sexta-feira, junho 16, 2006

O País de Camões ou uma anarquia galopante?

F A C E O C U L T A



Só temos passado à nossa disposição
Eduardo Lourenço



O País de Camões
ou
Uma anarquia galopante?


A passagem de mais um Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades é, sempre, uma boa oportunidade para uma reflexão. Tão necessitados que estamos de encontrar um caminho para o desenvolvimento e para a modernidade.

Um caminho lúcido, capaz de casar os imperativos sociais e económicos com o respeito pelo ambiente/natureza e pela manutenção de uma escala humana susceptível de assegurar qualidade de vida.

Qualidade de vida sem a qual não haverá desenvolvimento que valha a pena. Mesmo que “compensado” por um consumismo que, normalmente, só atrapalha ainda mais em vez de ajudar.

Não sendo os portugueses e correlativos governos menos capazes do que outras nacionalidades – bem mais sucedidas – será de crer que tudo tem a ver com atitudes e correspondentes desempenhos cívicos.

Continuando os portugueses a comportarem-se como se o estado não fossem eles próprios e os governos a tratarem os portugueses como fossem crianças mimadas a que quem é preciso fazer todas as vontades.

Resvalando-se, desse modo, para uma anarquia crescente em que o estado de direito se dilui em retóricas inconsequentes com os tribunais entupidos e a administração, quer central quer local, a não assegurar o cumprimento da lei.

A polícia não actua ou diz que não pode, ou não vale sequer a pena, actuar. Os alunos andam à batatada uns com os outros e com os professores sob a complacência destes e das estruturas directivas das escolas.


Os trabalhadores não produzem e os empresários não inovam. Os serviços de assistência social continuam a criar condições para a manutenção de um exército de parasitas sociais em vez de ajudarem quem precisa (sim) mas mediante contrapartidas de trabalho e reintegração.

Os partidos políticos continuam a caça ao voto em vez de assegurarem a concretização dos seus projectos políticos e os eleitores continuam a usar o voto como moeda de troca para obtenção de benesses em vez do exercício de uma cidadania consciente.

A religião continua ser um faz-de-conta-social em vez de uma ferramenta espiritual capaz de ajudar os putativos crentes a encontrar as forças necessárias para o combate contra o desespero, a descrença e a falta de auto estima.

Portugal – o País de Camões – não pode contar apenas com o passado. Tem que saber encontrar um caminho para o futuro que ponha termo à irresponsabilidade, à paralisia e à anarquia.

O estado são todos os portugueses e é tempo – como bem lembrou o Presidente da República parafraseando John Kennedy – que passem a pensar mais naquilo que podem fazer pelo país em vez daquilo que o país pode fazer por eles.

Ou, como dizia Ghandi, que passem primeiro a mudar em si aquilo que quereriam ver mudado no país. Sendo, por conseguinte, uma grande viagem aquela que os portugueses têm pela frente mas que terá, inevitavelmente, de começar com um primeiro pequeno passo.

Sob pena de caminharmos todos, a passos largos, para uma anarquia galopante.





P E D R O D A M A S C E N O

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