sexta-feira, novembro 25, 2011

Um novo paradigma

Um novo paradigma


Parece ser cada vez mais consensual a necessidade encontrar um novo modelo social para substituir o actual capitalismo cada vez mais incapaz de assegurar os equilíbrios indispensáveis ao bom funcionamento da economia.

As diferenças sociais crescentes e o alargamento do fosso entre pobres e ricos geraram, independentemente de perspectivas políticas, uma ingovernabilidade inultrapassável no actual modelo.

O modelo anglo-saxónico de capitalismo falhou e está, provavelmente, de saída. E o modelo europeu tem, também, grandes desequilíbrios estruturais bem patentes na actual crise que assola a comunidade dos 27.

Ambos promoveram o consumo desenfreado não estimulando a poupança mas sim o crédito/dívida. O seu crescimento foi primariamente gerado por esse consumo.

A bolhas imobiliárias, em ambos, criaram a ilusão de riqueza esquecendo o seu carácter especulativo. Ambos apostaram no crescimento ininterrupto como a solução. Mas o crescimento linear e contínuo não é possível num mundo de recursos finitos.

Tendo ambos falhado porque não é possível comprar o caminho para a prosperidade mas sim construi-lo. E essa construção passa por investir no capital humano, na investigação e no desenvolvimento estrutural. Desse modo satisfazendo as necessidades básicas do cidadão numa via para o contentamento/felicidade.

A via do ter, ter e ter em detrimento do ser está a levar a um estado de roptura. A satisfação do desejo ardente de ter isto ou mais aquilo é, normalmente, sol de pouca dura. Logo outro desejo “impossível” surge e o ciclo recomeça.

A ilusão de riqueza cria uma dependência incompreensível porquanto efectivamente o ser humano – pelo menos no mundo ocidental – nunca viveu com tanta abundância, conforto e facilidade como hoje. E mesmo assim continuamos insatisfeitos e a querer mais e mais.

Sendo os recursos finitos e a população cada vez maior é claro que o paradigma do crescimento continuo e da “invenção” imparável de novas necessidades deixou de ter sustentabilidade. Axioma, infelizmente, confirmado agora à saciedade.

Sendo necessário, como alguns já lhe chamaram, uma nova renascença ou a criação de um novo paradigma social que não se afirme na bebedeira colectiva de uma riqueza ilusória ou no primado do consumo cego.

Sendo para isso indispensável sair da caixa dos ismos (capitalismo, socialismo, liberalismo, etc) e procurar refundar os conceitos de cooperação e entreajuda, seja a nível individual seja a nível das nações.

Tornando possível viver vidas que valha a pena viver.

O que só se poderá acontecer com advento de uma economia que ponha o planeta e os recursos naturais no centro do palco e crie condições para o regresso da biodiversidade e da cooperação como condições nucleares da felicidade humana.

Uma economia que tenha lido com atenção os desvios e as perversões do vários “ismos” já experimentados e consiga encontrar uma bissectriz adequada que não nos leve de volta à idade da pedra mas que nos resgate de um tipo de vida manifestamente insustentável.

Utopia? Talvez...


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, novembro 11, 2011

POLITICOS - Precisam-se

POLÍTICOS
Precisam-se



Até bem recentemente vinha ganhando inúmeros adeptos a ideia de que as ideologias tinham morrido e que isso dos partidos ia tudo dar ao mesmo. Um fim anunciado das ideologias.

A política e os partidos seriam, desse modo, descartáveis. O bem estar que se vivia, sobretudo na Europa, confirmava que mais para aqui ou mais para ali não haveria grande diferença.

Os princípios e valores foram sendo substituídos pelo primado do consumismo e da gratificação imediata e pensava-se que estávamos à porta do reino dos céus. Uma nova geração, apenas com direitos, foi-se moldando nesse manancial de mel.

Até que a crise da bolsa de Nova Iorque e a falência do maior banco americano desencadearam um terramoto cujas réplicas (fortes) se continuam a sentir por todo o mundo, sobretudo no “paraíso” europeu.

O resto é conhecido.

O cidadão comum é encostado à parede e responsabilizado por ter vivido acima das suas possibilidades e assim ter levado o estado(s) à bancarrota. Sendo condenado, sem apelo nem agravo, a penosa e incontornável factura.

Ficando por esclarecer o falhanço clamoroso do estado providência e, sobretudo, das razões políticas que, embalando os incautos, caucionaram uma gigantesca bolha de especulação financeira que, progressivamente, aumentou o fosso entre pobres e ricos.

Nunca no mundo ocidental se viveram tamanhas diferenças sociais como consequência directa do fim anunciado das ideologias e do regabofe financeiro que a seu coberto se foi instalando.

As pessoas gastaram efectivamente demais. Mas a isso foram incentivadas não apenas porque quem queria vender dinheiro barato a todo o custo mas também pela administração publica e pelos políticos que levaram o desperdício e má gestão a níveis intoleráveis.

Tudo em nome de um maná que jorrava a rodos não se sabia bem de onde. Aceitou-se a legitimidade de fazer dinheiro com dinheiro sem regras e desvalorizou-se o princípio da criação de riqueza e do investimento produtivo.

Desvalorizou-se a ideologia para não a tornar um estorvo ao crescimento ganancioso e criou-se a ilusão que todos podiam ser e seriam ricos. Sem que para isso tivessem que fazer esforço especial. Bastaria tomar o ar e esperar.

Com a queda das ilusões percebe-se que o futuro não depende exclusivamente do cumprimento do acordo com a troika mas que terá que ser encontrado um rumo que ponha o trabalho, o mérito e a equidade à cabeça.

Esse rumo terá de ter necessariamente uma forte matriz política e ideológica. Estando esgotado e falido o actual modelo económico e social torna-se imprescindível encontrar outro paradigma para a nossa vida.

A ideologia e os políticos voltam , por isso, a ser novamente um bem de primeira necessidade. A economia deixada à solta já mostrou do que é capaz mas não serão saídas totalitárias que resolverão o que quer que seja.

O debate esta aberto e é urgente.

Políticos, precisam-se.



PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, outubro 28, 2011

Danças com Lobos

Danças com Lobos



Oficialmente acabou a rebelião da Líbia, com Kadhafi morto e enterrado no deserto.

Muammar Kadhafi, um ditador sanguinário com jeitos de pop-star e com um ego do tamanho do mundo jaz e apodrece na areia do deserto que o viu nascer. Para trás ficaram as pilhagens, os actos terroristas e os sofrimentos sem fim que infligiu ao seu próprio povo.

Odiado, bajulado e temido passou de besta a bestial e, novamente, de bestial a besta. Um excelente exemplo da promiscuidade entre política, dinheiro e ética e, sobretudo, da hipocrisia do mundo dito civilizado.

As circunstâncias da morte do ditador/criminoso foram públicas e objecto de devassa planetária, numa demonstração sanguinária que em nada fica a dever ao agora executado. Mostrando bem que estamos a falar de farinha do mesmo saco.

Uma execução sumária até se perceberia sobretudo para não dar azo a mais julgamentos fantoches para massas verem. Mas tudo o resto, que o mundo pode ver, são sinais de que se pode ter passado de um lobo para uma matilha.

Democracia não é a ditadura de um grupo por muito grande que este seja. Democracia é uma cultura que se constrói ao longo de anos e que tem como base o respeito pelas minorias (sejam elas quais forem) e o integral respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

A maneira como ocorreu a morte do ditador e as exibições que se lhe seguiram não auguram nada de bom. O que aconteceu no momento da morte até poderia ser apenas obra de uns radicais destemperados e primitivos. Mas tudo o resto foi demasiado patético e primário para ser ignorado.

E é pena que uma personalidade com peso internacional não venha dizer tudo isso, alto e claro. Que venha alertar o povo líbio para necessidade de fazer reconciliação nacional que, também, passará por punir os criminosos do regime deposto.

Lá como cá a política não deve ser judicializada nem os crimes politizados. Política é política, seja boa ou má e compete aos cidadãos julgar. Crime é crime e compete aos tribunais decidir. Só assim se pode erguer um estado democrático que não afaste da política os cidadãos sérios e competentes e não branqueie os casos de polícia.

A parte mais difícil a nova Líbia começa agora.

Primeiro não substituindo uma oligarquia de criminosos por uma oligarquia de mullahs ou de corruptos. Segundo não deixando que os interesses internacionais no seu abundante petróleo se tornem nos novos donos do país e garantindo que os grandes recursos do ouro negro sejam uma oportunidade para a alfabetização, a democratização e a modernização do país.

Só assim terão valido a pena os milhares de vidas ceifadas para que o regime de Kadhafi tivesse chegado ao fim. Se assim não for tudo não terá passado de danças com lobos: entre que os que não queriam sair e os que queriam entrar.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, outubro 14, 2011

WALL STREET

A economia está chocar contra todos nós
Movimento “Ocupar Wall Street”




WALL STREET


Wall Street, o centro financeiro do mundo como tem sido designado, conhece hoje um movimento de contestação que ameaça ter chegado para ficar e alastrar.

Um protesto que se inicia por causa da diferença progressiva de vencimentos que começa a cilindrar a classe média americana aumentando a classe dos pobres e criando uma subclasse de jovens capazes e dispostos a trabalhar mas manietados pelo desemprego.

Os manifestantes afirmam que representam 99% de Americanos pretendendo com isso dizer que a concentração de riqueza na mão de uns poucos atingiu níveis nunca vistos. Mesmo antes da última crise (2008) essa riqueza representava 23, 5% do total, o valor mais alto desde 1928 e mais do dobro do que acontecia na década de 70!

Ironicamente, depois de ter “derrotado” o mundo comunista, o sistema capitalista começa a sentir no seu próprio centro uma contestação que ocorre não por iniciativa das massas proletárias - como previu Marx – mas por causa da erosão da classe média e do desespero de jovens licenciados no desemprego.

Um conjunto grande e variado de pessoas ( a contestação já se expandiu a Washington, Chicago, Boston e outras cidades) identificou a especulação financeira e o lucro desmedido como os grandes inimigos da sociedade americana associando-os à Bolsa de Nova Iorque e aos grandes bancos.

Não se tendo virado, significativamente, contra as empresas que produzem riqueza e criam empregos e que sempre foram o cerne do capitalismo mas contra a especulação bolsista, os derivados financeiros, as off-shore e, agora, os computadores supersónicos capazes efectuar de transacções mais rápidas-do-que-o-diabo-esfrega-um-olho e que se tornaram na Meca do dinheiro fácil.


A falência em 2008 do super-banco Lehman Brothers deixou cicatrizes profundas no tecido social americano para além de ter despoletado uma crise financeira internacional cujos efeitos nós próprios sentimos, hoje, bem na pele.

Tornando-se cada vez mais claro que os políticos e os legisladores prescindiram do seu papel de reguladores e mediadores e sucumbiram à grande nebulosa dos mercados que se tornaram na desculpa universal para todos os nossos males.

A especulação financeira apoderou-se do sistema capitalista bloqueando o que venha a pôr em causa essa maneira de fazer dinheiro. Qual eucalipto foi secando tudo à sua volta nomeadamente a possibilidade das empresas se financiarem adequadamente.

Não havendo empresas robustas não há progressão no investimento produtivo, na criação de emprego e no estímulo ao consumo. Subindo o desemprego, caindo o investimento e o consumo desce o PIB e surge, inevitavelmente, a recessão.

Os manifestantes de Wall Street estão – no essencial – a dirigir-se aos seus lideres políticos para que eles ponham termo à crescente desigualdade que existe nas terras da América e que só poderá conduzir a quebras na educação, na saúde e no investimento público.

Estão a reivindicar mais atenção para os mais desprotegidos e menos protecção para os extremamente beneficiados que continuam a marcar a agenda política americana. Estão claramente a dizer que o actual estado de coisas se aproxima da roptura.

O desafio é claro: ou o sistema se regenera e coloca no centro da agenda as desigualdades sociais profundas e cria novas oportunidades ao empreendedorismo e às empresas ou arrisca-se a ter, mais cedo ou mais tarde, a sua Praça Tahir.

O Facebook é universal e já provou que funciona.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, setembro 30, 2011

Há vida para além da máquina de velocidade

As estatísticas do ministério da Justiça indicam que os maiores aumentos da criminalidade participada nos últimos seis anos foram registados nas ilhas Graciosa, São Miguel, São Jorge, e Pico



Há vida para além da máquina de velocidade


Um dos grandes bens do nosso quotidiano tem sido, desde sempre, a segurança. A ponto de muita gente ainda deixar as casas abertas e pouco se preocupar com a vigilância dos seus bens.

O que tem sido, de resto, uma das marcas da nossa promoção turística: a segurança. O que, nos tempos que correm, não é nada pouco.

Contudo o cenário parece estar rapidamente a mudar nomeadamente lá para os lados da Ponta da Ilha e não só aonde os assaltos se sucedem e começam a deixar os idosos inseguros.

Embora – à boca pequena – se diga que se sabe perfeitamente quem são os assaltantes tudo parece ficar assim mesmo. Perante a complacência de quem deveria investigar e actuar.

A ponto de muita gente pensar que não vale a pena apresentar queixa. Tal a falta de pro-actividade e empenhamento de quem tem como função velar pela segurança de pessoas e bens.

Com certeza, como sempre, com a desculpa universal da falta de meios humanos e materiais. Meios que parecerem ser inteiramente canalizados para a famosa máquina da velocidade, o balão fora das discotecas, os cintos de segurança e as papeladas (documentos).

Sem minimizar essas magnas questões tudo o resto parece ficar de fora: prevenção rodoviária com vigilância do crescente número de infracções graves que habitam as nossas estradas, os estacionamentos selvagens, trafico de estupefacientes como a heroína (que prolifera), segurança de pessoas e bens, etc etc.

Pouca gente acredita hoje nas forças da ordem.

Sem se contestar, à partida, a escassez de meios tornou-se paradigmático o seu afastamento dos cidadãos e das práticas susceptiveis de exercerem as funções que lhes são cometidas de contribuir para a formação e informação em matéria de segurança desses mesmos cidadãos.

Bem como proteger, socorrer e auxiliar os cidadãos e defender os bens que se encontrem em situação de perigo, por causas provenientes de acção humana. Para tal desenvolvendo as acções de investigação criminal e contra-ordenacional que lhe são atribuídas pela lei.

É indispensável, constitucional e urgente que se volte a viver em segurança nestas ilhas e se consiga circular sem ter se se fazer gincana à volta dos estacionamentos selvagens generalizados ou de temer pela vida perante manobras perigosas porta sim porta não ou de ver os nossos jovens escravizados por um tráfico de drogas que parece impune.

Não se sente por parte de quem devia o empenhamento para o exercício de funções que inevitavelmente acarretam riscos, dissabores e incompreensões. Mas quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele.

Garantir os direitos dos cidadãos e a sua segurança – concedemos – não é tarefa fácil. Mas não conhecemos outra maneira mais adequada de tal assegurar que não seja uma força de segurança, uniformizada e armada, de natureza pública que responda perante um governo democraticamente eleito.

Fica a a palavra para quem de direito.



PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 16, 2011

Jose, Pedro ou Paulo - tanto faz -

O castigo por não quereres participar na política é acabares governado por pessoas piores do que tu
PLATÃO



José, Pedro ou Paulo
- tanto faz -


A política em Portugal vive, essencialmente, da fulanização. Ainda agora era o Sócrates para cima e para baixo, hoje é o Passos Coelho para baixo e para cima. Com umas pitadas de troika e está feito.

Ao virar da esquina espreita o Paulo à espera da sua oportunidade e, lá mais longe, já está enfileirado o José António. Os caldos em que se mexem – esses - mantêm-e idênticos procurando a sobrevivência ou o regresso.

Depois são os mercados para aqui e as bolsas de valores para ali. Com os impostos a subirem, continuamente, sob a desculpa universal da crise e das exigências do triunvirato, como lhe chama o Paulo.

Debates, como sempre, são às carradas. Mas pouco falam daquilo que realmente interessa ao comum dos cidadãos que não sendo doutores e, muito menos economistas, ficam basicamente na mesma.

Em síntese, esse comum dos mortais ainda não percebeu o que lhe caiu em cima e muito menos como vai sair do buraco escuro em que está metido. Depois de anos a receber, a torto e a direito, ofertas de credito para tudo e mais alguma coisa caiu-lhe em cima o Carmo e a Trindade.

Após depor um “mentiroso” há quem já afirme que elegeu outro que tal. Um mais afoito e palavroso, o outro mais manso e cordato. Mas diz-se que a mentira continua , só tendo mudado de registo.

Não se vislumbrando qualquer iniciativa que vise esclarecer, de forma cabal e compreensível para toda a gente, o que se passou e que tem que, colectivamente, se fazer para voltar à superfície.

É preciso ser directo, simples e pedagógico.

É preciso explicar que o capital financeiro, como é sua lógica, decidiu fazer dinheiro a partir do dinheiro jogando na especulação financeira – bolsa, derivados financeiros, etc – criando, também, um mercado do credito à habitação de forma inteiramente leviana e irrealista. Uma espécie de Dona Branca a uma escala planetária.

Sem qualquer preocupação de criar riqueza e emprego o capital tornou-se cada vez mais num activo fictício tendo a especulação ultrapassado, largamente, a produção. E os estados deixaram-se arrastar por esse tsunami financeiro abdicando de qualquer poder regulador.

Como a Dona Branca, o sistema especulativo, inevitavelmente. faliu e a economia mundial entrou numa espiral negativa que, como era de esperar, atingiu as economias mais frágeis em primeiro lugar. Como é o caso de Portugal.

Pondo directamente em causa a mastodôntica, ineficaz e caríssima máquina da administração pública e a descoberto uma maquina produtiva frágil e dependente e um público que se tinha endividado, perigosamente, embalado por juros de saldo.

Situação muito grave e cuja solução vai muito para além do aumento dos impostos e do acordo com a troika (que ninguém leu). Exigindo um volte face no paradigma do nosso dia-a-dia.

Todos assumindo o seu papel: o estado desmantelando o desperdício/excessos da administração pública, a banca retomando o apoio ao investimento produtivo, os especuladores arrumado as pastas e fechando as portas, os empresários inovando e procurando a excelência, os trabalhadores por contra de outrem labutando e lutando pelos seus postos de trabalho.

Lutando, também todos, por um verdadeiro renascimento cívico que ponha a politica e os políticos no seu lugar e lhes retire o monopólio da democracia. Partidos sim, mas só partidos não.

Procurando cada cidadão encontrar o seu lugar no contexto da democracia como resultado do exercício quotidiano dos deveres e dos direitos que lhe cabem, cultivando uma cultura de exigência, planeamento e responsabilidade.

Nem mais nem menos.

P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, setembro 02, 2011

Abaixo a batota

Derivatives are financial weapons of mass destruction.
Warren Buffet


Abaixo a batota




A frase sibilina de Warren Buffet (o homem mais rico do mundo) de que os ricos deviam deixar de ser tão mimados, em termos fiscais, desencadeou ondas de choque a nível planetário. Que, naturalmente, não deixaram de chegar ao nosso país.

Mas não se deu tanta atenção à frase que se cita no início da crónica em que ele chamou, nem mais menos, armas de destruição maciça aos famosos derivados financeiros que mais não são do que uma maneira habilidosa de fazer dinheiro apenas com dinheiro.

Nos dia de hoje – ninguém com pés assentes na terra – contesta que o progresso depende fortemente do empreendedorismo e da capacidade de iniciativa. E que quem tem capacidade de inovação, excelência e coragem tem que ser devidamente compensado.

O mérito tem de ser o principal critério da remuneração sob pena de se desincentivar os melhores e de bitolar por baixo os desempenhos profissionais e empresariais deixando a porta aberta para o laxismo e falta de iniciativa.

O falhanço das economias ditas socialistas, com o exemplo mais recente de Cuba, vieram comprovar justamente isso. O aparelhismo e a falta de incentivos foram ingredientes básicos para esse fenómeno que deveria ser um verdadeiro caso para estudo.

Qualquer sociedade para viver em paz social tem que ser equilibrada e assegurar aos seus cidadãos um acesso digno aos bens essenciais como “pão, saúde e educação”. As enormes clivagens sociais que ainda hoje se vivem, mesmo em países ditos civilizados, são inaceitáveis.

A controvérsia que hoje se votou a gerar na sociedade portuguesa sobre o rendimentos dos mais ricos volta a pecar por um maniqueísmo deplorável. Ou porque se volta a esgrimar o fantasma da fuga de capitais ou porque se caiem em discussões de lana caprina sobre um hipotético e ideal modelo de taxar os mais ricos.

Quem investe, desenvolve e cria emprego tem que ser incentivado e fortemente apoiado. Mas dentro de parâmetros socialmente justos e que não gerem um rodopio de mais valias que, inevitavelmente, desembocam na economia de casino.

O grande problema de fundo da economia global tem a ver com as especulações financeiras – nas suas mais variadas formas – associadas a ganância desmedida. O último “crash” de Wall Street foi, para quem tivesse dúvidas, um exemplo paradigmático.

Felizmente há muitos e bons empresários/empreendedores que constroem as suas fortunas de forma consistente gerando riqueza e criando empregos e que por tudo isso devem ser claramente compensados e adequadamente taxados.

O problema são os “empresários” e os especuladores que usam todos os truques para gerarem dinheiro apenas com dinheiro para depois o ”esconderem” utilizando as omissões da lei e a falta de coragem dos governos para os travarem.

O sinais exteriores de riqueza ilícita abundam e só não vê quem não quer.

Os truques são sobejamente conhecidos. Sendo tempo de acabar com discussões serôdias e começar a taxar a sério os rendimentos do capital e a regular duramente os mercados financeiros.

O problema de fundo é a existência ou não de vontade política.

O resto são tretas que servem apenas para desculpabilizar e branquear a batota desmedida que por aí grassa. O capital sério e consistente não vai fugir de certeza se perceber que está perante regras de jogo claras, eficazes e justas e não navegando num infindável mar de águas turvas.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, agosto 05, 2011

Apocalipse Virtual - Um cancro social

Os blogues tornaram-se em tribunas de ódio e bílis, a coberto do anonimato
TIM ADAMS



Apocalipse Virtual
Um cancro social?




Considerar Anders Breivik, o assassino norueguês, simplesmente um psicopata perigoso ou o mero resultado de uma sociedade em decadência são explicações excessivamente simplistas.

O que aconteceu em Oslo foi demasiado grave e complexo para ser arrumado numa gaveta etiquetada.

Possivelmente Anders é tão psicopata como terão sido Hitler, Estaline ou Pol Pot. E a sociedade norueguesa não é certamente mais neurótica do que a Alemanha do III Reich, a Rússia dos bolcheviques ou o Cambodja dos kmers vermelhos.

Anders é um exibicionista vaidoso e arrogante, desprovido de qualquer sentido de empatia, capaz de actos extremamente violentos sem sentido de remorso e com um padrão comportamental muito desviante.

Podendo, por essa via, ser considerado um psicopata mas sem esquecer que nasceu e cresceu no seio de uma sociedade pacifica e culturalmente evoluída sem uma historia familiar ou pessoal particularmente violenta e/ou complicada, sem que o seu comportamento desviante tivesse sido identificado.

Tendo conseguido, além disso, obter, nessa sociedade, componentes para fabricar explosivos, armas e munições com aparente grande facilidade. E tendo, simultaneamente, conseguido fazer treino de manipulação de armas e de tiro num ambiente de “normalidade”.

O que levou a que o grande factor de perturbação seja que o terrorista nórdico é um dos “nossos” - branco, loiro, instruído e de origem cristã – bem nas antípodas do terrorista suicida de aspecto semita, primário e com convicções islâmicas radicais.

A barbárie atingiu em cheio o nosso próprio núcleo duro – democrata, tolerante e culto – sob a forma de um “cruzado” de aspecto viking que actuou em função de um “Plano” de 1.500 páginas que laboriosamente escreveu ao longo de dois anos e em que tenta criar doutrina sobre os males dos multiculturalismo e da ameaça islâmica ao Ocidente.

O norueguês pode até ter actuado sozinho mas não esteve sozinho ao longo do período de incubação dos seus actos criminosos. Foi bem acompanhado e industriado por blogers americanos e europeus que constituíram o núcleo duro da sua teorização.

Como escreveu Pedro Bacelar de Vasconcelos o pretenso “cruzado cristão” que semeou o terror em Oslo é simultaneamente o cavaleiro e a vítima do apocalipse virtual diariamente anunciado através dos média. Tendo entrado num processo de des-individualização que o anonimato da Internet permite e fomenta.

A nossa sociedade – da insolvência das dívidas soberanas, do declínio demográfico e da decadência económica – tem vindo a perder, perigosamente a sua homeostase. Ou seja a sua capacidade de manter um equilíbrio dinâmico que impeça a proliferação de ameaças à sua própria sobrevivência.

Em muito idêntico ao que se passa com o nosso organismo que, através do sistema imunitário, impede que as ameaças constantes que sofremos se concretizem em doença e, sobretudo, em cancro que no essencial é uma perturbação incontrolada e incontrolável da divisão celular que é base da própria vida.

O nosso “sistema imunitário social” está claramente abaixo dos mínimos necessários para evitar verdadeiros cancros sociais como o de Oslo sendo incapaz de assegurar o equilíbrio-harmonia-homestase da nossa cultura.

Essa é a grande lição a retirar da tragédia norueguesa. Que pode acontecer em qualquer outro lado deste nosso mundo em que o virtual e o real se confundem e em que a des-individualização tanto permite insultar grotescamente um primeiro-ministro como matar, indiscriminadamente, transeuntes inocentes.

Sendo irrelevante se o “cruzado viking” é doido ou não.



PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, julho 22, 2011

SILÊNCIO ENSURDECEDOR

SILÊNCIO ENSURDECEDOR


“A esquadra da PSP das Mercês, em Lisboa, ficou quinta-feira sem efectivos, depois de 35 agentes terem metido baixa médica, obrigando ao recurso a outros polícias, uma situação que vai durar mais alguns dias, admitiu fonte da Direcção-Nacional” Jornal de Notícias Julho 2011
Não sendo preciso ser medico nem especialmente perspicaz para perceber que se tratam de baixas fraudulentas. Bastando apenas saber que os 35 agentes ficaram todos “doentes” no mesmo dia!

35 agentes que acabaram por ser 80 porque o mesmo aconteceu na esquadra do Cais de Sodré tendo esta e da Bairro alto ficado 24 horas sem qualquer capacidade operacional.

Sendo também sabido que por “coincidência” essas baixas ocorreram dois dias após a condenação a prisão efectiva de dois polícias por agressão a um estudante alemão naquela esquadra.

Sendo, por conseguinte, claro que se tratou de um acto ilícito colectivo exercido por quem está pago para cumprir e fazer cumprir a lei.

Sem questionar os motivos que estiveram por trás desse acto estamos perante uma situação de total anormalidade. Profissionais de saúde, em evidente quebra ética, utilizaram uma prerrogativa profissional para, lesando o estado, desenrascar profissionais da polícia. E estes serviram-se de um expediente ilegal para protestarem corporativamente ou simplesmente irem para a praia.

O que sendo em si muito grave assume insólita gravidade quando sobre tudo isto caiu um pano espesso de silêncio não se tendo ouvido até à data qualquer tomada de posição nem da parte do Ministério da Administração Interna nem da Ordem dos Médicos.

Tudo levando a crer que o que se deveria ter tornado num caso exemplar de actuação perante um situação ridícula num estado de direito (nem o saudoso Raul Solnado teria feito melhor) se arrisca ficar mesmo assim, branqueando publicamente a baixa falsa e a intolerável falta de disciplina e sentido de responsabilidade de quem devia ser o guardião de legalidade e da ordem publica.

Com certeza que a PSP tem muitos e conhecidos problemas para o exercício das suas funções grande parte dos quais se prendem com uma Justiça que reconhecidamente não cumpre cabal e atempadamente o seu mister e com um Estado que não lhe garante, frequentemente, meios imprescindíveis para a sua actuação.

Com certeza que há profissionais de saúde que são vítimas de simulações e manipulações difíceis de detectar nomeadamente quando partem de cidadãos teoricamente insuspeitos.

Mas nada justifica que tamanha enormidade, com laivos de insurreição, venha a passar impune, com toda a gente a assobiar para o lado.

É assim que se mina completamente a credibilidade do estado de direito e dos políticos. Paulatinamente. Mas com casos completamente inverosímeis que deveriam ser exemplares para trazer de volta à vida pública práticas de cidadania e isenção.

É verdadeiramente intolerável o silêncio ensurdecedor que caiu sobre este caso.

P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, junho 17, 2011

Esta revolução não é de direita nem de esquerda

Esta revolução não é de direita nem de esquerda:
é de senso comum


Assim rezava um cartaz empunhado por uma mulher, nas recentes manifestações populares em Espanha. Um slogan interessante a levantar um conjunto de reflexões indispensáveis nos dias de hoje.

Nos dias que passam, de avançadas tecnologias, parece faltar, cada vez mais, bom senso para sermos capazes de ter uma existência equilibrada, harmoniosa e geradora de bem estar e qualidade de vida.

O que nos faz correr afinal? Uma desenfreada correria ao consumo e à gratificação imediata com uma total quebra de valores e de sentido comunitário? Ou a incapacidade de estarmos em contacto connosco próprios?

Os valores centrais da democracia estão hoje bastante estabilizados e assegurados na Europa. Sendo a transição entre partidos ditos de direita e ditos de esquerda e vice versa completamente pacífica.

Há um conjunto de liberdades, direitos e garantias que é assumido, de barato, por todos os partidos. Felizmente. Mesmo os extremos, de um lado e outro, não ousam contestar a ordem estabelecida.

Contudo a quebra de influência da religião em conjugação com falta quase total de autoridade democrática e uma filosofia de facilitismo tem vindo a criar gerações cheias de expectativas irrealistas. Num mundo ficcional de direitos sem deveres.

Autoridade democrática que deveria ser o cerne da própria liberdade. Sem constrangimentos ou processos de intenção. Devendo entender-se autoridade democrático como o exercício político com base em leis maioritariamente consensualizadas e aprovadas.

Exercício assegurado pelo normal funcionamento das estruturais judiciais e das autoridades políticas, administrativas e policiais. Devendo ser os seus limites os que decorrem da lei num clima de isenção e estrito cumprimento das regras.

Temos, neste lado do mundo, as ferramentas necessárias e suficientes para conseguirmos ter sociedade livres, igualitárias e abundantes e, por conseguinte, geradoras de equilíbrio social, paz e felicidade.

Mas, mesmo um Stradivarius, não consegue pôr a tocar bem quem não sabe tocar violino. E sobretudo quem não quer aprender, pesem embora todas as pautas dos melhores compositores ou o melhor dos maestros.

Democracia não é libertinagem, desrespeito e abuso. Liberdade não é fazer tudo o que nos der na gana e ainda achar que no fim devemos ter direito a cela arejada, cama comida e roupa lavada e televisão a cores.

E não serão mais leis ou mais bens-de-usar-e-deitar fora que irão fazer a diferença. A diferença só poderá nascer de um esforço individual e colectivo para aceitar regras e princípios e activar comportamentos socialmente responsáveis e responsavelmente sociais.

No fundo, tirando as patologias, todos sabem como deve ser. Vem de muito longe e diz simplesmente: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Uma simples frase que encerra um conceito intemporal e definitivo.

Questões que não são de direita ou de esquerda mas, apenas, do mais elementar bom senso não valendo a pena desfraldar bandeiras ou gritar slogans só para inglês ver. Como não diante pôr perfume antes de tomar banho.

Faz, de facto, muita falta uma revolução do senso comum.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, junho 03, 2011

The day After

The Day After

Tornou-se um lugar comum – por acaso de muito mau gosto – dizer que prognósticos só depois do jogo! Uma daquelas banalidades que faz carreira para preencher eventuais vacuidades intelectuais.

O mesmo se poderia/poderá dizer em relação ao dia 5 de Junho e ao resultado das eleições legislativas. No entanto nunca o dia a seguinte (the day after) foi tão previsível como neste caso.

Não sendo de todo necessário olhar para a noite do dia 5 ou para a manhã do dia 6. O diagnóstico está, antecipadamente, feito. Sendo de segundo plano a questão de quem ganhou ou perdeu ou mesmo se ganharam todos!...

O dia seguinte vai ser de todos arregaçarem as mangas e principiarem a levar a sério este-estado-a-caminho-de-ser-milenário depois de umas eleições que talvez tivessem escusado de ter sido se tivesse havido uma efectiva liderança política de quem podia.

Mas o que está feito, feito está.

Não sendo visivelmente possível mudar o regime (que era disso que se tinha falta) poderão mudar-se algumas cadeiras no Palácio de São Bento/Assembleia e no Palacete de São Bento/Residência. Aonde as regras serão semelhantes com os actores em eventuais papeis diferentes.

Estando essas regras, nas suas grandes linhas gerais, escritas e assinadas resta saber, se mais uma vez, vamos tentar fugir com o rabo à seringa ou vamos mesmo levar tudo ao pé da letra.

E esse talvez seja um prognóstico que terá de ficar para o fim do jogo!...

Mas, pese embora alguma ironia antecedente, é fundamental que haja uma participação maciça dos eleitores que nos ponha a cobro de correr risco de cair na tentação de discutir, novamente, o sexo dos anjos.

Portugal tem que votar com um grande nível de participação que afaste por uns bons quatro anos as discussões de lana caprina e permita a quem vai governar a estabilidade e tranquilidade necessárias para enfrentar os desafios em espera.

O pior que nos poderá acontecer será um nim.

Mal ou bem teremos que decidir sem deixar margens de dúvida suicidas e tal não será possível se o Verão que se avizinha leve as pessoas para a praia ou o doce remanso do sofá e das telenovelas as mantenha em casa.

Muita gente morreu ao longo da História pelas causas da liberdade e da democracia. O mínimo que podemos fazer é usar o privilégio do voto que é, antes de mais, um dever incontornável de cidadania.

O diagnóstico para o dia seguinte está mais do que feito: serão dias difíceis para todos e de grandes privações para muita gente. Os políticos que vão a votos são os que fomos capazes de gerar, melhores só nas Caldas da Rainha.

Não vale, portanto, a pena esconjurar demónios ou endeusar bezerros. Há apenas que votar em massa, com convicção e profundo sentido de responsabilidade. Ponto.


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sexta-feira, maio 20, 2011

DIVERSIDADE

DIVERSIDADE


Apesar das mais de três dezenas de anos que já levamos de democracia ainda continuamos a ter dificuldade em aceitar as diferenças. Sejam elas de cor de pele ou orientação sexual ou sejam elas de confissão religiosa, partido ou clube de futebol.

Ainda gostamos, que nos fartamos, do Maria vai com as outras.

Esquecendo que é, justamente, a diversidade que torna possível a nossa própria existência. Sendo a biodiversidade, comprovadamente, indispensável à nossa subsistência como espécie.

Falando no plano meramente humano a diversidade é , também, um ingrediente crucial para o crescimento pessoal e colectivo e, o mesmo é dizer, para o desenvolvimento e o progresso.

A que há que acrescentar o sal da liberdade. Liberdade para ser diferente e para promover a diferença. Liberdade para soltar a criatividade, a ferramenta que apenas o ser humano consegue utilizar e que o separa das outras formas de vida.

Criatividade que necessita de dois fertilizantes principais: a liberdade e a capacidade de sentir e pensar diferente. O que torna as pessoas criativas em seres que buscam a diferença e a inovação não se atolhando no pântano da formatação e da unicidade.

O medo da diferença tem, por conseguinte, um preço elevado: o da estagnação e do retrocesso que são os progenitores da repressão e da intolerância. Que o digam Galileu e Darwin, entre tantos outros.

Quantas pessoas não foram torturadas e chacinadas só por serem diferentes? Quantos milhões de pessoas não foram mortas, na historia da humanidade, “só” por ousarem acreditar num Deus diferente?

Quantas não morreram e morrem em campos de batalha por causas que apenas tinham ou têm a ver com sectarismo, ignorância e obscurantismo? Quando vezes o etnocentrismo não combateu e combate o multiculturalismo?

Para a liberdade e tolerância não pode haver limites que não sejam os estritamente necessários para compatibilizar o interesse individual com o interesse comum. A únicas regras admissíveis têm a ver com a prevenção da libertinagem e a falta de valores.

Que bom viver em total liberdade de culto, de exercício político/cívico ou de qualquer outra forma de associação cultural ou desportiva: um verdadeiro privilégio para quem ama a vida e acredita nos valores da igualdade e do respeito.

Liberdade e diversidade são, praticamente, sinónimos. E nenhuma delas pode viver sem a outra.


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sexta-feira, abril 29, 2011

FMI

FMI


Muitos têm sido os analistas que colocam as próximas eleições como atípicas face aos condicionalismos criados pelo pedido de ajuda ao FMI e à Comunidade Europeia.

E realmente são-no na medida em que vão condicionar fortemente as políticas económicas e de investimento do Governo que vier a ser constituído. Mas deixam de fora um conjunto de questões políticas fundamentais.

De modo que não sendo as próximas eleições desprovidas de condicionalismos também não serão a simples nomeação de um intendente para gerir as imposições do FMI e CEE.

Mais do nunca são urgentes reformas profundas na justiça, na educação, na administração pública e na própria saúde que pouco ou nada têm a ver com dinheiro e muito menos com a ajuda internacional.

E como é sabido as reformas a efectuar terão uma componente fortemente política/ideológica e não será, portanto, de todo indiferente qual vai o partido/s que as vão levar a cabo.

O FMI essencialmente vai impor rigor nas contas públicas e uma gestão orçamental sem falhas com óbvias restrições no lado da despesa e ganho no lado das receitas. Objectivos que irão, em última análise, servir o País.

Pelo que, ao contrário do que muita gente pensa ou faz fazer crer, o FMI e Cª não são nenhum papão mas simplesmente um recurso a que teve de se lançar mão face a um conjunto muito complexo de razões.

Portugal tem, felizmente, uma democracia madura com partidos que, embora carecendo de profunda renovação, estão conscientes (com algumas excepções) do momento grave que se vive.

Temos liberdade de expressão e temos potencial de actuação cívica e política que não se esgota nos partidos. Temos as ferramentas necessárias para aproveitar as dificuldades e as tornar numa oportunidade de desenvolvimento.

Melhor teria sido, obviamente, que nada disto tivesse sido preciso.

Mas temos agora uma excelente oportunidade para olhar para o passado e corrigir o nosso rumo alterando a corrida desenfreada ao consumismo e o facilitismo para retomarmos uma vida mais de acordo com os nossos recursos.

Portugal tem grandes recursos e, desde logo, um mar a perder de vista se incluirmos a Madeira e os Açores. O clima é muito favorável e as gentes são hospitaleiras e, se motivadas, laboriosas.

Há, por conseguinte, que fazer da actual conjuntura um arranque para um país de mangas arregaçadas e de esforço colectivo estabelecendo uma relação de confiança entre governantes e governados.

O FMI não veio para ficar como não ficou das outras vezes.

Foi talvez um percalço indispensável para que tomássemos plena consciência do momento difícil que vivemos e para que assentássemos os pés na terra.

Há coisas muito piores e a recente tragédia do Japão é disso um excelente exemplo. A nossa reacção só poderá ser de maturidade que passa pela participação activa nas eleições que se aproximam.

Não há, felizmente, salvadores da pátria em stock.


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sexta-feira, abril 08, 2011

O TROCA-TINTAS

Nobre mergulhou na lama a palavra Cidadania
Jorge Castro Guedes
Coordenador da Candidatura de Fernando Nobre
Viana do castelo

O TROCA-TINTAS

Portugal já andava muito mal de políticas e de políticas.

O que lhe faltava, mesmo, era perder a confiança na possibilidade de existir vida para além dos partidos. Pese embora o papel fundamental que estes desempenham numa democracia parlamentar.

O pleno exercício de uma cidadania – esclarecida, tolerante e interveniente – é uma necessidade vital para reformar o sistema político democrático português porque só ela poderá levar os partidos à indispensável reflexão interna e consequente renovação.

A partidocracia extrema que se vive em Portugal só foi possível pela progressiva alienação/abstenção dos cidadãos que se foram acomodando a uma situação que, mercê da Europa, foi durante muito anos de relativo conforto.

A corrupção foi alastrando a ponto de atingir todos os níveis da sociedade portuguesa. Sendo que corrupção não é só receber luvas por fazer favores políticos mas permitir uma administração pública mastodôntica, incumpridora e incompetente. Salvaguardando, naturalmente, as devidas e honrosas excepções.

Os partidos do arco do poder foram, ao longo dos anos, consolidando a sua posição ao assegurarem um viveiro de votos. Já que o voto se tornou, em grande parte, no exercício de interesses pessoais e, bem pouco, no exercício de uma participação comunitária e cívica.

Palavras duras, mas que precisam de ser ditas.

A recente candidatura do Dr. Fernando Nobre à Presidência da República assumiu-se como uma candidatura supra-partidária e da cidadania visando combater a exclusão, a pobreza e a fome. Uma candidatura de valores e de independência baseada num trajecto humanitário e num curriculum de humildade.

Candidatura que empolgou muitos portugueses que lhe deram uma inesperada e choruda percentagem de 14,10% decorrente de 594.068 votos para além de um honroso terceiro lugar. Muito acima das mais optimistas previsões.

Conquistando um capital notável de simpatia e esperança numa sociedade conservadora e pouco avessa a mudanças profundas mas que se mostrou aberta à aposta nos valores e na esperança.

Eis que, em pleno rescaldo de PEC´S/Demissões/Eleições, vem o detentor desse capital endossar o cheque a um partido como forma de assegurar um tacho que não sendo o primeiro é, pelo menos, o segundo da hierarquia do estado!

Não interessando, minimamente para o caso, a que partido foi.

Sem dar a cara e deixando o cidadão comum “doravante à rasca para distinguir o que é nobre do que é rasca”prestou um péssimo serviço a Portugal e aos valores que dizia defender mas que eram mais para inglês ver do que para português usufruir.

Um simples e vulgar troca-tintas.


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A CRISE DAS PALAVRAS

A CRISE DAS PALAVRAS


Não apetece falar.

A vida política, económica e social tomou tal rumo em Portugal que não apetece falar, sob pena de cair um lugares comuns e redundâncias. As palavras foram-se esgotando de tanto e tão mal usadas.

As palavras tem tomado o lugar dos actos que ficam, assim, substituídos por treta e mais treta, quer do lado da situação quer do lado da oposição. Para além do perorar contínuo e infatigável das carradas de opinantes televisivos e jornalísticos.

De liderança nicles!

Os chavões da dívida soberana, dos mercados e do rating esgotaram-se e desbotaram-se de tanto repetidos. E da mentira se fez luz de tanto repetida ou afirmado que foi dita faltando deliberar comprar uns quantos detectores da dita cuja.

Os fatos e as gravatas de cores lisas ou multicolores, conforme a moda da altura, alinham-se em exércitos palavrosos e portadores das respectivas verdades que lavam sempre mais branco do que as outras. E o Zé embasbacado vira as costas fazendo o gesto da praxe.

O consenso para os males é quase unânime, o consenso para os bens meteu baixa e foi de férias.

Entra FMI, não entra FMI num rodopio de diz que sim e diz que não que nos deixa tontos, atarantados e abananados não nos restando mais do que ir a votos por causa de PECs que não se discutiram e deveriam ter discutido e outras irrelevâncias.

Os alfas estão de saída e os beta preparam-se para entrar como se tudo isto fosse uma questão de castas e não um país a sério. E, cada vez menos,se acredita no carrossel de vaidades, arrogâncias e incompetências em que se tornou a Praça da Alegria da política.

Não será de estranhar que a vindoura diarreia de palavras que se propõe levar nos de novo ao paraíso desencadeie uma súbita e aguda vontade de ficar em casa e ir à praia (se ainda as houver) ficando tudo, novamente, em águas de bacalhau.

Só a ironia nos pode salvar deste tsunami de banalidades.

O país, esse vai ter que esperar para que a maré seque e dos escombros surja uma reconstrução feita - com diligência, competência e disciplina - por sobreviventes reciclados. Resta esperar pela bonança depois da tempestade.

Porque, entretanto, até as palavras incomodam de tão rotas e ocas.


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sexta-feira, março 25, 2011

JAPÃO E KADHAFI

JAPÃO E KADHAFI

Aparentemente sem qualquer relação entre elas, duas realidades tão distantes e, no entanto, tão próximas nos seus respectivos dramas. Um feito pela mão da natureza e o outro pela mão do homem.

Uns sobrevivendo a uma catástrofe natural de proporções gigantescas outros sucumbindo aos ditames sanguinários de um ditador psicopata. Tudo quase em directo nossas televisões.

Enquanto no Japão os sobreviventes juntam em improvisadas casas de cartão os pouco haveres que lhes restaram e, ordeira e agradecidamente, aguardam ao auxílio que lhes chega; outros são chacinados numa luta desigual.

Assim vai o nosso mundo.

A forma heróica como os japoneses encararam o terramoto/tsunami e encaram agora a ameaça nuclear encontra um denominador comum com a forma determinada como os resistentes líbios enfrentam, com armas rudimentares, o poder de fogo do seu demente líder.

Os acontecimentos do Japão vieram provar, para quem ainda tivesse dúvidas, a nossa impotência perante as forças naturais em fúria. Não há tecnologia nem prevenção que nos valha e o País do Sol Nascente é, certamente, um exemplo do estado da arte da tecnologia e da disciplina.

Séculos passados sobre a instauração do regime democrático em Inglaterra ainda se morre por delitos de opinião e a liberdade cívica (que tomamos completamente de barato) é uma miragem reprimida sem apelo nem agravo. Perante uma comunidade internacional de mãos atadas e que, só agora, tomou uma posição.

A situação de perigo nuclear em Fukushima veio colocar a questão da energia nuclear noutro patamar. A sua inocuidade ficou completamente em causa e os futuros debates sobre essa questão serão certamente diferentes. Nunca esquecendo que a energia emitida pelo Sol é milhares de vezes superior às nossas necessidades globais.

Mais uma vez a ONU veio provar ser um órgão burocrático e dilacerado por contradições internas que o tornam um peso quase morto no que diz respeito à mediação de conflitos. A Costa do Marfim continua sem solução à vista sendo a situação humanitária muito séria e tendo número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes desde Dezembro. A Líbia é o que se vê.

O comportamento do japoneses perante a adversidade constitui um exemplo para todos nós, minimizando os terríveis impactos de uma destruição maciça e mostrando o que a cultura e educação cívica podem fazer. Sobretudo para nós latinos, especialistas em fazer tempestades em copos de água.

A total falta de respeito pelos mais elementares direitos humanos na Líbia vem chamar a atenção para os perigos da chamada política realista que sacrifica quase tudo em nome do “sacrossanto” petróleo tendo colocado Kadhafi na qualidade de chefe de estado respeitado e a respeitar!

Possivelmente o paradigma dos grandes centros urbanos e a da concentração de milhões de pessoas em cidades terá que ser posto em causa. Ontem o Rio de Janeiro hoje Miyagi. Números astronómicos: 24.000 desaparecidos com 270.000 desalojados, dados que questionam o modelo de ocupação do solo.

Depois dos insucessos do Iraque, do Afeganistão, da Costa do Marfim e da atabalhoada “intervenção” na Líbia será necessário repensar o modelo de actuação da ONU perante países que, escudados por uma putativa nacionalidade, cometem as maiores atrocidades. Encontrando consensos que efectivamente resolvam os problemas e abolindo as hipocrisias em que as Nações Unidas são useiras e vezeiras.

Muito para reflectir no rescaldo de tudo isto.


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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Viver e morrer em Nova Iorque


Viver e morrer em Nova Iorque


Já passaram dias bastante para que se possa analisar com alguma serenidade o crime que ocorreu em Nova Iorque, perpetrado por um jovem aspirante a modelo sobre um maduro colunista social.

Assunto que ocupou as primeiras paginas do jornais durante semanas e que ainda continua continua a ser motivo de controvérsia matizada, em grande parte dos casos, por paixões desencontradas.

Mas, para além de tudo o que disse ou possa vir a dizer, tratou-se indiscutivelmente de um homicídio rodeado de extrema violência envolvendo pessoas aparentemente sem hábitos agressivos.

O que aconteceu, então, naquele distante quarto de hotel em Nova Iorque?

O que poderá ter levado um jovem de Cantanhede sem passado violento a cometer semelhante crime e o que levou um homem sofisticado e maduro de Lisboa a envolver-se com um puto provinciano?

Luxúria, carências afectivas, ambição desmedida, oportunismo, egoísmo, consumismo exacerbado, dinheiro fácil, exploração psicológica, vulnerabilidade emocional. Talvez tudo isso, num cenário de grande falta de valores.

Ter-se-á o rapaz “passado” perante uma pressão intolerável por parte do suposto protector? Terá havido drogas? É possível mas caberá aos investigadores e psicólogos/psiquiatras decidir.

O certo é que um jovem estragou a vida e um homem maduro perdeu a sua. Tudo porque o estranho mundo a que chegamos criou o “caldinho” indispensável para que coisas dessas aconteçam.

A futilidade e frivolidade da vida urbana moderna, frutos da falta de valores e do endeusamento do dinheiro e da “fama, criaram atalhos aonde deveria haver trabalho, talento, perseverança e resiliência.

Com a conivência das próprias famílias que talvez também esperassem algumas migalhas do banquete. Como diria o povo quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas isso era antigamente. Hoje contam, principalmente, as luzes da ribalta e os faz-de-conta.

Possível explicação para o que se passou e possível razão para explicar as manifestações de solidariedade a favor e contra da vítima e do matador transformando algo que deveria merecer uma reflexão séria e profunda em mais um número de circo mediático.

Ter-se tudo isto tornado noutra novela de cordel é o pior que podia ter acontecido. Carlos e Renato são, por razões diferentes, dois exemplos paradigmáticos dos tempos em que vivemos. Dos tempos em que 43 mulheres foram também assassinadas, em 2010 e em Portugal, por violência doméstica. Dos tempos em que um engenheiro de 65 anos executa a tiro, em frente da neta, um ex-genro advogado.

Faces diferentes da mesma moeda. O resto são detalhes.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Em busca da alma perdida

Muda primeiro em ti o que queres mudar no mundo
Ghandi


Em busca da alma perdida


Portugal, muito antiga e nobre nação, tem tudo para dar certo: clima, paisagem, grande área de mar, regiões autónomas marítimas. E sobretudo o povo, afável e capaz de grandes feitos como a História nos ensina.

Nos últimos cem anos chegámos a ser a nação que mais cresceu economicamente na Europa. Para não falar, naturalmente, nos mundos que demos ao mundo e nas marcas que deixámos um pouco por todo lado.

Somos capazes e muito viáveis como sobejamente já provamos durante a longa marcha que trazemos desde os tempos do Condado Portucalense.

E, contudo, andamos agora nas bocas do mundo como um pais à beira da falência e o nosso dia-a-dia só nos fala de crise e de falta de dinheiro, curvados perante os canhões em posição do FMI!

Depois da queda do cinzento, austero e miserabilista regime salazarista conquistámos, de novo, o direito à democracia e à participação política que nos tinha sido arrancada como consequência dos desmandos republicanos de outrem.

Entramos na Europa saindo, finalmente, de dezenas de anos do isolamento do “orgulhosamente sós” a que o dito estado novo nos tinha acorrentado na tese de que para lá de Vilar Formoso estava o pecado e a perdição.

Com olhos no bem estar europeu começamos a usufruir das benesses das liberdade e dos sólidos apoios económicos a que tivemos acesso. Sentimos-nos europeus, fundamos partidos e fomos à vida.

Passados quase quarenta anos desde a restauração da democracia baixamos a cabeça e nem sequer ao trabalho de votar nos damos. Deixamos de acreditar na política e nos políticos que, nós próprios, criámos.

A abstenção cresce para níveis preocupantes, a corrupção e o compadrio alastram e, tudo indica, que voltámos ao estado de espírito abúlico e desiludido de que tem já não acredita em nada e deixou cair os braços.

Quando o que se passa hoje em dia – e é muito mau – é da nossa responsabilidade colectiva. Temos os políticos e os partidos que ajudámos a criar e a filosofia de vida que escolhemos.

Só temos, portanto, que nos virar para nós próprios.

Só temos, cada um de nós, de mudar aquilo que achamos mal nos outros. Deixando de lado a convicção infantil de que as coisas estão mal por razões e pessoas alheias e que, individualmente considerados, somos todos óptimos.

As eleições presidenciais, mornas e sem rasgo, vieram mostrar um país que fortemente se absteve (que não está para se chatear..) mas mostrou, também, um país que foi as às urnas para dizer não ao sistema expressando vontade de participação cívica.

Temos o sistema que, colectivamente, fomos capazes de gerar. Os indispensáveis partidos e políticos que temos foram criados à nossa imagem e semelhança. Se não gostamos do resultado só temos que nos mudar a nós próprios e o resto vira por acréscimo.

Não esperando por qualquer salvador milagroso que nos venha fazer o trabalho de casa para, depois, nos por, de novo, açaime. Como diria um conhecido comentarista da praça: não há pequenos almoços de graça!...


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sexta-feira, janeiro 14, 2011

Bastão e Cenoura?

Quanto mais leis mais ladrões
Ditado taoísta


Bastão e Cenoura?


A crise das instituições em Portugal já se tornou um facto banal, de tanto ser badalado. Sobretudo a administração pública que, de forma recorrente, ocupa o pódio da baixa rentabilidade e o centro do humor laboral.

E também, de forma recorrente, se preconiza como solução a nomeação de comissões de inquérito que, por sua vez, apontam para a emissão de mais regras, regulamentos e leis. Bem como a instituição de incentivos para os vários agentes fazerem bem aquilo que era sua obrigação.

Bastão e cenoura.

E, assim, vamos perdendo a confiança em instituições de que dependemos. Instituições que não nos dão o que precisamos.

Escolas que não cuidam da instrução dos nossos filhos como deviam. Médicos que não nos dão a atenção e os cuidados sem pressas que procuramos. Sistema judicial mais amarrado a procedimentos administrativos do que a fazer justiça.

Funcionários administrativos das mil e uma repartições que nem se preocupam em dar bom dia e utilizam o seu “poder” de forma displicente e arrogante. Trabalhadores do estado que adormecem em cima das enxadas.

Todos nós conhecemos e vivemos isto. Como, também, todos nos sentimos desencantados e insatisfeitos. Mas, bem mais frequentemente do que se pensa, os autores dessas nossas frustrações também estão, por sua vez, mergulhados no desencanto e na frustração.

Muitos médicos gostariam, certamente, de tratar bem melhor os seus doentes em vez de estarem afogados em tarefas administrativas e terem de atingir verdadeiros recordes de consultas por hora.

Muitos professores gostariam de ensinar melhor o seus alunos em vez de estarem absorvidos por intermináveis acções de formação, testes estandardizados e novas técnicas de ensino que, na prática, se traduzem num interminável aumento de tarefas burocráticas.

Muitos magistrados, advogados e funcionários judiciais estariam muito mais realizados se não estivessem soterrados sob verdadeiras diarreias legislativas e regulamentares mas, antes, a fazer justiça.

Muitos funcionários administrativos estariam muito mais satisfeitos a fazer tarefas simples e claras que tornassem o seu trabalho atractivo do que sujeitos ao infernal aparelho burocrático do estado.

No fundo a grande maioria de todos nós gostaria que o nosso trabalho fosse estimulante e gratificante. Do mesmo que todos nós sentimos necessidade de afecto e calor, quer a nível pessoal quer a nível profissional.

Trabalho e afecto: as chaves da felicidade.

E para isso é indispensável a sabedoria prática, a mesma que um tocador de jazz precisa para improvisar ou um artesão para fazer uma casa.

Sabedoria não é um bem reservado a elites e a gurus mas uma ferramenta essencial à gestão do nosso dia a dia. Uma sabedoria prática que nos ajude a atingir a excelência na vida e a saber lidar com os problemas concretos. Uma sabedoria que os antigos tinham de sobra.

Regras e incentivos são necessários. Mas nada pode substituir o olhar para dentro e o saber libertar o enorme potencial que todos nós possuímos. Trocando as voltas ao circo mediático e barulhento em que se tornaram as nossas vidas.

Uma tarefa que cabe a todos: desde o primeiro ministro ao mais modesto trabalhador.


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