quinta-feira, outubro 19, 2006

Coreia do Norte - a bomba da nossa impotência

Se não tens armas nucleares és invadido; se não tens não és
Madeleine Albright






Coreia do Norte
A bomba da nossa impotência



No ano de 2006 da era de Cristo um ditador de opereta chamado Kim Jong II, o “Querido Líder” de um país com níveis intoleráveis de pobreza e semi-escravatura, põe de cócoras as Nações Unidas.

E, sobretudo, põe de cócoras o voluntarioso George W. Bush que metendo a viola no saco se dispõe, agora, a seguir a via negocial com o que ele designou como um dos “vértices do mal”.

Perante um Irão que se prepara para tirar as devidas ilações do resultado de um braço de ferro entre a comunidade internacional e um dos últimos redutos “comunistas” do mundo.

Um país aonde terão perecido de fome e falta de assistência médica dois milhões de cidadãos, entre 1997 e 2002! E que gasta 80% do seu do orçamento de Estado em despesas militares.

Um país que se arroga a dizer em plenas Nações Unidas que a adopção de sanções será entendida como uma declaração de guerra. Desafiando – da forma mais frontal – os “guardiões do mundo”.

Dados que tornam Saddam Hussein e o seu país de “armas de destruição maciça” num verdadeiro reino de aprendizes de feiticeiro em que as diatribes do ex-ditador não passavam de quase cócegas.

Sendo tudo isto irónico é, por isso mesmo, de extrema gravidade.

Perante um Iraque dilacerado por uma guerra civil interminável que decorreu de uma invasão militar desnecessária e contraproducente, curvam-se – agora – uns impotentes Estados Unidos perante um dos vértices do mal.

Que, possivelmente, se estará a rir, no aconchego do seu palácio, dos “tigres de papel” capitaneados por George W. Bush e Tony Blair. Que intimidados pela eventual bomba atómica de Pyongyang – essa sim uma arma de destruição maciça – metem o rabo entre as pernas.

Não que se deva advogar, por analogia, uma outra ofensiva militar mas porque estamos a falar de dois pesos e duas medidas o que acaba por descredibilizar, ainda mais, as políticas do eixo Washington – Londres.

Sendo o regime norte coreano não democrático, possuidor de armas de destruição maciça e detentor de um dos maiores exércitos regulares do mundo dificilmente se perceberá, agora, uma política de paninhos quentes.

Agora, sim, é que a comunidade internacional e, nomeadamente, os Estados Unidos necessitam de tomar as mais rigorosas medidas de intimidação e demonstrar que são capazes de anular as derivas totalitárias.

Os “valores” porque se rege aquele regime são um real desafio à paz mundial já que pouco tem a perder e toda a lógica do seu funcionamento está ligada à máquina militar.

E o passaporte para a sobrevivência política de Kim Jong II passa pela criação e manutenção de inimigos externos que desviem a atenção da miséria e da falta de liberdade que se vive no país.

A maneira como as Nações Unidas lidarem com a questão nuclear coreana será um teste crucial à sua capacidade. Para o qual se viram todos os olhos nomeadamente os do Irão e os de todas as forças não democráticas.

Oxalá esta não venha a ser a bomba da nossa impotência.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, outubro 06, 2006

Turismo - uma actividade transversal

Turismo – uma actividade transversal



O turismo – actividade económica que se pretende venha a ter grande expressão na Região – é, tipicamente, um produto de características transversais que apanha todos os sectores de actividade. Desde os transportes ao comércio e às telecomunicações, passando pela saúde.

O êxito dessa actividade não dependerá, apenas, da qualidade dos alojamentos, da restauração e da animação. Dependerá, porventura ainda mais, do modo como a comunidade se comportar perante o turista, aos mais variados níveis.

Um dos argumentos de venda mais importantes para turismo açoriano é a qualidade do nosso ambiente/natureza. Área que tipicamente é da responsabilidade do estado e das autarquias. Aí os privados pouco ou nada podem fazer para além de manterem os seus espaços devidamente integrados.

Para os Açores a natureza e a qualidade do ambiente são questões de sobrevivência. A Região pouco mais poderá oferecer: o clima embora ameno é instável e praias são poucas e a milhares de anos de luz de outras paragens.

Infelizmente, contudo, muito há fazer para garantir a qualidade do ambiente e da natureza. Começando pelas questões elementares do lixo e do asseio público e acabando na construção desordenada e atípica que alastra por todo o arquipélago.

Não existindo, como devia, qualquer política, consistente e permanente, de educação ambiental fica, desse modo, aberta a porta à morte prematura da galinha de ovos de oiro do turismo açoriano. Sendo fundamental que as pessoas percebam as razões que determinam a importância da qualidade ambiental que não é, apenas, uma esquisitice de alguns.

Havendo também, com frequência, situações que descredibilizam os poderes públicos como é o caso de uma unidade turística de elevada qualidade e com evidentes preocupações ambientais – Pocinho Bay – que vê instalada na sua fantástica linha de vista para o mar e para o Faial nem mais menos que linhas eléctricas aéreas montadas em horrorosos postes de betão!

Um exemplo flagrante de uma iniciativa pública a pôr em causa, de forma lamentável, uma iniciativa privada que fica impotente perante um verdadeiro atentado ao ambiente e ao mais elementar bom senso e sentido de segurança. Trata-se de uma área a pouco metros do mar e que é por ele, repetidamente, atingida.

Dificilmente um turista de segmento alto – daqueles que queremos para os Açores – poderá perceber a falta de sensibilidade e responsabilidade que, no século XXI, está por trás de tão desnecessária aberração. Um exemplo bem objectivo de como uma má solução pública pode pôr em causa uma boa iniciativa privada.

Os poderes públicos – se quisermos ter turismo a sério – têm que tomar atitudes pro-activas que defendam a qualidade do ambiente ganhando, desse modo, credibilidade para poderem depois exigir do sector privado projectos e iniciativas de qualidade superior e assegurarem, mesmo, a aplicação da lei.

Não esquecendo, entretanto, a insegurança rodoviária que cada vez mais se vive no Pico. Desrespeito sistemático do código de estrada com criação de situações de grande perigo à mistura com camiões TIR que resolvem fazer das estradas da Ilha verdadeiras pistas de rally. Perante a complacência habitual da polícia que, de vez em quando, instala umas máquinas de registo de velocidade.

Pobre do turista que alugue um carro sem condutor. Não ganha, de certeza, para o susto!...





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