sexta-feira, outubro 16, 2009

Eu, também, sou negro

Eu, também, sou negro.


A polémica gerada em torno da atribuição do Premio Nobel da Paz a Barack Obama possibilitou uma análise, mais profunda dos fundamentos para a atribuição do galardão.

Com gente a favor e gente contra, mas centrando o debate essencialmente nos méritos ou deméritos do presidente americano para o receber. Esquecendo que a Academia Sueca também o tem atribuído para sublinhar causas,

Foi assim no Médio Oriente (Sadat e Begin), em Timor (Ramos Horta e Ximenes Belo) e foi também por uma causa que foi atribuído a Al Gore. Foi assim quando foi atribuído a instituições como as Nações Unidas ou a Agencia Internacional da Energia Atómica.

A Barack Obama foi atribuído por pelos seus esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos e tem o objectivo evidente de apoiar a paz e a concórdia.

Sendo os Estados Unidos, ainda, a maior potência militar do globo está-lhe reservado um papel central na procura e consolidação da paz. Tendo Obama sucedido ao militarista Bush ficou claro que os americanos depositaram, também, naquele um grande capital de esperança,

A eleição de Obama representou para os Estado Unidos uma verdadeira revolução: negro, democrata, verde e pacifista. Tudo aquilo que Bush não era e que nos deixou um travo amargo de mediocridade, arrogância e militarismo.

Ser negro é uma forma de vida tão válida e necessária como qualquer outra. Mas eleger, em 2008, um negro para a Presidência dos Estado Unidos representou um salto gigante a favor das causas da igualdade e da paz.

Barack Obama ao conseguir fazer eleger-se e dispor-se a correr um constante risco de vida num país com tradição de assassinar presidentes, tornou-se num dos meus heróis.

Sendo apenas um homem tem, fatalmente, defeitos e virtudes como todos nós. Mas é um homem de coragem e resiliência fora do comum. Um homem que representa um marco na história recente da América.

Penso ser lícito pensar que o Nobel foi atribuído mais àquilo que Obama representa do que a ele próprio. Ou melhor, é impossível dissociar a pessoa das causas que defende e do trabalho que tem pela frente.

A atribuição do prémio representa, por isso, um forte sinal de reconhecimento por parte de um país europeu da necessidade da cooperação transatlântica e um grande incentivo para as colossais tarefas da paz e da justiça.

E Obama vai precisar de todo o apoio que consiga reunir.

A sua eleição foi apenas um primeiro passo para a grande caminhada que visa mudar o paradigma das relações entre as nações e o equilíbrio entre pobres ricos e entre norte e sul.

Por tudo isso eu, também, sou um negro. Com o mesmo espírito que Kennedy afirmou ser um berlinense em 1963 junto ao muro de má memória. Bem haja Real Academia Sueca dos Prémios Nobel!


PEDRO DAMASCENO