sexta-feira, junho 30, 1995

VANDALISMOS

FACE OCULTA


VANDALISMOS

(A MORTE DA GALINHA DOS OVOS DE OURO?)


Parece não merecer dúvidas a ninguém de que o novo modelo de desenvolvimento dos Açores terá de assentar no turismo. Ainda há poucos dias essa afirmação foi feita à RTP pelo vice-presidente da Câmara do Comércio dos Açores sem que tivesse sido contestado por qualquer dos outros participantes no programa. Nomeadamente não o foi por parte do Secretariado do Comércio e Indústria, Gaspar da Silva.

E essa análise decorre não só das insuficiências que a Região apresenta noutros sectores – nomeadamente da indústria, na agricultura e nas pescas – mas porque oferece excepcionais condições para o crescimento daquele.

Desde logo pelas belezas naturais mas não esquecendo outros aspectos não menos importantes como a tranquilidade e a segurança. Conjugação de factores que potencializa um destino turístico com a procura crescente na Europa que se começa a cansar dos chamados destinos exóticos. A procura do regresso à natureza não para de ganhar adeptos sobretudo entre os quadros médios e altos dos países mais industrializados que demandam férias que lhe reponham as energias perdidas no stress dos grandes meios.

Conjuntura que põe os Açores à frente da própria Madeira que proporciona um bom destino de mar/sol mas que já se afastou demasiado da ruralidade imprescindível para satisfazer quem procura um regresso à natureza.

E, dentro dos próprios Açores, o Pico tem se vindo a posicionar como uma ilha especialmente dotada para se constituir um destino de natureza. Pelo seu avantajado tamanho, pela sua pequena população e baixo tráfego, pela sua ruralidade e insignificante poluição, pela sua tranquilidade e segurança. Esta ilha, majestaticamente, situada entre o Faial e São Jorge tem todas as condições para o desempenhar um papel ímpar no desenvolvimento do sector no arquipélago.

É, por conseguinte, causadora de grande apreensão e existência de alguns fenómenos – por enquanto ainda em pequena escala- de vandalismo impune. A mesma política que se revela completamente incapaz para disciplinar o tráfego automóvel (que, apesar de todos os apelos feitos a quem de direito, se continua a deteriorar ininterruptamente com uma sinistralidade preocupante) revela-se, também, totalmente incapaz para suster os, ainda pequenos actos de vandalismo que têm vindo a crescer.

Actos que, apesar de tudo, já preocupam uma população ainda habituada a deixar a porta de casa aberta. Delitos que vão desde a prática de pequenos furtos à destruição de sinais de trânsito e tabuletas passando por espancamentos a forasteiros e roubo sistemático de combustível em máquinas de trabalho e acabando nas tropelias de motocicletas-filhos-de-papá-com-menos-juízo-que-eles. Naturalmente para não falar das recentes descobertas de droga na costa da ilha e de que nunca mais se ouviu falar (!) apesar de já serem evidências de “caça” bem mais grossa.

Mas, tudo isto não teria uma gravidade por aí fora, se as pessoas sentisse que algo é ou será feito e sua defesa. Mas, infelizmente, tal não acontece. Ninguém acredita a política que, deste modo, se torna motivo de chacota. Pelo que grande parte dos ofendidos ou lesados nem se dá ao trabalho de apresentar queixas que não passarão de mais uma chatice burocrática.

Naturalmente que o Pico, infelizmente, está, ainda, muito longe do clima de insegurança e medos que se vive noutras zonas do país sobretudo nos grandes centros urbanos. Mas para lá iremos se não acabar, rapidamente, com o clima de total impunidade que aqui se vive.

E o que dói, mais do que tudo, é a constatação de que tudo isto se poderia resolver de um dia para o outro com a maior das facilidades. Sem precisar de super-esquadras ou, se calhar, mesmo de mais efectivos policiais. Bastaria apenas que a polícia começasse a desempenhar cabalmente a sua missão em ligação e colaboração com as autarquias, nomeadamente as câmaras, que também são responsáveis pela segurança dos munícipes.

No fundo o Pico não passa de ima terra pequena aonde todas a gente sabe tudo o que se passa sobretudo se tiver a ver com as histórias de alcova do vizinho ou outras de teor igualmente picante! Como toda a gente, também, sabe quem são os delinquentes e os desordeiros habituais. E por consequência se não se actua, pelo menos na grande maioria dos casos, é porque não há vontade de quem pode e deve agir.

Será que vamos mesmo matar a nossa galinha de ovos de ouro?



P E D R O  DA M A S C E N O


quarta-feira, junho 14, 1995

Subsídio pra o Cidadão

FACE OCULTA


“DEIXAR VOAR EM CONDIÇÕES DE IGUALDADE”
SUBSÍDIO PARA O CIDADÃO E NÃO PARA A COMPANHIA


O recente e inadmissível aumento das tarifas aéreas entre Lisboa e a Região veio, na minha opinião, repor na primeira linha das preocupações regionais uma questão que se revela da maior importância para o arquipélago.

Porque é rigorosamente inadmissível que um bilhete de avião Açores-Lisboa-Açores, com preço especial (?) de residente, seja mais caro que um bilhete Lisboa-Londres-Lisboa ou Lisboa-Paris-Lisboa! O que torna, para a maioria dos açorianos, absolutamente proibitivo viajar para Lisboa ou seja utilizar um voo doméstico que é a única alternativa de ligação com o continente, o mesmo é dizer, com o resto do país. Só mesmo em caso de doença!

Para já não falar do espaço europeu em que estamos inseridos e que é, também para a maior parte de nós, uma realidade completamente intangível. Sendo, por outro lado, mais barato para os portugueses em geral viajar para qualquer parcela do continente europeu do que para uma parcela do seu próprio país. Situação que, embora tendo alguns eventuais fundamentos económicos, não deixa de ser completamente castrante do desenvolvimento económico da Região para não falar de evidentes desigualdades de direitos dos açorianos face aos restantes cidadãos do seu país.

Desvanecido que foi o “sonho” da SATA – Air Açores de viajar para fora da Região, mantém-se, contra toda a lógica, um monopólio da TAP mesmo em relação à Portugália, companhia tão portuguesa como aquela e que tem provado ser gerida com maior rigor e sentido de viabilidade que o verdadeiro elefante branco em que se transformou a nossa companhia de bandeira.

Toda a gente sabe que a TAP é uma companhia com uma estrutura de custos completamente inviável. Facto que os milhões injectados pelo estado não têm conseguido alterar sendo mesmo questionável que os próximos milhões de contos (700 milhões?) que o governo vai ter que disponibilizar nos próximos 4 anos para a tentativa de viabilização da empresa consigam resolver o problema.

E é, também facto incontroverso que os grandes déficites da TAP nada têm a ver com as ligações aéreas com as regiões autónomas. Os déficites da TAP têm, sim, a ver com os outros factos que não passam, nem de perto nem de longe, por essas ligações. E tudo leva, mesmo, a crer que as rotas para as nossas ilhas são bem positivas para a TAP. Se assim não fosse não faria sentido o interesse que a transportadora nacional tem na manutenção do monopólio.

Monopólio que nas palavras de Ribeiro da Fonseca, presidente da Portugália, “é contra o desenvolvimento económico e turístico das Regiões Autónomas” não entendendo, também, aquele empresário que o subsídio de residente vá parar às mãos da companhia e não do cidadão que, de outro modo, poderia procurar alternativas. Situação que cria desigualdade de condições para voar a empresas igualmente nacionais, retirando competitividade ao mercado aéreo das regiões insulares que se vê, assim desprovido de uma das mais elementares regras da economia de mercado.

Ao definir uma política aérea nacional, sobretudo no que diz respeito aos Açores e Madeira, com regras claras e equitativas que permitam voar em condições de igualdade outras companhias nomeadamente, portuguesas está-se, iniludivelmente, a julgar o nosso futuro. É já um chavão mais do que conhecido a ideia de que o nosso desenvolvimento passa por transportes adequados e a preços acessíveis mas nunca foi tão verdade como hoje em dia.

De facto, os Açores, cada dia que passa, afastam-se mais de uma economia de subsistência para terem metas de desenvolvimento e bem-estar ao nível europeu como é justo e legítimo. Ora estas metas jamais poderão ser atingidas se o peso da insularidade aumentar em vez de diminuir. E o peso da insularidade conhece o seu expoente máximo ao nível dos transportes sobretudo quando a sua saúde financeira depender, de forma cada vez mais significativa, do turismo.

A actual política aérea para a Região autónoma dos Açores não serve e é, objectivamente, um dos maiores travões ao desenvolvimento regional. A TAP serve mal e caro. É, por isso, prioritária a definição de uma nova política para as ligações Lisboa-Açores que respeite as regras do mercado, proporcionando igualdade de condições de voar para a Região e pondo as mãos nos cidadãos residentes qualquer eventual subsídio que se atribua e que, desse modo, terão uma palavra a dizer.

Que queiram impedir que as companhias estrangeiras operem para os Açores nos voos domésticos ainda se percebe, embora a palavra estrageiro em termos europeus faça, cada vez mais, pouco sentido.

Mas impedir que a Portugália o faça só faz sentido por razões perfeitamente obscuras, pelo menos, para o cidadão comum.


P E D R O  DA M A S C E N O