sexta-feira, novembro 12, 2010

BIOCRACIA (Biodemocracia)

O país não precisa de uma ditadura, mas precisa de uma radical reforma.
Vasco Pulido Valente


BIOCRACIA
(Biodemocracia)

Portugal precisa, de facto, de uma radical reforma.

E quem diz Portugal diz a nossa cultura ocidental. Porque não somos assim tão diferentes de todos os outros. Os nossos défices orçamentais podem ser maiores, a nossa produtividade menor mas a filosofia do sistema é a mesma.

Basicamente somos uma cultura de consumo que explora os nossos recursos naturais de forma, crescentemente, insustentável baseados na convicção de que o planeta está à nossa inteira disposição e foi “feito” para nos servir.

Consideramos-nos o supra-sumo da criação com o direito de decidir sobre o destino de todas as outras espécies só pelo simples facto de termos um cérebro mais desenvolvido e termos criado as tecnologias que tal nos permite fazer.

E, mesmo sabendo que o hábito não faz o monge, procurarmos gratificação e felicidade fora de nós, quer por via do consumismo e do conforto excessivos quer tentando ignorar que a nossa casa comum – o planeta – precisa da biodiversidade para manter qualidade.

O que levou a que, nos últimos quarenta anos, se desse um declínio de cerca de 30% da biodiversidade global e uma pressão sobre os recursos naturais da ordem de uma Terra e meia.

Ou seja, também ao nível dos recursos naturais e da manutenção das outras espécies, estamos a viver muito acima das nossas possibilidades. Só com uma grande diferença: a nível do ambiente e dos recursos naturais não há FMI que nos possa salvar!

Desde 1980 que consumimos mais recursos naturais do a capacidade de regeneração dos ecossistemas e produzimos mais dióxido de carbono do que a Terra pode absorver, situação agravada pela excessiva desflorestação que continua a fazer-se. Estando, por conseguinte, em défice ambiental desde essa altura.

Sendo a grande diferença que não é possível emitir qualidade ambiental da mesma forma que se pode emitir moeda. E qualidade ambiental é uma condição indispensável à nossa qualidade de vida e, no limite, á nossa sobrevivência.

Sendo que tudo isto assume particular importância quando se estima que a população mundial atinja os 9 mil milhões em 2050. E quando se percebe que países emergentes e muito populosos como a China, a Índia e o Brasil tenham objectivos (até certo ponto legítimos) de conseguir os níveis de consumo e conforto do Estados Unidos e da Europa.

O que se poderá tornar trágico quando se sabe que dez hectares são insuficientes para compensar para compensar o estilo de vida de um habitante dos Emirados em comparação com o meio hectare necessário a um timorense! E que com a actual pressão consumista esta Terra já não nos chega.

Sendo a democracia (poder do povo, humano entenda-se) o melhor sistema imperfeito que se conhece talvez seja altura para evoluirmos para a biocracia ou biodemocracia. Sendo esta uma democracia ecológica que inclua todos os seres vivos, tanto na biodiversidade como na diversidade cultural.

Sendo seguro que as outras espécies e os ecossistemas não possam vir a ter os seus próprios parlamentos compete-nos a nós, principais interessados, dar-lhes voz e poder político. Sob pena de podermos vir a estar perante um ecocídio e, o mesmo é dizer, um biocídio. Palavras novas para novas ameaças.

Viva-se no centro de Nova Iorque ou nos Açores!


PEDRO DAMASCENO