Um muçulmano, com o tempo, vai deixar de ser muçulmano, não no sentido religioso, que isso é do domínio da fé, pessoal, mas no sentido político, pois será só cidadão do Estado.
Muhammed Ali Jinnah
O cúmulo do desaforo
A religião islâmica é, rigorosamente, igual a qualquer outra em termos de direito à sua existência. Não devendo, por conseguinte ter a pretensão de se arrogar a direitos especiais.
Como resulta bem claro da citação acima referida da autoria de Muhammed Ali Jinnah, o próprio “pai” da nação Paquistanesa, a fé é a uma questão de foro exclusivamente pessoal que jamais deveria estender-se ao Estado que tem de ser de todos os cidadãos.
Como é possível, então, que o Ministro dos Assuntos Religiosos (?) do Paquistão se tenha atrevido vir publicamente ameaçar de morte o cidadão britânico Salman Rushdie pelo “crime” de ter sido condecorado pela Rainha Isabel II de Inglaterra?!
Como é possível que um membro, embora titular de uma pasta atípica, de um governo de um país que é membro das Nações Unidas se arrogue o direito de pôr em causa – da forma como o fez – um decisão soberana de um país soberano com base em argumentos de carácter estritamente confessional e por alegado delito de opinião?
Pondo, desse modo, em causa a liberdade de expressão e o direito à produção artística sem censura. Tudo o que Salman Rushdie, prestigiado escritor britânico de origem indiana, fez foi exprimir, na sua escrita, uma perspectiva crítica sobre a religião muçulmana.
Ou fosse sobre o que fosse. Esse direito é que melhor consubstancia a matriz da liberdade e a essência de um estado democrático que não pode tolerar que, em nome do que quer que seja, se venha pôr em causa – ainda por cima de forma inteiramente terrorista e trauliteira – os seus próprios fundamentos.
Quem que é o senhor Ejaz-ul-Haq, sombrio ministro de um governo não democrático, julga que é para se arrogar ao direito de por em causa o regular funcionamento das instituições democráticas do mais antiga democracia europeia?
Porventura o representante de Ala na terra? E, mesmo admitindo que o seja, teve a oportunidade de conversar com Ele para saber a Sua opinião sobre a bondade de uma condecoração concedida pela monarca britânica no exercício de um poder legítimo?
E aonde estavam agora Blair e Bush? Debaixo da mesa? Por razões geo – estratégicas ou simplesmente por falta de coragem cívica e por temor pelo dito mundo islâmico?
O Islamismo é uma das três religiões monoteístas que teve a sua origem em Abraão, o pai também comum ao Judaísmo e ao Cristianismo, e que – como todas as outras e não mais nem um milímetro – deve merecer o nosso inteiro respeito.
Mas apenas enquanto se mantiver na sua estrita condição de fé religiosa e de instrumento de concórdia e elevação espiritual do homem.
Ao ultrapassar esse limites e ao tentar impor, pela ameaça e pela violência, ao mundo laico e democrático a sua visão radical e intolerante torna-se numa força que é preciso combater com a mesma determinação com que teve de se combater o regime nazi.
Pobre Salman Rushdie! Depois da condenação à morte pelo Ayatollah Komenei, só te faltava mais esta. Já nem sequer se pode ser promovido a “sir” em paz!
Acorda Reino Unido, acorda Europa!
P E D R O D A M A S C E N O
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