sexta-feira, janeiro 13, 1995

PLANO E ORÇAMENTO PARA 1995


FACE OCULTA


PLANO E ORÇAMENTO PARA 1995


Morto e enterrado o plano e orçamento para 1995, de má memória para o Pico, iniciou-se o novo ano sob o signo da estagnação do investimento público. As forças políticas aquietaram-se e tudo voltou a uma aparente normalidade.

Feito o balanço terá de se chegar à conclusão inevitável que o Pico estava antecipadamente derrotado quando a proposta do plano e orçamento deu entrada na Assembleia Regional dos Açores. Pela razão, simples e elementar: de que este tipo de documentos, pelo peso e significado político que acarretem e pelo ambiente de maioria parlamentar confortável que o PSD dispõe, dificilmente são significativamente alterados em sede de plenário.

Documentos deste peso são, naturalmente, decantados ao logo do ano e sobretudo nos três ou quatro meses que precedem a sua apresentação. E é nesta fase que as opções são tomadas e as pressões dos vários lobbies do partido fazem sentir a sua influência. Porque aí as coisas decorrem à porta fechada e longe dos olhos e ouvidos do grande público, e sobretudo da comunicação social, proporcionando desse modo e sem perda de face, alterações substanciais.

Embora a fase inicial de elaboração de um plano seja de caracter essencialmente técnico, já se faz sobre opções políticas que servem de bússola aos técnicos. Estes por sua vez, pesados os haveres e deveres, são o inevitável feedback aos políticos que terão que condicionar algumas opções políticas iniciais à frieza dos números e sobretudo às receitas. Fase em que os mais avisados exercem a pressão possível, conscientes de que quanto mais cedo o fizerem mais oportunidades de êxito terão, para que as suas aspirações tenham vencimento.

Quando o documento, finalmente, conhece a luz do dia e se torna público pouco ou nada, habitualmente, é alterado. Em primeiro lugar para não abrir precedentes que serão sempre difíceis de gerir pelo executivo e em segundo porque este tem conseguido, ao longo dos anos, um comportamento dócil dos seus deputados, facto que o põe a coberto de eventuais dissabores na Assembleia. E por outro lado, quem realmente tem peso no partido e no Governo, já, atempadamente, fez valer as suas teses.

De modo que começar a fazer reivindicações para alteração do plano e orçamento quando ele é já público, é praticamente o mesmo que chover no molhado. Só mesmo um terramoto político poderia alterar substancialmente o documento. Essa tem sido a experiência na Região e no Continente desde que o PSD tem detido maiorias absolutas.

Circunstância que torna esta reflexão num “recado” praticamente directo para os políticos picoenses afectos à maioria, nomeadamente deputados e presidentes de câmara. Porque, é agora e já, que todos eles têm que começar a trabalhar juntos das mais variadas instâncias com vista à elaboração do plano e orçamento de 1996 tecendo u conjunto de contactos, influências e pressões que venham a viabilizar as suas teses a tempo e a horas nos locais certos.

Sem prejuízo de todas as posições públicas que venham a tomar ao longo do ano, circunstância que poderá dar ais consistência e força às suas reivindicações mas que não será determinante, como a prática tem demonstrado, para a formação da decisão do governo.

As grandes necessidades do Pico (aeroporto, escolas, estradas, orla marítima, etc.) têm que ser acauteladas desde já num trabalho – que tantas vezes terá de ser de sapa – que garanta que a ilha, no próximo ano, não volte a ser surpreendida por orçamento completamente restritivo.

Os políticos do PSD, eleitos pela Ilha do Pico, têm um capital político que terão que saber utilizar, decididamente e a tempo, e que poderá ser determinante no desenvolvimento da ilha. A situação de maioria absoluta que o seu partido detém na Região confere-se responsabilidades acrescidas já que as armas que a oposição dispõe são muito mais frágeis.

Porque solicitar e conseguir maiorias absolutas se, por um lado, confere maior governabilidade traz, por outro, responsabilidades acrescidas. E é por isso mesmo que ninguém tem dúvidas que o péssimo plano de orçamento que o Pico conseguiu para 1995 é da inteira responsabilidade do PSD e dos seus políticos.

Do mesmo modo, e porque em 1995 não vai haver eleições legislativas regionais, também o será em 1996. O que põe a fasquia bem alta para os políticos social-democratas picoenses.

Sem apelo nem agravo.


P E D R O  D A M A S C E N O