sexta-feira, outubro 19, 2012

No rescaldo dos votos


F A C E    O C U L T A





No rescaldo dos votos



            Como em tudo o resto houve quem gostasse (uma maioria confortável) e quem não gostasse dos resultados das eleições regionais. É a vida. Mas o que verdadeiramente marcou este acto eleitoral foi o seu elevado civismo.

            Facto que comentadores regionais e nacionais lembraram repetidamente. Mesmo na situação difícil que se vive no país, toda a campanha decorreu sem qualquer incidente digno de registo. E, mesmo, na hora da vitória/derrota o nível manteve-se.

            Houve quem não resistisse às comparações com a Madeira. E de facto era bom que isso fosse claro para toda a gente – como penso que é – nomeadamente para os decisores políticos da república. Quem cumpre compromissos e não utiliza a chantagem como arma política deverá ser objecto de discriminação positiva.

            Virada a página das eleições estamos agora com um horizonte de 4 anos difíceis em que os Açores e os Açorianos terão que estar primeiro. Os recursos financeiros são menores e o mercado preferencial do continente tem vindo – e continuará – a retrair-se. Teremos que contar essencialmente connosco e com os mercados europeus e norte-americanos.

            Apesar do grande desenvolvimento que conhecemos com o advento da autonomia ainda nos encontramos, felizmente, suficientemente perto das práticas da economia de subsistência que nos poderão fornecer preciosas ferramentas de sobrevivência. Com a excepção óbvia dos centros urbanos maiores.

            As palavras-chaves terão que ser criatividade, inovação e resiliência.

            Os recursos terão que ser geridos com grande rigor tendo que haver um combate sem tréguas a todas as situações de abuso/fraude dos apoios sociais e um seguimento apertado de todas iniciativas empresariais que tenham incentivos. Não é possível tolerar qualquer tipo de abuso/desvio.

            Os apoios sociais terão que ser mantidos e eventualmente reforçados para quem realmente precisa e os incentivos possivelmente majorados para as empresas viáveis que demonstrem condições de criatividade/inovação/exportação. Cortando na má despesa e reforçando a despesa indispensável para o crescimento da economia.


            Sendo, simultaneamente, estruturante estimular uma cultura de trabalho e produtividade que, ao longo dos anos de vacas gordas, se foi perdendo. Sejam actividades por conta de outrem sejam actividades próprias. O sentido de poupança e de ausência de desperdício terá que voltar às nossas vidas, sejam privadas sejam oficiais.

            Como nunca é preciso uma liderança forte e mobilizadora que consiga trazer ao de cima o melhor de todos nós e nos dê um sentido estratégico de desenvolvimento em que a política desempenhe um papel central. Se a economia é o motor do crescimento a política será sempre o seu painel de comando e o coração o seu veio de transmissão.

            Todos assistimos ao que leva uma economia em roda livre em que especulação financeira e os produtos tóxicos tomam a dianteira e jugulam o investimento produtivo. O próprio FMI recomenda maior regulação e melhor supervisão tendo percebido que o simples apertar do cinto não é solução única.

            Agora que nos Açores se dá início a um novo ciclo político e a uma nova liderança que tem pela frente desafios verdadeiramente colossais é, também, altura para estimular e apoiar. Todos não seremos demais.
           
       
                                              
                         
  P E D R O    D A M A S C E N O 

sexta-feira, outubro 05, 2012

Um vídeo tolo e um radicalismo manipulado


F A C E     O C U L T A




Muçulmanos querem leis contra incitamento ao ódio religioso
                                                                                                                                      Lusa




Um vídeo tolo e um radicalismo manipulado



           
O filme, se é que assim se pode chamar, “ A Inocência dos Muçulmanos” é liminarmente ridículo, tolo e desrespeitoso. Não tem humor, sentido estético ou mensagem. É simplesmente lamentável.

No entanto a liberdade de expressão, o expoente máximo de identidade democrática, significa isso mesmo: até quem não tem talento, ideias ou respeito pelos outros deve poder expressar-se. Sujeitando-se contudo, ao passar as marcas do legalmente consentido, a ser accionado judicialmente.

            Já no século XVII Bento Espinhosa, um filósofo de origem portuguesa, afirmava “que cada um pense o que quiser e diga o que pensa” considerando a liberdade de expressão como um valor crucial no desenvolvimento do ser humano o que lhe valeu perseguições e o desaparecimento dos seus restos mortais!

            Infelizmente, em pleno século XXI, as práticas persecutórias, obscurantistas e sanguinárias da “Santa” Inquisição parecem estar a ser retomadas por outra religião monoteísta que transforma o seu livro sagrado e o “seu” Deus em pretextos para a manifestações de ódio, intolerância e ignorância.

            Todas as religiões são teoricamente boas. Apenas da teoria à prática vai, muitas vezes, uma grande distância. Basta ver grupos armados rivais mas da mesma religião a matarem-se uns aos outros e apelar ao mesmo Deus!

            Percebe-se que as manifestações que têm varrido o mundo muçulmano são orquestradas e manipuladas porque ninguém verdadeiramente acredita que a generalidade dos manifestantes tenha visto o filme ou visite habitualmente o Youtube e muito menos use, regularmente a Internet.

            Tratou-se apenas de um pretexto.
   
O vídeo, como se disse, é simplesmente cretino e nunca chegaria a ter qualquer notoriedade não fosse a promoção gratuita que o radicalismo islâmico lhe garantiu. Nem representa, naturalmente, o ponto de vista dos Estados Unidos ou de qualquer outro país ocidental.

Tentar criar um caso com um vídeo que foi severamente criticado pela própria administração americana serviu apenas para tentar condicionar a liberdade de opinião que, felizmente, existe neste lado do mundo e não existe de todo na maior parte dos países de confissão muçulmana.

Não faltava mais nada que fossem, agora, terceiros a condicionar o que se pode ou não dizer. Esse é o princípio das ditaduras que utilizam a supressão da liberdade como uma das ferramentas mais importantes para manterem a opressão e a miséria.

A imbecilidade do vídeo que deve merecer a o nosso repúdio não poderá jamais servir para misturar alhos com bugalhos e sobretudo para tentar misturar estado e religião. Porque essa confusão só serve quem não acredita na causa da liberdade.

Cada macaco no seu galho.

Os negócios de Deus não são os negócios da terra nem estes são os negócios de Deus. A vida espiritual deve ser uma via para a paz, a concórdia e o perdão. Jamais uma desculpa para a violência, a intolerância e o ódio.

           


P E D R O    D A M A S C E N O