sexta-feira, novembro 21, 2008

Razões que a razão desconhece

Razões que a razão desconhece




A Ilha do Pico tem uma área total de 447 Km2 e uma área protegida de 143,74 Km2 que representa, por conseguinte, 32% da área total da ilha. Área protegida esta que representa 34% da área protegida total dos Açores que se cifra em 418, 2 Km2!

No Pico situa-se a Vinho do Pico – Património Mundial da Humanidade. Área que pela sua beleza e carácter é objecto de intensa pressão imobiliária quer por parte de particulares quer por parte de investidores turísticos.

O Pico é uma das três ilhas dos Açores que tem a flora endémica – laurassilva – preservada na sua totalidade. Sendo as outras a Caldeira de Santa Bárbara na Terceira e as Flores.

Finalmente tem a montanha – indiscutivelmente o mais imponente monumento natural da Região – e o ícone mais usado na promoção dos Açores e que é um símbolo mágico do turismo ecológico.

A Ilha do Faial tem uma área total de 172,43 Km2 e uma área protegida de 23,47 Km2 que representa, por conseguinte 11,36 % da área total da ilha. Área protegida esta que representa sensivelmente 5,6 % da área protegida total dos Açores.

De notar que com a implementação do Parque Natural da Ilha do Pico a área protegida vai aumentar ainda mais. O que vai reforçar o seu estatuto do Pico como ilha maior do ambiente.

Tal estatuto e, sobretudo, tal área protegida colocam um grande desafio aos responsáveis pelo ambiente que terão que assegurar que a protecção é efectiva e num apenas uma intenção expressa no papel.


Questão central quando se percebe que o futuro do turismo açoriano irá depender da nossa qualidade ambiental. Como uma recente avaliação levada a cabo pela prestigiada National Geographic demonstrou. Os Açores ficaram em segundo lugar, exactamente pela qualidade ambiental que ainda apresentam.

Sendo óbvio que o nosso grande desafio consiste em manter e, se possível melhorar o score ambiental. Dado que essa é a nossa galinha de ovos de ouro para o negócio do turismo para não falar da manutenção da nossa qualidade de vida.

Mas protecção implica esclarecimento, pedagogia e fiscalização. Desiderato inatingível sem adequados meios humanos e materiais e sem uma fortíssima vontade política.

Assim sendo pergunta-se: como é possível explicar que a Ilha do Faial com os 23, 47 Km2 de área protegida tenha 4 vigilantes da natureza e o Pico com os seus volumosos 143,74 Km2 tenha um?! Ou que a orgânica futura para o Pico preveja apenas três?

E os meus amigos do Faial que não se preocupem. Ninguém lhes quer tirar nada. Os quatro vigilantes do Faial estão bem. O que está mal é um único vigilante no Pico! O retrocesso do Faial nunca fará bem ao Pico do mesmo modo que a castração deste nunca será uma mais valia para aquele.

Não se exigindo os 24 vigilantes a que uma regra de proporcionalidade daria direito, teremos que falar num mínimo de seis que permitiria fazer 3 equipas de 2 pessoas e, assim, assegurar um patrulhamento minimamente sério. Tudo que seja menos do que isso é mandar o Património Mundial e o futuro Parque Natural às urtigas.

Há, de facto, razões que a razão desconhece.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, novembro 07, 2008

God Bless América

Que viva agora uma América esclarecida que saiba abraçar as grandes causas da paz, do combate à pobreza e à exclusão e da defesa do ambiente.
Pedro Damasceno in Ilha Maior 08.07.2007


God Bless América


A vitória esmagadora de Barack Hussein Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos foi muito mais do que o resultado do engenho, arte e brilhantismo de um só homem. E o presidente eleito é, sem dúvida, um homem de excepção.

Mais uma vez a América veio surpreender tudo e todos demonstrando uma vitalidade e uma extraordinária capacidade de mudança. Uma capacidade que só um regime democrático pode permitir.

O país da abundância e do esbanjamento mas também de situações de grande pobreza e exclusão. O país dos prémios nobeis e de Holywood mas também o pai da fast-food e da obesidade – a grande pandemia do século XXI.

América.

A terra da Ku Klux Klan mas também dos hippies das flores, do amor livre e da não-violência. Pátria do McCarthy da caça às bruxas mas também de Luther King e John F Kennedy.

Today I am an American.

Hoje, mais do que nunca, sinto que faço parte desse admirável mundo novo, desse caldo efervescente de culturas e etnias que mais não é do que um microcosmos integrado nesse macrocosmos que é o planeta.

Há esperança.

Há esperança de uma ordem mundial que ponha o homem no centro das coisas e não as coisas no centro do homem. A mesma América que, ontem, nos fez empalidecer de humilhação com um Bush, patético e teleguiado, vem hoje pôr-nos no sapato o presente antecipado do Natal.

Esta eleição não foi, essencialmente, centrada em Barack Obama e John McCain. Esta eleição foi, antes, centrada num profundo desejo de mudança, mesmo que para tal fosse necessário eleger o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

Sendo certo que muito poucos países europeus (dois ou três?) fossem capazes de eleger um presidente ou primeiro-ministro de cor. Esta nossa Europa, culta e civilizada, que tantas vezes tem feito chacota do país dos cowboys.

A grande lição que todos temos que tirar é a de assumir, com humildade essa mesma lição. Uma lição de pujança democrática e de participação cívica que se cifrou numa das maiores afluências de sempre à urnas.

Os grandes temas da paz, da pobreza e do ambiente voltam ao centro da agenda política.

A Obama competirá, agora, unir a grande nação americana e estabelecer um plano de transição para um capitalismo com coração e causas. A todos nós competira acreditar, também, que a mudança é possível.

Há males que vêm por bem, diz o povo. E tem razão. Que esta crise financeira e económica mundial seja a grande oportunidade para parar, pensar e agir.

God Bless América.

I love you.



P E D R O D A M A S C E N O