....precisamos de uma colectividade coesa e consistente
José Gil
A U T Á R Q U I C A S
Acabou de se iniciar a campanha eleitoral oficial para as eleições autárquicas. Um país cheio de cartazes, slogans e panfletos. E o circo mediático que também já aí está para explorar o filão dos candidatos-vedetas e as disputas de bairro e quarteirão.
Como tem vindo a ser hábito, pouco ou nada se discutirá da nossa vida colectiva profunda para nos perdermos em debates infindos e estéreis – tantas vezes falhos mesmo de, pura e simples, boa educação.
O país das fatimas, dos valentins, dos isaltinos e dos torres volta ao de cima. Fazendo tábua rasa de valores, ideologias e referências. Um país falho de autoestima, que não gosta do estado e que prefere os heróis de capa e espada e os robins do bosque de pacotilha.
Um país que aprecia os espertos não ligando muito a pessoas verticais e frontais, que não oferecem benesses nem fazem da coisa pública uma coutada política. Um país que acha de si próprio que é uma trampa mas que não se decide a mudar de vida.
Bem gostaria de acreditar que estas autárquicas venham a ser um verdadeiro momento de reflexão. Uma busca de um sentido colectivo que nos venha restituir a nossa dignidade de cidadãos de uma sociedade democrática madura e não, apenas, habitantes de um país brando e poucochinho à beira mal plantado.
Temo, contudo, que o desfecho será bem diferente e que teremos no pódio dos vencedores quem nos tem arrastado pela lama. Um branquemento popular que será tão deprimente quanto autoflagelador.
E será, se assim for, outro passo para que muitos cidadãos capazes e sérios se afastem, ainda mais, da actividade autárquica e da vida política. Pesem, embora, os autarcas competentes e de príncipios que, felizmente, também existem.
Mas o tom será para a debandada. Quem se disporá a enfrentar, no dia a dia, golpes baixos e pressões ilegítimas que corroem e desgastem? Quem se disporá a ver a sua vida pessoal devassada e sua actividade profissional comprometida a troco de um prato de lentilhas?
É hoje lugar comum dizer que o povo tem os políticos e o país que merece. Mas não deixa por isso de ser bem verdade. Como é possível que uma pessoa que anda há dois anos e meio a envergonhar a democracia e a justiça portuguesa seja candidata a uma Câmara?
E pior ainda poderá estar para vir, se for eleita. Porque nesse caso as urnas terão, essencialmente, sido uma oportunidade de révanche e de legitimidade popular que supostamente a compensará dos seus problemas com a Justiça.
E quem diz essa, diz outros.
O país precisa urgentemente de encontrar um rumo que o tire da inércia e que os portugueses comecem a gostar mais de si próprios. E nada mais urgente que encontrar os líderes que saibam criar uma dinâmica de coesão social e cívica.
O País bem precisa disso, e o Pico não fica atrás.
P E D R O D A M A S C E N O
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