sexta-feira, agosto 29, 2008

Extinção das lagoas do Pico - um crime público

Extinção das lagoas do Pico
Um crime público


Não tendo o Pico a riqueza das lagoas de S. Miguel tem, contudo, um conjunto de lagoas lindíssimo. Com realce especial para as Lagoas do Capitão e do Caiado que, com a montanha, são um lugar obrigatório de visita para quem demanda a ilha.

A da Capitão pelo enquadramento vegetal das suas margens e pela presença constante do Pico. A do Caiado pela visão ímpar sobre o canal e São Jorge. E todas as outras, como a do Peixinho e do Paúl.

Infelizmente as Lagoas do Pico estão muito doentes. Por eutrofização como consequência do uso excessivo de adubos na vizinhança e pela utilização da sua água quer para uso agrícola quer, mesmo, para uso público.

Mas enquanto que as lagoas de S. Miguel têm sido objecto de grande preocupação nas do Pico pouco gente parece reparar. E, contudo, todas elas definham a olhos vistos. Sendo o seu desaparecimento uma questão de pouco anos.

Todos sabemos que a lavoura luta com falta de água para o gado no verão mas a sua utilização a partir das lagoas é uma situação totalmente intolerável em termos ambientais. E certamente, ainda mais, para outros fins.

A luta pela preservação de tão valioso património natural tem que ser de todos. O seu custo não poder ser apenas imputado a quem vive de uma actividade para qual é indispensável o uso de água e a utilização do solo.

De modo que é necessário a assegurar que o abastecimento de água à lavoura não passe pela sua extracção das lagoas e que quando esta for dispensável os prevaricadores sejam devidamente punidos.

Sendo também imperativo que seja suspensa a utilização da água da Lagoa do Caiado para fins públicos. Situação anómala que nunca deveria ter, alias, acontecido e que estabeleceu um precedente inaceitável.

Da mesma forma que é necessário encontrar formas de indemnização para quem tem explorações agrícolas nas imediações das lagoas. A protecção de um bem público tem que ser suportada pelo erário público.

O que não podemos é ficar, todos ou quase todos, indiferentes à deterioração galopante das nossas lagoas. Pesem, embora, planos de ordenamento e declarações públicas de defesa do ambiente. As lagoas do Pico estão a morrer, muito rapidamente

Ainda recentemente tive a acesso a um projecto de protecção da biodiversidade da Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S Pedro de Arcos, uma área situada entre Ponte de Lima e Viana do Castelo. Um projecto designado “Biodiversidade” e destinado a alunos das Escolas do 2.º e 3.º Ciclo do Concelho de Ponte de Lima.

Projecto detalhado com objectivos bem definidos. Promover a educação e o respeito pelo meio ambiente. Sensibilizar a população escolar para a biodiversidade do nosso Planeta. Desenvolver o sentido de responsabilidade. Alertar para a importância da preservação da Natureza e das espécies.

Um exemplo que nos chega do norte e que bem ilustra a importância que é posta em valores ambientais idênticos aos nossos. Continuar a não fazer nada que se veja e se traduza na melhoria efectiva, urgente e visível das nossas lagoas será um crime público que o futuro não perdoará.

Aqui fica o desafio a todos.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, agosto 15, 2008

Parabéns, Nelson Mandela

….nada de humano pode ser construído sobre o ressentimento, o ódio e a vingança
Jornal Publico



Parabéns, Nelson Mandela


Nelson Rolihlahla Mandela completou, há pouco dias, 90 anos. Uma longa vida ao serviço de um ideal e um exemplo único de coragem cívica e intransigência de princípios, mesclado de grande realismo político.

Após um longo cativeiro de 27 anos conseguiu vencer a apartheid e impedir a guerra civil – desiderato que nos parecia impossível – na Africa do Sul. Um exemplo único de tenacidade e estatura moral.

O homem que gosta de apreciar o pôr-do-sol ao som da música de Handel ou Tchaikovsky. O Prémio Nobel que dedicou a honraria que lhe foi concedida a todos os que lutam pela paz e contra o racismo.

Tomou posse como primeiro presidente, democraticamente eleito, da África do Sul em 10 de Maio de 1994 tendo abandonado a vida pública em 1999, apesar de todas as pressões para que continuasse. Assim demonstrando desapego ao poder e às honrarias.

Voltando para Qun, seu lugar de nascimento, aonde vive uma vida frugal e disciplinada. Não prescindindo do seu exercício diário e da militância em prol da paz e da tolerância.

Mandela foi uma pessoa para quem o sofrimento – e sofreu muito, durante muito tempo – foi uma oportunidade de crescimento. O seu longo encarceramento e as humilhações que sofreu poliram a sua têmpera e carácter ao invés de o tornarem um indivíduo revoltado e violento.

Certamente por isso Mandela sempre considerou Gandhi como seu mentor, quer pela filosofia da não-violência como também pela postura de dignidade face à adversidade.

Sendo, também por isso, um exemplo.

Numa África dilacerada por conflitos tribais e liderada por um vasto conjunto de tiranos corruptos, Mandela foi um verdadeiro farol. Sobretudo se pensarmos na outrora opulenta Rodésia que por via de um ditador demente e sanguinário se transformou no miserável Zimbabué de hoje.

O seu país está, ainda longe, daquilo que Mandela imaginou: uma democracia multiracial, próspera e em paz. Mas foi evitada a grande tragédia da guerra civil e da vingança e foram lançados os alicerces para o futuro, assim o queiram os actuais dirigentes sul-africanos.

A imagem de serenidade e confiança que construiu são o seu grande legado. Pois apenas líderes assim serão capazes de vencer os preconceitos raciais – ainda tão espalhados – e dar à África a dignidade de que tanto precisa.

Talvez Mandela tenha, mesmo, tido alguma responsabilidade no fenómeno Barack Hussein Obama. Talvez tenha despoletado parte do impulso que tornou possível a um negro com nome muçulmano ser um candidato credível à Casa Branca.

Parabéns Nelson Mandela, pelos noventa anos e pelo exemplo que nos deste.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, agosto 01, 2008

Novos tempos,novos desafios

Quem trabalha assume responsabilidade
Manuel Tomás





Novos tempos, novos desafios



Ao dobrar os vinte anos, Ilha Maior ganha um novo director. Desta feita um jornalista, homem da casa, que tem a difícil tarefa de prosseguir o trabalho iniciado por Manuel Tomás, que deu ao jornal o timbre de qualidade que o impediu de se quedar por ser mais uma folha de couve da província.

Ilha Maior conheceu grandes momentos de jornalismo esclarecido, erudito e, sobretudo, descomprometido. Sem se tornar num mero entretenimento de elites conseguiu criar um quinzenário e, depois, um semanário de referência na imprensa regional.

Tive o privilégio de colaborar, praticamente, desde a primeira hora. Sempre com a maior liberdade e com os indispensáveis estímulos para prosseguir. Por isso e porque acredito, também, no futuro do jornal aqui me encontro com o entusiasmo do princípio.

A Manuel Tomás coube o lançamento dos alicerces e a consolidação do sonho do poeta. Cabe, agora, a David Borges vencer os desafios de confirmar o rumo, em plena liberdade e pluralismo, para tempos de crise.

Liberdade e pluralismo que são a base da democracia. Pilares que o próprio poder político, se esclarecido, tem todo o interesse em fomentar. Sob pena de os jornais se poderem tornar, apenas, em correias de transmissão que – ao fim e ao cabo – ninguém acaba por ler.

E que não servem, por isso, qualquer causa. Nem a dos políticos porque elogio sem isenção acaba por ser ratoeira a prazo, nem a dos leitores porque informação louva-minha e condicionada não fomenta cidadania nem promove dignidade.

Terras pequenas, em que todos se conhecem, tornam difícil a crítica, por muito correcta e justa que seja. Mas não há outro caminho. Já que, somente, este pode proporcionar pedagogia democrática e uma cultura de frontalidade amigável.

Ferramentas indispensáveis ao progresso.

Tenho orgulho de ao longo de todos estes anos ter escrito sempre o que pensava sem ter dado origem a qualquer polémica, panfletária e corriqueira. Talvez porque sempre procurei trabalhar a palavra – um instrumento da maior importância – com elevação e isenção.


Como dizia na primeira crónica que redigi para o Ilha Maior apenas pretendo ser um grão de areia. Fazendo desta coluna um espaço de reflexão, tentando intervir de forma crítica e criativa no nosso dia a dia. Procurando sempre as faces ocultas das pessoas, das ideias e dos acontecimentos.

A aventura humana é um autêntico caleidoscópio que nos revela, constantemente, uma riquíssima multiplicidade de imagens e emoções. Sendo necessária humildade e generosidade na procura dos nossos caminhos colectivos. O futuro é, necessariamente, um salto para o desconhecido que, no fundo, é o nosso destino.

Questionar o presente com coragem e determinação é a chave para um futuro mais sólido. Aceitar um quotidiano baço e cinzento por via da intimidação e da chantagem não é, portanto, caminho aceitável para quem quer o progresso e o bem-estar.

A imprensa tem, hoje, um grande peso. Que lhe confere grandes responsabilidades e lhe exige ponderação, correcção e exactidão – num contexto profundamente livre, independente e pluralista.

Acredito que seja este o rumo do novo director a quem desejo os maiores êxitos. Os novos tempos que se avizinham vão exigir novos caminhos. A Ilha Maior que deu, por via do poeta, o nome a este jornal disso bem precisa.


PEDRO DAMASCENO