sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Quem nos acode?

Quem nos acode?



Quem não se lembra das polémicas que ocorreram em torno da decisão, exclusivamente política, de construir na Horta um hospital com pretensões a servir as populações do Faial, Pico, Flores e Corvo?

Decisão tomada ao arrepio de todos os estudos que sobre a matéria tinham sido feitos. A começar no tempo do último plano de fomento do antigo regime e a acabar no chamado plano dos suecos.

Todos eles apontavam para a existência de dois polos hospitalares diferenciados – Ponta Delgada e Angra – e para um hospital de 1º linha nas restantes ilhas. Nos dois primeiros centrar-se-iam os meios mais sofisticados e nos segundos as valências indispensáveis a cada ilha.

O que fazia então (e ainda hoje faz) todo o sentido tendo em conta a população de S. Miguel e da Terceira em relação a todas as outras.

Nas duas ilhas mais populosas (com uma diferença enorme de qualquer das outras) era indispensável a construção de hospitais de nível regional que para além de assistirem às respectivas populações dessem apoio diferenciado à outras.

Contudo a política de capelinhas e os compromissos partidários falaram mais alto e ditaram a construção de um hospital “diferenciado” na Horta que em breve se transformaria na maior entidade empregadora da Ilha do Faial.

E, assim, as restantes ilhas do ex-distrito da Horta ficaram condenadas a não ter um hospital de ilha já que passaram a ter que fazer parte da área de influência de um hospital cuja construção nunca fez sentido – ao menos em termos de planeamento racional.

E o que era inevitável aconteceu. Os quadros administrativos e auxiliares preencheram-se num ápice enquanto que os quadros de especialistas e respectivos serviços nunca chegaram a atingir o nível indispensável e dar respostas adequadas.

Mas era fundamental justificar tão grosseiro erro de planeamento e mascarar as suas consequências económicas: um verdadeiro sorvedouro de dinheiro. Para tanto foram criadas as famigeradas juntas médicas de deslocação de doentes sediadas no Hospital da Horta.

Fazendo tábua rasa da organização administrativa da Região e das perrogativas e competências profissionais dos médicos das restantes ilhas essas juntas passaram a tutelar e controlar a saída dos doentes do Pico, Flores e Corvo houvesse ou não resposta adequada na Horta.

Situação que, incrivelmente, se mantêm até hoje com episódios frequentes de decisões atentórias de direitos elementares dos utentes e dos respectivos médicos de família. Para não falar de algumas listas de espera absurdas.

Como é o caso das tomografias axiais computorizadas (TAC) que atingem anos. Sendo um episódio recente o mote desta crónica. Um doente do Pico portador de uma requisição urgente de um especialista que o observou foi confrontado com uma lista de espera de 2 (dois) anos no Hospital da Horta!...

O que sendo ridículo aos olhos de qualquer leigo sensato não deixa de ser inteiramente ilustrativo da situação caricata a que se chegou e que dispensa qualquer outro comentário.

Quem nos acode?



P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O polvo fundamentalista

Os responsáveis (pelas caricaturas) devem ser decapitados!
Cartaz de jovens muçulmanos na manifestação de Londres




O polvo fundamentalista


Há males que vêm por bem.

A onda de violência, histérica e gratuita, desencadeada pelo fundamentalismo islâmico sob o pretexto de umas caricaturas do profeta Maomé publicadas num jornal dinamarquês, é um desses males.

E vem por bem porque, possívelmente, virá a abrir os olhos a muita gente que ainda não percebeu a gravidade do islamismo fundamentalista e o seu carácter de polvo multitentacular.

A Europa, ciosa dos seus pergaminhos democráticos e culturais bem como da sua tradição de tolerância civilizacional e religiosa, poderá ver ruir – num ápice – um edifício que parecia à prova de bala.

E, ironicamente, a onda de intolerância e radicalismo religioso erigiu como seus principais inimigos os países nórdicos. Conhecidos pelo seu curriculo especialmente brilhante em matéria de tolerância e de defesa das causas étnicas e do multiculturalismo.

Não questionando o bom ou mau gosto das caricaturas de Maomé e muito menos o respeito que lhe é devido há, contudo, um princípio que fundamenta toda a cultura de liberdade do ocidente: o direito de expressão. E sobre esse direito não pode haver qualquer tergiversação esteja em causa Cristo, Maomé, Moisés ou, mesmo, Deus.

Os limites da liberdade, num estado de direito, só podem ser os da lei desse mesmo estado. Lei que foi, obviamente, democraticamente discutida e votada. Tudo o resto só pode existir na cabeça de fanáticos radicais, desprovidos de qualquer respeito pela liberdade e pela tolerância.

Fanáticos que foram os primeiros a descredibilizar e desrespeitar o Corão e a religião muçulmana que se vê, assim, usada para fins completamente alheios à sua vocação e com meios que nada têm a ver com os pregados pelo profeta Maomé.

Sendo, também, profundamente irónico que tenham sido, precisamente os tais fanáticos “guardiões” da honra de Maomé a dar o mote para a caricatura que mostra o profeta com uma bomba no turbante! Então não foram eles que fizeram ou mandaram fazer os ataques em Nova Iorque, Madrid e Londres para além das chacinas diárias no Iraque?

Não são eles que, agora, destroiem embaixadas e desencadeiam ondas de violência completamente desproporcionadas comandadas por imãs que vociferam em nome de Alá e de Maomé. Não foram eles que, há anos, tiveram a audácia de condenar à distância e à morte o escritor Salmon Rushie e assassinaram, recentemente, em plena via pública um cineasta holandês?

Esses mesmos que, nos respectivos países, mantêm regimes fortemente ditatoriais e que colocam as mulheres num plano secundário de intolerável discriminação sempre em nome de um deus ou de um profeta que não se podem defender.

Sendo bem triste e lamentável – para quem ama a liberdade e a tolerância – o que se passa nesses países só faltava, agora, que viessem tentar impôr nos nossos países as mesmas práticas totalitárias de intolerância e discriminação.

Objectivo que é o deles e que a Europa – que já está a lidar com uma escalada muito grave de violência e fanatismo – terá de combater pondo, muito rapidamente, os pés à parede.

Tendo, para isso, de se deixar de chavões politicamente correctos e políticas “soft”e não repetir os mesmos erros que cometeu com o advento do nazismo, desvalorizando o que é mesmo muito sério e uma ameaça real para a nossa civilização ocidental e, o mesmo é dizer, para a liberdade.

Não assobiando para o lado, como tantas vezes tem feito.

Em Roma sê romano. Quem não gosta de nós e do que nós representamos não tem que nos sofrer mas o inverso é rigorosamente verdade. Que cada um viva aonde se sinta bem e goste de viver mas que o faça em pleno respeito pela casa que escolheu.

Qualquer tipo de capitulação em matérias que são o cerne da nossa civilização levará, inevitavelmente, a conflitos generalizados (que no limite poderão chegar aos nucleares) e à desagregação da nossa matriz política, social e cultural.

Há que agir e depressa.

P E D R O D A M A S C E N O