sexta-feira, setembro 18, 2009

"Fuck them"

Fuck them
Alberto João Jardim dirigindo-se a jornalistas


“Fuck them”


Qualquer pessoa que perceba, minimamente bem, inglês sabe que o título desta crónica é do mais ordinário que se pode dizer na língua de William Shakespeare. Embora comum hoje em dia, mas muito ordinário em qualquer dos casos.

Então porque o escolhi?

Porque foi essa a expressão que o Presidente do Governo Regional da Madeira entendeu adequada para mimosear os jornalistas que indagaram das razões porque Manuela Ferreira Leite usou automóveis do Governo Regional na sua visita partidária à Madeira.

Expressão que dita publicamente (tendo sido transmitida pela TV) se enquadrava, até 1983, num crime público. Tendo sido despenalizada não deixa, por isso, de ser totalmente ofensiva e inadequada ainda agora.

E perante tudo isto, mais uma vez, nada aconteceu!

O Presidente da República a banhos em Boliqueime. E o resto do pessoal a encolher os ombros e a acomodar-se, novamente, aos destemperos (de que origem?) daquele que se apresenta como o bobo de serviço na Corte da Madeira.

Penso que nem Benito Mussolini, pese embora a sua forte veia de palhaço, foi tão longe.

É difícil perceber como um país que se indigna tão violentamente com a suspensão do noticiário da Senhora Manuela Moura Guedes não reaja ao facto de um Presidente de Governo Regional mandar “foder”, em alto e bom som e com todas as letras, os jornalistas!

E não consta que o respectivo Sindicato tenha decidido tomar alguma atitude e, muito menos, que a AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social) tenha tomado posição sobre o assunto.

Embora seja público e notório, desde há muito tempo, que o Dr. Alberto João Jardim deixou de ter condições para exercer um cargo de tal importância.

Não só pela mais elementar falta de boa educação e respeito pelos outros como, sobretudo, pelo desrespeito provocatório, trauliteiro e sistemático dos órgãos de soberania nacional num exemplo flagrante de ausência de sentido de estado e de cultura politica e democrática.

Só não vê quem não quer ver. O eterno argumento de que arrecada sempre o voto popular é, no mínimo, patético. Como se toda a gente não soubesse como estas coisas se fazem com o beneplácito de um regime democrático frouxo.

O que torna o regime da Madeira num exemplo paradigmático das perversões da democracia quando ela é entendida como um simples ir a votos. E, o mesmo é dizer, da ileteracia e do caciquismo que ainda se vive em Portugal. Pragas de que não nos livraremos enquanto houver, no activo, semelhantes políticos.

Mas tudo isto é bater em ferro frio porque, há muito, que a democracia portuguesa se afunda num conformismo exasperante e num aparente complexo do exercício da autoridade com a óbvia falência do normal funcional das suas instituições.

Mas lá que irrita e machuca, é verdade.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 04, 2009

A insustentável leveza da nossa democracia

nunca ninguém nos presta contas de coisa alguma
Ricardo Costa




A insustentável leveza da nossa democracia



Aproximam-se novos actos eleitorais e aí está a parafrenalia promocional. Cartazes, cores, frases e - mais tarde - tea-shirts, esferográficas, bonés e mais cartazes e frases. E muita barulheira.

Chegou o zénite da nossa democracia: as campanhas eleitorais. As máquinas partidárias aquecem os motores e os militantes acordam depois de uma longa hibernação. Os escritórios desertos animam-se de novo.

Os programas e folhetos que praticamente ninguém lerá (porque não vale a pena?) saem para a rua. Provavelmente a sua aplicação nunca será monitorizada, de forma transparente e sistemática, fado a que já nos habituámos ao longo dos mais de 30 anos da nossa democracia.

Fica tudo mesmo assim.

Os partidos políticos empenham-se, nova e encarniçadamente, na luta pelo poder. O que, na prática, acaba por ser o seu grande objectivo pesem as listagens de soluções, mais ou menos milagrosas, que sempre propõem para salvar o país.

Não questionando as boas intenções - que dessas está o inferno cheio – fica a ideia de que os programas são uma chatisse. E que servem sobretudo para serem argumentos em sede de debates que, mesmo assim, quase sempre descambam para diatribes pessoais.

A grande maioria dos leitores submerge perante a avalanche inusitada de informação e de interesse pelas suas anónimas pessoas que, na véspera, não constavam do mapa e agora recebem resmas de apertos de mãos e de pancadas nas costas.

Vindos de um grande vazio de militância partidária e ideológica e de activismo cívico os eleitores são, de repente, o centro de todas as atenções. Uns mordem a isca mas um grande número desconfia e fica em casa. Uma minoria mais politizada vai tentando fazer navegação à vista e votar útil

Crescentemente.

Longe vão os tempos do debate político convicto e participado. E assim vai a insustentável leveza desta nossa democracia que persiste em tornar a política num circo feérico e mediático em que a imagem vale quase tudo e a substância quase nada.

A abstenção dispara e o interesse cai a pique. O recrutamento dos políticos entra numa crise semelhante ao recrutamento de sacerdotes. Quem não pode caçar com cão caça com gato e portanto que venha a nós quem quer e não quem é preciso.

É necessário lutar pela democracia porque não há alternativa. É necessário defender os partidos porque sem eles não há democracia. Mas ainda bem que há vida para além deles e dos períodos eleitorais e talvez seja essa mesma a chave para o futuro.


PEDRO DAMASCENO