sexta-feira, janeiro 29, 2010

HAITI

H A I T I


A tragédia que se abateu sobre o Haiti, possivelmente o país mais carenciado das Caraíbas, tem preenchido os tempos de maior audiência das nossas televisões. Porque, além do mais, tem todos os ingredientes para o sucesso mediático.

Todos os aspectos, grandes e pequeninos, têm sido esmiuçados diariamente: os mortos, a miséria, a violência, a solidariedade, as pilhagens, os salvamentos milagrosos, o vazio do poder, a quase anarquia, o desespero e a doença.

A pequena república caribenha transformou-se no centro das atenções a uma escala planetária até que canse e surjam outros novas temas igualmente mediáticos porque, infelizmente, são o que não falta neste conturbado mundo.

Por isso mesmo, e antes que o Haiti saia da ribalta, é importante meditar sobre o facto de ainda existirem países soberanos com tais os níveis de miséria, desorganização e corrupção. Quando noutras paragens existem tão elevados níveis de afluência e tecnologia!

Algo está muito mal no reino da Dinamarca.

Pesem embora as vastíssimas e variadas ajudas internacionais tudo voltará, inexoravelmente e a devido tempo, à escala zero. Porque as deficiências estruturais do país não serão ultrapassadas, simplesmente, com a ajuda humanitária.

Como alguém disse e bem o Haiti não foi vítima apenas de um desastre natural mas um desastre governativo cujo inicio teve início na sangrenta ditadura da “dinastia” Duvalier a que se seguiram consecutivos arremedos de democracia.

Algo de muito mais profundo e estruturante terá que ser feito. E não se vislumbra outra hipótese que não seja a das Nações Unidas que terão de começar, finalmente, a exercer as funções de guardião de uma ordem internacional baseada nos valores da democracia e da justiça social.

Utopia? Talvez, mas todos os grandes feitos da humanidade passaram sempre por uma fase de utopia. A utopia têm sido, invariavlemente, a antecâmara da realidade futura. Sem sonho a humanidade simplesmente não avança.

A comunidade internacional tem que continuar a ajudar todos os haitis deste mundo mas tem que assegurar que essa ajuda não vai servir para continuar a apoiar governos corruptos e incompetentes que impedem que as populações acedam a padrões mínimos de qualidade de vida.


Quem dá o pão dá a educação e é tempo de deixarmos de brincar às caridadezinhas e passarmos a exigir contrapartidas de governança competente, séria e democrática. Ninguém pode pedir ajuda para, no momento seguinte, puxar dos galões da independência e da soberania.

Independência e soberania conquistam-se por mérito e muito trabalho. E quem recebe ajuda dela tem que prestar contas, de forma clara e transparente. Tudo o que assim não for apenas servirá para perpetuar a ignorância e a miséria e encher os bolsos de políticos corruptos e respectivas cliques.

Que o Haiti seja um despertar de consciências e não apenas um êxito de audiências televisivas.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Fé, a quanto obrigas

Os terroristas islâmicos são pessoas perfeitamente normais
Fúria Divina


Fé, a quanto obrigas!


A recente tentativa de atentado, na Dinamarca, contra um dos autores das caricaturas do profeta Maomé por um fundamentalista islâmico aos berros de “sangue” e “vingança” vem relembrar os velhos apelos dos mullahs radicais.

O incidente ocorreu no início deste mês e está relacionado com igual tentativa levado a cabo em Chicago contra o editor das citadas caricaturas havendo uma clara relação entre elas.

O que vem demonstrar o braço longo do islamismo radical que procura aplicar a sharia (justiça muçulmana) em todo o mundo e, sobretudo, também a não muçulmanos. Tentando universalizar as regras ditadas por Maomé.

No ano de 2009 da nossa era ainda somos confrontados com práticas medievais em nome de um Deus supostamente justo e misericordioso e, por cima de tudo, em países de tradição judaico-cristã. Em colisão absoluta com as nossos valores de tolerância e liberdade de expressão e de culto.

E, ao contrário do que seria e esperar, não estamos perantes pessoas primitivas e socialmente excluídas. O grau de instrução e o nível social desses terroristas é, frequentemente, elevado. Como foi, notoriamente, o caso dos autores dos atentados de Nova Iorque.

Sendo importante perceber o conceito de jihad que muito interpretam apenas com o guerra santa. Jihad tem a ver com a luta interior de cada muçulmano deve travar consigo próprio para se aperfeiçoar mas tem tem também a ver com defesa e expansão dos valores do Alcorão.

E sendo a Fé uma convicção e um acreditar que não exige provas irrefutáveis ou de carácter científico fácil se torna converter um sistema de crença religiosa num desígnio de vida blindado a qualquer sentido crítico. A palavra de Deus torna-se num argumento incontornável.

E nesse campo de pouco serve a instrução ou a posição social.

Só assim se pode explicar que actos de puro delito comum e da mais satânica falta de compaixão possam ser perpetrados por pessoas de nível superior e em nome de uma suposta causa espiritual.

Sendo também por isso que os sistemas de crenças baseados numa fé inquestionada e inquestionável se tornam extremamente perigosos. Porque não obedecem a parâmetros discutíveis e porque, supostamente, se subordinam a uma entidade (Deus) que não diz directamente da sua justiça.

O fundamentalismo islâmico é a inquisição do século XXI. Com outras roupagens e novos adereços mas com a mesma perigosa obsessão de lavar os pecados do mundo em nome de Deus e de formatar a vida de acordo com a visão de uma classe eclesiástica, obscurantista e obcecada.

Sendo a fé (nos valores, nas pessoas, nas atitudes) um valor estruturante das nossas vidas não deveria todavia servir de base à violência, ao ódio e à intransigência. A distância entre fé e obsessão é, demasiadas vezes, muito pequena.

Se vida não pode ser vivida apenas com um racionalismo puro e frio tendo de haver paixão e fé não é menos verdade que estas tem de ser temperadas com bom senso e inteligência crítica.


P E D R O D A M A S C E N O