com Bill Gates e nos sentissemos honrados por ter sido uma portuguesa a conseguir a “feito” de ser a amante do homem mais rico do mundo!

Durão Barroso fez uma coisa muito feia.

PS: se calhar já era altura de os legisladores pensaram na possibilidade de condicionarem as saídas, a seu belo prazer, de políticos dos cargos a que se candidataram. Sejam eles de primeiro ministro ou presidente de camara: se não vai a Maomé a Meca terá que ser Meca a ir a Maomé! Ao fim e ao cabo trata-se da liderança de um povo ou de uma população que não pode estar à mercê dos meros interesses ou disposições pessoais de quem quer que seja. Ser político não é nem deve ser obrigatório mas quem não quer ser lobo não lhe vista a pele...



P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, junho 22, 2004

Serviço Nacional de Doença

Serviço Nacional de Doença



Dado que o Serviço Nacional de Saúde vem em nossa ajuda, essencialmente, quando estamos doentes seria mais apropriado designá-lo de Serviço Nacional de Doença. E, também, porque, genericamente, não promove a saúde nem evita a doença não prevenindo sistematicamente, como deveria, as causas da doença sejam elas pessoais, sociais ou ambientais.

As listas de espera crescem, os hospitais rebentam pelas costuras, o orçamento de estado para a saúde (ou doença?) dispara e temos, cada vez mais doentes. E o que é verdade para o país, é verdade para sítios como Pico aonde se passou de 3 medicos para 12 para não falar em enfermeiros e, muito menos, em técnicos/administrativos.

O consumismo de actos médicos/medicamentos continua aumentar em flecha ao mesmo tempo que proliferam os “doentes” e diminuem os “sãos” e as pessoas se queixam de falta de acesso ao sistema com os serviços de “urgência” a ficarem entupidos por casos que nada têm a ver com urgência.

Segundo estimativas do Infarmed (organismo oficial) o consumo de medicamentos vai disparar este ano para um recorde de 11% que só foi atingido em 1998 vindo a confirmar o pendor marcadamente curativo do nosso sistema que se limita a tratar - e nem sempre com a devida eficácia - a doença e a investir, muito pouco (para ser simpático), na sua prevenção.

Apesar dos milhões gastos gastos todos os anos nunca há dinheiro suficiente para tratar uma população crescentemente “doente”. O que decorre, em primeira mão, da não existência de um verdadeiro serviço nacional de saúde desenhado para se preocupar com a saúde das pessoas e do próprio planeta e baseado em conceitos holísticos e de integração e cooperação entre os vários departamentos, compartimentos, fragmentos, etc.


A saúde que é, ou deveria ser, o bem de primeira necessidade por excelência, tornou-se num vulgar bem de consumo para vender ou comprar e uma oportunidade de negócio de contornos nem sempre claros ou límpidos. A vulnerabilidade dos doentes torna-os numa presa fácil.

Muitas das nossas doenças são causadas pela nossa civilização. Cancro, obesidade, hipertensão, tromboses, doença coronária e muitas outras são causadas pela poluição dos alimentos, do ar e da água, pelo stress, pela solidão, pela destruição do espirito comunitário, etc.

A nossa saúde pessoal flui do facto que o corpo não está separado da mente: se não estivermos bem psicológicamente ou tivermos carencias afectivas ou sociais não há medicamento que nos valha. Daí que não possamos contar apenas com a medicina curativa, eminentemente técnica, para atingirmos um estado de pleno bem estar físico/psicológico/espiritual e social que é verdadeiro estado de saúde. Saúde não é a mera ausência de saúde.

Do que resulta que velar pela nossa saúde implica muito mais do que a simples prática – ainda que de boa qualidade técnica – de medicina curativa. Implica o ambiente (nossa verdadeira casa), o bem estar social, a segurança. Como a nível pessoal implica alimentação saudável, exercício físico, gratificação nos planos afectivo, social, profissional e espiritual. Como implicará, a nível médico, a integração da medicina científica com as medicinas complementares e os saberes tradicionais.

Jamais o tradicional modelo de Serviço Nacional de Doença!



P E D R O D A M A S C E N O





domingo, junho 06, 2004

Uma bofetada sem mão

Uma bofetada sem mão



No passado dia 2 um conceituado cientista inglês, o Dr. Malcom Clarke, inaugurou em S. João do Pico uma exposição que designou de “Cachalotes e Lulas”. Em 2 salas interiores, num terraço coberto e num espaço ao ar livre conseguiu montar uma exposição brilhante, quer no plano científico quer no plano estético.

Um evento que estará aberto ao público de segunda a sábado das 9,30 às 17,00 horas, entre Junho e Outubro. Sito na Rua do Porto, quase no ínicio, do lado do mar, para quem vem das Lajes do Pico. Uma visita obrigatória para quem quiser tomar contacto com a realidade dos cachalotes e das lulas.

No exterior, junto ao mar, foi construída uma estrutura estilizada feita em tubo que reproduz as dimensões do maior cacholote apanhado nos Açores e, através da qual, se pode ter uma ideia bem aproximada do tamanho de tal mamífero. Porventura uma ideia bem interessante para ter sido aproveitada para o monumento aos baleeiros e à sua saga!...

Porque os actores principais da baleação, quer se queira ou não, foram os cachalotes pese, embora, a coragem e o espírito de sacrifício dos baleeiros. Razão, também, porque esta exposição é preciosa: vem de uma maneira sucinta, mas de forma extremamente criativa e apelativa, trazer conhecimentos sobre os cetáceos que, apenas quem dedicou uma vida à investigação, pode dar.

O Pico passou a ter, para além do acervo dos baleeiros e da indústria baleeira, um conjunto inestimável de informações sobre a fisiologia, os hábitos, os stocks, etc dos cachalotes e lulas que vêm completar a oferta museológica já existente e, por isso, ajudar a constituir esta ilha como um destino priveligiado para quem estar em contacto com a temática baleeira.

Acontece, porém, que tudo isto ocorreu por iniciativa, exclusivamente, privada do Dr. Malcom Clarke que para tal utilizou a sua casa de habitação tendo custeado, também, todas as despesas de instalação, materiais, concepção, execução,etc.!... Uma obra cultural e científica de indiscutível valor que não conseguiu recolher nenhum tipo de apoio, por mais modesto que fosse!

Após uma iniciativa do Governo Regional destinada a assegurar a adaptação da Fábrica da Baleia das Lajes do Pico a Exposição Permanente do Cachalote que chegou, mesmo, a constar de orçamento da Região tudo parece ter ficado em águas de bacalhau. Não se sabendo se o assunto está ferido de morte ou se ainda existe alguma hipótese de vir a ser concretizado.

Ou seja nós - como comunidade - seja a nível pessoal, associativo, autárquico ou governamental não fomos capazes de, em tempo útil, dar os passos necessários para que a iniciativa não tivesse ficado apenas dependente de uma pessoa que, ainda por cima, se viu obrigado a ser pau para toda a obra. Dando de nós próprios uma imagem lamentável.

Mas ainda bem que há pessoas que, mesmo não sendo daqui, conseguem reunir energias e determinação para fazer aquilo que deveria ter sido uma obra pública emblemática. Uma lição de que, quem de direito, deverá retirar as respectivas ilações.

Uma verdadeira bofetada sem mão!



P E D R O D A M A S C E N O




domingo, abril 25, 2004

China, Marx e João César das Neves

China, Marx e João César das Neves





Em tempos de grande promiscuidade ideológica em que os capitalismos liberal e neo-liberal parecem constituir, para muitas cabeças bem pensantes da nossa praça, a única saída para o progresso e êxito económico o recente artigo “A desforra de Marx” de João César das Neves foi uma verdadeira pedrada no charco.

Tendo em atenção o perfil ideológico e o percurso daquele economista que foi assessor económico de Cavaco Silva o seu reconhecimento de que a China “é um caso espantoso e formidável de sucesso económico” é, também, um caso espantoso de sinceridade e coragem política.

Sendo a China, como todos reconhecemos, um estado ditatorial com graves défices democráticos não deixou, apesar disso, de conseguir um processo de desenvolvimento extraordinário constituindo mesmo um verdadeiro caso para estudo que ocorreu nos últimos 25 anos.

Após os excessos e desvarios de Mao Zedong (como agora se chama) a China entrou, pela mão de Deng Xiaoping, numa via original que tem, indiscutivelmente, conseguido um enorme sucesso no campo da economia e do desenvolvimento. Assumindo-se claramente marxista, o estado chinês conseguiu destruir o mito que marxismo é igual a fracasso económico.

Para tudo isso terá contribuído o peso cultural milenar dos chineses e o grande pragmatismo e flexibilidade dos seus dirigentes. Mas também comprova exemplarmente, a nosso ver, que as receitas liberais e neo-liberais não são as únicas para os desafios de progresso e estabilidade que procuramos nesta Europa que parece não ter encontrado ainda o passo certo.

Não prescrevendo, obviamente, para a Europa uma inflexão para o marxismo não deixa de ser importante parar e meditar no que acontece na China. Salvaguardadas todas as diferenças, será prudente re-equacionar determinados preconceitos e fundamentalismos que nos continuam a condicionar fortemente.

Porventura João César das Neves sabe bem do que fala quando diz que “não restam dúvidas de que o que se passa hoje na China e na Índia determinará o mundo na nossa geração”. Porque realmente a globalidade que vivemos não se resume apenas à hegemonia americana. Biliões de pessoas vivem outra realidade bem distinta.

Se existe vida depois da morte – coisa em que ele não acreditava – Karl Marx estará, sem dúvida, a esboçar um largo sorriso trocista. Depois de ser o bombo da festa durante tanto tempo nada mais irónico, sobretudo vindo o reconhecimento de onde vem...



P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, março 30, 2004

O Clube dos "A gente não pode fazer nada"

O Clube dos “A gente não pode fazer nada”


Um dos bens de que nos podíamos orgulhar – nos Açores - era a segurança. Bem, álias precioso, para quem pretenda transformar a Região num destino turístico diferente, sobretudo em dias em que a segurança começa a tornar-se num bem de primeira necessidade.

Mas, tudo leva a crer, um bem em extinção, também entre nós. O pequeno crime, os actos de vandalismos, a total indisciplina e insegurança na estrada, o consumo de droga crescem, exponencialmente, nestas ilhas, até há bem pouco tempo, pacatas. Desde Ponta Delgada, aonde começa a ser problemático andar sózinho a certas horas, até às ilhas mais pequenas e rurais.

Tudo isto perante a complacência e a indiferença das forças de segurança acantonadas nas suas “repartições”, progressivamente idênticas a tantas outras aonde se pratica a lei do menor esforço e do ordenado que já está no bolso. E aquilo que ainda é perfeitamente controlável começa a tomar proporções preocupantes.

Doia a quem doer a nossa polícia não aparece, não actua e parece decapitada de qualquer comando que assegure que essa cultura de indiferença e irresponsabilidade tenha fim. Sá assim se percebe que - apesar dos artigos de opinião que surgem, quase diariamente, na nossa imprensa - tudo continue na mesma.

Só assim se percebe que a mesma polícia que, simultaneamente, assume posturas de arrogância e mesmo de má educação se mostre, súbitamente, incapaz de resolver assuntos da maior banalidade refugiando-se, quase sempre, atrás de chavões como “a gente não pode fazer nada”, “não temos meios”, ou ainda “não temos efectivos”.

Das duas uma: ou a PSP passa a a ter meios e efectivos e a poder fazer as coisas ou então, pura e simplesmente, não é precisa. Bastará, apenas, uma repartição para tomar conta das ocorrencias e uns fiscais de papeis e radares nas estradas. O que ficará, para além de tudo, muito mais barato a todos nós.
Um das caracteristicas fundamentais de um estado de direito é, justamente, a segurança de pessoas e bens e o cumprimento da lei. Objectivos só possíveis com a e existência de forças policiais devidamente preparadas para o exercício de funções que implicam empenhamento, sentido de responsabilidade e uma preparação cívica exemplar. Ser polícia não pode continuar a ser, apenas, uma saída profissional para quem não conseguiu melhor.

O País e os Açores precisam de segurança, protecção e muita pedagogia cívica. Não, certamente, de um mero Clube dos “ A gente não pode fazer nada”.

PEDRO DAMASCENO



terça-feira, março 16, 2004

O Crime de Madrid

O Crime de Madrid
(tratar os bois pelo nome)


O nacionalismo basco é absurdo; e o mundo islâmico é uma civilização medieval e falhada.
Pulido Pulido Valente



Quer concordemos ou não com a guerra no Iraque, com o nacionalismo basco, com o fundamentalismo muçulmano ou com o “imperialismo” americano o que se passou em Madrid no passado dia 11 foi “apenas” um crime gravíssimo que nenhum tipo de argumento político poderá branquear trazendo-o para a órbita de qualquer outro contexto que não seja o combate, sem tréguas, ao crime organizado.

E jamais o conceito de estado de direito – como o entendemos na Europa - poderá dar cobertura a atitudes brandas ou de putativo diálogo sob pena de estramos a dar o ouro ao bandido. Sem cair na tentação de enveredar por cowboyadas teremos que exigir dos nossos serviços de informações e investigação um trabalho urgente, profundo e competente. Qualquer coisa nas antípodas do trabalho que fizeram em relação ao Iraque.

Esses serviços, que são públicos e pagos por todos nós, não poderão continuar a prestar-se ao papel caricato de dizerem aos politicos aquilo que eles querem ouvir. Justamente como aconteceu com as armas de destruição maciça. Numa época de tecnologia de ponta e de recursos vultuosos não faz qualquer sentido que os serviços secretos não sejam de um total profissionalismo e eficiência.

A menos que existam razões de “conveniência” política ou de pura incompetência tudo o que aconteceu em Madrid terá que ser esclarecido em dois tempos e os resultados tornados públicos com vista à identificação e punição dos culpados. Porque ninguém, minimamente informado, pode aceitar qualquer outro caminho. Os meios e as tecnologias existem logo terá que haver também uma determinação profunda e incontornável.

E não poderá haver qualquer contemplação na perseguição dos culpados. Embora dentro das regras que se esperam de uma sociedade civilizada não se poderá no ridículo de tratar com paninhos quentes quem não respeita a lei ou os príncipios da convivencia democrática. O crime não pode jamais compensar sobretudo em casos hediondos como este. Que se contractem os melhores profissionais e se lhes proporcionem os maiores meios com outro fim que não sejam os de identificar e prender os culpados e trazê-los à justiça.

Tudo isto num contexto em que não podem entrar em linha de conta os interesses das indústrias das armas ou dos senhores do petróleo. Porque não pode existir liberdade sem segurança e esta não pode estar dependente de grupos de interesses que, a coberto dos ditos estados de direito, fomentam e apoiam em privado aquilo que dizem combater em público.

As sociedade democráticas não se podem refugiar, apenas, atrás de conceitos de aparente benignidade de costumes. Devemos ser os primeiros a limpar a nossa própria casa e a erradicar a violência do nosso seio robustecendo e dando meios adequados à justiça para punir, exemplarmente, aqueles que, entre nós, são coniventes ou se aproveitam de crimes sem perdão.

O crime não começa nem acaba apenas nas entranhas do nacionalismo basco ou do fundamentalismo islâmico.



P E D R O D A M A S C E N O



terça-feira, fevereiro 17, 2004

Bravo Franceses!

“Nas escolas, colégios e liceus públicos, são proibidos os sinais e as vestes manifestam ostensivamente a confissão religiosa dos alunos”
Lei aprovada na Assembleia Francesa


Bravo Franceses!


É facto comprovado que as religiões, à medida que se institucionalizam, perdem a sua pureza original e passam a servir interesses, instalados ou a instalar, que pouco ou nada têm a ver com a sua filosofia original. Primordialmente interesses dos seus agentes, sejam eles políticos ou meramente económicos. Sem excepção.

E é, indiscutivelmente, esse o caso do Islamismo. Religião que persegue, em muitas partes do mundo, o controle político para melhor exercer o seu poder repressivo e castrante. Castrante, mesmo no sentido mais objectivo como é o caso da ablação do clitóris de jovens adolescentes. Religião que defende o papel secundário da mulher para quem concebeu vestes que têm como preocupação central mostrar, no dia a dia, esse ferrete.

Uma religião controlada por homens e para os homens. Uma religião que procura infiltrar todo o aparelho de estado e, se possível, controlá-lo em absoluto e que encontrou a sua expressão mais clara na antiga Pérsia, hoje o Irão dos mulahs. Sem que tudo isto tenha, necessariamente, alguma coisa a ver com os ensinamentos do profeta Maomé.

Sendo certo, também, que as sociedades dominadas, explicita ou implicitamente, pelo Islão não são sociedades abertas, tolerantes e democráticas como as nossas sociedades européias. São sociedades fechadas e autoritárias que procuram incutir nos seus jovens, desde o nascimento, o radicalismo religioso de modo a perpetuar e expandir o reino dos “donos” da palavra de Ala!

Embora este radicalismo não seja, apenas, apanágio dos muçulmanos. Todas as religiões, em maior ou menor grau, tem os seus radicalismos e o seu séqüito de fanáticos. Sejam eles católicos, judeus ou protestantes.

Mas na Europa moderna e laica esses excessos foram devidamente contidos e as escolas públicas vieram a assumir, progressivamente, um papel laico deixando as questões de religião para os agentes religiosos. E, desse modo, dando aos jovens a possibilidade de escolherem, em liberdade, o seu próprio caminho no domínio do espírito e da religião. Único caminho que, a nosso ver, pode conduzir a sociedades tolerantes e abertas.
Situação que começou a conhecer um claro retrocesso com o advento de grande número de emigrantes, sobretudo muçulmanos, que, numa lógica de preservação de identidade social e religiosa, começaram a “invadir” as escolas francesas (e não só) com sinais de ostentação religiosa nomeadamente o tristemente célebre véu – sinal externo do papel menor que atribuem às mulheres.

Naturalmente que sociedades, abertas e democráticas, devem respeitar as diferenças incluindo as religiosas. Da mesma forma que o estado deve assegurar a todos os jovens o mesmo grau de liberdade não permitindo quaisquer lavagens ao cérebro, seja a jovens origem francesa ou de qualquer outra.

Os emigrantes, muçulmanos ou não, quando procuram um outro país fazem-no pelos seus próprios interesses e porque não conseguiram lograr uma vida digna nos seus países de origem. O mínimo que podem, em contrapartida, fazer é saber respeitar o estilo de vida dos países anfitriões sem prejuízo de viverem, dentro de portas, uma vida ao seu jeito.

O papel da escola não deve ser apenas o de transmitir conhecimentos. Tem de ser também o de uma escola de civismo e de liberdade. E jamais poderá ser o palco de manifestações religiosas retrógradas e lesivas de direitos, liberdades e garantias.

Só não vê quem não quer: o espírito da lei francesa não é combater qualquer tipo de símbolo religioso nem combater qualquer convicção religiosa mas apenas aqueles símbolos que ostensivamente pretendem manifestar uma confissão religiosa que, obviamente, não sabe ou não quer respeitar as outras.

Bravo Franceses, pela coragem na defesa da conquista maior da vossa Revolução!


P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, fevereiro 03, 2004

A Tragédia e a Indiferença

A Tragédia e a Indiferença
A Tragédia


Um jovem morre, na flor da vida, de forma súbita e inesperada. Trágica e chocante como todas as mortes inesperadas, e mesmo esperadas, de jovens para quem se espera uma longa vida, eventualmente recheada de êxitos pessoais e profissionais.

Uma jovem vida que desaparece de repente - como tantas outras desaparecem todos os dias - seja na estrada ou no trabalho, no lazer ou na doença. Só que, neste caso, trata-se de um jogador de futebol de um grande clube e o episódio acontece, praticamente, em directo. E, alas, o assunto passa a assumir proporções nacionais com horas inteiras de “prime time” televisivo com todos os ingredientes próprios de uma novela em directo, numa verdadeira catartase nacional.

Se o mesmo jovem, da mesma idade tivesse morrido das mesma causas só que noutro contexto e sem ser jogador de futebol (ainda que relativamente obscuro) não teria sido sequer notícia em telejornal, quanto mais objecto de tal dilúvio mediático. Nem que porventura tal morte tivesse envolvimentos pessoais e familiares bem mais trágicos.

Não seria notícia e não teria os ingredientes necessários para provocar o choro em directo. O país continuaria a sua vida, pacato e sereno. Seria apenas uma morte precoce como tantas acontecem sem que o país disso tomasse conhecimento ou se preocupasse minimamente. Mesmo que uma de uma morte perfeitamente evitável se tratasse - essa sim uma verdadeira tragédia pela sua evitabilidade e pelo seu desperdício.

Para quê tantas lágrimas inúteis e tantos holofotes efémeros gastos quando não somos, crescentemente, capazes de ser solidários uns com os outros a uma escala de vizinhos?


A Indiferença


Um ministro de estado, munido das suas vestes ministeriais, terá evitado numa sala de VIP’S um ex-presidente da Nação por causa de desamores públicos. A tal ponto que terá decidido anular a seu bilhete em avião de carreira e mandar buscar o dispendioso avião Falcon das deslocações oficiais para se furtar a um encontro desagradável.

Sendo ou não verdade a história circulou nos jornais e nunca foi, que se saiba, desmentida. Mas mais importante do que confirmar ou não tão caricata hipótese interessa assinalar a indiferença que gerou. Num país em que se faz o discurso oficial de contenção e se tomam medidas draconianas para conter o putativo defice orçamental ainda é possível que uma história assim não passe de um rodapé!

Mais importante do que fazer um linchamento político importa constatar o comportamento da nossa classe política que torna verosímeis tais episódios e, sobretudo, acentuar a indiferença pública que geram como se de outro fatalismo lusitano se tratasse. Os políticos são mesmo assim, lê-se nas entrelinhas...

Não houve directos na SIC-Notícias, não houve folhetim mediático logo não houve notícia. Mesmo que o erário público tenha sido prejudicado e que andemos, todos nós, a pagar as birras de um ministro.

Pior que as lágrimas inúteis do circo mediático só mesmo a indiferença patológica de um país que “não” existe para além das luzes da ribalta e do politicamente correcto e que prescinde do exercício diário da sua cidadania em troca por brandos costumes que nos corroem a alma e matam a esperança.
PEDRO DAMASCENO


segunda-feira, janeiro 19, 2004

Aventuras e Desventuras do Transito no Pico

Aventuras e Desventuras
do
Transito no Pico



É sobejamente conhecido o perigo que representa circular, hoje em dia, nas estradas do Pico. E se mais acidentes não há, isso deve-se exclusivamente ao baixo tráfego viário que torna a hipótese de acidente menos provável. Porque de resto os ingredientes estão todos lá: manobras perigosas para todos os gostos, álcool, excesso de velocidade, falta de civismo e, em último lugar mas não menos importante, policiamento praticamente inexistente.

Polícia que para além de umas patrulhas (?) de objectivos não identificados e de estacionar nos respectivos postos se especializou na caça à multa e em chatear, com documentos ou questões menores, os condutores. Conseguindo, desse modo, a proeza notável de conseguir não estar presente em “95,5%” das situações em que devia estar!

Mas como se tudo isto não fosse, por si, um fado bem triste está, agora, a consolidar-se a última moda que é colocar um radar num sítio em que se sabe, antecipadamente, que as pessoas circulam a velocidades superiores às autorizadas, tirar a fotografiazita e ... pum ... multar, sem apelo nem agravo, o incauto que por acaso não sabia que nesse dia a polícia estava a fazer uma “operação stop”. Sítios escolhidos a dedo, ou por serem especialmente convidativos à velocidade ou por terem limites ridículos como os malfadados 30 Km que nunca ninguém respeita, nem mesmo os polícias a menos que se saiba que o radar está lá!...

E, assim, fica o “dever cumprido” e os condutores prevaricadores “exemplarmente” punidos. Embora no minuto seguinte volte tudo à mesma e valha tudo mesmo tirar olhos. Como as tais beatas que vão à igreja tomar nosso senhor e bater com a mão no peito enquanto que pensam no próximo mexerico!

Isto num contexto em que se sabe que o excesso de velocidade (mesmo aquele que é mesmo excesso a sério) é apenas um dos componentes do acidente sendo que as manobras perigosas e o álcool no sangue são factores bem mais relevantes. Os acidentes ocorrem, habitualmente, pela associação de um conjunto de causas diversos que urge evitar na sua globalidade, incluindo as questões relacionadas, tão somente, com a fala de civismo.



Naturalmente que não se contesta a necessidade ou mesmo a obrigatoriedade de cumprir a lei. O que se contesta, em absoluto, é que apenas se procure fazer cumprir aquilo que dá menos trabalho à polícia e que, pelo seu pendor administrativo, seja menos difícil de contestar. É, com certeza, muito mais fácil tirar uma fotografia de circulação a 50 Km num local de 30 do que intervir numa situação de uma ultrapassagem perigosa (mais susceptível de gerar discussão e contestação) sendo que esta é muito mais susceptível de gerar acidentes.

Quanto a nós um dos erros mais elementares da política de cobertura policial das ilhas é a colocação em meios, necessariamente pequenos, de agentes naturais dessas ilhas. Situação que apenas potencia um grau de permissividade inadmissível no plano institucional, embora compreensível no plano humano. Não nos parece curial nem prudente colocar os agentes, sobretudo aqueles que iniciam a sua carreira, em dilemas que não podem existir quando se tratar de aplicar e fazer aplicar a lei.

A polícia deve, a nosso ver, ser essencialmente uma força de presença, persuasão e mesmo de pedagogia. Sem esquecer aspectos repressivos e punitivos que têm que existir, a polícia tem um papel imprescindível na segurança dos cidadãos e dos seus bens, de forma activa e empenhada. Não se pode ficar pelos gabinetes e pelas resmas de papeis. Ser polícia não pode ser apenas outra forma de ser funcionário público (com o devido respeito para os ditos funcionários que cumprem os seus deveres!) mas tem de ser uma forma de garantir liberdades, direitos e garantias.

Se há poucos polícias que se contractem mais. Se ganham pouco que se lhes pague mais. Mas que se assegure uma presença forte e pro activa da polícia. O crime é como a droga, atrás do pequeno vem o grande. Que se multe menos e patrulhe mais.

A não ser assim conduzir no Pico continuará a ser uma aventura e, tanta vezes, mesmo uma desventura. Basta olhar apenas para o número crescente de pessoas que perde, desnecessariamente, a vida nas nossas estradas.




Nota do A: o número 95, 5 % é aleatório mas traduz com grande acuidade a realidade


P E D R O D A M A S C E N O