sexta-feira, maio 28, 2010

Falta de esperma em Portugal

Falta de esperma em Portugal
( A invasão silenciosa?)


Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução falta esperma em Portugal! Tendo sido levantada a possibilidade da importação de esperma de países como a Espanha.

O que, para além de deixar todos os nossos marialvas do passado e do presente à beira de um ataque de nervos, vem pôr em causa o que parecia ser o último reduto da produção nacional: o esperma.

Ou seja, até na produção de esperma vamos ter de recorrer a Espanha como se não bastasse tudo o que de lá importámos. Correndo obviamente o risco de virmos a ter no futuro sucessivas levas de nostros hermanos, via espermatozóides importados.

Tirando os aspectos anedóticos fica-nos a sensação de que, nem ao nível de recolha de esperma e de óvulos, conseguimos encontrar soluções que não passem pela importação de materiais biológicos que porão em causa a nossa própria carga genética.

Levando, por conseguinte, a globalização para o terreno da genética e da reprodução. O que não sendo trágico revela bem a fragilidade das nossas capacidades produtivas e organizativas, mesmo a um nível que parecia impensável.

É evidente que não haverá falta de esperma em Portugal a crer nas estatísticas da actividade sexual dos portugueses e do seu desempenho. O que significará, mais uma vez , a incapacidade de gerar a nossa auto-suficiência em domínios quase caricatos.

Segundo o juiz desembargador Eurico Reis há a necessidade urgente da criação de um centro público de gâmetas (óvulos/espermatozóides) o que significa que tal centro não existe bem como a concomitante recolha do material orgânico.

O que nos põe um pouco em paz com a bombástica e pública afirmação de falta de esperma em Portugal. Sendo o problema da escassez essencialmente centrado na organização e recolha e não tanto na falta de produção nacional.



O que, às tantas, é aplicável a outras importações que fazemos e que, com a devida organização e planeamento, não teríamos de fazer. Com evidentes implicações na balança de pagamentos e no famigerado défice das contas públicas que, agora, nos faz andar a todos de cinto apertado.

Défice que não surpreende no país do esbanjamento e do desperdício (será também assim com o esperma?!) em que nos comportamos como os recursos fossem infinitos e em que o cidadão comum se comporta como o estado e a coisa pública fossem coisas que não lhe dizem directamente respeito e que, gostosamente, ajuda a delapidar.

Reflexões sugeridas pelo magno problema da falta de esperma que, com toda a certeza, não é um problema estrutural mas simplesmente mais um sintoma alarmante da nossa proverbial incapacidade de aproveitar recursos próprios ou aqueles que nos foram postos à disposição.

Foi assim com as especiarias e o ouro da expansão colonial, foi assim com os biliões da comunidade europeia e, pelos vistos, será assim com o esperma que - tudo leva a crer - será de boa qualidade e em quantidade suficiente.

A ciência e a tecnologia devem merecer-nos todo o respeito. Mas há coisas que não lembram nem ao Diabo.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, maio 14, 2010

As cinzas do norte

As cinzas do norte


A “moda” chegou. Inevitavelmente as cinzas vulcânicas da Islândia atingiram os Açores. Provando a pequenez do planeta e a susceptibilidade de todos nós.

Sem cair no chavão de que estamos a pagar pelas agressões ao ambiente deverá ser, contudo, motivo de reflexão. Dado que engrossamos uma Europa que tem tido prejuízos no sector do turismo da ordem dos trezentos milhões de euros num só dia.

A Organização Mundial de Turismo já estimou prejuízos para o turismo europeu que ultrapassam os 1.700 milhões de euros e as companhias aéreas poderão ter que subir os preços das passagens.

A chegada das cinzas deixou a Região paralisada desde domingo e sem ligações ao exterior sendo apenas possível viajar, com normalidade, entre as ilhas do Triângulo. Atestando o caracter peculiar e de proximidade destas ilhas.

Os prejuízos económicos serão, também, de monta nos Açores sem contabilizar todos os transtornos pessoais ocorridos. O que, ironicamente, nos põe todos a desejar ainda mais chuva, mas desta vez para ajudar a limpar as cinzas.

As cinzas da Islândia, o derrame de petróleo do Novo México, os sucessivos furacões nos Estados Unidos conferem à crise financeira numa dimensão bem menos trágica. Dado que ultrapassar esta depende, em primeira linha, de nós.

Contexto em que se torna importante reflectir sobre a necessidade crescente de reavaliarmos o nosso estilo de vida e o modo insensato como, tantas vezes, desbaratámos os nossos recursos naturais ou menosprezamos a força da natureza.

Força que, num ápice, pode fazer ruir o baralho de cartas em que as nossas vidas se tornaram já que dependem de recursos e tecnologias que falhando nos deixam ao sabor do improviso.

O que é ainda mais verdade para uma região periférica como a nossa em que, infelizmente, as pessoas tem vindo a perder competências de sobrevivência mercê de um facilitismo que atinge o próprio sector alimentar, condição primeira de vida.

A presente experiência, se bem digerida e reflectida, pode ser o ponto de arranque para uma nova postura perante a vida e um recuo face a um consumismo que já nos atinge em cheio e que nos vulnerabiliza em termos de sobrevivência num cenário de catástrofe.

Sem perder o rumo da modernidade e do desenvolvimento deveríamos preservar e estimular as nossas ancestrais capacidades de fazer face a uma natureza lindíssima mas igualmente agreste e difícil. Voltar, se possível, ao amor à terra.

Os Açores são um local fascinante com condições para atrair gente igualmente fascinante. Mas o futuro de tudo isso depende de nós e da maneira como formos capazes de “casar” progresso com tradição.

As Ilhas de Bruma recomendam-se mas é urgente voltar a amá-las.


P E D R O D A M A S C E N O