sexta-feira, agosto 21, 2009

A dança dos transportes

A dança dos transportes



Um arquipélago de nove ilhas, com pretensões a ser destino turístico, como os Açores tem que ter uma política que assegure transportes eficientes, fiáveis e de custo aceitável.

A nossa condição a isso obriga.

Contudo as complicações, desencontros, insuficiências e preços dos nossos transportes não auguram nada de bom. Viajar de avião entre as ilhas continua a ser proibitivamente caro e de barco uma aventura.

Verdade para toda a Região mas, ainda mais verdade, para as ilhas do Triângulo e Flores. Por aqui o aeroporto do Pico jaz morto e apodrece e as ligações marítimas com São Jorge são o que são.

Restando a esperança que as reiteradas promessas políticas de ligações diárias e todo ano com a Ilha do Dragão tenham, já este ano, concretização. E que, finalmente, a novela do abastecimento de combustível às aeronaves no aeroporto do Pico termine.

Esperando-se, também, que os cancelamentos do aeroporto da Horta não continuem a significar aterragens na Terceira e regresso a Lisboa transformando uma viagem de duas horas e meia em sete horas e meia. Assim não há turismo que resista.

Como se espera que o horários publicados pela Transmaçor na Internet correspondam aos horários efectivamente praticados. Ninguém acredita que essa discrepância possa existir mas a verdade é que existe e muito boa gente perdeu ligações por isso mesmo!

Passados dois anos sobre a inauguração do aeroporto e da realização de investimento de 25 milhões de euros, o Pico continua a ser tudo menos um aeroporto alternativo ao da Horta e, ainda menos, uma gateway da Região. Cheirando o voo semanal a mera desobriga política.

Do outro lado do Canal de Vitorino Nemésio estão cerca de 10.000 pessoas inquietas para verem a sua Ilha ligada, de forma consistente e eficaz, ao Pico e ao Faial e por terem acesso rápido a uma gateway que lhe permita entrar e sair da Região com a fluidez que as limitações do seu aeroporto não permitem.

Não podemos continuar sujeitos ao livre arbítrio da SATA Internacional e da TAP pesem embora as boas intenções do regulamento de serviço público. Terá que existir um conjunto de procedimentos estandardizados para os cancelamentos. Os pilotos não podem ter a última palavra.

É sabido que a palavra de boca é a melhor forma de promoção mas experiências quase surrealistas que continuam a acontecer, quer de avião quer de barco, não auguram nada de bom. Já basta o nosso destino ser caro.

O desafio está, sem dúvida, dos lado dos políticos que não podem continuar esconder-se por trás da teoria que o mercado é que funciona mas está também do lado dos empresários e respectivas associações.

O dossier dos transportes é muito complexo não se compadecendo com visões e reivindicações simplistas e, muito menos, com medidas avulsas. É indispensável pegar nele com uma atitude fresca e isenta de preconceitos num ambiente de diálogo e concertação.

Ou então continuaremos a ser somente um potencial destino turístico e um negócio de apenas dois meses por ano.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, agosto 07, 2009

O POLVO

O POLVO

Sem dúvida que existem excepções na Administração Pública: pessoas competentes, empenhadas e diligentes. Mas não passam disso mesmo, excepções.

O resto é uma máquina pesada, ineficiente e caríssima que asfixia este país.

Atingindo todos os sectores mesmo os mais nevrálgicos como a Saúde, a Educação e a Justiça. E não há estado de direito que resista, por muito perfeita que sejam a Constituição e as leis.

Tendo os agentes dessa administração a noção, correcta alias, que os seus votos são um peso decisivo no “jogo” democrático e que, por conseguinte, não há partido, com ambições de poder, que se “atreva” a desafiá-los.

E assim tem sido desde o 25 de Abril. O que leva a que saudosos do salazarismo e outros-que-melhor-não-entendem façam apelos ao regresso ao passado.

Confundindo tudo. Porque o que este país precisa não é de uma versão reciclada do dinossauro excelentíssimo mas sim de uma autoridade democrática que cumpra e faça cumprir as leis.

Uma autoridade constituída com base no voto e no sufrágio popular mas que se decida a servir e não a servir-se. Que saiba usar, sem tibiezas ou complexos, a autoridade que lhe foi conferida para defender os cidadãos e os seus direitos.

Sobretudo num país em que a ileteracia ainda tem um peso muitíssimo significativo e aonde as tradições democráticas são muito recentes e que, por isso mesmo, precisam de ser consolidadas pelo exemplo que tem que vir precisamente da classe política e dos agentes da administração.

Muito se escrito sobre isto, muito tem se tem barafustado mas sem resultados à vista. A abstenção aumenta sistematicamente e os exemplos que por ai abundam em nada ajudam.

Veja-se o último caso bem ilustrativo da javardisse a que chegou a política portuguesa. Um politico é condenado em tribunal a prisão efectiva e a perda de mandato e tudo o que se lembra é de começar, nesse momento, a sua campanha para as próximas eleições!

Tudo isto não é normal e atesta, eloquentemente, a degradação a que chegou a cidadania em Portugal. Uns fingem que não estão a ver, outros que não percebem e o povinho, esse “coitado”, fica de boca aberta a indagar-se sobre para que servem os tribunais e a justiça.

A nossa democracia bem precisa de uma lufada de ar fresco, que terá de vir de um número crescente de pessoas que, individualmente ou organizadas, passem a exercer uma cidadania esclarecida, interventora e fortemente reivindicativa.

Assim não sendo o polvo não parará de crescer.



P E D R O D A M A S C E N O