sexta-feira, junho 28, 2013

A "Revolução" da Classe Média

F A C E    O C U L T A



Não é por 0,20 centavos, é por direitos”
 Frase Viral das Redes Sociais Brasileiras



A “Revolução” da Classe Média



            Bem longe andava Carl Marx de imaginar que um dia a Classe Média se iria revoltar em manifestações inorgânicas e dar origem a movimentos cujas consequências poderão despertar uma nova ordem mundial.

            Começou pelos Estados Unidos, passou à Turquia, daqui ao Brasil e, qualquer dia, passará inexoravelmente à China. Tendo tido como ponto de partida as manifestações da “Primavera Árabe”, fenómenos gerados pela era digital e ampliados pela internet.

            Tendo todos esses movimentos tido causas com origem na classe média.

Nos Estados Unidos (Occupy Wall Street) os protestos foram contra o modelo económico e o empobrecimento da classe média, enquanto a parcela mais rica da população, os chamados 1%, continuavam a ser premiados com descontos nos impostos.

 Na Turquia “foi para a rua uma classe média instruída, secular, liberal e contrária a concentração de poder na figura do primeiro-ministro e à islamização do estado laico”.

            No Brasil a crítica é feita contra a forma como o dinheiro público é gasto, contra a qualidade dos serviços públicos e contra a corrupção. O debate centra-se no Brasil que os brasileiros querem ter, com múltiplas de causas de direita e de esquerda.

As manifestações passaram, num ápice, das críticas dos preços dos transporte públicos para os elevados gastos com a organização de eventos desportivos como o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, em detrimento de outras áreas como a saúde e a educação. 

            Uma das grandes novidades políticas, para além da origem de classe, é o facto de não estarem envolvidos nem partidos nem sindicatos como acontecia tradicionalmente. Talvez porque essas organizações não têm uma presença nas redes sociais que lhe permitam perceber o novo paradigma reivindicativo.

            Fenómeno que atinge os partidos transversalmente e que começa a tornar um pouco obsoleto o sistema democrático tradicional, face à capacidade de luta que a sociedade tem, inorganicamente, demonstrado.

            Em Portugal ainda nada aconteceu nesta escala mas será de esperar que possa ocorrer face ao elevado grau de cepticismo e mesmo desconfiança que os partidos/políticos despertam numa classe média progressivamente empobrecida e encurralada.

            A classe média, mais informada e culta, aceita mal a iniquidade, a má gestão dos dinheiros públicos, a baixa qualidade dos serviços oficiais, a corrupção, a falta de diálogo entre governantes e governados e, progressivamente, não se revê nos partidos tradicionais cuja vocação principal é o poder.

            O resultado só poderá ser o aparecimento crescente de movimentos inorgânicos que consigam captar a larga fatia da classe média que, cada vez mais, se abstém de votar mas que quer participar politicamente sem ser dentro de um quadro partidário clássico.

            Tendência que só poderá contrariada por uma profunda reforma dos partidos do dito eixo governativo que terão de adoptar uma cultura democrática aberta e uma prática de competência e de mérito, eliminando o caminho estreito dos aparelhos partidários e das benesses pessoais.

            A “revolução da classe média” veio para ficar, não se tratando de um fenómeno passageiro que poderá ser disperso por discursos de circunstância ou demagogias eleitorais. Apenas a governação competente, honesta, equitativa e respeitosa poderá dar resposta ao novo ciclo que se está a iniciar.

            São disso prova as denuncias das perversões do sistema que têm vindo a ser feitas como o já famoso Wikileaks que veio por em polvorosa o mundo inteiro e mais recentemente a denuncia das violações dos direitos humanos por parte da Agência Nacional de Segurança dos EUA desencadeada por Edward Snowden e que tanta tinta já faz correr.

            A bola de neve começou e não vai parar apenas com conversa e/ou repressão.

                       
           

P E D R O    D A M A S C E N O