sexta-feira, agosto 31, 2007

ECOLOGIA E ECONOMIA

A Natureza é o nosso verdadeiro capital
E. Schumacher



ECOLOGIA E ECONOMIA


Apesar da crescente sensibilização da opinião pública para as questões do ambiente nomeadamente a propósito das, cada vez mais visíveis, consequências do aquecimento global continua a ver-se a defesa do ambiente como um inimigo do progresso económico.

Como se ecologia e economia fossem incompatíveis ou na melhor das hipóteses, antagónicos. Mas o que passa, na realidade, é precisamente o oposto: o ambiente – a nossa casa global – é base de uma economia saudável mas, sobretudo, da nossa sobrevivência.

Tendo as palavras ecologia e economia a mesma raiz Grega – oikos ou seja casa – estão intimamente relacionadas. Significando ecologia, literalmente, o conhecimento da casa e economia, por outro lado, a gestão da casa.

Não se vislumbrando como é possível gerir em condições uma casa sem a conhecer previamente. Não fazendo sentido, também, que seja possível gerir bem uma economia mundial sem conhecer, em profundidade, o planeta.

E as provas, para os mais cépticos, abundam. Sendo já bem perceptível uma crescente insegurança de pessoas e bens directamente imputável às alterações climáticas e a uma política económica de delapidação sistemáticas dos recursos naturais.

A economia não pode explorar agressivamente esses recursos e depois procurar, atabalhoadamente, compensar os prejuízos mediante a tomada de medidas avulsos que apenas vêm minorar o problema.

O problema de fundo tem a ver com a convicção – ainda generalizada – de que o ambiente e o os recursos naturais estão ali, à nossa disposição, podendo ser utilizados e desbaratados para que as metas de crescimento da economia, sobretudo das grandes multinacionais, sejam atingidas.

Uma economia que cresce à custa do definhar da ecologia é uma economia perigosamente não sustentável e a primeira causa do aquecimento global. Sendo que valor (o Deus da economia) não é apenas dinheiro mas deverá ser, sobretudo, bem-estar e qualidade de vida.

Um futuro sustentável só será possível (sobretudo para os nossos filhos) se conseguirmos resolver o problema das mudanças climatéricas protegendo e mantendo ecossistemas que são indispensáveis à vida. Como, por exemplo, as florestas da chuva e a agricultura biológica.

Mas o caso dos Açores é exemplar de tudo isto. Toda a gente já percebeu que o turismo é o nosso futuro em termos de desenvolvimento e que as nossas condições naturais são a galinha de ovos de ouro. Não fazendo, por conseguinte, qualquer sentido que se mate a galinha!

Um excelente exemplo da ligação e cooperação que tem que existir entre ecologia e economia. Se assim não for teremos tempos negros para economia regional e poremos em causa a nossa própria saúde /bem-estar.


P E D R O D A M A S C E N O

sábado, agosto 18, 2007

EDUCAÇÃO E RESILIÊNCIA

Resiliência é a capacidade de resistir a situações adversas (choque, stress, etc.)
Wikipédia


EDUCAÇÃO E RESILIÊNCIA




Resiliência é um daqueles “palavrões” que é fundamental reter apesar do seu uso, por incrível que pareça, não fazer parte do nosso quotidiano sobretudo em contextos educativos.

A resiliência – essa capacidade de enfrentar as dificuldades e a adversidade – é uma ferramenta essencial para garantir a sobrevivência sendo esta, por seu turno, o instinto mais forte dos seres vivos.

A vida não é fácil, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, bastando apenas pensar nas secas e nas inundações que têm atingido o globo e criado tantas situações de precariedade e morte.

O stress, outro palavrão, mas este muito em uso, vem precisamente atestar as dificuldades da vida moderna. Que não sendo de sobrevivência imediata são, sobretudo, de qualidade de vida e de saúde.

Possivelmente, mais do nunca, a resiliência é um factor de sucesso e de felicidade num mundo altamente competitivo em que o ser humano se afasta do seu habitat natural para se integrar nas selvas de betão.

O êxodo da periferia para os centros urbanos é um fenómeno que, pelo menos em Portugal, não parece ter entrado em decréscimo. E viver em grandes centros urbanos é um desafio pesado em termos de qualidade de vida e de capacidade de resistência.

Todas as estatísticas de saúde aí estão a apontar o stress como grande factor provocador de doença e de morte, desde os acidentes cardiovasculares até às depressões não esquecendo, naturalmente, o flagelo do tabagismo e da droga.

O ser humano parece desprovido de ferramentas essenciais de defesa e sobrevivência num mundo como o nosso. Não morremos (pelo menos deste lado do mundo) tanto de fome ou de frio mas morremos – como tordos – de enfartos, cancros e outros mimos.

Circunstância que torna ainda menos compreensível a ausência da palavra resiliência das nossa famílias e das nossas escolas.

Os pais, talvez por falta de tempo e sentimentos de culpa, criam os filhos na convicção de que são uma espécie de génios de Aladine cuja função principal é satisfazer todos os seus desejos e tolerarem todas as suas birras e desaforos.

As crianças crescem, por conseguinte, com expectativas completamente irrealistas em relação ao futuro numa visão quase exclusivamente hedonista (o prazer pessoal como bem supremo) da vida. Para, depois, serem confrontados com uma realidade dura e altamente competitiva.

Nas escolas, com outros matizes, a situação é idêntica. Os alunos não são minimamente disciplinados nem adquirem competências cívicas. Voam por currículos frequentemente desprovidos de qualquer aplicação prática para aterrarem, de súbito, num mundo que não tem nada de banda desenhada ou de jogos de computadores.

Aterrando numa sociedade de consumo, pura e dura. Sendo organismos sem defesas que o facilitismo e mimo dos pais e o laxismo das escolas eliminaram. As defesas criam-se pela luta e pelo estímulo, nunca pela protecção excessiva e pela falta de disciplina.

A resiliência adquire-se pelo sacrifício, pela disciplina e pelo estímulo. Educação e resiliência têm, por isso, que ser as duas faces da mesma moeda. Só assim estaremos aptos a viver – pelo menos com alguma saúde e qualidade – o nosso futuro incerto.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, agosto 03, 2007

REPÚBLICA POPULAR DA MADEIRA

quando a legislação não é aplicada, os cidadãos podem recorrer a instâncias próprias, ao sistema de Justiça”
Presidente da República a propósito da não aplicação da leia da IVG na Madeira




REPÚBLICA POPULAR DA MADEIRA
Um caso para estudo



Compete ao Presidente da República ser “garante …. do regular funcionamento das instituições democráticas” – artigo 120.º da Constituição da República Portuguesa.

A não aplicação de uma lei da República, nomeadamente, quando consequência de um referendo nacional (a forma mais democrática de decidir) atinge claramente esse regular funcionamento.

Mesmo que o Presidente da República seja, no seu íntimo, contra a lei da Interrupçao Voluntária da Gravidez (IVG) não pode remeter os cidadãos para os tribunais não cumprindo o seu dever constitucional. É seu dever e competência assegurar que o regime democrático e a lei funcionem para todos.

Naturalmente que o Presidente do Governo Regional da Madeira tem todo direito de discordar da lei e teve toda a liberdade para o expressar durante a campanha do referendo. Não tem, nem pode ter, todavia o direito de decidir não aplicar uma lei que seguiu toda a tramitação legal e constitucional.

E muito menos pode um Secretário Regional vir afirmar que o “Governo da República não pode impor colonialmente” essa lei. Para além de um destempero de linguagem é uma afirmação que põe em causa a unidade do próprio Estado.

Portugal e a Madeira – com os elevados niveis de iliteracia e de incultura que se lhe conhecem – precisam, acima de tudo, de gente com cultura democrática e boa educação. Gente que nos traga para cima e que faça o povo acreditar na política e nos políticos.

Gente que nos venha ensinar a sermos mais tolerantes e correctos porque o exemplo tem de vir de cima. Se altos responsáveis políticos são os primeiros a cair em peixeiradas, na falta de respeito e na irresponsabilidade o que se poderá esperar do povo mais simples?

Para isso já tínhamos o futebol e os seus caciques com as suas intermináveis novelas. Mas futebol é futebol e não passa disso mesmo: um negócio milionário que vive à custa da peixeirada, da intriga e da corrupção. Mas que só compra quem quer.

O caso da Madeira é, indiscutivelmente, um caso para estudo em que uma região da periferia europeia tem uma classe dirigente que pede meças a qualquer uma das inúmeras repúblicas das Caraíbas de cujo nome nem nos lembramos. Em que políticos se demitem para se recandidatar tendo para governar as mesmas condições porque se demitiram!

A Madeira e Portugal merecem e precisam de melhor.

O que está em causa, no fundo, é muito mais do que a não aplicação da lei da IVG e os direitos das mulheres madeirenses. É o próprio regular funcionamento das instituições democráticas e a credibilidade do regime no seu todo.


P E D R O D A M A S C E N O