quarta-feira, abril 12, 1995

As lanchas do Pico

FACE OCULTA


AS LANCHAS DO PICO UMA AUTÊNTICA POUCA VERGONHA


Embora este tema já tenha feito correr muita tinta, pouco ou nada mudou na mentalidade de quem continua a planear (?) este serviço público de importância crucial para as duas ilhas vizinhas.

Com frequência crescente, vemos citar os números extremamente significativos de passageiros que cruzam o canal Faial-Pico ao longo do ano. Citações que têm mostrado incapazes de suscitar as correlativas e fundamentais mudanças.

Os terminais, com especial ênfase para o do Pico, continuam a não oferecer um mínimo de condições de dimensão, conforto ou mesmo higiene. As condições de chegada e saída e o tratamento das bagagens continuam a ser perfeitamente caóticas, não respeitando qualquer tipo de regras. E os horários, sobretudo estes, continuam a fazer-se segundo um figurino completamente ultrapassado e já não corresponde a qualquer realidade actual.

De bom, pouco mais se faz do que adquirir o Cruzeiro do Canal que, é forçoso reconhecê-lo, veio melhorar de forma dramática as condições de travessia do canal. Quem não se lembra das travessias na Calheta ou mesmo na Espalamanca? Mas ficámos por aí, em matéria de inovação.

Continua a ser completamente proibitivo transportar um carro entre o Faial e o Pico, situação que poderia ser extremamente frequente e, deste modo, altamente lucrativa para que a empresa concessionária. Está anunciada a vinda de um barco com condições para transportar veículos. Aguardemos os preços e horários.

Hoje, mais do que nunca, a vida das duas ilhas vizinhas depende da qualidade e frequência das ligações marítimas. Como compreender, portanto, que se continuam a praticar horários completamente desajustados de todas as realidades nomeadamente do facto de a TAP escalar o aeroporto da Horta e serem inúmeros os passageiros provenientes ou com destino ao Pico?

Nada é feito a pensar nessa realidade ou mesmo no facto de que as pessoas que deslocam entre as duas ilhas não dependem, na esmagadora maioria dos casos, de ligações terrestres completamente obsoletas. Ou então que os utentes que se deslocam em função dos mais variados interesses e necessidades não podem estar condicionados por horários que apenas faziam sentido há 20 anos.

Como se perceber que a última lancha entre o Pico e o Faial seja às 16H45 com saída da Horta às 16 quando às 20 horas ainda é perfeitamente dia!? Ou que ao Domingo e dias feriados continue a haver apenas duas lancha? Ou que, mesmo de Inverno, se continue a não fazer viagens de noite com argumentos perfeitamente pueris?

Será que os horários das lanchas são feitos com o objectivo primordial de defender os interesses das tripulações em vez dos interesses dos utentes que deviam constituir a razão de fundamental da companhia?

O serviço de lanchas do canal é um serviço público da maior importância para o quotidiano de faialenses e picoenses e, sobretudo destes, agora que o governo decidiu que os doentes do Pico têm quase que passar, sempre e inexoravelmente pela Horta mesmo que tenham indicações para especialidades não existentes no Faial!...Se já dantes essas ligações eram importantes, ganham, agora, redobrada importância até no plano ético.

Já que os doentes do Pico têm que passar a vida a corres para o Faial, ao menos que se lhes poupe as despesas e os incómodos das noites que lá têm que ficar por causa de uma simples consulta ou exame. Porque são muitas de facto as pernoitas e refeições que os picoenses têm que fazer no Faial por causa de horários de lanchas completamente desajustados da realidade.
Nos dias que correrem já não faz qualquer sentido – a não ser por interesses que nada têm a ver com os passageiros – que haja o corte da lancha da tarde durante o inverno. Possivelmente poderia ser um pouco mais cedo, por exemplo com partida, antecipada, da Horta paras as 17H30 e com a consequente alteração também da lancha das 13 que poderia antecipar-se para as 12 ou 12H30, mas nunca eliminada, pura e simplesmente.

Os utentes das lanchas do canal já não utilizam na sua grande maioria, como já se disse, os transportes públicos.

O que as pessoas de facto precisam, hoje em dia, é de horários que comecem cedo no dia e acabem ao fim da tarde com uma lancha intermédia organizada em função da última seja de Verão seja de Inverno. Horários que lhe permitam utilizar a TAP na Horta, ir ao médico ou às compras ou então fazer o seu negócio sem terem que andar às correrias ou então, o que ainda é pior, terem que gastar desnecessariamente dinheiro (que às vezes nem possuem) em alojamentos e refeições.

Para já não falar nas repercussões extremamente negativas para o turismo, sector que tem vindo a assumir importância crescente para as duas ilhas e cujo sucesso muito contribuirá a política dos transportes não só entre o Faial e Pico mas também entre estas e S. Jorge porque está, novamente na moda falar no triângulo. Mas nunca haverá qualquer triângulo, seja de ângulo aberto ou fechado, enquanto estas ilhas não forem ligadas pelo mar de forma racional e sistemática.

É urgente que a política de ligações marítimas entre o Faial e Pico seja devidamente repensada e que não se deixe ficar ao simples arbítrio da empresa concessionária.

Assim o mandam os imperativos de carácter social e económico para já não falar em linear senso comum.


P E D R O  DA M A S C E N O
                                                                            



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