FACE
OCULTA
Ó SENHOR COMISSÁRIO DA PSD, QUEM NOS
PODE VALER?
O trânsito caótico do Pico é uma
questão que já se tornou motivo habitual de queixas e reparos por parte de
todos os que preocupam com a segurança rodoviária por estes lados. São inúmeras
as notas, comentários e crónicas que a esse respeito têm sido escritas nos mais
variados jornais, incluindo este.
Mas, infelizmente, de pouco ou de
nada têm servido essas múltiplas incursões ao muro das lamentações. Porque tudo
tem vindo a piorar: o estado das estradas, a falta de sinalização, as
infracções e a passividade das autoridades responsáveis.
Sendo cero que Portugal detém o
recorde europeu de acidentes de viação e o condutor português o ceptro da má
condução, seria interessante saber qual q posição, em termos relativos, do
Pico. Mas será, certamente, cimeira. Apenas o baixo tráfego viário nos vale.
Os condutores, de forma geral, são
tecnicamente pouco habilitados, desconhecedores do código de estrada e
completamente alheados da realidade do trânsito. Comportam-se na estrada de
forma totalmente autista como se mais ninguém exista, fazendo da manobra
perigosa e do desrespeito pelas mais elementares regras de segurança o pão
nosso de cada dia.
Param e estacionam em qualquer lado,
invertem marcha em cima de curvas e lombas, galgam por norma os traços
contínuos, ultrapassam em curvas, entram na faixa de rodagem de marcha atrás,
conversam na estrada ocupando as faixas de rodagem na totalidade, excedem
brutalmente os limites de velocidade, etc. Isto quantas vezes, ainda por cima,
num mar de vacas que, calmamente, “pastam” no meio da estrada!
Os responsáveis por esta calamitosa
situação são muitos – desde logo os condutores, depois os departamentos
governamentais e autárquicos responsáveis pela conservação das estradas e pela
sinalização – mas a fatia de leão cabe à PSP.
Não será exagero dizer que o
trânsito no Pico está em perfeita auto-gestão: toda a gente faz mais ou menos o
que lhe apetece, quando lhe apetece e aonde lhe apetece. Conduzir, hoje, no
Pico é uma aventura de navegação à vista. Tudo pode acontecer: desde o carro
estacionado fora de mão e em cima de uma curva, aos “parques de estacionamento
privativos” de qualquer tasca ou café em ambas as faixas de rodagem, à total
falta de utilização de sinais de piscas e às vacas no meio do caminho.
Não há regras. As que aprenderam
para o exame de código ficaram “agarradas” ao papel do teste. Não há uma
linguagem de trânsito inteligível. Stop não quer dizer parar e olhar, quer
dizer andar sempre que para a frente é que é caminho!
Enquanto isso a PSP preocupa-se com
os “magnos” problemas das placas de propriedade, com o balão fora das
discotecas ou com a papelada. Não há PSP nas estradas do Pico a menos que seja
transparente.
Não exactamente para punir ou para a
caça à multa mas para ensinar, orientar, disciplinar e, se for o caso disso,
também para punir.
A maioria dos condutores quando tira
carta têm sobretudo noções teórica. Depois vai para a estrada e, se calhar, nos
primeiros tempos ainda tem alguma preocupação em respeitar o Código de Estrada
e ter os outros em atenção. Mas rapidamente se apercebe que o que aprendeu na
escola não tem qualquer correspondência na prática e que não adianta andar a
respeitar as regras que aprendeu porque ainda acaba por passar por parvo e
andar constantemente exaltado. Assim, na maior parte dos casos, acaba por se
adaptar à anarquia reinante e passa a fazer apenas pela sua vida como os outros
fazem.
E tudo isso atingiu tais proporções
que a maioria dos condutores picoenses já perdeu a noção de que é andar na
estrada de acordo com uma linguagem que tem de ser igual para todos sob pena de
ninguém se entender. Stop para mim tem de
significar a mesma coisa que para todos os outros condutores que andam na
estrada.
O trabalho a desenvolver pela força
policial responsável pelo normal funcionamento do trânsito, sobretudo em
lugares de trânsito tão deteriorado, tem de ser um trabalho de grande
persistência e determinação no sentido de começar a criar nas pessoas um outro
espírito quando se sentam por trás de um volante. Está provado que esta
evolução não vai acontecer por geração espontânea. Só acontecerá como fruto da
intervenção contínua dos agentes da autoridade que têm que vir em força pra a
estrada, sem ter como preocupação principal a punição e a multa.
Multa que muitas vezes as pessoas
não percebem porque são castigadas por coisas que, embora mal, sempre fizeram.
Que adianta uma súbita fúria de
multas de estacionamento em sítios urbanos perfeitamente inofensivos, embora
ilegais, quando as estradas estão cheias de estacionamentos extremamente
perigosos e igualmente ilegais? Que adianta multar por falta de um papel ou de
um requisito legal obscuro quando as estradas estão cheias de manobras
perigosas de todo o tipo?
No trânsito, como tudo na vida, é preciso
saber discernir o essencial do supérfluo e é imprescindível assegurar o
primeiro antes de se preocupar como segundo. No Pico já se morre a sério na
estrada e cada vez se vai morrer mais se não forem tomadas medidas urgentes,
sobretudo de carácter didáctico e disciplinador. Se os efectivos policiais que
existem no Pico não são suficientes ou competentes que se procure uma saída
adequada mas que tem que ser urgente. Cada vez mais a vida de muita gente vai
depender disso.
Ó Senhor Comissário da PSP, quem nos
pode valer?
P
E D R O D A M A S C E N O
PS
– Se o Senhor Comissário não acredita
em tudo isso venha passar uns dias incógnito nas estradas do Pico e vai ver!...