“e Deus disse vou destruir da face da terra o homem que criei.....porque me arrependi de o ter feito” Genesis (cap. VI – 7)
Desabafos de um deus menor
Dado que Deus nos criou à sua imagem e semelhança (“vamos fazer o homem à nossa imagem e semelhança” Genesis cap I – 26) será razoável considerar-me um deus menor, sem cair em qualquer sacrilégio.
E, embora, não pretendendo arrogar-me a possuir quaisquer poderes sobrenaturais ou capacidades omniscientes, sempre será de esperar que consiga entender, minimamente o Criador.
Criador que nos deu o domínio discricionário sobre os outros seres vivos e a terra e que deixou que os seus filhos casassem com as nossas filhas ( Genesis cap. VI – 2). Uma relação muito próxima portanto.
Mas apesar de tudo isso – das semelhanças e dos poderes outorgados – Deus acabou por se irritar e destruir com um dilúvio a obra feita à sua imagem e semelhança e, quem sabe, os seus próprios descendentes.
Quer se aceite a Bíblia como uma descrição histórica fidedigna ou apenas como um livro de culto a ser seguido por fieis não deixa de ser interessante o tema recorrente da ira de Deus perante o comportamento dos homens.
Tendo nós sido feitos à sua imagem e semelhança seria de esperar que os nossos comportamentos tivessem alguma coisa de divino. Sobretudo sabendo-se, como se sabe hoje, a importância que a genética tem nos comportamentos.
Independentemente de professarmos ou não uma fé religiosa é evidente que conduzimos a nossa vida como bem entendemos e as interferências que sofremos provêm, essencialmente, de outros seres humanos e de circunstâncias aliatórias.
E mesmo que se considere a história do castigo divino na forma de dilúvio do Velho Testamento como uma mera alegoria não deixam de ser preocupantes os sinais de violência e miséria que se vivem no mundo e o total desrespeito com que lidamos com a Terra.
Mas ainda mais preocupante é o aumento exponencial dos sinais de extremismo e intolerância religiosos sempre feitos em nome de um Deus que todos – cada um à sua maneira – julga saber interpretar. Para defender as maiores violências e injustiças.
Apesar de não passar de deus menor e só poder falar em nome próprio não posso deixar de sentir alguma ira e revolta por toda esta utilização, abusiva e infundamentada, da hipotética vontade de Deus. E por todo este desrespeito pelos outros e pela nossa casa comum.
A palavra de Deus é uma coisa muito séria e não será por acaso que a sua invocação – em vão – é um pecado mortal na Igreja Católica, a pronúncia do nome Geová é totalmente proibida na Religião Judaica e na Religião Muçulmana não é permitido representar por imagem o profeta Maomé.
Se a minha palavra - ainda que de um deus menor - fosse minimamente ouvida gostaria de exortar as religiões (todas elas) a regressarem aos seus fundamentos e ao papel que lhes cabe no preenchimento da nossa dimensão espiritual.
As religiões deveriam servir – precisamente – para estabelecer padrões de comportamento positivo, quer individual quer colectivo, que visassem unir as pessoas e promover a justiça e o equilíbrio num profundo respeito pela natureza que é a nossa matriz de vida.
Se não for para isso não passam de uma treta, tantas vezes, ao serviço de fins inconfessáveis e uma “ajuda inestimável” para uma nova fúria de Deus.
P E D R O D A M A S C E N O
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