Uma coisa muito feia
Ainda algo atordoado com o terramoto político que caiu sobre Portugal
Diogo Freitas do Amaral
Não tencionávamos voltar, tão cedo, à problemática do descrédito da política e dos políticos embora haja razões recorrentes para que esse assunto não saia da ribalta. Como foi o caso, ainda há dias, do epípeto de “sentença de merda” com que o insubstituível Avelino Ferreira Torres decidiu brindar a decisão do colectivo de juízes que o julgou e condenou.
O caso agora é, contudo, bem mais grave. Um primeiro ministro que reiteradamente afirmou a sua decisão inabalável de cumprir o mandato para que foi eleito – ao contrario de outros como dizia – e que ainda há uma semana se mostrava indisponível para ser candidato a um cargo em Bruxelas dá o dito por não dito e demite-se para assumir um tacho que, providencialmente, lhe caiu na sopa.
Uma pessoa que ocupava um cargo político da maior importância não teve o mais pequeno pejo em lançar o país, que dizia tanto o preocupar, numa inevitável turbulência de consequências ainda imprevisíveis. Matando, desse modo, dois coelhos de uma só cajadada: safar-se do beco político aonde estava encurralado e prosseguir o seu projecto de poder pessoal.
Qualquer eleição envolve sempre um contracto entre eleitor e eleito. O eleitor ao votar confere ao eleito um voto de confiança para que execute as suas promessas e compromissos eleitorais. O eleito ao receber um mandato assume as responsabilidades para executar aquilo com que se tinha comprometido.
Durão Barroso quando se candidatou, pelas listas do PSD, a primeiro ministro fê-lo para um mandato de quatro anos como ele próprio confirmou à exaustão. E os contractos, mesmo os não escritos, são para se cumprir, pelo menos para quem seja pessoa de bem. E ao proceder como procedeu o ex primeiro ministro demonstrou não ser pessoa de bem dando um exemplo lamentável de falta de integridade e de caracter.
E não serão os argumentos de patrioteirismo balofo que poderão branquear aquilo que ficará como mais um exemplo extremamente negativo sobretudo para os jovens que não acreditam, minimamente, na política nem nos políticos. E porque deveriam acreditar?
Durão Barroso foi escolhido para Presidente da Comissão Europeia exclusivamente pela negativa. Porque os grandes blocos não se entenderam, porque o primeiro ministro do Luxemburgo não quiz trair os eus compromissos eleitorais, porque o ex-primeiro ministro português não é uma figura controversa, porque dá garantias de não bulir com os grandes interesses em jogo, por pertencer a um país que não é grande e também não é recem chegado.
Não foi, certamente, escolhido pelo seu prestígio político angariado à frente de um governo suportado por partidos que acabaram de averbar una derrota humilhante, precisamente para a Europa. A ida de Durão Barroso para a Comissão Europeia apenas seria uma honra para Portugal se, cumulativamente, ela se fizesse pela positiva e num contexto de disponibilidade política do próprio. Doutro modo não passa de um tacho que, fundamentalmente, serve para quem o vai usufruir e que deixa um país à beira de um ataque de nervos.
Não faltava mais nada que agora, ainda por cima, nos devessemos sentir honrados por ter sido traídos. Era quase como se a nossa mulher nos tivesse traído com Bill Gates e nos sentissemos honrados por ter sido uma portuguesa a conseguir a “feito” de ser a amante do homem mais rico do mundo!
Durão Barroso fez uma coisa muito feia.
PS: se calhar já era altura de os legisladores pensaram na possibilidade de condicionarem as saídas, a seu belo prazer, de políticos dos cargos a que se candidataram. Sejam eles de primeiro ministro ou presidente de camara: se não vai a Maomé a Meca terá que ser Meca a ir a Maomé! Ao fim e ao cabo trata-se da liderança de um povo ou de uma população que não pode estar à mercê dos meros interesses ou disposições pessoais de quem quer que seja. Ser político não é nem deve ser obrigatório mas quem não quer ser lobo não lhe vista a pele...
P E D R O D A M A S C E N O
Ainda algo atordoado com o terramoto político que caiu sobre Portugal
Diogo Freitas do Amaral
Não tencionávamos voltar, tão cedo, à problemática do descrédito da política e dos políticos embora haja razões recorrentes para que esse assunto não saia da ribalta. Como foi o caso, ainda há dias, do epípeto de “sentença de merda” com que o insubstituível Avelino Ferreira Torres decidiu brindar a decisão do colectivo de juízes que o julgou e condenou.
O caso agora é, contudo, bem mais grave. Um primeiro ministro que reiteradamente afirmou a sua decisão inabalável de cumprir o mandato para que foi eleito – ao contrario de outros como dizia – e que ainda há uma semana se mostrava indisponível para ser candidato a um cargo em Bruxelas dá o dito por não dito e demite-se para assumir um tacho que, providencialmente, lhe caiu na sopa.
Uma pessoa que ocupava um cargo político da maior importância não teve o mais pequeno pejo em lançar o país, que dizia tanto o preocupar, numa inevitável turbulência de consequências ainda imprevisíveis. Matando, desse modo, dois coelhos de uma só cajadada: safar-se do beco político aonde estava encurralado e prosseguir o seu projecto de poder pessoal.
Qualquer eleição envolve sempre um contracto entre eleitor e eleito. O eleitor ao votar confere ao eleito um voto de confiança para que execute as suas promessas e compromissos eleitorais. O eleito ao receber um mandato assume as responsabilidades para executar aquilo com que se tinha comprometido.
Durão Barroso quando se candidatou, pelas listas do PSD, a primeiro ministro fê-lo para um mandato de quatro anos como ele próprio confirmou à exaustão. E os contractos, mesmo os não escritos, são para se cumprir, pelo menos para quem seja pessoa de bem. E ao proceder como procedeu o ex primeiro ministro demonstrou não ser pessoa de bem dando um exemplo lamentável de falta de integridade e de caracter.
E não serão os argumentos de patrioteirismo balofo que poderão branquear aquilo que ficará como mais um exemplo extremamente negativo sobretudo para os jovens que não acreditam, minimamente, na política nem nos políticos. E porque deveriam acreditar?
Durão Barroso foi escolhido para Presidente da Comissão Europeia exclusivamente pela negativa. Porque os grandes blocos não se entenderam, porque o primeiro ministro do Luxemburgo não quiz trair os eus compromissos eleitorais, porque o ex-primeiro ministro português não é uma figura controversa, porque dá garantias de não bulir com os grandes interesses em jogo, por pertencer a um país que não é grande e também não é recem chegado.
Não foi, certamente, escolhido pelo seu prestígio político angariado à frente de um governo suportado por partidos que acabaram de averbar una derrota humilhante, precisamente para a Europa. A ida de Durão Barroso para a Comissão Europeia apenas seria uma honra para Portugal se, cumulativamente, ela se fizesse pela positiva e num contexto de disponibilidade política do próprio. Doutro modo não passa de um tacho que, fundamentalmente, serve para quem o vai usufruir e que deixa um país à beira de um ataque de nervos.
Não faltava mais nada que agora, ainda por cima, nos devessemos sentir honrados por ter sido traídos. Era quase como se a nossa mulher nos tivesse traído com Bill Gates e nos sentissemos honrados por ter sido uma portuguesa a conseguir a “feito” de ser a amante do homem mais rico do mundo!
Durão Barroso fez uma coisa muito feia.
PS: se calhar já era altura de os legisladores pensaram na possibilidade de condicionarem as saídas, a seu belo prazer, de políticos dos cargos a que se candidataram. Sejam eles de primeiro ministro ou presidente de camara: se não vai a Maomé a Meca terá que ser Meca a ir a Maomé! Ao fim e ao cabo trata-se da liderança de um povo ou de uma população que não pode estar à mercê dos meros interesses ou disposições pessoais de quem quer que seja. Ser político não é nem deve ser obrigatório mas quem não quer ser lobo não lhe vista a pele...
P E D R O D A M A S C E N O
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