sexta-feira, setembro 02, 2011

Abaixo a batota

Derivatives are financial weapons of mass destruction.
Warren Buffet


Abaixo a batota




A frase sibilina de Warren Buffet (o homem mais rico do mundo) de que os ricos deviam deixar de ser tão mimados, em termos fiscais, desencadeou ondas de choque a nível planetário. Que, naturalmente, não deixaram de chegar ao nosso país.

Mas não se deu tanta atenção à frase que se cita no início da crónica em que ele chamou, nem mais menos, armas de destruição maciça aos famosos derivados financeiros que mais não são do que uma maneira habilidosa de fazer dinheiro apenas com dinheiro.

Nos dia de hoje – ninguém com pés assentes na terra – contesta que o progresso depende fortemente do empreendedorismo e da capacidade de iniciativa. E que quem tem capacidade de inovação, excelência e coragem tem que ser devidamente compensado.

O mérito tem de ser o principal critério da remuneração sob pena de se desincentivar os melhores e de bitolar por baixo os desempenhos profissionais e empresariais deixando a porta aberta para o laxismo e falta de iniciativa.

O falhanço das economias ditas socialistas, com o exemplo mais recente de Cuba, vieram comprovar justamente isso. O aparelhismo e a falta de incentivos foram ingredientes básicos para esse fenómeno que deveria ser um verdadeiro caso para estudo.

Qualquer sociedade para viver em paz social tem que ser equilibrada e assegurar aos seus cidadãos um acesso digno aos bens essenciais como “pão, saúde e educação”. As enormes clivagens sociais que ainda hoje se vivem, mesmo em países ditos civilizados, são inaceitáveis.

A controvérsia que hoje se votou a gerar na sociedade portuguesa sobre o rendimentos dos mais ricos volta a pecar por um maniqueísmo deplorável. Ou porque se volta a esgrimar o fantasma da fuga de capitais ou porque se caiem em discussões de lana caprina sobre um hipotético e ideal modelo de taxar os mais ricos.

Quem investe, desenvolve e cria emprego tem que ser incentivado e fortemente apoiado. Mas dentro de parâmetros socialmente justos e que não gerem um rodopio de mais valias que, inevitavelmente, desembocam na economia de casino.

O grande problema de fundo da economia global tem a ver com as especulações financeiras – nas suas mais variadas formas – associadas a ganância desmedida. O último “crash” de Wall Street foi, para quem tivesse dúvidas, um exemplo paradigmático.

Felizmente há muitos e bons empresários/empreendedores que constroem as suas fortunas de forma consistente gerando riqueza e criando empregos e que por tudo isso devem ser claramente compensados e adequadamente taxados.

O problema são os “empresários” e os especuladores que usam todos os truques para gerarem dinheiro apenas com dinheiro para depois o ”esconderem” utilizando as omissões da lei e a falta de coragem dos governos para os travarem.

O sinais exteriores de riqueza ilícita abundam e só não vê quem não quer.

Os truques são sobejamente conhecidos. Sendo tempo de acabar com discussões serôdias e começar a taxar a sério os rendimentos do capital e a regular duramente os mercados financeiros.

O problema de fundo é a existência ou não de vontade política.

O resto são tretas que servem apenas para desculpabilizar e branquear a batota desmedida que por aí grassa. O capital sério e consistente não vai fugir de certeza se perceber que está perante regras de jogo claras, eficazes e justas e não navegando num infindável mar de águas turvas.


PEDRO DAMASCENO

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