sexta-feira, outubro 26, 2007

Existe ser de Esquerda ou de Direita?

Existe ser de Esquerda ou de Direita?



Ameaça tornar-se uma discussão crónica na sociedade portuguesa a questão da distinção entre esquerda e direita ou mesmo se esses conceitos ainda existem. Com motivações diferentes são vários os sectores que defendem que tudo isso é passado.

Tudo talvez porque nas sociedades europeias conceitos como democracia, liberdade de expressão, sindicalismo, feminismo, direitos dos homossexuais, defesa do ambiente, economia de mercado se tornaram consensuais entre partidos que se reclamam de esquerda e partidos que se reclamam de direita.

Tirando os partidos que se situam nas franjas do espectro democrático o consenso é alargado. Sendo que muitos desses conceitos nasceram na esquerda mas foram assimilados e avocados pela direita democrática e vice-versa. Circunstância que cria equívocos frequentes sobretudo no eixo do poder.

Poder que tem sido exercido em Portugal essencialmente por socialistas e sociais-democratas, forças que têm dificuldade em estabelecer uma linha divisória clara entre as respectivas ideologias. Tendo, para isso, encontrado neologismos como centro-esquerda e centro-direita, expressões profundamente ambíguas.

Ou seja o centro-esquerda seria uma posição de centro com uma pitadinha de esquerda e o centro-direita uma posição de centro com uma pitadinha de direita. Ficando o centro numa posição equidistante da esquerda e da direita sem qualquer pitadinha especial!

Mas, neste caso, o que se poderá de designar de esquerda propriamente dita? A esquerda que se diz antifascista e que ataca Abu Ghraib e Guantamano e Bush mas que se esquece de do Irão (fascista, homofóbico e machista), da China, de Cuba e de Fidel Castro?

Ou ser de esquerda será defender os “coitadinhos” dos muçulmanos que se sentiram ofendidos com as caricaturas de Maomé mas espezinham e humilham as suas mulheres e se matam uns aos outros em nome de Ala ou achar que defender os direitos das mulheres e a liberdade de expressão é uma forma de imperialismo?

E ser de direita será atacar o Iraque para repor a democracia e a liberdade mas esquecer o resto dos países autocráticos de região e fazer de conta que a Coreia do Norte não existe e que a China é um país democrático?

Ou será defender a economia de mercado, o primado das oportunidades e a globalização mas, simultaneamente, continuar a manter num gueto enormes áreas do globo com situações de extrema pobreza através de uma apropriação monopolista dos recursos nomeadamente do petróleo?

Ser de esquerda ou de direita existe. O que mudaram foram os paradigmas, com a esquerda a digerir os falhanços do socialismo totalitário e a direita a engolir os sapos criados pela esquerda.

Os novos paradigmas têm a ver com o consumismo galopante, as alterações climatéricas e as brutais desigualdades sociais com um número dramático de 2, 7 biliões de pessoas a viverem com 2 dólares ou menos por dia e crescentes listas de espera para comprar um Rolls-Royce Phantom que custa 412.000 dólares!

Ser de esquerda terá que passar pela defesa de uma economia de mercado “com alma” que respeite o ambiente e os recursos e promova a justiça social combatendo o consumismo desenfreado para o substituir por um bem-estar esclarecido. E, sobretudo, será defender os direitos, liberdades e garantias de toda a gente em todo lado.

Ser de direita passará, certamente, por defender a economia de mercado pura e dura concedendo ao nível das liberdades apenas o essencial. Usando o planeta como não se soubesse que para manter os actuais níveis de consumo para toda a população mundial seriam precisos 5 ou 6 planetas ou que a Coreia do Norte é bem pior que Saddam Hussein,

Lá que existem esquerda e direita isso existem.


P E D RO D A M A S C E N O

sexta-feira, outubro 12, 2007

O Iraque Iraquiano

O Iraque Iraquiano


Sendo consensual a ideia de que a invasão do Iraque, sobretudo nos termos em que se, fez foi um erro colossal da administração Bush e dos seus aliados importa, agora, olhar para o que se passa com e entre os iraquianos.

Os erros dos americanos explicam muita coisa do que se está a passar mas não explicam, de certeza, os atentados e assassínios em massa que ocorrem, todos os dias, na antiga Mesopotâmia.

Sunitas e xiitas são designações de carácter religioso. Os sunitas são o maior ramo dos muçulmanos constituindo 84% da sua totalidade e os xiitas são o segundo maior ramo de crentes do Islão constituindo 16% do total. Todos seguidores do Profeta Maomé e, obviamente, de Ala.

No Iraque, contudo, os sunitas são a minoria. Tendo sido a base do poder de Saddam Hussein e estando agora fora do seu eixo uma vez que o governo de Bagdade é de base xiita. Tudo à volta da religião numa relação inteiramente promíscua entre fé e política.

Por um lado os xiitas aliados do Irão – fundamentalista, retrógrado e autoritário – e da Al-Qaeda e por outro os sunitas que os americanos apearam do poder ao derrubarem Saddam e que agora querem usar para combater os primeiros!

Sendo imagem frequente das televisões os funerais ululantes de militantes do Hamas na faixa de Gaza abatidos pelas forças israelitas e não verificando nada disso no Iraque torna-se licito presumir que muçulmano que mata muçulmano tem cem anos de perdão.

Todos em nome de Ala e alguns com o beneplácito dos barbudos mullahs mantêm uma luta fratricida que se cifra em centenas de milhares de mortos – incluindo crianças, mulheres e idosos numa demonstração da maior barbárie que não poupa ninguém.

E são os sunitas (pelo menos uma boa parte deles) que depois de apeados do poder pelos Estados Unidos se prestam, agora, a integrar milícias armadas pelos americanos e destinadas a combater os al-qaedistas apoiados pelos xiitas e pelo Irão.

Guerra é guerra e política é política mas surpreende que seja em nome de uma religião que, teoricamente, pugna pela elevação espiritual e pela paz que se comentam as maiores atrocidades num cenário que torna a Santa Inquisição quase numa brincadeira de crianças.

Sendo, como se disse, verdade que os americanos são os grandes responsáveis pelo despoletar desta guerra civil não é menos verdade que as baixas de iraquianos causadas por outros iraquianos deixam a perder de vista as baixas iraquianas causadas por americanos.

Tudo brandindo o Corão ou Alcorão que não tem culpa de nada e muito menos do que os homens fazem daquilo que acreditam ser a palavra de Deus.

O que se passa no Iraque e entre iraquianos é a melhor prova do que os homens são capazes de fazer pelo poder e pelo controle e uma boa lição para quem, ingenuamente, pensa que a progressiva influência do Islão na Europa não é uma questão da maior actualidade e gravidade.


P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, outubro 10, 2007

Assistência ou Fraude Social?

Assistência ou Fraude Social?



Tudo na vida é relativo e não há, por conseguinte, verdades universais e indiscutíveis. Mas há, certamente, parâmetros de senso comum e abordagens da realidade que por serem multidisciplinares adquirem consistência.

Portugal – passados 33 anos do 25 de Abril – ainda continua a ter, infelizmente, um elevado grau de ileteracia em conjunção com problemas graves de marginalidade social e pobreza. Chagas que, em boa verdade, já deveriam ter sido colmatadas.

Um regime democrático que se preze deverá assegurar igualdade de oportunidades aos seus cidadãos e não pode deixar tudo ao cuidado da economia de mercado que tendo potencialidades indiscutíveis não tem vocação para assegurar o equilíbrio social indispensável à paz e ao progresso.

Paz e progresso sustentáveis que não são possíveis sem equilíbrio social. Isso mesmo devendo perceber os mais abastados sob pena de terem, cada vez mais, de se refugiar por trás das paredes de condomínios fechados e seguranças privadas.

Por isso mesmo, também, surgiu o conceito de Estado Providência, capaz de acautelar a protecção dos cidadãos mais carenciados e/ou mais desprotegidos num contexto de economia de mercado.

Em Portugal, só após Abril de 1974 se inicia o processo de institucionalização de uma rede de protecção social numa lógica universalista, construindo-se o seu primeiro patamar assente na pensão social de base não contributiva.

Até aí tudo dependia, essencialmente, de uma perspectiva de caridade tão querida do Estado Novo e tão própria dos regimes autoritários que achavam bem dar uma “coisinha” aos pobrezinhos.

Mas passados todos estes anos, Portugal continua a ter sérios problemas sociais de exclusão e de pobreza e continua a lidar com eles com a velha fórmula salazarista: a esmolazita!

Por isso é que as várias tentativas de solução desses problemas – desde o rendimento mínimo garantido ao rendimento social de inserção – sendo ideias teoricamente muito meritórias se descredibilizaram perante os portugueses e são, mesmo, motivo de chacota.

O essencial em qualquer regime de apoio social é assegurar a recuperação – quando é possível – dos cidadãos para a sua autonomia total abrindo portas à sua reintegração social e profissional.

Dar qualquer coisa deverá sempre gerar uma contrapartida. É dos livros e da sabedoria popular que “a cavalo dado não se olha o dente” e, assim, os apoios sociais nunca deveriam ser em dinheiro mas em bens alimentares, rendas de casa, contas da luz, formação profissional, procura de emprego, etc.

Os apoios só deveriam manter-se enquanto os apoiados demonstrassem inequívoca mudança de atitude e empenho de integração. Assim não sendo ficam abertas as portas para a manutenção da marginalidade à custa do Estado, ou seja de todo nós.

O dar só faz sentido se for uma ferramenta para valorizar e integrar. Doutro modo mais não será mais do que uma caridadezinha que desvaloriza e marginaliza e que, por isso mesmo, assume o carácter de fraude que só serve quem não quer trabalhar e aumenta, em vez de anular, a exclusão e a pobreza.


P E D R O D A M A S C E N O