Quem nos acode?
Quem não se lembra das polémicas que ocorreram em torno da decisão, exclusivamente política, de construir na Horta um hospital com pretensões a servir as populações do Faial, Pico, Flores e Corvo?
Decisão tomada ao arrepio de todos os estudos que sobre a matéria tinham sido feitos. A começar no tempo do último plano de fomento do antigo regime e a acabar no chamado plano dos suecos.
Todos eles apontavam para a existência de dois polos hospitalares diferenciados – Ponta Delgada e Angra – e para um hospital de 1º linha nas restantes ilhas. Nos dois primeiros centrar-se-iam os meios mais sofisticados e nos segundos as valências indispensáveis a cada ilha.
O que fazia então (e ainda hoje faz) todo o sentido tendo em conta a população de S. Miguel e da Terceira em relação a todas as outras.
Nas duas ilhas mais populosas (com uma diferença enorme de qualquer das outras) era indispensável a construção de hospitais de nível regional que para além de assistirem às respectivas populações dessem apoio diferenciado à outras.
Contudo a política de capelinhas e os compromissos partidários falaram mais alto e ditaram a construção de um hospital “diferenciado” na Horta que em breve se transformaria na maior entidade empregadora da Ilha do Faial.
E, assim, as restantes ilhas do ex-distrito da Horta ficaram condenadas a não ter um hospital de ilha já que passaram a ter que fazer parte da área de influência de um hospital cuja construção nunca fez sentido – ao menos em termos de planeamento racional.
E o que era inevitável aconteceu. Os quadros administrativos e auxiliares preencheram-se num ápice enquanto que os quadros de especialistas e respectivos serviços nunca chegaram a atingir o nível indispensável e dar respostas adequadas.
Mas era fundamental justificar tão grosseiro erro de planeamento e mascarar as suas consequências económicas: um verdadeiro sorvedouro de dinheiro. Para tanto foram criadas as famigeradas juntas médicas de deslocação de doentes sediadas no Hospital da Horta.
Fazendo tábua rasa da organização administrativa da Região e das perrogativas e competências profissionais dos médicos das restantes ilhas essas juntas passaram a tutelar e controlar a saída dos doentes do Pico, Flores e Corvo houvesse ou não resposta adequada na Horta.
Situação que, incrivelmente, se mantêm até hoje com episódios frequentes de decisões atentórias de direitos elementares dos utentes e dos respectivos médicos de família. Para não falar de algumas listas de espera absurdas.
Como é o caso das tomografias axiais computorizadas (TAC) que atingem anos. Sendo um episódio recente o mote desta crónica. Um doente do Pico portador de uma requisição urgente de um especialista que o observou foi confrontado com uma lista de espera de 2 (dois) anos no Hospital da Horta!...
O que sendo ridículo aos olhos de qualquer leigo sensato não deixa de ser inteiramente ilustrativo da situação caricata a que se chegou e que dispensa qualquer outro comentário.
Quem nos acode?
P E D R O D A M A S C E N O
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