FACE
OCULTA
GENTE POSITIVA
A muito pouco tempo do final do ano,
nada melhor do que um pouco de reflexão.
Mais de 365 dias estão prestes a
desaparecer na viragem da vida, num desfecho que convencionamos comemorar e de
designar de passagem de ano. Normalmente de forma mais ou menos elegante
conforme a disposição e a bolsa. Ao fim e ao cabo apenas mais um pouco de
consumismo que não faz mal a ninguém e ajuda o sector hoteleiro e correlativos.
Mas pode ser também, uma boa
oportunidade para fazer balanço do ano que passa a definir propósitos para o
que começa.
Porque a humanidade, os países, as
igrejas, os partidos, os clubes, etc., são, fundamentalmente, conjuntos de
pessoas que lhes dão corpo e moldam a sai imagem. Porque a célula mais pequena
de todas essas entidades ou instituições é sempre o homem. Homem que, por essa
circunstância é sempre o primeiro responsável pela sua evolução. Sempre desde o
mais alto dirigente ao mais modesto cidadão, do mais criativo artista à mais
banal criatura.
E, contudo, quando nos sentamos à
frente da televisão e vemos desfilar perante nós as grandes misérias e as
grandes glórias do nosso quotidiano temos, quase sempre, a tendência para achar
que isto ou aquilo tem pouco a ver connosco. Sejam os fundamentalistas
islâmicos, os soldados fratricidas da Bósnia, as estrelas de Hollywood, os
deputados à Assembleia da República, a família real inglesa ou mesmo os
jogadores de futebol do nosso clube preferido.
Mas, por incrível que pareça, isso
tem tudo a ver connosco.
Apenas, essa ligação existe de forma
mais longínqua ou mais próxima. Apesar de todas diferenças o que nos une –
humanos – é sempre mais do que nos separa. É a força intransponível de sermos
uma espécie animal, com as características comuns forjadas pelo material
genérico que nos confere uma identidade comum, pesem as diferenciais raciais,
geográficas e culturais.
Qualquer ser humano – por muito
poderoso, capaz ou inteligente que seja – não pode jamais substituir-se à
sociedade nem vice-versa. O homem é um ser gregário e vivendo, desde sempre, em
grupos. Condição que se tem mostrado indispensável para a sua sobrevivência.
Naturalmente que há pessoas que por razões muito diversas influenciam ou
influenciaram mais os destinos da humanidade do que outras.
Mas todos e todas a
gente influencia os destinos da sua comunidade, do seu partido, dos eu clube,
da sua terra, do seu país, da humanidade. Pela razão elementar que somos a sua
célula básica. Portugal não é apenas aquilo que o Dr. Mário Soares e o Prof.
Cavaco Silva, os deputados ou governo representam. Portugal é o somatório de
todos nós portugueses da mesma forma que a humanidade é o somatório de todos
nós portugueses da mesma forma que humanidade é o somatório de todos nós
humanos, sejam eles da Calheta do Nesquim ou da Bósnia Herzegovina.
De modo que talvez seja tempo de nos
começarmos a assumir da nossa verdadeira dimensão que é um misto de grandeza
pequenez: de grandeza porque a humanidade é impensável sem nós, de pequenez
porque não passamos de grãos de areia. Mas de grãos de areia são constituídas
grandes montanhas que nem por serem colossais os podem dispensar.
E se o mundo não é melhor é porque a
humanidade no seu conjunto, e cada um de nós, em particular, não tiveram
capacidade para fazer melhor. Verdade que se torna importante realçar numa
época em que os fenómenos de massificação (sobretudo através dos média) e de
despersonalização atingiram proporções muito preocupantes. Circunstância que
muita boa gente evoca para justificar as suas omissões e os seus erros: “para
que me vou eu chatear ou armar em sério se ninguém liga nada a isso?”
E de facto a vida moderna cada vez
mais se transforma numa correria acéfala e irresponsável para a cova. Pouca
gente pára para pensar e para se indagar sobre o que a faz correr. Tudo corre
atrás de foguetes – quando mais coloridos melhor!
E, no fundo, tudo é bem mais fácil
do que parece. Se todos nós, individualmente, lutarmos para ser cidadãos de bem
– gente positiva – a humanidade será também mais positiva e o mundo melhor. E
não adianta atirarmos pedras a quem quer que seja – político, líder religioso
ou mesmo o vizinho da porta – antes de nós próprios sermos capazes de nos
conduzir na senda da liberdade da justiça e da fraternidade. Valores que não
poderão deixar de estar presentes em qualquer sociedade que aspire a ser
civilizada.
De gente positiva é que este ano de
1995, que nasce agora, precisa.
P
E D R O D A M A S C E N O