sexta-feira, abril 21, 2006

Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho

Teerão formou 40.000 kamikazes para atacar alvos ocidentais”
Sunday Times


Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho


Claro que comparar Mahmoud Ahmadinejad, presidente da República Islâmica do Irão, com Adolfo Hitler é um exercício essencialmente didático. Os tempos e as culturas são outros e outras. Mas duas coisas, pelo menos, têm em comum: o pendor ditatorial e a imprevisibilidade de comportamento.

Mas, mais importante, do que detectar essas semelhanças é perceber que a atitude macia e tolerante que o III Reich mereceu da comunidade internacional é, mutatis mutandi, a mesma que o Irão está a receber agora. Até o presidente Bush sentiu a necessidade de explicar que os Estados Unidos não estão a considerar a opção militar!

O Irão de Ahmadinejad não tem nada a ver com os nossos conceitos de democracia e de liberdade. Desde logo porque é, assumidamente, um estado teocrático “inspirado” por Deus e depois porque vive do radicalismo que adopta em relação ao mundo “infiel”.

A base do poder na antiga Pérsia construiu-se numa feroz repressão interna, no radicalismo religioso e numa retórica de afrontamento em relação ao mundo não islâmico. Tire-se isso ao regime e pouco ou nada fica.

Os ayahtollas não podem, por conseguinte, dar-se ao luxo de mostrarem a menor tibieza perante o ocidente e terão que subir sempre a parada, não tendo condições internas para negociar no plano internacional. Isso seria perder um pilar indispensável à sua manutenção no poder.

Da mesma forma que o regime nazi vivia da ideia da supremacia ariana e do controlo do mundo. A manutenção de Hitler no poder dependia inteiramente, como se viu, do sucesso da sua política de expansão e de dominação do mundo não ariano. Do sucesso da sua política externa dependia a manutenção no poder.

Ahmadinejad não terá condições de se manter no poder se for obrigado a fazer concessões significativas a nível internacional. Toda a sua retórica se baseia em conceitos profundamente xenófobos e isolacionistas matizados pelo discurso religioso do Grande Islão.

Só assim se percebe a notícia de que o Irão esteja a preparar um verdadeiro exército de kamikazes destinados a perpetrar acções suicidas no ocidente. Tendo a notícia tido origem num alto responsável dos Guardas da Revolução organização de onde, também, provem Ahmadinejad está tudo dito.

A serem verdade tais declarações só podem ser entendidas num contexto de afrontamento destinado a desencorajar uma acção militar ocidental contra as instalações nucleares iranianas e, simultaneamente, a reforçar o apoio dos sectores mais retrógrados da sociedade iraniana.

O Irão não só não aceita submeter-se ao escrutínio da agência de controlo nuclear das Nações Unidas (porque não, se realmente não tem em mente a bomba atómica?) como embarca em atitudes provocadoras que atestam as suas intenções bélicas.

Estando a Europa ao alcance dos misseis iranianos e por conseguinte de uma eventual ogiva nuclear percebe-se bem que a questão ultrapassa as fronteiras do Médio Oriente para se ter tornado numa ameaça inegável para todos nós e que não pode ignorada em nome de uma qualquer paz podre.

Sendo uma ameaça para a Europa se-lo-á para todo o ocidente, convertendo-se no grande sarilho do século. Sarilho que se não for resolvido, diplomaticamente, a muito curto prazo deverá desencadear a reacção firme e até às últimas consequencias por parte da comunidade internacional que Adolf Hitler não conheceu até ter acontecido Pearl Habour. Só assim será possível evitar um quadro semelhante ao que conduziu, como todos se lembram, à segunda guerra mundial.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, abril 07, 2006

Desabafos de um deus menor

“e Deus disse vou destruir da face da terra o homem que criei.....porque me arrependi de o ter feito” Genesis (cap. VI – 7)


Desabafos de um deus menor

Dado que Deus nos criou à sua imagem e semelhança (“vamos fazer o homem à nossa imagem e semelhança” Genesis cap I – 26) será razoável considerar-me um deus menor, sem cair em qualquer sacrilégio.

E, embora, não pretendendo arrogar-me a possuir quaisquer poderes sobrenaturais ou capacidades omniscientes, sempre será de esperar que consiga entender, minimamente o Criador.

Criador que nos deu o domínio discricionário sobre os outros seres vivos e a terra e que deixou que os seus filhos casassem com as nossas filhas ( Genesis cap. VI – 2). Uma relação muito próxima portanto.

Mas apesar de tudo isso – das semelhanças e dos poderes outorgados – Deus acabou por se irritar e destruir com um dilúvio a obra feita à sua imagem e semelhança e, quem sabe, os seus próprios descendentes.

Quer se aceite a Bíblia como uma descrição histórica fidedigna ou apenas como um livro de culto a ser seguido por fieis não deixa de ser interessante o tema recorrente da ira de Deus perante o comportamento dos homens.

Tendo nós sido feitos à sua imagem e semelhança seria de esperar que os nossos comportamentos tivessem alguma coisa de divino. Sobretudo sabendo-se, como se sabe hoje, a importância que a genética tem nos comportamentos.

Independentemente de professarmos ou não uma fé religiosa é evidente que conduzimos a nossa vida como bem entendemos e as interferências que sofremos provêm, essencialmente, de outros seres humanos e de circunstâncias aliatórias.

E mesmo que se considere a história do castigo divino na forma de dilúvio do Velho Testamento como uma mera alegoria não deixam de ser preocupantes os sinais de violência e miséria que se vivem no mundo e o total desrespeito com que lidamos com a Terra.

Mas ainda mais preocupante é o aumento exponencial dos sinais de extremismo e intolerância religiosos sempre feitos em nome de um Deus que todos – cada um à sua maneira – julga saber interpretar. Para defender as maiores violências e injustiças.

Apesar de não passar de deus menor e só poder falar em nome próprio não posso deixar de sentir alguma ira e revolta por toda esta utilização, abusiva e infundamentada, da hipotética vontade de Deus. E por todo este desrespeito pelos outros e pela nossa casa comum.

A palavra de Deus é uma coisa muito séria e não será por acaso que a sua invocação – em vão – é um pecado mortal na Igreja Católica, a pronúncia do nome Geová é totalmente proibida na Religião Judaica e na Religião Muçulmana não é permitido representar por imagem o profeta Maomé.

Se a minha palavra - ainda que de um deus menor - fosse minimamente ouvida gostaria de exortar as religiões (todas elas) a regressarem aos seus fundamentos e ao papel que lhes cabe no preenchimento da nossa dimensão espiritual.

As religiões deveriam servir – precisamente – para estabelecer padrões de comportamento positivo, quer individual quer colectivo, que visassem unir as pessoas e promover a justiça e o equilíbrio num profundo respeito pela natureza que é a nossa matriz de vida.

Se não for para isso não passam de uma treta, tantas vezes, ao serviço de fins inconfessáveis e uma “ajuda inestimável” para uma nova fúria de Deus.


P E D R O D A M A S C E N O