sexta-feira, março 26, 2010

ELVIS

ELVIS


O Elvis era apenas um pequeno cão de estimação. Nem especialmente bonito nem portador de uma linhagem particularmente pura. Era um desses muitos “vira-latas” que por aí andam.

Tinha, contudo, uma personalidade muito vincada e uma vitalidade fora do comum. E, desse modo, criou um lugar próprio na vida de muita gente que dele recebeu grande afecto inteiramente retribuído.

O Elvis morreu, serenamente, após uma vida longa.

História que nada tem de extraordinário mas que encerra, por isso mesmo, uma lição simples sobre a vida e a morte e a nossa relação com os animais. Ao fim e ao cabo seres vivos como nós.

Não havendo notícia da existência de qualquer decreto-lei ou outro documento que tenha deliberado tornar os animais cidadãos de segunda neste nosso conturbado planeta resta, apenas, a nossa convicção de que somos os seres mais importantes da criação.

E tem sido uma longa luta (ainda longe do fim) o reconhecimento do direito dos animais à existência . A lembrar, pesem as diferenças, as lutas pela igualdade dos escravos e das mulheres.

Sabendo-se, como se sabe hoje, que a biodiversidade é preciosa e condição indispensável para a nossa própria existência facilmente se percebe que o nosso equilíbrio biológico e emocional depende do respeito por todos os seres vivos.

Dos mais “insignificantes” aos mais corpulentos.

E vai sendo tempo de deixarmos de brincar aos deuses e parar de decidir quais as espécies que irão sobreviver. Porque todas elas fazem parte do nosso eco-sistema e são indispensáveis à sua manutenção.

O Elvis foi apenas uma gota muito pequena nesse grande oceano. Mas uma gota (que como diria Madre Teresa de Calcutá) que faz falta, como todos nós nesse imenso caleidoscópio que é o Universo. Um pequeno raio de luz.

Acreditando que tudo o que existe, vivo ou não, faz parte integrante deste mundo e que se tudo se transforma e nada se perde temos que aprender a viver nesse continuum de existência que não tem hierarquias e que a todos trata por igual.

Sendo, por isso, a morte não mais do que a transição de um estado para outro, independentemente das convicções religiosas e/ou filosóficas de qualquer um de nós. Tudo o que cá existe cá permanece mudando, apenas, de forma.

Não muito longe vai o tempo em que se considerava que os pretos e as mulheres não tinham alma. Hoje, felizmente, todos tem direito a ela – o que quer que seja. E porque não os animais?

O mistério é profundo e vai, provavelmente, manter-se indefinidamente. Pelo menos nesta breve passagem que é a nossa existência que, tantas vezes, desbaratamos em nome de uma qualquer efémera glória ou posse.

Restando-nos, simplesmente, saber amar para saber viver.


PEDRO DAMASCENO