sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Deuses com pés de barro

Deuses com pés de barro


Passada a primeira onda de consternação sobre os graves acontecimentos ocorridos na Madeira no passado fim de semana, ficam-nos as imagens da destruição maciça e das vidas perdidas.

A Pérola do Atlântico transformou-se, de um dia para o outro, num imenso lamaçal a atestar a nossa impotência perante as forças da natureza e o seu incomensurável poder. Deixando-nos um travo amargo de pequenez.

A Lei das Finanças Regionais que, ainda ontem, era assunto de todos os jornais fugiu do palco a uma velocidade meteórica para dar lugar às imagens do sofrimento e da destruição, transformando aquele numa matéria sem relevância.

Como a provar que os nossos reinados de poder pouco adiantam perante forças que não conseguimos controlar e que estripam não apenas os nossas vidas e haveres mas atingem também, em pleno, o nosso ceptro de comando.

Foi assim na Madeira como foi assim aqui no sismo que ocorreu no Triângulo na madrugada de 9 de Julho de 1998 e que esventrou e destruiu num ápice o que demorou, depois, largos anos a reconstruir. Deixando, igualmente, um rasto de perdas humanas.

Como foi na avalanche de 1997 na Ribeira Quente que provocou 29 mortes e grandes danos materiais ou na enorme avalanche de 21 Outubro de 1522 que destruiu Vila Franca do Campo e causou milhares de mortos soterrando uma enorme área urbana.

Naturalmente para só falar de alguns casos que nos estão mais próximos mas não esquecendo a catástrofe que se abateu em Janeiro passado sobre o Haiti levando milhares de vidas e destruindo o muito pouco de tanta gente.

São momentos que nos devem convidar uma reflexão profunda sobre a nossa fragilidade de seres vivos e sobre a nossa condição de dependência em relação a forças que todo não controlamos. Sob pena de continuarmos a não aprender nada.

Trazendo à consciência a magna questão do respeito pela Natureza.

Não sendo, possivelmente, qualquer dos exemplos referidos imputáveis ao efeito de estufa e ao aquecimento global vêm todavia lembrar-nos da nossa enorme incapacidade de prever a generalidade das catástrofes naturais.

E que, assim sendo, tudo o que podemos fazer é trazer à consciência a necessidade de tornar responsável e, sobretudo, previdente a nossa relação com o ambiente. Numa base diária e individual não deixando, apenas, para os governos essa responsabilidades.

As matérias de respeito ambiental e de ordenamento do território são, por tudo isso, da maior importância. Em qualquer ponto do globo porque fazemos parte de um todo à escala planetária e universal e as consequências dos nosso erros também.

Desde sempre tivemos a tendência de brincar aos deuses e de nos comportamos como donos do universo alegando um usucapião que, pelos vistos, não é reconhecido senão por nós próprios, armados em juízes em causa própria.

Mas não temos, comprovadamente, jeito.

Nunca passaremos de deuses com pés de barro.



P E D R O D A M A S C E N O