sexta-feira, dezembro 29, 2006

À guisa de balanço

À guisa de balanço


2006 não tendo sido um ano esplêndido – quer no plano interno quer no externo – não foi dos piores.

As grandes maleitas – a fome, a miséria, as epidemias, as guerras, o desperdício, a ameaça nuclear, os fanatismos – continuam e o fosso entre ricos e pobres continua, também, a aumentar, um pouco por todo o lado.

Os efeitos do aquecimento global nas condições climatéricas tornaram, ainda mais, óbvio o problema da poluição e dos seus efeitos devastadores na nossa qualidade de vida e, mesmo, na nossa segurança.

A situação do Iraque e do Médio Oriente aí estão a atestar a nossa incapacidade para atacar a causa profunda dos problemas e não apenas os seus efeitos.

O terrorismo não teve, este ano, nenhuma acção espectacular mas o seu espectro paira como uma ameaça real sobre as nossas vidas, sobretudo nos grandes centros urbanos.

Portugal mantém-se no pelotão de trás da comunidade europeia e nós, como povo, ainda não resolvemos encarar a sério um problema cuja solução não passa, apenas, pela politica e pelos políticos.

Os Açores mantem a aposta no turismo mas a sua sazonalidade permanece como o grande entrave à sustentabilidade do sector que vive longas noites de penúria.

A TAP/SATA continuam – perante várias complacências – a ignorar o aeroporto do Pico, fingindo não perceber que metade ou mais do tráfego da Horta tem origem e/ou destino no Pico.


Contudo sinais positivos também aí estão. Apareceu, proveniente do país mais poluidor do mundo, um filme (Uma verdade inconveniente) que vem retratar, de forma magistral, o gravíssimo problema do aquecimento global.

Nos USA os ventos de mudança, para uma atitude mais dialogante e de cooperação, já sopram visivelmente. Porventura abrindo a porta para a eleição um/a presidente mais sensível às questões da paz, do ambiente e das desigualdades sociais.

As mulheres começam, progressivamente, a desempenhar funções de responsabilidade na vida pública mundial. Podendo trazer para a política mais paz, mais bom senso e mais diálogo.

Em Portugal sente-se que estão a ser dados passos no sentido de se agarrar o boi pelos cornos e pôr em causa os nossos brandos costumes que apenas nos têm levado apenas à inércia e ao conformismo.

Os Açores consolidam-se como uma Região Autónoma madura e democrática e confirmam-se como um destino turístico fortemente apelativo.

O Pico continua a ser a montanha mais alta de Portugal e a dar alguns passos – não ainda os suficientes – para tornar o seu afamado futuro em presente.

Que 2007 venha confirmar as tendências positivas.


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sexta-feira, dezembro 15, 2006

A estória do João

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo....
Fernando Pessoa


A estória do João




A estória do João, na sua singeleza e linearidade, vale do que mais de mil exemplos de como vai este país e a segurança social cuja falência parece ser, cada vez mais, inevitável.

O João teve um acidente de trabalho há 3 anos tendo tido traumatismos graves da bacia e de uma das pernas. Possivelmente mal assistido ficou com sequelas de algum gravidade.

Lesões que lhe causam dores e lhe determinam algumas dificuldades na marcha bem como certa incapacidade para tarefas pesadas como as que executava antes do acidente.

O João tem trinta e três anos e anda de baixa há três!

O João não é um deficiente – longe disso – mas tão sómente um jovem que teve pouca sorte com um acidente grave e com os cuidados médico-cirúrgicos a que teve acesso.

Tirando o que se disse é um jovem escorreito em plena posse das suas capacidades intelectuais e, segundo diz, com vontade de trabalhar em qualquer das variadíssimas profissões que poderá exercer plenamente.

Sem falar na “profissão” de funcionário público, daquelas em que se vêm os respectivos titulares a segurarem as paredes e a verem passar o trânsito, todo o santo dia de sorriso na face e cigarro na boca.

O João pode ser condutor, fiscal, fiel de armazém, desenhador, orçamentista, contínuo de escola, funcionário de autarquia, leitor cobrador, pescador, guarda de museu, cobrador de bilhetes de cinema, etc. Eu sei lá...

Mas não: o João porque chegou ao fim do tempo de baixa permitido por lei foi, pura e simplesmente, mandado a uma junta médica de invalidez com vista, obviamente, a obter a dita cuja!

Sem que alguém – nomeadamente da área do apoio social e/ou reintegração profissional – se tenha chegado à frente e feito o que quer que seja para encontrar uma saída profissional para um jovem de 33 anos que passa a vida a polir calçadas.

Certamente não por falta de assistentes sociais ou programas de reintegração profissional.

Num país de poucos recursos e com uma segurança social afogada ainda é possível encontrar casos como estes que falam por isso e atestam bem a incompetência, o desleixo e a falta de qualidade humana.

A estória do João é bem parte da história deste nosso desafortunado país.


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sexta-feira, dezembro 01, 2006

Encontrei Deus na lixeira

O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano.
Isaac Newton


Encontrei Deus na lixeira




“…. Para que livre a minha casa da justiça e de todas as pessoas que me queiram mal, das bruxas, das enrarilhadeiras, das pragas dos males de inveja. Reza-se 3 Credos e diz-se: ….”

Assim rezava, em parte, o papel que jazia juntamente com o crucifixo de metal prateado com o Cristo a quem falta a mão e o antebraço direitos. No “aconchego” de uma lixeira para onde foi enviado no ano da Graça de Deus de 2006.

De surpresa, ao entardecer de um dia magnífico de S. Martinho, tive um encontro mágico com Deus que fora tão displicentemente enviado para a lixeira. Porque uma imagem e Deus (propriamente dito) são uma e a mesma entidade.

Pelo menos para quem acredita no valor das imagens e com elas dialoga quando quer falar com Deus. Ao jeito do anúncio de um jornal local que, há bem pouco tempo, falava da vinda da Mãe de Deus a uma das nossas vilas.

Naturalmente que não se referia – presumo – à Mãe de Deus de carne e osso mas tão-somente a uma das suas imagens dando, por conseguinte, a Esta o estatuto divino. O que coloca a questão no foro exclusivamente, confessional.

E sendo os Açores uma região em que o catolicismo é maciçamente maioritário não será abusivo imaginar que quem para a lixeira atirou Cristo será, com grande probabilidade, católico apostólico romano.

Possivelmente uma pessoa para quem não restam dúvidas quanto ao caracter divino das imagens do Senhor Bom Jesus ou do Senhor Santo Cristo dos Milagres não hesitando em tocá-las ou beijá-las em busca de ajuda ou de conforto.

Como, logicamente, não deverá haver imagens de primeira e de segunda, qualquer uma – independentemente do seu tamanho, material, localização ou notoriedade – representa Deus. Sob pena de todas elas perderem, afinal, o valor.

Uma imagem religiosa, seja ela qualquer for, é como um filho. Uma vez adquirida é encargo para toda a vida: nunca um filho deixa de ser filho nem a imagem deixa de ser Deus. A menos que se atribuísse a um ou ao outro um prazo de validade.

De modo que quem atirou o Cristo para a lixeira fê-lo, provavelmente, sem pensar em nada disso o que equivale a achar que a imagem tinha perdido a validade e já não prestava. Sem ter, concerteza, por isso renunciado à sua fé.

Assim vai a nossa espiritualidade. Um bem de consumo para deitar fora quando vira velho e se faz uma limpeza geral à casa. O Deus de ontem é um trapo velho, amanhã.

Quase como tudo o resto: consumível e descartável.

Num dia a Mãe de Deus é passeada e homenageada na vila, no outro o seu Filho é deitado fora! As duas faces de uma só moeda: o encanto e a fé de um lado e, do outro, um profundo desrespeito.

Para mim, tratando-se de quem se trata, encontrei Deus na lixeira. Que, ás tantas, está a olhar para tudo isto com um sorriso irónico...







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sexta-feira, novembro 17, 2006

Co-share, voos mistos e outras desgraças

Senhores passageiros este é um voo co-share TAP/SATA
Hospedeira da TAP



Co-share, voos mistos e outras desgraças


Co-share é um anglicismo utilizado pelas companhias aéreas para designar voos que fazem em rotas de parceria com outra companhia. Como, por exemplo, os voos Horta-Lisboa-Horta que são voos co-share TAP/SATA.

Ou seja o voo em questão é feito, por acordo entre ambas as companhias, quer com aviões da TAP quer com aviões da SATA conforme os seus respectivos interesses e disponibilidades.

O mesmo se passando, também, entre a TAP e a Portugália nos voos Lisboa-Porto-Lisboa. Tudo isto, obviamente, sem os passageiros serem tidos sido ou achados – apenas por conveniências comerciais das duas partes.

E grande mal não viria ao mundo se tudo isso acontecesse sem prejuízos/incómodos para os passageiros/clientes. Mas não é, como seria legítimo esperar, o caso.

Desde logo porque nesses voos não é possivel obter bilhetes electrónicos – uma comodidade indiscutível para quem viaja regularmente – por alegada incompatibilidade dos sistemas informáticos dos diferentes operadores.

A seguir porque cria situações caricatas como as acontecidas a quem faz um trajecto Horta-Lisboa-Horta e que tem, por opção alheia, de viajar na Portugalia de Lisboa para o Porto.

Aí – mesmo sendo um passageiro em transito – tem que sair (em Lisboa) da área das transferencias, dar a volta ao aeroporto para fazer novo check-in no balcão da Portugália e ter de fazer nova inspecção de segurança para, de novo, regressar de onde nunca deveria ter tido de sair!

Um autêntico pesadelo para qualquer mortal nomeadamente se acompanhado de crianças e/ou de pessoas idosas apenas porque as companhias se arrogam à liberdade de totalmente desrespeitarem quem lhes paga.

Das duas uma: ou os operadores tem condições para, sem minimamente beliscarem o conforto e os direitos dos clientes/utentes, fazer parcerias ou, simplesmente, não deveriam poder fazer economias de escala à custa de quem, justamente, deveria ser a sua maior preocupação.

Hábitos que, possívelmente, atestam a mentalidade de monopólio que ainda grassa nas nossas companhias de bandeira que se sentem demasiado à vontade num sector vital na vida de qualquer sociedade moderna.

Mas ficassem os males todos por aí, mas não ficam.

Não contente com os voos co-share a TAP permite-se acrescentar os voos mistos como por exemplo o Porto-Rio de Janeiro em que os pobres passageiros Porto-Lisboa são misturados com os do voo internacional.

Ficando, por isso, sujeitos a terem de passar no controle de passaportes no aeroporto de Lisboa como se não viajassem dentro do próprio país! E, ainda por cima, terem de ser sujeitos a novo controlo de segurança como se tivessem acabado de entrar no aeroporto e não como passageiros provenientes de um avião acabado de aterrar!..

Tudo isto apesar de à saída do avião proveniente do Porto se terem separado em diferentes autocarros os passageiros com destino ao Brasil dos destinados a Lisboa. Num comportamento totalmente autista em que não cabe, sequer, uma explicação ou simples pedido de desculpa.

Como diz o povo: um mal nunca vem só!


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sexta-feira, novembro 03, 2006

Uma verdade inconveniente

Para um número crescente de pessoas, Bush e a direita republicana roubaram a eleição a Gore
Mega Ferreira


Uma verdade inconveniente

Com o maior número de votos expressos nas urnas Al Gore foi, por um expediente jurídico, considerado derrotado por George W. Bush. Sendo o candidato que teve o menor número de votos expressos na urnas considerado o eleito!

Um precedente preocupante para a história da democracia.

E, mais importante do que isso, a porta aberta para um dos períodos mais controversos da história americana com um presidente transformado em verdadeiro bobo à escala mundial.

O presidente do país mais poluidor do mundo que se recusou a ratificar o acordo de Quioto por achar que esse compromisso iria pôr em causa a economia americana. Mesmo estando em causa a nossa casa comum – o planeta.

Factos que tornam, ainda mais, nobre a missão que Gore assumiu na defesa do combate ao aquecimento global da Terra resistindo à tentação de se sentir ofendido e virar as costas à participação cívica.

O documentário da sua autoria – uma verdade inconveniente – que agora se estreou nos cinemas e tem sido um êxito nos Estados Unidos foi baseado nas conferências que tem vindo a fazer ao redor do mundo sobre aquele tema.

Um documentário verdadeiramente notável em que, de uma forma pedagógica e extremamente clara, explica as razões do aumento exponencial do aquecimento do planeta e as suas implicações no clima a nível mundial.

Utilizando gráficos simples e uma linguagem muito acessível demonstra, de forma cientificamente sustentada, o papel determinante da emissão de gases poluentes na alteração das nossas condições de vida.

Situação que a não ser combatida de forma enérgica e imediata poderá, no limite, pôr em causa a nossa própria sobrevivência. Numa abordagem em que foge à demagogia e ao discurso político-partidário.

O resultado é um alerta extremamente lúcido e bem fundamentado para todos os cidadãos considerados no seu conjunto ou em termos individuais. Já que aponta para saídas institucionais mas também para aquilo que podemos, individualmente, fazer.

Um trabalho que, a nosso ver, poderia ser transformado numa verdadeira ferramenta para acções de educação ambiental devendo ser exibido em todas as escolas e comunidades locais. Não se restringindo às elites que já conhecem bem essas questões.

A alteração do uso indiscriminado ou, pelo menos, descuidado com que utilizamos energias dependentes dos combustíveis fosseis e que se pautam por pequenos gestos diários - como não utilizar o carro a propósito de tudo e de nada - poderá fazer a diferença.

Se é indiscutível a necessidade da adopção de grandes medidas a nível nacional e mundial não menos indiscutível é a necessidade de mudarmos um sem número de hábitos de cujas consequências não nos apercebemos.

Uma verdade inconveniente é um daqueles testemunhos que não se limita a fazer diagnósticos catastróficos mas que propõe soluções que começam, precisamente, a um nível individual.

Um testemunho que é fundamental passar ao maior número de pessoas, nomeadamente aos mais jovens, que serão certamente os que mais poderão lucrar com uma mudança de atitude perante uma ameaça que está ali, ao virar da esquina.

Um apelo às escolas, às autarquias e ao governo para que dêm a esse filme o destino que ele merece.



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quinta-feira, outubro 19, 2006

Coreia do Norte - a bomba da nossa impotência

Se não tens armas nucleares és invadido; se não tens não és
Madeleine Albright






Coreia do Norte
A bomba da nossa impotência



No ano de 2006 da era de Cristo um ditador de opereta chamado Kim Jong II, o “Querido Líder” de um país com níveis intoleráveis de pobreza e semi-escravatura, põe de cócoras as Nações Unidas.

E, sobretudo, põe de cócoras o voluntarioso George W. Bush que metendo a viola no saco se dispõe, agora, a seguir a via negocial com o que ele designou como um dos “vértices do mal”.

Perante um Irão que se prepara para tirar as devidas ilações do resultado de um braço de ferro entre a comunidade internacional e um dos últimos redutos “comunistas” do mundo.

Um país aonde terão perecido de fome e falta de assistência médica dois milhões de cidadãos, entre 1997 e 2002! E que gasta 80% do seu do orçamento de Estado em despesas militares.

Um país que se arroga a dizer em plenas Nações Unidas que a adopção de sanções será entendida como uma declaração de guerra. Desafiando – da forma mais frontal – os “guardiões do mundo”.

Dados que tornam Saddam Hussein e o seu país de “armas de destruição maciça” num verdadeiro reino de aprendizes de feiticeiro em que as diatribes do ex-ditador não passavam de quase cócegas.

Sendo tudo isto irónico é, por isso mesmo, de extrema gravidade.

Perante um Iraque dilacerado por uma guerra civil interminável que decorreu de uma invasão militar desnecessária e contraproducente, curvam-se – agora – uns impotentes Estados Unidos perante um dos vértices do mal.

Que, possivelmente, se estará a rir, no aconchego do seu palácio, dos “tigres de papel” capitaneados por George W. Bush e Tony Blair. Que intimidados pela eventual bomba atómica de Pyongyang – essa sim uma arma de destruição maciça – metem o rabo entre as pernas.

Não que se deva advogar, por analogia, uma outra ofensiva militar mas porque estamos a falar de dois pesos e duas medidas o que acaba por descredibilizar, ainda mais, as políticas do eixo Washington – Londres.

Sendo o regime norte coreano não democrático, possuidor de armas de destruição maciça e detentor de um dos maiores exércitos regulares do mundo dificilmente se perceberá, agora, uma política de paninhos quentes.

Agora, sim, é que a comunidade internacional e, nomeadamente, os Estados Unidos necessitam de tomar as mais rigorosas medidas de intimidação e demonstrar que são capazes de anular as derivas totalitárias.

Os “valores” porque se rege aquele regime são um real desafio à paz mundial já que pouco tem a perder e toda a lógica do seu funcionamento está ligada à máquina militar.

E o passaporte para a sobrevivência política de Kim Jong II passa pela criação e manutenção de inimigos externos que desviem a atenção da miséria e da falta de liberdade que se vive no país.

A maneira como as Nações Unidas lidarem com a questão nuclear coreana será um teste crucial à sua capacidade. Para o qual se viram todos os olhos nomeadamente os do Irão e os de todas as forças não democráticas.

Oxalá esta não venha a ser a bomba da nossa impotência.




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sexta-feira, outubro 06, 2006

Turismo - uma actividade transversal

Turismo – uma actividade transversal



O turismo – actividade económica que se pretende venha a ter grande expressão na Região – é, tipicamente, um produto de características transversais que apanha todos os sectores de actividade. Desde os transportes ao comércio e às telecomunicações, passando pela saúde.

O êxito dessa actividade não dependerá, apenas, da qualidade dos alojamentos, da restauração e da animação. Dependerá, porventura ainda mais, do modo como a comunidade se comportar perante o turista, aos mais variados níveis.

Um dos argumentos de venda mais importantes para turismo açoriano é a qualidade do nosso ambiente/natureza. Área que tipicamente é da responsabilidade do estado e das autarquias. Aí os privados pouco ou nada podem fazer para além de manterem os seus espaços devidamente integrados.

Para os Açores a natureza e a qualidade do ambiente são questões de sobrevivência. A Região pouco mais poderá oferecer: o clima embora ameno é instável e praias são poucas e a milhares de anos de luz de outras paragens.

Infelizmente, contudo, muito há fazer para garantir a qualidade do ambiente e da natureza. Começando pelas questões elementares do lixo e do asseio público e acabando na construção desordenada e atípica que alastra por todo o arquipélago.

Não existindo, como devia, qualquer política, consistente e permanente, de educação ambiental fica, desse modo, aberta a porta à morte prematura da galinha de ovos de oiro do turismo açoriano. Sendo fundamental que as pessoas percebam as razões que determinam a importância da qualidade ambiental que não é, apenas, uma esquisitice de alguns.

Havendo também, com frequência, situações que descredibilizam os poderes públicos como é o caso de uma unidade turística de elevada qualidade e com evidentes preocupações ambientais – Pocinho Bay – que vê instalada na sua fantástica linha de vista para o mar e para o Faial nem mais menos que linhas eléctricas aéreas montadas em horrorosos postes de betão!

Um exemplo flagrante de uma iniciativa pública a pôr em causa, de forma lamentável, uma iniciativa privada que fica impotente perante um verdadeiro atentado ao ambiente e ao mais elementar bom senso e sentido de segurança. Trata-se de uma área a pouco metros do mar e que é por ele, repetidamente, atingida.

Dificilmente um turista de segmento alto – daqueles que queremos para os Açores – poderá perceber a falta de sensibilidade e responsabilidade que, no século XXI, está por trás de tão desnecessária aberração. Um exemplo bem objectivo de como uma má solução pública pode pôr em causa uma boa iniciativa privada.

Os poderes públicos – se quisermos ter turismo a sério – têm que tomar atitudes pro-activas que defendam a qualidade do ambiente ganhando, desse modo, credibilidade para poderem depois exigir do sector privado projectos e iniciativas de qualidade superior e assegurarem, mesmo, a aplicação da lei.

Não esquecendo, entretanto, a insegurança rodoviária que cada vez mais se vive no Pico. Desrespeito sistemático do código de estrada com criação de situações de grande perigo à mistura com camiões TIR que resolvem fazer das estradas da Ilha verdadeiras pistas de rally. Perante a complacência habitual da polícia que, de vez em quando, instala umas máquinas de registo de velocidade.

Pobre do turista que alugue um carro sem condutor. Não ganha, de certeza, para o susto!...





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sexta-feira, setembro 22, 2006

Habitat e qualidade de vida

Os locais e as condições ambientais determinam a viabilidade de uma determinada espécie




Habitat e qualidade de vida


O conceito de habitat é, em geral, usado em referência a uma ou mais espécies no sentido de estabelecer os locais e as condições ambientais onde o estabelecimento de populações desses organismos é viável.

O habitat de uma determinada espécie para além de uma localização geográfica tem a ver com os chamados factores abióticos tais como regime climático, temperatura, luz, oxigénio, humidade, solo etc.

Sendo o homem uma espécie animal tem, naturalmente, o seu habitat próprio ou seja só poderá ser viável se existirem um conjunto de condições ambientais determinadas.

A espécie homem existe no planeta Terra e, até à data, não foi possível provar que essa espécie exista em qualquer outro ponto do universo porque não foi encontrado um outro planeta que tenha as condições necessárias à sobrevivência da espécie humana.

Embora o homem, mercê do fato de possuir uma inteligência elevada, tenha conseguido sobreviver em regiões muito inóspitas e em circunstâncias muito adversas tal não significa que possa esticar a corda indefenidamente.

Não haverá tecnologia que nos valha se as condições do habitat necessário à viabilidade do ser humano forem drásticamente alteradas como acontecerá com condições climáticas extremas ou uma poluição incontrolada do ar e da água.

O respeito pelo ambiente e pelas condições de vida das mais variadas espécies existentes no planeta não é, por conseguinte, uma birra ou obsessão dos eco-ambientalistas mas antes a maior questão que se coloca à sobrevivência de espécie e, sobretudo, à nossa qualidade de vida.

Mesmo admitindo – embora com grande dose de optimismo - que a sobrevivência da espécie não está em causa a médio prazo não restam dúvidas que a qualidade de vida do homem tem vindo conhecer um decréscimo acentuado.


Sendo disso mesmo um exemplo flagrante o que se passa nos grandes centros urbanos – cada vez mais populosos – em que as condições do habitat estão degradas a ponto do stress e da doença tomarem a dianteira.

E não serão certamente os ares condicionados, os ionizadores, os desumidificadores e toda uma parafranélia de tecnologia que irão proporcinoar de contacto com natureza e outros seres vivos que são imprescindíveis à qualidade de vida do ser humano.

Não sendo por acaso que as pessoas que vivem nos grandes centros procuram a natureza e adoptam animais de estimação aumentando, por consequência e exponencialmente, a procura do turismo de natureza.

O ritmo de vida das grandes cidades e as suas condições abióticas e bióticas (dos seres vivos) estão muito afastadas do habitat ideal para o ser humano o que leva, inevitavelmente, a rupturas graves na qualidade de vida das pessoas.

O ser humano precisa de espaço-natureza e de comunhão com todas as outras espécies vivas. Tentar compensar esses elementos essenciais do nosso habitat com luxos e glamour é matar, a prazo, a alegria de viver e a própria saúde.

De modo que preservar e melhorar o ambiente e o nosso relacionamento com a natureza é um imperativo de qualidade de vida e poderá ser mesmo, a médio prazo, um imperativo de sobrevivência.

Habitat e qualidade de vida andam, inevitavelmente, de mãos dadas.




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sexta-feira, setembro 08, 2006

Salomão e Kamasutra

SALOMÃO E KAMASUTRA



Salomão, filho do rei David, foi rei de Israel entre 970 A.C. e 930 A.C. e uma figura central do Velho Testamento, conhecido pelo seu sentido de justiça e equilíbrio corporizados na história de 2 mulheres que reivindicavam como filho a mesma criança.

Com 2 mil anos de existência o Kamasutra é um livro que foi elaborado pelo indiano Mallinaga Vatsyayana com base no rico erotismo hindu. O Kamasutra representa o sexo sem qualquer sentimento de culpa ou pecado, um manual milenar de liberdade sexual.

Vem tudo isto a propósito de uma jovem catequista do nosso meio que, não sabendo quem era Salomão e o conceito de justiça salomónica, conhece o Kamasutra de trás para diante, experimentando afanosamente o maior número possível de posições exóticas!

Não que haja nada de mal em conhecer o Kamasutra ou ter uma vida sexual activa e interessante. Mas é estranho que alguém que, sendo catequista e demonstrando tanto interesse por textos milenários, desconheça passagens fundamentais da Bíblia.

Um ironia que vem ajudar a ilustrar as contradições duma geração que tendo os telemóveis, os SMS, os computadores e os DVD´s não tem uma cultura geral mínima nem, muitos menos, qualquer noção das suas raízes judaico-cristãs.

Uma geração de roupas de marca e de bens de consumo mas sem noções básicas de comportamento cívico e de respeito pelos mais velhos. Uma geração que conhece o Kamasutra mas que não sabe amar.

Porque amar não é o mesmo que curtir. Amar é um sentimento profundo que passa pela anulação ou, pelo menos, por uma grande atenuação do ego. Um sentimento que exige tempo e partilha. Curtir é a versão “fast-food” do amor.

Os jovens de hoje ou melhor a massa de que são feitos os jovens de hoje é a mesma de que eram feitos os seus antepassados, a mesma espécie biológica e o mesmo material genético. O que mudou foi a maneira como essa massa é trabalhada.

A educação que era dada em casa foi substituída por uma instrução de duvidosa qualidade. A generalidade dos pais deixou de educar e a generalidade dos professores de ensinar. Uns e outros foram cedendo aos sinais dos tempos sem dar grandes mostras de resistência.

Só assim se percebe que, no espaço de uma geração, os usos e costumes de terras como o Pico tenham passado de um extremo ao outro. De sociedades altamente conservadoras passaram a sociedades promíscuas em que o que ontem era desonra e opróbio é hoje banal e encarado com um sorriso nos lábios.

Naturalmente que os tempos devem trazer evolução e progresso. E o caminho para o futuro não é, seguramente, o retrocesso do fundamentalismo islâmico que leva a que um pai muçulmano chegue ao ponto de degolar a sua própria filha por causa de usos e costumes num país moderno como é a Itália!

Mas o inverso – em que se perderam de todo valores e referências – também o não é. A liberdade é um bem demasiado precioso para poder ser posto em causa pela sua indevida e abusiva utilização. Situação que, além do mais, serve de pretexto a quem
luta contra os direitos, liberdades e garantias como os conhecemos neste lado mundo.

É saudável conhecer o Kamasutra mas é essencial não esquecer Salomão.





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sexta-feira, agosto 25, 2006

Irão - 1 Ocidente - 0

Apesar do 11 de Setembro ...., o Ocidente não consegue levar a sério a ameaça do islamismo
Vasco Pulido Valente


Irão - 1 Ocidente – 0
Os deuses devem estar doidos


No rescaldo da ofensiva de Israel no Líbano importa fazer uma avaliação, tanto quanto possível, desapaixonada dos resultados políticos do conflito, despindo os sentimentalismos que os média suscitaram.

Sendo que o que, realmente, esteve em causa foi muito mais que Israel, o Hezzbollah ou as mortes de seres humanos. Sendo de salientar a este propósito que no Iraque continuam a morrer uma média de 100 pessoas (incluindo, evidentemente, crianças) por dia!

Uma tragédia que por se ter tornado rotina deixou de merecer o mesmo interesse dos média. Tanto mais que sunita que mata xiita ou vice versa tem cem anos de perdão. Fica tudo em família e os horrores tem caracter muito mais caseiro.

Qualquer observador minimamente informado e frio sabe que o que esteve em causa na guerra do sul do Líbano não foi, fundamentalmente, um conflito entre israelitas e palestinianos.

O que esteve em causa foi um conflito entre o exército regular de um país ocidental e democrático e um movimento de guerrilha xiita financiado, treinado e armado pelo Irão e pela Síria e tendo como ideologia o fanatismo religioso islâmico.

Em tudo isto os palestinianos e o movimento sunita Hamas pouco contaram sobretudo tendo em conta os desamores entre xiitas e sunitas. Houve, apenas, uma aliança táctica que justificou a entrada na guerra do Hezbollah, escondido e escudado entre libaneses civis incapazes de se impôrem.

Como escreveu e denunciou um escritor árabe existe uma estratégia islâmica da conquista do Ocidente pelo terror e pela invasão silenciosa. O terrorismo islâmico está de vento em popa (vejam-se os planos abortados em Londres na semana passada) e as comunidades islâmicas engordam, a olhos ver, no países ocidentais.

Estratégia que joga muito na ignorância e sentimentalismos ocidentais e em forças ditas de esquerda que se prestam a ajudar ao branqueamento dos ideais ditatoriais e radicais do islamismo fundamentalista. Não ocorrendo por acaso as juras de amor eterno, em Julho passado, entre os presidentes Hugo Chavez da Venezuela e Ahmadinejad do Irão.

E como está sobejamente provado nenhum Estado é hoje invulnerável ao islamismo radical. Com a superpotência Estados Unidos à cabeça e com todos os países europeus a seguir. Não sendo mesmo capazes de impor ao ditatorial e medieval Irão regras para as suas práticas nucleares que nos poderão pôr ao alcance de um bomba atómica!

E quanto a Israel, e com ele o Ocidente, foi o claro perdedor. Perdeu em vidas humanas, em recursos materiais e em credibilidade. Perdeu a aura de invencibilidade rápida e total e ficou à mercê de um cessar fogo que irá permitir, a curto prazo, a reorganização e rearmamento do Hezzbollah.

Porque não será a força internacional da ONU que terá condições para o impedir nem, muito menos, o governo libanês. Perante um Irão reforçado que controla completamente o regime fantoche da Síria e uma comunidade internacional que não tem condições objectivas para enfrentar o regime dos mullahs de Teerão.

O resultado foi claro: Irão – 1 Ocidente – 0. Quem não percebeu isto não percebeu nada.

Os deuses devem estar doidos.



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sexta-feira, agosto 11, 2006

Guerras, mentiras e paixões

A religião é o ópio do povo
Karl Marx


Guerras, mentiras e paixões


A guerra é, por definição, um acto extremo e intrinsicamente violento. Guerra é guerra. Não há guerras civilizadas nem justas. Pode haver, quando muito, guerras inevitáveis. Mas sempre caracterizadas por um rosário de horrores e iniquidades.

E assim é a guerra que ocorre no Médio Oriente. Com tudo o que de mal tem uma guerra: gerando ódios e paixões e espalhando um rasto de sangue. Mas uma guerra, pelos vistos, inevitável e, ainda por cima, para muitos uma “guerra santa”.

Sendo que “guerra santa” é um conceito dotado da mais profunda das ironias. Como se fosse possível misturar religião – que, seja ela qual for, procura a paz e o amor – com actos da maior violência. Uma guerra pode ser tudo menos “santa”.

Dando actualidade a Karl Marx que, não tendo razão em muito do que escreveu, percebeu o papel fundamental que a religião pode ter na manipulação de massas primárias, incultas e injustiçadas.

A paz no Médio Oriente só será possível quando co-existirem um estado de Israel seguro e reconhecido pelos seus vizinhos e um estado Palestiniano económicamente viável, democrático e socialmente equilibrado. Deixando de fora, quer o judaísmo quer o islamismo.

Embora política e religião tenham andado, tantas vezes, de mão dada são uma mistura que, invariavelmente, não conduziu nem à paz nem a maior justiça. Bem pelo contrário potenciou ódios, extremismos e guerras.

Israel é um estado soberano, democrático e próspero. Uma realidade irreversível e um exemplo de persistência, trabalho e capacidade. Palestina é um ideal a conquistar para um povo que tem sido e continua a ser carne de canhão para extremismos religiosos e regimes ditatoriais.

Um povo que terá de encontrar o seu caminho fora dos presentes envenados que lhes estendem o Hamas e o Hezbollah que os usam como escudos humanos. Não hesitando mesmo em usar terceiros como foi o recente caso dos observadores da ONU, situação para a qual que um deles tinha alertado.

O Hezbollah devidamente financiado e armado por Teerão e Damasco não é apenas um perigo para Israel. É um perigo objectivo para os países moderados da área e para todos nós. Ajudando, para além do resto, a fazer “esquecer” a escalada nuclear do Irão.

Não sendo por acaso que se noticiou um número de vítimas em Qana que depois se verificou ser metade. O que não retirando o horror à situação vem ilustrar a guerra de mentiras que, também, se vem desenvolvendo.

O Hamas, o Hezbollah e a Al Quaeda são farinha do mesmo saco. Que tanto ataca no Médio Oriente como no Iraque, Londres, Madrid ou Nova Iorque. Extremistas religiosos que fomentam o ódio e o horror indiscriminados.

Israel não está, naturalmente, isento de culpas e erros sobretudo por causa de uma intolerável política de implantação de colonatos nas áreas ocupadas. Tendo, também, no seu interior extremismos religiosos inaceitáveis.

Mas meter no mesmo saco Israel e aquelas organizações é não perceber, em definitivo, a diferença entre civilização e selva como escrevia recentemente um cronista.

O Irão, secundado pela Síria, não está preocupado, essencialmente, com o povo palestiniano. O seu objectivo visa o coração da nossa civilização e da própria democracia que estando longe de serem perfeitas estão, apesar de tudo, a anos-luz na defesa dos direitos, liberdades e garantias.

Daí que seja crucial não nos deixarmos tomar por emoções ou paixões frente ao bombardeamento mediático a que estamos sujeitos. A estratégia dos extremistas visa “criar uma espiral de ódio” que mine o terreno aos moderados e não deixe campo de manobra para acordos políticos.

“E na guerra a vantagem está sempre do lado dos mais ferozes, cruéis e desumanos”.



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sexta-feira, julho 28, 2006

Ambiente, poluição e lixo

Pequeno é maravilhoso
Schumaker


Ambiente, poluição e lixo


Depois de muita luta e persuasão começa a ser consensual a noção da importância de um ambiente de excelência para garantir a qualidade de vida do ser humano. Como espécie animal que somos temos necessidade de um habitat adequado que não se compadece com uma destruição maciça do planeta.

E preservar o ambiente não é apenas impedir o ataque feroz que empresários sem escrúpulos fazem às florestas do Amazonas – o nosso último grande pulmão verde. Nem apenas parar a destruição sistemática dos litorais, das linhas de costa e o envenenamento dos rios e lagos.

Sendo essas causas da maior importância a merecer a melhor atenção dos governos e das grandes organizações não governamentais, há um mundo de “pequenas” coisas que estão ao alcance de todos nós e, essencialmente, dependentes de atitudes individuais.

Para além do apoio político e financeiro que é possível dar a quem defende um ambiente melhor há que pensar no que fazemos no nosso dia a dia. As grandes causas podem ser ganhas por um somatório infinito de pequenos gestos.

Desde logo começando pela utilização criteriosa da água – um bem indispensável à vida e um recurso finito - que poderá pela simples gestão dos banhos domésticos ou da lavagem da louça.

Para tal bastará não deixar correr, por exemplo, o chuveiro enquanto se ensaboa o corpo ou se aplica o champô. Ou, então, não deixar a correr, ininiterruptamente, a torneira da pia enquanto se lava a louça.

Dois pequenos gestos que multiplicados por milhões podem significar a poupança de outros tantos milhões de litros de água. Uma poupança muito significativa para bem tão precioso.

Da mesma forma que utilizar, de forma sistemática e desnecessária, um veículo contribui – pela emissão de gases - para a poluição atmosférica tão responsável pelas alterações climatéricas que já não passam despercebidas a ninguém.

Mas, ainda mais básico e simples que tudo isso, é o nosso comportamento em relação ao lixo. Pequenos gestos que podem ir desde um simples atirar de uma beata ou de um invólucro de uma guloseima para o chão até ao enviar de sacos de ração e de adubo por tudo o que é lado.

Ou mesmo o patético jazer de um preservativo usado ou de uma fralda suja num qualquer miradouro turístico ilustrando a mais elementar falta de sentido cívico e de respeito pelo ambiente.

Para não falar na prática que continua a ser corrente no Pico de incendiar os pneus que se deitam foram não só criando perigo de incêndio mas poluindo de forma extremante agressiva o ar – outro bem indispensável à vida – que todos temos que respirar.

Coisas que qualquer pessoa sensata e minimamente responsável percebe que estão erradas. Mas que, contudo, continuam a ser parte do nosso quotidiano perante a passividade das autoridades responsáveis. A coima e a punição devem ser, sempre, o último argumento mas não podem deixar de existir.

Não há educação sem punição. E é, justamente, pelas pequenas coisas que se deve começar.



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sexta-feira, julho 14, 2006

O culto do mexerico

Do mexerico à maledicência vai apenas um passo





O culto do mexerico


Talvez seja uma pecha das culturas latinas mas o mexerico é, sem grandes dúvidas, a forma mais comum de aquisição de conhecimento da sociedade portuguesa.

Conhecidos os baixos índices de leitura quer de jornais quer de livros, a intoxicação televisiva e o elevado grau de iliteracia de que o país sofre não será de estranhar que o mexerico se tenha tornado numa verdadeira instituição.

Tendo os portugueses uma enorme aversão à frontalidade fácilmente se percebe que o resultado só poderá ser uma profunda hipocrisia social que encontra a sua expressão ideal no mexerico.

A simpatia barata, ou se se preferir, o porreirismo português é a máscara que encontramos para nos cobrirmos com a mesma manta bem como para evitarmos ter de encarar, de frente, os problemas e os conflitos.

O que nos leva a exercer o direito de crítica ou em forma de peixeirada novoriquista ou, o que é mais comum, a fazê-lo de forma velada e indirecta – de preferência pelas costas – com o temor reverencial de represálias.

No fundo o português – apesar dos mais de trinta anos de democracia – ainda não se conseguiu libertar do medo de ser castigado por exercer a liberdade de expressão, de forma nua e crua.

Tem um medo subliminar de poder ser prejudicado nisto ou naquilo porque sabe que o sistema da simpatia barata ou do porreirismo se baseia num pacto de não agressão. Tu coças-me as costas que eu coçarei as tuas.

Sendo o modelo português baseado no compadrio - não na meritocracia -a regra de ouro é, precisamente, a fuga ao confronto e à crítica frontal. Em contraste com a cultura do mérito que exige transparência e frontalidade.

E o português dificilmente aceita uma crítica sem a personalizar, ou seja sem a sentir como uma ofensa pessoal. Situação que nos Açores é especialmente aguda tornando as relações profissionais e de trabalho numa verdadeira filigrana de frases indirectas e subentendidos.

O que conduz a uma laboriosa teia de compromissos que, por seu turno, leva a um bloqueio sistemático da melhoria dos serviços, nomeadamente dos públicos, e por essa via se constitui num obstáculo intransponível para o desenvolvimento e o progresso.

Quando chega a altura de assumir uma crítica ou uma acusação escrevendo o nome por baixo muito pouco gente o faz abrindo, desse modo, a porta à perpetuação do mediocridade quando não mesmo da corrupção.

Ser frontal e directo, embora de forma correcta, é apanágio de uma democracia consolidada e madura e constitui por isso uma ferramenta indispensável para construir um futuro com esperança.

Sendo indispensável falar, cada vez menos, do que não interessa para falar, cada vez mais, do que interessa. Abandonando os “brandes costumes” para assumir costumes saudáveis ou, o mesmo é dizer, assumir as responsabilidades pelos nossos actos.

O mexerico é uma forma menor de viver em comunidade. Uma forma de estar que vive da sombra, do negativo e da ignorância – um verdadeiro sub produto cultural. É bem tempo de procurarmos a luz, o positivo e a sabedoria.


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sexta-feira, junho 30, 2006

Dar ou ajudar

Quem dá o pão dá a educação




Dar ou ajudar?


Uma das bandeiras de certa esquerda tem sido o rendimento mínimo garantido que, por seu turno, tem sido um dos cavalos de batalha de certa direita contra a dita esquerda.

Uns porque acham que o estado tem obrigações sociais devendo proteger os mais desfavorecidos, garantindo a todos os cidadãos as condições mínimas de vida. Os outros porque acham que tal filosofia abre as portas aos abusos.

Tornando numa contenda política aquilo que deveria ser consensual: o estado, ou seja todos nós enquanto comunidade, deve assegurar a protecção dos mais desfavorecidos sejam crianças, idosos ou simplesmente cidadãos carenciados.

Em vez de centrar o debate na necessidade de assegurar um diagnóstico correcto de quem realmente precisa e o modo mais adequado de assegurar que as necessidades detectadas sejam satisfeitas.

Mas, como acontece com tantas outras coisas, produziu-se um monte de legislação e não se acautela o dignóstico social adequado que passa por serviços sociais que estando no terreno consigam carrear para os processos uma informação fidedigna e global.

Não serão as declarações de IRS e outros meios de prova idênticos que irão provar o que quer que seja. Sobretudo num país em que é conhecida a evasão fiscal endémica e a fuga ao cumprimento da lei como forma de vida.

O que torna indispensável a presença no terreno de equipas sociais multidisciplinares que saindo dos gabinetes cruzem informação e assegurem a compreensão dos tecidos sociais urbanos e rurais que geram fenómenos de marginalidade e exclusão.

Não a existência de burocratas que se limitem a distribuir subsídios e benefícios com base em lamúrias e aspectos que, tantas vezes, são laboriosamente engendrados para gerarem compaixão. O famoso fado do coitadinho, tão português.

O estado precisa de ter um diagnóstico minucioso de quem necessita mas também precisa - e nada menos importante - de perceber porque precisam. Dado que precisar não é sinónimo de ser elegível para ajuda.

Quantos precisam apenas porque esbanjam ou porque não estão de todo disponíveis para trabalhar antes procurando explorar as falhas do sistema? Quantos não usam situações de compadrio ou de oportunismo partidário?

O estado precisa de conhecer, com precisão, quem precisa e quais as razões exactas porque esses cidadãos não conseguem assegurar a si próprios as condições mínimas de vida.

E de seguida assegurar que essas razões sejam ultrapassadas ajudando mediante condições e contrapartidas por parte de quem recebe que tornem todo o processo sustentável e irreversível.

Todos nós conhecemos situações de gritantes carências sem grande hipótese de serem ultrapassadas em definitivo. Mas todos nós conhecemos também muito mais situações de puro oportunismo e aproveitamento do sistema.

Uma verdadeira prática de solidariedade social não se pode basear na simples prática do dar. Mas antes terá que se basear na prática do ajudar com vista a corrigir assimetrias e desigualdades que não são da responsabilidade de quem as sofre.

Prática do ajudar que terá que ser efectivada com todo o rigor e disciplina. Não permitindo que ajuda se limite a ser o passaporte para a perpetuação de uma situação de carência ou marginalidade ultrapassável.

O que, como toda a gente sabe, não é tradição neste nosso país à beira mar plantado que se dá ao luxo de quase parar por causa de uns quantos jogos de futebol não se preocupando, por aí além, com os nossos múltiplos défices estruturais!


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sexta-feira, junho 16, 2006

O País de Camões ou uma anarquia galopante?

F A C E O C U L T A



Só temos passado à nossa disposição
Eduardo Lourenço



O País de Camões
ou
Uma anarquia galopante?


A passagem de mais um Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades é, sempre, uma boa oportunidade para uma reflexão. Tão necessitados que estamos de encontrar um caminho para o desenvolvimento e para a modernidade.

Um caminho lúcido, capaz de casar os imperativos sociais e económicos com o respeito pelo ambiente/natureza e pela manutenção de uma escala humana susceptível de assegurar qualidade de vida.

Qualidade de vida sem a qual não haverá desenvolvimento que valha a pena. Mesmo que “compensado” por um consumismo que, normalmente, só atrapalha ainda mais em vez de ajudar.

Não sendo os portugueses e correlativos governos menos capazes do que outras nacionalidades – bem mais sucedidas – será de crer que tudo tem a ver com atitudes e correspondentes desempenhos cívicos.

Continuando os portugueses a comportarem-se como se o estado não fossem eles próprios e os governos a tratarem os portugueses como fossem crianças mimadas a que quem é preciso fazer todas as vontades.

Resvalando-se, desse modo, para uma anarquia crescente em que o estado de direito se dilui em retóricas inconsequentes com os tribunais entupidos e a administração, quer central quer local, a não assegurar o cumprimento da lei.

A polícia não actua ou diz que não pode, ou não vale sequer a pena, actuar. Os alunos andam à batatada uns com os outros e com os professores sob a complacência destes e das estruturas directivas das escolas.


Os trabalhadores não produzem e os empresários não inovam. Os serviços de assistência social continuam a criar condições para a manutenção de um exército de parasitas sociais em vez de ajudarem quem precisa (sim) mas mediante contrapartidas de trabalho e reintegração.

Os partidos políticos continuam a caça ao voto em vez de assegurarem a concretização dos seus projectos políticos e os eleitores continuam a usar o voto como moeda de troca para obtenção de benesses em vez do exercício de uma cidadania consciente.

A religião continua ser um faz-de-conta-social em vez de uma ferramenta espiritual capaz de ajudar os putativos crentes a encontrar as forças necessárias para o combate contra o desespero, a descrença e a falta de auto estima.

Portugal – o País de Camões – não pode contar apenas com o passado. Tem que saber encontrar um caminho para o futuro que ponha termo à irresponsabilidade, à paralisia e à anarquia.

O estado são todos os portugueses e é tempo – como bem lembrou o Presidente da República parafraseando John Kennedy – que passem a pensar mais naquilo que podem fazer pelo país em vez daquilo que o país pode fazer por eles.

Ou, como dizia Ghandi, que passem primeiro a mudar em si aquilo que quereriam ver mudado no país. Sendo, por conseguinte, uma grande viagem aquela que os portugueses têm pela frente mas que terá, inevitavelmente, de começar com um primeiro pequeno passo.

Sob pena de caminharmos todos, a passos largos, para uma anarquia galopante.





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sexta-feira, junho 02, 2006

A licença para o macaco

A licença para o macaco


Num dos velhos filmes da Pantera Cor de Rosa havia uma cena contracenada por Peter Sellers que retive até hoje, não só pelo lado cómico mas também pelo profundo significado que encerrava.

Quando passeava um pequeno macaco pelas ruas de Paris o Inspector Closeau (Peter Sellers) foi abordado por um polícia que lhe pediu a licença para o macaco. Irritado Closeau questionou a necessidade de ter uma licença para passear o macaco na rua.

Palavra puxa palavra e a discussão prolongou-se em tom acalorado. Enquanto isto, nas costas de ambos, um gupo de ladrões assaltava um banco e saqueava a seu belo prazer – sem que nenhum dos dois (ambos polícias) – se apercebesse do que se estava a passar...

Uma das razões porque retive esta cena de um filme com mais de 20 anos tinha e tem a ver com maneira caricata como a nossa burocracia, tantas vezes, valoriza os aspectos formais das leis e regulamentos pouco se preocupando com os objectivos que se pretendem atingir.

Embora sejam bem conhecidas as dificuldades na interpretação da lei – atestadas pelas divergêncais profundas que, tantas vezes, os próprios juristas exibem na interpretação de um texto – verificamos que a grande maioria dos agentes da nossa administração exibe, por norma, um grande fundamentalismo.

Não sendo a maioria deles licencidos em direito (e mesmo que o fossem) assumem interpretações literais ou mesmo profundamente subjectivas que não deixam grandes alternativas ao cidadão comum que não terá outro remédio senão recorrer a um advogado.

Portugal é, de si, um país cheio de leis e regulamentos a que se devem acrescentar as directivas de Bruxelas que são sobejamente conhecidas pelo seu frequente desajustamento em relação às variadas realidades nacionais.

E é assim que, “em nome da lei”, se criam entraves intermináveis ao cidadão e se desmobilizam pessoas empreendedoras e criativas que desistem dos seus investimentos face a exigências legais (?) incompreensíveis.

Sem que, em tempo útil, se consiga ultrapassar aquilo que, tantas vezes, não passa de uma interpretação subjectiva (para não dizer ignorante) da lei. Os recursos são, habitualmente, extremamente morosos e dispendiosos quando não são mesmo impossíveis.

Numa região periférica como os Açores em que tudo é mais díficil e complicado esta realidade transforma-se num verdadeiro freio ao desenvolvimento matando, à partida, o empreendorismo de que agora tanto se começa a falar.

O comum é verem-se pessoas muito mais preocupaas com a “licença para o macaco” do que com os verdeiros assaltos ao nosso desenvolvimento que por aí se verificam, todos os dias.

Não basta criar sistemas de incentivos – embora isso seja de capital importância - para o investimento. É, igualmente, necessário criar uma administração ágil e célere que não mate na secretaria aquilo que deveria o cerne do nosso futuro.

Sem empreendorismo e iniciativa privada não é possível fazer desenvolvimento económico. Mas não há iniciativa que resista a sistemáticas barreiras burocráticas e à falta de um sistema de recurso rápido, eficiente e barato.

Só resistirão os que já possuem um grande poder económico e uma boa capacidade de resposta jurídica. Os outros, incluindo os jovens, ficarão pelo caminho – desalentados senão mesmo falidos.

Que deixem de ser necessárias as licenças para os macacos.




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quarta-feira, maio 17, 2006

Boa Gente

Portugal é o país europeu com maiores desigualdades sociais
Dos jornais



B O A G E N T E


Os portugueses são, indiscutivelmente, boa gente.

São afáveis, simpáticos e afectuosos. São capazes das maiores peixeiradas e barbaridades verbais que, normalmente, não concretizam esperando, antes, por uma oportunidade para caírem nos braços uns dos outros.

Gostam de ter muitos amigos e usam a palavra com a maior facilidade: uma pessoa amiga, somos muito amigos etc. Mas esse aparente culto da amizade é, muitas vezes, assente numa grande inconsistência.

São de lágrima fácil e de emotividade subcutânea – uns adeptos incondicionais do porreirismo, termo possivelmente inventado por portugueses. São uns gajos porreiros num país porreiro.

Gostam de comer e beber bem e não há festa, comemoração ou mesmo evento político que valha a pena sem comes nem bebes.

E a culinária portuguesa traduz isso mesmo: pesada e de longa digestão, a convidar a uma boa sesta depois de umas conversas porreiras temperadas por um bom rebatente.

Para não falar no almoço – uma verdadeira instituição nacional. Desculpe mas o senhor está almoçar, saiu para almoçar ou saiu para almoçar e ainda não voltou. Uma instituição intocável que tem agora a variante tecnocrática dos almoços de trabalho.

Gostam de discutir, guerrear e libertar adrenalina mas não gostam do confronto frontal e directo. Na altura da verdade quedam-se, geralmente, por paninhos quentes que não ofendam e não venham pôr em causa o porreirismo.

Por isso mesmo, apesar dos mais de trinta anos de democracia, a má-língua e a coscuvilhice continuam a ser dos jogos sociais mais praticados. Acontecendo aos mais variados níveis e atingindo transversalmente a sociedade portuguesa: desde o camponês ao ministro.


O advento dos partidos, das eleições e do poder assente no voto, tornou este na verdadeira moeda de troca da sociedade portuguesa. O escudo desapareceu mas o voto continua e é realmente o que conta, desde a autarquia local ao governo.

Há muito tempo que os portugueses gerem o seu voto em função daquilo que lhe parecem ser os seus interesses mais imediatos ou as eventuais vantagens que dele possam tirar. Disponíveis para todas as manobras de assédio interesseiro, disciplina em que os políticos (com honrosa excepções) se tornaram exímios.

Todos os portugueses acham que é fundamental fazer grandes reformas, mudar as mentalidades e investir na educação. Mas desde que seja apenas para o vizinho.

Não há português que não ache que isto vai mal e, quase todos, têm uma fórmula mágica que usariam se estivessem no lugar de quem manda. Fórmula que, por ironia, os que mandam parecem não ter…

Se alguém incauto aterrasse em Portugal e não soubesse que o país está em crise pensaria exactamente o contrário. Até, possivelmente, iria pensar que o números de desempregados está errado tal a displicência com que os empregados tratam os seus postos de trabalho.

Os mesmos portugueses que quando emigram até se tornam excelentes e cumpridores trabalhadores. Como tivesse sido suficiente terem, apenas, mudado de contexto social e cultural e não poderem depender, sómente, do votito e do porreirismo para sobreviverem.

Boa gente, os portugueses.





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sexta-feira, maio 05, 2006

MALDITA COCAÍNA

A cocaína é uma droga estimulante e altamente viciante. O seu consumo leva a uma grande aceleração do envelhecimento e a profundos e irreversíveis danos cerebrais.


M A L D I T A C O C A Í N A


Nem o hediondo crime, ligado à droga como se provou em tribunal, que manchou, há bem pouco tempo, o nosso quotidiano pachorrento e corriqueiro conseguiu despertar – de forma visível – as nossas consciências.

Para além do folhetim do julgamento e do frémito causado pela sentença dura, parece não ter ficado mais nada. Continua a consumir-se na mesma, nas calmas. E mais jovens continuam a cair na rede de uma dependência dramática.

Como já tivemos ocasião de sublinhar, longe vão os tempos em que a droga no Pico não passava de uns charritos fumados à socapa. Há muito que já se consome, e bem, cocaína e heroína. Possivelmente as drogas que estiveram por trás de um crime que nem sequer poupou um adolescente.

Quem não conhece o Pico seria levado a pensar que tudo isto tem a ver com investigações complexas e difíceis. Mas quem conhece, sabe bem que não é assim. A rede de distribuição é quase pública como era pública a ligação do assassinado ao tráfego como ele próprio fazia questão de ostentar!

Pelo que fica a constatação aflitiva de que nada se faz porque quem pode e deve não faz. Como não se vê ninguém, com responsabilidades políticas públicas, a pegar o touro pelos cornos. Será por medo? Será por desleixo?

Os nossos jovens são, obviamente, um bem precioso que temos que saber educar mas também proteger. Os jovens do Pico estão, inteiramente, dependentes do factor sorte para não caírem no consumo de drogas pesadas.

A robustez cívica de uma sociedade mede-se, precisamente, pela forma como os cidadãos assumem protagonismo na sua vida colectiva e não se limitam a esperar pelo “estado-papá” para resolver todos os problemas.

A participação cívica, empenhada e consistente, é timbre das sociedades com democracias consolidadas e culturalmente avançadas constituindo um factor essencial para a criação de qualidade de vida.

Cada um de nós deveria assumir, com frontalidade e coerência, uma participação cívica que defendesse os valores da solidariedade e da responsabilidade em que acreditamos (ou devíamos acreditar?!) e que pressionasse os poderes constituídos para assumirem, por seu turno, as suas obrigações.

Temos que deixar de falar do que não interessa para passar a falar, cada vez mais, do que interessa. Temos que deixar o refúgio amorfo do sofá da televisão e da leitura dos jornais desportivos para passar a participar na gestão do nosso dia e dos nossos problemas.

É certo que existe (?) polícia de investigação criminal, tribunais e comissões de menores. Mas por aonde andam? E o que fazem? Ás tantas talvez fosse melhor haver menos entidades e mais trabalho que se visse.

O problema da droga, sobretudo das drogas duras, não está resolvido no Pico (e por analogia na maior parte da ilhas dos Açores?) porque ainda ninguém, verdadeiramente, se chegou á frente e assumiu uma questão que ameaça destruir os poucos jovens que, ainda, nos restam.

Maldita cocaína….



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sexta-feira, abril 21, 2006

Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho

Teerão formou 40.000 kamikazes para atacar alvos ocidentais”
Sunday Times


Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho


Claro que comparar Mahmoud Ahmadinejad, presidente da República Islâmica do Irão, com Adolfo Hitler é um exercício essencialmente didático. Os tempos e as culturas são outros e outras. Mas duas coisas, pelo menos, têm em comum: o pendor ditatorial e a imprevisibilidade de comportamento.

Mas, mais importante, do que detectar essas semelhanças é perceber que a atitude macia e tolerante que o III Reich mereceu da comunidade internacional é, mutatis mutandi, a mesma que o Irão está a receber agora. Até o presidente Bush sentiu a necessidade de explicar que os Estados Unidos não estão a considerar a opção militar!

O Irão de Ahmadinejad não tem nada a ver com os nossos conceitos de democracia e de liberdade. Desde logo porque é, assumidamente, um estado teocrático “inspirado” por Deus e depois porque vive do radicalismo que adopta em relação ao mundo “infiel”.

A base do poder na antiga Pérsia construiu-se numa feroz repressão interna, no radicalismo religioso e numa retórica de afrontamento em relação ao mundo não islâmico. Tire-se isso ao regime e pouco ou nada fica.

Os ayahtollas não podem, por conseguinte, dar-se ao luxo de mostrarem a menor tibieza perante o ocidente e terão que subir sempre a parada, não tendo condições internas para negociar no plano internacional. Isso seria perder um pilar indispensável à sua manutenção no poder.

Da mesma forma que o regime nazi vivia da ideia da supremacia ariana e do controlo do mundo. A manutenção de Hitler no poder dependia inteiramente, como se viu, do sucesso da sua política de expansão e de dominação do mundo não ariano. Do sucesso da sua política externa dependia a manutenção no poder.

Ahmadinejad não terá condições de se manter no poder se for obrigado a fazer concessões significativas a nível internacional. Toda a sua retórica se baseia em conceitos profundamente xenófobos e isolacionistas matizados pelo discurso religioso do Grande Islão.

Só assim se percebe a notícia de que o Irão esteja a preparar um verdadeiro exército de kamikazes destinados a perpetrar acções suicidas no ocidente. Tendo a notícia tido origem num alto responsável dos Guardas da Revolução organização de onde, também, provem Ahmadinejad está tudo dito.

A serem verdade tais declarações só podem ser entendidas num contexto de afrontamento destinado a desencorajar uma acção militar ocidental contra as instalações nucleares iranianas e, simultaneamente, a reforçar o apoio dos sectores mais retrógrados da sociedade iraniana.

O Irão não só não aceita submeter-se ao escrutínio da agência de controlo nuclear das Nações Unidas (porque não, se realmente não tem em mente a bomba atómica?) como embarca em atitudes provocadoras que atestam as suas intenções bélicas.

Estando a Europa ao alcance dos misseis iranianos e por conseguinte de uma eventual ogiva nuclear percebe-se bem que a questão ultrapassa as fronteiras do Médio Oriente para se ter tornado numa ameaça inegável para todos nós e que não pode ignorada em nome de uma qualquer paz podre.

Sendo uma ameaça para a Europa se-lo-á para todo o ocidente, convertendo-se no grande sarilho do século. Sarilho que se não for resolvido, diplomaticamente, a muito curto prazo deverá desencadear a reacção firme e até às últimas consequencias por parte da comunidade internacional que Adolf Hitler não conheceu até ter acontecido Pearl Habour. Só assim será possível evitar um quadro semelhante ao que conduziu, como todos se lembram, à segunda guerra mundial.


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sexta-feira, abril 07, 2006

Desabafos de um deus menor

“e Deus disse vou destruir da face da terra o homem que criei.....porque me arrependi de o ter feito” Genesis (cap. VI – 7)


Desabafos de um deus menor

Dado que Deus nos criou à sua imagem e semelhança (“vamos fazer o homem à nossa imagem e semelhança” Genesis cap I – 26) será razoável considerar-me um deus menor, sem cair em qualquer sacrilégio.

E, embora, não pretendendo arrogar-me a possuir quaisquer poderes sobrenaturais ou capacidades omniscientes, sempre será de esperar que consiga entender, minimamente o Criador.

Criador que nos deu o domínio discricionário sobre os outros seres vivos e a terra e que deixou que os seus filhos casassem com as nossas filhas ( Genesis cap. VI – 2). Uma relação muito próxima portanto.

Mas apesar de tudo isso – das semelhanças e dos poderes outorgados – Deus acabou por se irritar e destruir com um dilúvio a obra feita à sua imagem e semelhança e, quem sabe, os seus próprios descendentes.

Quer se aceite a Bíblia como uma descrição histórica fidedigna ou apenas como um livro de culto a ser seguido por fieis não deixa de ser interessante o tema recorrente da ira de Deus perante o comportamento dos homens.

Tendo nós sido feitos à sua imagem e semelhança seria de esperar que os nossos comportamentos tivessem alguma coisa de divino. Sobretudo sabendo-se, como se sabe hoje, a importância que a genética tem nos comportamentos.

Independentemente de professarmos ou não uma fé religiosa é evidente que conduzimos a nossa vida como bem entendemos e as interferências que sofremos provêm, essencialmente, de outros seres humanos e de circunstâncias aliatórias.

E mesmo que se considere a história do castigo divino na forma de dilúvio do Velho Testamento como uma mera alegoria não deixam de ser preocupantes os sinais de violência e miséria que se vivem no mundo e o total desrespeito com que lidamos com a Terra.

Mas ainda mais preocupante é o aumento exponencial dos sinais de extremismo e intolerância religiosos sempre feitos em nome de um Deus que todos – cada um à sua maneira – julga saber interpretar. Para defender as maiores violências e injustiças.

Apesar de não passar de deus menor e só poder falar em nome próprio não posso deixar de sentir alguma ira e revolta por toda esta utilização, abusiva e infundamentada, da hipotética vontade de Deus. E por todo este desrespeito pelos outros e pela nossa casa comum.

A palavra de Deus é uma coisa muito séria e não será por acaso que a sua invocação – em vão – é um pecado mortal na Igreja Católica, a pronúncia do nome Geová é totalmente proibida na Religião Judaica e na Religião Muçulmana não é permitido representar por imagem o profeta Maomé.

Se a minha palavra - ainda que de um deus menor - fosse minimamente ouvida gostaria de exortar as religiões (todas elas) a regressarem aos seus fundamentos e ao papel que lhes cabe no preenchimento da nossa dimensão espiritual.

As religiões deveriam servir – precisamente – para estabelecer padrões de comportamento positivo, quer individual quer colectivo, que visassem unir as pessoas e promover a justiça e o equilíbrio num profundo respeito pela natureza que é a nossa matriz de vida.

Se não for para isso não passam de uma treta, tantas vezes, ao serviço de fins inconfessáveis e uma “ajuda inestimável” para uma nova fúria de Deus.


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sexta-feira, março 24, 2006

As Manifestações de Paris

As manifestações de Paris


A situação de agitação social que se vive, presentemente, em Paris – bem no centro da Europa – é mais um sinal dos tempos difíceis que aí vêm ou, melhor, que aí estão.

E, também, mais um bom exemplo de uma situação que escapa aos chavões políticos clássicos de direita/esquerda, representando – antes – o mal estar profundo que atinge o estado providência.

Estamos a falar da França que foi o Eldorado dos emigrantes portugueses das decadas de 60, 70 e mesmo 80. O país que acolhia, de braços abertos, a mão de obra estrangeira.

O mesmo país que, hoje, se vê a braços com uma constestação que visa assegurar uma estabilidade de emprego aos jovens que, obviamente, o estado não está em condições de garantir.

E nenhum governo, seja de direita ou esquerda, gosta de ser contestado de forma tão extensa e continuada. Isso irá custar-lhe e/ou aos seus dirigentes, inevitavelmente, votos a muito curto prazo.

Pelo que, um pouco à semelhança do que também se passa por cá, se perceba que o governo francês se tenha visto, antes, forçado a assumir o ónus de uma medida que se tornou, provavelmente, indispensável.

As nossas sociedades de abundância e estabilidade habituaram-se a esquecer, sistematicamente, a miséria e a pobreza profundas que atingem continentes inteiros e milhões de pessoas.

Desvalorizando sempre a ideia popular de que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Pensando que essas situações de profunda desigualdade estavam lá bem longe, incapazes de beliscar o nosso bem estar.

Mas, quase à velocidade da luz, tudo isso tem vindo e mudar e a a vulnerabilidade da Europa é, hoje, um facto evidente. Seja ao terrorimo, à emigração clandestina maciça ou à concorrência comercial violenta dos paíes asiáticos e do continente indiano.


O próprio gigante americano está de cócoras perante um situação que criou no Iraque e, agora, não é capaz de resolver adequadamente e uma ameaça bem real de um Irão que não hesitará em esticar a corda ao limite.

A presente crise económica que se vive em França e na Europa está ligada a questões que ultrapassam, em absoluto, os problemas laborais que parecem ser a base das manifestações de Paris.

Mas são, realmente, muito mais a ponta de um grande icebergue à escala mundial que tem vindo a ameaçar o modelo de estabilidade laboral e crescimento económico que nos habituamos a ter.

Hoje deixou de ser possível pensar, apenas, a uma escala nacional e, muito menos, a uma escala individual. Hoje, um espirro na China provoca, de imediato, uma gripe no resto do mundo.

E é a essa luz que os acontecimentos de Paris devem ser vistos. O estado francês, tal como o português ou o alemão, deixou de poder assegurar uma estabilidade de emprego plena.

Os nossos jovens, que tanto mimámos e estragamos, têm que começar a perceber a nova ordem mundial que aí vem e que não se compadece com guetos de bem estar num mundo profundamente desiquilibrado.

É indispensavel que se se esqueçam, apenas, do próprio umbigo e arregacem as mangas para vencer o desafio de encontrar um lugar ao sol numa grande casa em que há, cada vez, menos pão.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, março 10, 2006

Casar ou não casar - eis a questão?





Casar ou não casar
Eis a questão?


O casamento de homossexuais é um tema recorrente na agenda de algumas forças políticas e, naturalmente, dos movimentos gay tendo subsidiarimente associada a questão da adopção de crianças por casais (pares?) do mesmo sexo.

Sendo que a união/relacionamento de duas pessoas adultas do mesmo sexo é uma questão estritamente do foro pessoal correspondendo a orientações sexuais que apenas aos próprios dizem respeito.

E que a sociedade portuguesa, mesmo a mais rural, já aceita com grande naturalidade. Pesem, embora, atitudes discricionárias que ainda existem mas que são claramente residuais e não representam um sentir generalizado.

Ser homossexual em Portugal, hoje em dia, deixou de ser – e ainda bem – um opróbio e um exercício clandestino.

Sendo um preceito constitucional a não descriminação com base em matérias de orientação sexual há que encontrar um fórmula jurídica que conceda aos homossexuais que decidam comungar uma vida em comum, todos os direitos e garantias outorgados aos casamentos heterosexuais ou propriamente ditos.

O casamento, “união legítima entre homem e mulher” segundo Cândido Figueiredo, é uma figura jurídica criada para consagrar uma união entre dois indivíduos de sexos diferentes. Surgindo assim as figuras da mulher e do marido.

Não fazendo, por conseguinte sentido, que se passe a poder vir falar de marido e marida ou de mulher e mulhero! O regime jurídico de união de homossexuais, que corresponde a uma realidade social nova, terá que ser específica para essa mesma realidade.

Não devendo ser jamais um mero arremedo do casamento heterossexual para fins de reconhecimento e/ou aceitação social. E deveriam ser os próprios homossexuais os primeiros a rejeitarem um nome que corresponde a outra realidade que eles recusaram.

Sem prejuízo, como já se disse, de lhe serem assegurados todos os direitos, liberdades e garantias. Mas quem escolheu uma orientação sexual diferente deverá a assumir essa diferença em toda a sua plenitude nomeadamente a de não poderem gerar novas vidas.

A procriação é uma vocação e uma capacidade própria e específica das uniões heterossexuais, sejam elas legítimas ou ilegítimas. A incapacidade de procriar é uma consequência incontornável das uniões homossexuais. Devendo as pessoas envolvidas terem disso perfeita consciência e assumirem as respectivas responsabilidades e consequências.

Casamento é casamento e união gay é união gay. Sem que qualquer delas possa ser considerada mais legítima ou importante. São simplesmente diferentes.

E assim sendo não faz qualquer sentido que pessoas do mesmo sexo pretendam ser progenitores de seres que, em nenhuma circunstância, poderiam ter gerado. Sobretudo envolvendo crianças que para tal não foram ouvidas nem achadas.

Salvo melhor opinião para o desenvolvimento óptimo de uma criança são fundamentais as figuras da mãe e do pai. Não, naturalmente, de um pai-pai e de um pai-mãe ou de uma mãe-mãe e de uma mãe-pai.

Entende-se bem, nos planos genético e afectivo, que os homossexuais mantenham instintos maternais e paternais mas a sua satisfação não poderá passar pela imitação de uma matriz sexual que não existe.

A satisfação desses instintos e desses afectos deverá e poderá ser satisfeita a um nível de participação em voluntariado de apoio a tantas crianças carenciadas sem, contudo, criar situações cujas repercussões futuras são difíceis de imaginar.

É tempo que os homossexuais deixem as imitações e assumam as suas diferenças através da assunção de modelos de vida, originais e próprios. Que viva a diferença!



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Quem nos acode?

Quem nos acode?



Quem não se lembra das polémicas que ocorreram em torno da decisão, exclusivamente política, de construir na Horta um hospital com pretensões a servir as populações do Faial, Pico, Flores e Corvo?

Decisão tomada ao arrepio de todos os estudos que sobre a matéria tinham sido feitos. A começar no tempo do último plano de fomento do antigo regime e a acabar no chamado plano dos suecos.

Todos eles apontavam para a existência de dois polos hospitalares diferenciados – Ponta Delgada e Angra – e para um hospital de 1º linha nas restantes ilhas. Nos dois primeiros centrar-se-iam os meios mais sofisticados e nos segundos as valências indispensáveis a cada ilha.

O que fazia então (e ainda hoje faz) todo o sentido tendo em conta a população de S. Miguel e da Terceira em relação a todas as outras.

Nas duas ilhas mais populosas (com uma diferença enorme de qualquer das outras) era indispensável a construção de hospitais de nível regional que para além de assistirem às respectivas populações dessem apoio diferenciado à outras.

Contudo a política de capelinhas e os compromissos partidários falaram mais alto e ditaram a construção de um hospital “diferenciado” na Horta que em breve se transformaria na maior entidade empregadora da Ilha do Faial.

E, assim, as restantes ilhas do ex-distrito da Horta ficaram condenadas a não ter um hospital de ilha já que passaram a ter que fazer parte da área de influência de um hospital cuja construção nunca fez sentido – ao menos em termos de planeamento racional.

E o que era inevitável aconteceu. Os quadros administrativos e auxiliares preencheram-se num ápice enquanto que os quadros de especialistas e respectivos serviços nunca chegaram a atingir o nível indispensável e dar respostas adequadas.

Mas era fundamental justificar tão grosseiro erro de planeamento e mascarar as suas consequências económicas: um verdadeiro sorvedouro de dinheiro. Para tanto foram criadas as famigeradas juntas médicas de deslocação de doentes sediadas no Hospital da Horta.

Fazendo tábua rasa da organização administrativa da Região e das perrogativas e competências profissionais dos médicos das restantes ilhas essas juntas passaram a tutelar e controlar a saída dos doentes do Pico, Flores e Corvo houvesse ou não resposta adequada na Horta.

Situação que, incrivelmente, se mantêm até hoje com episódios frequentes de decisões atentórias de direitos elementares dos utentes e dos respectivos médicos de família. Para não falar de algumas listas de espera absurdas.

Como é o caso das tomografias axiais computorizadas (TAC) que atingem anos. Sendo um episódio recente o mote desta crónica. Um doente do Pico portador de uma requisição urgente de um especialista que o observou foi confrontado com uma lista de espera de 2 (dois) anos no Hospital da Horta!...

O que sendo ridículo aos olhos de qualquer leigo sensato não deixa de ser inteiramente ilustrativo da situação caricata a que se chegou e que dispensa qualquer outro comentário.

Quem nos acode?



P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O polvo fundamentalista

Os responsáveis (pelas caricaturas) devem ser decapitados!
Cartaz de jovens muçulmanos na manifestação de Londres




O polvo fundamentalista


Há males que vêm por bem.

A onda de violência, histérica e gratuita, desencadeada pelo fundamentalismo islâmico sob o pretexto de umas caricaturas do profeta Maomé publicadas num jornal dinamarquês, é um desses males.

E vem por bem porque, possívelmente, virá a abrir os olhos a muita gente que ainda não percebeu a gravidade do islamismo fundamentalista e o seu carácter de polvo multitentacular.

A Europa, ciosa dos seus pergaminhos democráticos e culturais bem como da sua tradição de tolerância civilizacional e religiosa, poderá ver ruir – num ápice – um edifício que parecia à prova de bala.

E, ironicamente, a onda de intolerância e radicalismo religioso erigiu como seus principais inimigos os países nórdicos. Conhecidos pelo seu curriculo especialmente brilhante em matéria de tolerância e de defesa das causas étnicas e do multiculturalismo.

Não questionando o bom ou mau gosto das caricaturas de Maomé e muito menos o respeito que lhe é devido há, contudo, um princípio que fundamenta toda a cultura de liberdade do ocidente: o direito de expressão. E sobre esse direito não pode haver qualquer tergiversação esteja em causa Cristo, Maomé, Moisés ou, mesmo, Deus.

Os limites da liberdade, num estado de direito, só podem ser os da lei desse mesmo estado. Lei que foi, obviamente, democraticamente discutida e votada. Tudo o resto só pode existir na cabeça de fanáticos radicais, desprovidos de qualquer respeito pela liberdade e pela tolerância.

Fanáticos que foram os primeiros a descredibilizar e desrespeitar o Corão e a religião muçulmana que se vê, assim, usada para fins completamente alheios à sua vocação e com meios que nada têm a ver com os pregados pelo profeta Maomé.

Sendo, também, profundamente irónico que tenham sido, precisamente os tais fanáticos “guardiões” da honra de Maomé a dar o mote para a caricatura que mostra o profeta com uma bomba no turbante! Então não foram eles que fizeram ou mandaram fazer os ataques em Nova Iorque, Madrid e Londres para além das chacinas diárias no Iraque?

Não são eles que, agora, destroiem embaixadas e desencadeiam ondas de violência completamente desproporcionadas comandadas por imãs que vociferam em nome de Alá e de Maomé. Não foram eles que, há anos, tiveram a audácia de condenar à distância e à morte o escritor Salmon Rushie e assassinaram, recentemente, em plena via pública um cineasta holandês?

Esses mesmos que, nos respectivos países, mantêm regimes fortemente ditatoriais e que colocam as mulheres num plano secundário de intolerável discriminação sempre em nome de um deus ou de um profeta que não se podem defender.

Sendo bem triste e lamentável – para quem ama a liberdade e a tolerância – o que se passa nesses países só faltava, agora, que viessem tentar impôr nos nossos países as mesmas práticas totalitárias de intolerância e discriminação.

Objectivo que é o deles e que a Europa – que já está a lidar com uma escalada muito grave de violência e fanatismo – terá de combater pondo, muito rapidamente, os pés à parede.

Tendo, para isso, de se deixar de chavões politicamente correctos e políticas “soft”e não repetir os mesmos erros que cometeu com o advento do nazismo, desvalorizando o que é mesmo muito sério e uma ameaça real para a nossa civilização ocidental e, o mesmo é dizer, para a liberdade.

Não assobiando para o lado, como tantas vezes tem feito.

Em Roma sê romano. Quem não gosta de nós e do que nós representamos não tem que nos sofrer mas o inverso é rigorosamente verdade. Que cada um viva aonde se sinta bem e goste de viver mas que o faça em pleno respeito pela casa que escolheu.

Qualquer tipo de capitulação em matérias que são o cerne da nossa civilização levará, inevitavelmente, a conflitos generalizados (que no limite poderão chegar aos nucleares) e à desagregação da nossa matriz política, social e cultural.

Há que agir e depressa.

P E D R O D A M A S C E N O

domingo, janeiro 29, 2006

A cegueira da lei

Quanto mais leis mais ladrões
Provérbio chinês




A cegueira da lei
ou
A lei dos galheteiros


É sabido que a proliferação de leis, a propósito de tudo e de nada, normalmente esconde males bem mais profundos.

Como é o caso do nosso país que, para além dos males próprios, ainda tem que sofrer as diarreias legislativas e normativas de Bruxelas. Um país em que cada repartição, serviço ou mesmo empresa tem as suas “leises”.

Da mesma forma que de médico e de louco temos um pouco, todos temos, também, talentos jurídicos natos que nos permitem discernir – ex-cátedra – a lei que se aplica ao nosso bairro ou à nossa repartição.

E de nada vale contestar esses talentos/interpretações porque surgirá, sempre, o inevitável aqui é assim. E como reclamar é, por norma, uma prática condenada ao insucesso e os tribunais um passe para a eternidade, fica tudo mesmo assim.

Os poucos cidadãos que persistem em manter uma prática de cidadania activa acabam, aos poucos e poucos, por desistir porque não valem a pena tantos dispêndios energéticos incomportáveis.

Cada burocrata é totalmente cioso da sua vírgula ou ponto parágrafo sem se preocupar, em regra, com o que pretendia o legislador. E (resquícios da burocracia da antiga senhora?), desse modo, defende a sua dama contra toda a lógica e evidência – se tal for necessário.

Isto a jusante da lei porque a montante as coisas, frequentemente, não são nada melhor como é caso de uma portaria acabada de publicar e que acaba com o uso dos galheteiros nos restaurantes!


Com efeito a partir de agora o azeite – esse produto tipicamente mediterrânico e de tão grande prestígio – deixou de poder ser servido nos tradicionais galheteiros de muito velha memória!

Embora todos os outros temperos, nomeadamente o vinagre, possam continuar a ser servidos como dantes, o azeite passou a ter que ser servido em embalagens invioláveis e rotuladas, que podem ter qualquer feitio ou dimensão.

Mantendo-se, contudo, a possibilidade de o azeite utilizado para confecção na cozinha poder continuar a ser adquirido, sem outros pormenores, até à quantidade máxima de 25 litros por embalagem!...

Ou seja, aí aonde se faz o mais importante de um restaurante que é confecção dos alimentos, pelos vistos, já não importa o tipo de embalagem do azeite. Como se fosse mais fácil aldrabar à mesa do que no recato da cozinha!....

Sendo o azeite uma substância dificilmente miscível com o que quer que seja, de gosto bem distinto e que hoje em dia pouco se usa à mesa não se percebe aonde se fundamenta a putativa preocupação com o consumidor.

Porque, obviamente, é muito mais fácil fazer mistelas na cozinha, aonde tudo continua com dantes.

Esquecendo, ainda por cima, o problema do aumento da poluição ambiental, através da colocação no mercado de milhões de novas garrafas usadas, com resíduos de azeite, altamente poluidoras.

Ou ignorando todas as negociatas que serão possíveis com a publicidade às marcas de azeite já que levar a “marca à mesa” será uma boa forma de incentivar todos os esquemas possíveis por baixo da mesa.

O que faz lembrar um episódio de um filme da pantera cor-de-rosa em que um polícia se preocupava com a licença de um macaco para andar na rua enquanto que nas suas costas um banco era assaltado em pleno dia.

Afinal quem lucrará? O consumidor ou os fabricantes de embalagens, as marcas de azeite e os restaurantes?


P E D R O D A M A S C E N O

domingo, janeiro 15, 2006

Ecologia e Agricultura


Globalização é uma mutação de colonialismo




Ecologia e Agricultura
(Ironias da vida moderna)


A criação do movimento europeu Green Care (Cuidados Verdes) e o seu alastramento a países como a Alemanha, Áustria, Holanda, Itália e Bélgica tem vindo a confirmar o regresso europeu à agricultura com face humana.

Nas explorações agrícolas ligadas a este movimento fomenta-se a saúde física e mental das pessoas através dão seu envolvimento no trabalho na terra, deixando para trás uma agricultura industrializada, altamente poluente.

Pretende-se, desse modo, promover o retorno à agricultura de pequenas dimensões e carácter familiar e à distribuição e consumo locais de alimentos, também produzidos localmente, envolvendo um número crescente de pessoas na agricultura.

O que implicará, a curto prazo, reformas profundas da política agrícola comum europeia. Contrariando a tendência actual de produção e transporte massificado de alimentos à volta da mundo, liquidando as pequenas explorações agrícolas dos países menos desenvolvidos.

Baseado no paradigma de que a chave do desenvolvimento e do progresso é o crescimento económico contínuo a todo custo tem-se vindo a apostar na globalização como a forma mais eficiente de o fazer.

Nem que isso implique uma utilização brutal dos combustíveis de origem fóssil nas práticas agrícolas industriais e no transporte – à escala mundial – dos bens que representa hoje cerca de 60% de todos os meios de transporte. Ficando o turismo e o lazer nos 40%.

Realidade que gera um contributo extremamente relevante e negativo para o aquecimento global do planeta e as graves alterações climatéricas que já são evidentes para toda gente.

O que tem vindo a criar uma contradição insolúvel: por um lado industrializa-se a agricultura e promove-se a globalização da distribuição dos bens alimentares e por outro agride-se de forma dramática o ambiente.

Sendo também certo que a nova cultura médica e de saúde aponta para a necessidade crescente das pessoas fazerem exercício físico e usufruírem de um contacto estreito com a natureza, consumindo alimentos o mais naturais possível.

Sendo, progressivamente, evidente que a vida atrás de um computador e em volta de papeis em escritórios com luz artificial e com níveis elevados de sedentarismo em nada contribui para a sua qualidade.

Ou que a vida no campo e na agricultura e o contacto com a natureza são formas de vida menores e que o vento, a chuva e o frio são coisas a evitar como a peste! Sendo mais importante ser “doutor” não importa de quê.

Situação que se verifica, também e infelizmente, no nosso meio em que a vida na terra é entendida como uma forma de actividade a evitar e um trabalho na função pública ou um canudito como os novos Eldorados.

É, certamente, importante que as pessoas adquiram mais conhecimentos e se promovam social e culturalmente mas é bem mais importante que promovam a sua qualidade de vida que passa por uma ligação profunda à natureza e à terra.

O que torna triste o rumo que as nossa sociedades rurais estão a tomar assumindo todos os tiques e defeitos das sociedade urbanas industrializadas e virando as costas ao que verdadeiramente é mais importante.

Ironias da vida moderna.



P E D R O D A M A S C E N O