sexta-feira, dezembro 21, 2007

De Quioto a Bali

De QUIOTO A BALI
Um caminho difícil



A Conferência sobre Alterações Climatéricas promovida pelas Nações Unidas e que teve lugar em Bali (Indonésia) entre os dias 3 e 14 deste mês foi um marco importante na caminhada que se seguiu à assinatura do Tratado de Quioto que foi ratificado em 1999 e entrou em vigor em 2005.

Tratado que não foi subscrito pelos Estados Unidos apesar de este ser o país mais poluidor do mundo! E que tem como objectivo a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa alegadamente responsável pelo aquecimento global e consequentes alterações climatéricas.

A Conferencia de Bali contou a com a presença de mais de 10.000 participantes, incluindo representantes de 180 países em conjunto com observadores de organizações inter-governamentais e não governamentais e órgãos de comunicação social.

A cimeira culminou com a adopção de uma estratégia que passa por novas negociações que deverão estar concluídas até 2009 e que levarão à celebração de um novo acordo internacional sobre as alterações climáticas a partir de 2012. E foram tomadas importantes decisões de transferência de tecnologias bem como redução de emissão por desflorestação.

Considerando todas as dificuldades que a aplicação do tratado de Quioto tem tido é muito salutar que tenha sido possível realizar uma outra cimeira com o mesmo tema e de tal gabarito. E, sobretudo, que se tenha conseguido um compromisso dos Estados Unidos para redução da emissão de gases.

Portugal que participou nas negociações terá que apostar, ainda mais, nas energias renováveis e no desenvolvimento de uma economia de recursos energéticos mais eficiente no ponto de vista familiar como admitiu o responsável nacional do Ambiente.

Ou, trocando isto por miúdos, será tarefa de todos nós participar activamente na redução da emissão de gases como forma de preservar a nossa qualidade de vida que passa, sem dúvida, por uma clima estável e pela ausência das catástrofes naturais que vêm a acontecer por todo lado.

Longe vão os tempos em que as preocupações ambientais motivavam apenas grupos de militantes verdes e hippies. O ambiente é hoje um dos pontos fundamentais da agenda política mundial e foi, mesmo, a sua defesa que levou à atribuição do Nobel da Paz a Al Gore.

A caridade deve começar por casa e, por conseguinte, é imperioso que todos nós – a um nível pessoal e familiar – assumamos a nossa parte no combate à emissão indiscriminada de gases. Que pode fazer-se das maneiras mais comezinhas e simples.

Apenas alguns exemplos: use lâmpadas de baixo consumo em vez de incandescentes, isole bem a sua casa, não deixe os aparelhos de som e vídeo em stand by, diga não aos sacos de plásticos, separa e recicle o lixo, partilhe o seu carro e use mais transportes públicos, use ao mínimo embalagens desnecessárias, não lave a loiça ou tome duche com a água sempre a correr, quando sair apague a luz, etc., etc., etc.

Por cada quilowatt-hora (kWh) que pouparmos evitaremos a emissão para atmosfera de aproximadamente um quilo de CO2. Por cada alimento exótico que não consumimos poderemos ajudar a poupar elevados custos energéticos de transporte de origens longínquas. Um cidadão médio gera cerca de nove toneladas de CO2 por ano o equivalente a nove automóveis Fiat Punto.

Vamos a isso?





P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 07, 2007

O ursinho Maomé

O ursinho Maomé


Toda a polémica que surgiu em torno da condenação da professora britânica Gillian Gibbons que, em comissão de serviço no Sudão, autorizou que os seus alunos decidissem chamar Maomé a um ursinho de peluche veio, mais uma vez, confirmar o burlesco que as religiões podem assumir.

Gibbons, professora de 54 anos, demonstrou não possuir o mais elementar bom senso ao permitir, num país muçulmano como o Sudão, a utilização do nome do profeta Mohammad ou Maomé para designar um brinquedo.

Qualquer pessoa adulta e minimamente bem informada tem que saber o que tem acontecido em torno da figura do profeta do Corão nomeadamente o triste episódio em torno das caricaturas publicadas num jornal escandinavo que levou a violentas manifestações populares de muçulmanos.

Como, também, deveria saber que o Sudão é o país em que se insere Darfour (território predominantemente muçulmano), uma das zonas do globo em que acontecem atrocidades constantes com vagas sucessivas de desalojados, raptados e assassinados.

O regime do Sudão é uma ditadura liderada, com mão de ferro, por Omar al-Bashir que tomou o poder após um golpe militar em 1989 e no país coexistem dois sistemas jurídicos: o sistema jurídico tipo inglês e a lei islâmica.

O resultado da imprevidência da professora inglesa foi uma acusação de blasfémia com uma de prisão de 15 dias seguida deportação do país após ter havido manifestações de rua que chegaram a pedir a sua morte!

Vários pedidos de clemência que envolveram a comunidade internacional e o próprio primeiro-ministro britânico levaram à concessão de perdão embora o Conselho de Escolas Islâmicas do Sudão tenha pedido ao Presidente para que tal não acontecesse em nome da reputação islâmica.

Embora a pena tivesse sido “apenas” de prisão seguida de deportação chegou a ser posta a hipótese de o castigo ser de 40 chicotadas (presume-se que públicas) pela prática do crime de ter insultado o Islão.

Claro que, se entre nós, algum professor se tivesse lembrado de chamar a um ursinho Cristo ou Jesus seria, possivelmente, designado de tolo e a sua atitude seria objecto de um encolher de ombros. Mais não seria, de certeza, parangona de primeira página da imprensa mundial ou objecto de preocupação de primeiros-ministros.

Quase um mundo separa o islamismo fanático de uma ditadura do terceiro mundo e a nossa prática de brandos costumes. Mas em Roma sê romano e não é minimamente sensato viver em Cartum como quem vive em Liverpool.

O islamismo fanático é o que é: uma deturpação grosseira da espiritualidade e do sentido do divino. Mas é isso que, infelizmente, começa a condicionar as nossas vidas mesmo no mundo ocidental, europeu e civilizado e é disso que não nos podemos esquecer quando estamos no seio de países muçulmanos.

Ainda bem que a professora foi perdoada mas lá que merecia, pelo menos, 2 palmaditas no róseo rabinho britânico lá isso merecia....



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sexta-feira, novembro 23, 2007

O destempero saudável do Rei de Espanha

O destempero saudável do Rei de Espanha


A perda de “compostura” do Rei de Espanha, na última cimeira ibero-americana, que o levou a sugerir ao Presidente Chavez da Venezuela que se calasse é um daqueles episódios – aparentemente menores – da grande política que vale a pena analisar.

Quase sempre a diplomacia clássica leva, em nome de interesses invariavelmente económicos, governos e nações a engolir verdadeiros sapos. Foi assim quando da vinda do Dalai Lama a Portugal e será assim com a vinda a Lisboa do facínora Robert Mugabe.

Apenas para falar em casos muito actuais. Mas a lista em que os princípios e as convicções foram postos de lado, em nome de um qualquer pragmatismo, é interminável e mais velha do que a Salve-Rainha!

Sem questionar que Hugo Chavez tenha algum mérito é indiscutível que encarna, na perfeição, o líder terceiro-mundista e sul-americano de discursos de horas e de um populismo radical totalmente avesso à democracia como a conhecemos. Um aliado natural de Fidel Castro, seu mentor e ídolo.

Para não falar, obviamente, numa lamentável falta das mais elementares noções de educação, convivência civilizada e respeito pelos outros.

A América do Sul é uma área com enormes carências que sofreu e continua sofrer na pele a ganância do seu grande vizinho do norte e da própria Europa e para a qual o mundo democrático terá que olhar, forçosamente, com outros olhos, numa perspectiva de cooperação verdadeiramente positiva.

Aznar é um político de direita e um dos membros do grupo que apoiou George W. Bush na invasão do Iraque e que fez parte da fotografia em família tirada na base das Lajes. Mas um político democraticamente eleito e que aceitou, também democraticamente, a sua derrota e a passagem de testemunho.

Goste-se ou não de Aznar, e eu não gosto especialmente, nada no seu trajecto permite identificá-lo como um fascista. Apenas um político de direita que desempenhou um papel importante no desenvolvimento da Espanha mas que não tentou por via de qualquer manobra parlamentar ou de rua perpetuar-se no poder.

De modo que é, liminarmente, ridículo que seja um homem com o perfil de Chavez que o venha apelidar de fascista sobretudo pelo sítio aonde tal foi feito e pelo carácter pejorativo e insultuoso da afirmação, ainda por cima, proferida repetidamente.

Estava-se numa cimeira de muitos países em que o mínimo denominador comum tem de ser o respeito institucional. Doutro modo poderíamos ter tido Zapatero a chamar-lhe a ele comuna e trauliteiro de meia tigela!...

O rei vai nu e toda a gente vê isso mas ninguém diz nada porque, afinal de contas, a Venezuela tem das maiores jazidas de petróleo do mundo e o próprio Chavez passa a vida a fazer chantagem com isso já tendo falado no barril de petróleo a 200 dólares.

De modo que o destempero do Rei de Espanha foi bem saudável: esqueceu-se, por momentos, da sua realeza e saiu-lhe uma reacção humana e autêntica. O que sendo tão pouco habitual nos políticos lhe valeu um enorme apoio popular.

No fundo as pessoas apreciam a autenticidade e a coragem cívica que Juan Carlos teve. Bem-haja.


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sexta-feira, novembro 09, 2007

AÇORES - uma pérola que pode virar pedra

AÇORES
Uma pérola que pode virar pedra


A conceituada revista americana National Geographic Traveller Magazine no seu número de Novembro/Dezembro 2007 reuniu um painel de 522 especialistas em turismo e destinos de qualidade para avaliar uma selecção de 111 ilhas e arquipélagos.

A pressão turística exagerada e, também, o esforço em encontrar o equilíbrio para não prejudicar a natureza e as populações locais foram os principais pontos analisados.
Na assunção de que o turismo é um fenómeno que tanto pode cozinhar a nossa comida como pode queimar a nossa casa. Ou, por outras palavras, o turismo tanto pode ser uma fonte de desenvolvimento como pode destruir os lugares que mais amamos.

Os Açores ficaram em segundo lugar com 84 pontos na lista elaborada por esse painel, apenas ultrapassados pelas ilhas Faroe na Dinamarca! Tendo a Madeira ficado num modesto 69º lugar com apenas 61 pontos.

Um resultado, a todos os títulos impressionante, e que coloca novamente os Açores nas atenções do mundo. Tendo sido escrito que os Açores, remotos e temperados, ainda são um local pouco turístico e maravilhoso se não se tornar num destino de massas.

E também que o ecossistema do arquipélago está em grande forma. As baleias são ainda uma visão comum. A cultura local é forte e vibrante. É comum ser convidado para a casa das pessoas para jantar, ou ser recebido com uma refeição comunal durante um festival.

Da Madeira disseram que apesar da reputação como um local de turismo de alta qualidade, jardins bonitos e um cenário paradisíaco para passeios, a Ilha tem sofrido com o desenvolvimento de hotéis para massas que se espalham a partir do Funchal. Sendo esses hotéis altos um ponto negativo dado que não se integram na paisagem e são demasiado dominantes.

Evidentemente que nós, açorianos, podemos estar contentes com a posição alcançada pela nossa Região e lamentar, por outro lado, que a Madeira – com todo o esforço de investimento que lá tem sido feito – tenha ficado numa fasquia bem mais abaixo.

Mas – e isto é o principal – o que importa é tirar as devidas ilações de tudo isto.

Os Açores ficaram em tal posição não tanto pelo que tem sido feito em matéria de turismo mas pela baixa densidade turística que cá se vive e pela qualidade ambiental da nossa natureza que ainda não sofreu o impacto de um crescimento hoteleiro desenfreado.

A Madeira ficou no lugar em que ficou não porque não tenha também belezas naturais ímpares mas porque justamente tem sido alvo desse crescimento turístico e hoteleiro desenfreado que a tem descaracterizado.

Ilhas, melhor que qualquer outro tipo de destino, simbolizam e apelam a férias. A sua insularidade torna-as mais atractivas do que qualquer outra área continental já que são mundos em si mesmo, com as suas tradições, ecossistemas, culturas e paisagens.

Mas aquilo que as torna únicas – o serem micro-mundos – torna-as, também, mais vulneráveis às pressões demográficas e, sobretudo, sensíveis a um turismo de massas que, inevitavelmente, as descaracteriza e lhes retira a sua magia própria.

Por conseguinte o desenvolvimento turístico dos Açores terá que ser feito com todos os cuidados ambientais e tipológicos respeitando integralmente as nossas escala e identidade sem esquecer a lição dos erros dos outros.

O nosso arquipélago é, comprovadamente, uma pérola que está a ganhar progressiva notoriedade internacional mas que poderá virar pedra como outras já viraram se não soubermos ler os sinais dos tempos e acatar as exigências de um mercado altamente competitivo e selectivo.



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sexta-feira, outubro 26, 2007

Existe ser de Esquerda ou de Direita?

Existe ser de Esquerda ou de Direita?



Ameaça tornar-se uma discussão crónica na sociedade portuguesa a questão da distinção entre esquerda e direita ou mesmo se esses conceitos ainda existem. Com motivações diferentes são vários os sectores que defendem que tudo isso é passado.

Tudo talvez porque nas sociedades europeias conceitos como democracia, liberdade de expressão, sindicalismo, feminismo, direitos dos homossexuais, defesa do ambiente, economia de mercado se tornaram consensuais entre partidos que se reclamam de esquerda e partidos que se reclamam de direita.

Tirando os partidos que se situam nas franjas do espectro democrático o consenso é alargado. Sendo que muitos desses conceitos nasceram na esquerda mas foram assimilados e avocados pela direita democrática e vice-versa. Circunstância que cria equívocos frequentes sobretudo no eixo do poder.

Poder que tem sido exercido em Portugal essencialmente por socialistas e sociais-democratas, forças que têm dificuldade em estabelecer uma linha divisória clara entre as respectivas ideologias. Tendo, para isso, encontrado neologismos como centro-esquerda e centro-direita, expressões profundamente ambíguas.

Ou seja o centro-esquerda seria uma posição de centro com uma pitadinha de esquerda e o centro-direita uma posição de centro com uma pitadinha de direita. Ficando o centro numa posição equidistante da esquerda e da direita sem qualquer pitadinha especial!

Mas, neste caso, o que se poderá de designar de esquerda propriamente dita? A esquerda que se diz antifascista e que ataca Abu Ghraib e Guantamano e Bush mas que se esquece de do Irão (fascista, homofóbico e machista), da China, de Cuba e de Fidel Castro?

Ou ser de esquerda será defender os “coitadinhos” dos muçulmanos que se sentiram ofendidos com as caricaturas de Maomé mas espezinham e humilham as suas mulheres e se matam uns aos outros em nome de Ala ou achar que defender os direitos das mulheres e a liberdade de expressão é uma forma de imperialismo?

E ser de direita será atacar o Iraque para repor a democracia e a liberdade mas esquecer o resto dos países autocráticos de região e fazer de conta que a Coreia do Norte não existe e que a China é um país democrático?

Ou será defender a economia de mercado, o primado das oportunidades e a globalização mas, simultaneamente, continuar a manter num gueto enormes áreas do globo com situações de extrema pobreza através de uma apropriação monopolista dos recursos nomeadamente do petróleo?

Ser de esquerda ou de direita existe. O que mudaram foram os paradigmas, com a esquerda a digerir os falhanços do socialismo totalitário e a direita a engolir os sapos criados pela esquerda.

Os novos paradigmas têm a ver com o consumismo galopante, as alterações climatéricas e as brutais desigualdades sociais com um número dramático de 2, 7 biliões de pessoas a viverem com 2 dólares ou menos por dia e crescentes listas de espera para comprar um Rolls-Royce Phantom que custa 412.000 dólares!

Ser de esquerda terá que passar pela defesa de uma economia de mercado “com alma” que respeite o ambiente e os recursos e promova a justiça social combatendo o consumismo desenfreado para o substituir por um bem-estar esclarecido. E, sobretudo, será defender os direitos, liberdades e garantias de toda a gente em todo lado.

Ser de direita passará, certamente, por defender a economia de mercado pura e dura concedendo ao nível das liberdades apenas o essencial. Usando o planeta como não se soubesse que para manter os actuais níveis de consumo para toda a população mundial seriam precisos 5 ou 6 planetas ou que a Coreia do Norte é bem pior que Saddam Hussein,

Lá que existem esquerda e direita isso existem.


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sexta-feira, outubro 12, 2007

O Iraque Iraquiano

O Iraque Iraquiano


Sendo consensual a ideia de que a invasão do Iraque, sobretudo nos termos em que se, fez foi um erro colossal da administração Bush e dos seus aliados importa, agora, olhar para o que se passa com e entre os iraquianos.

Os erros dos americanos explicam muita coisa do que se está a passar mas não explicam, de certeza, os atentados e assassínios em massa que ocorrem, todos os dias, na antiga Mesopotâmia.

Sunitas e xiitas são designações de carácter religioso. Os sunitas são o maior ramo dos muçulmanos constituindo 84% da sua totalidade e os xiitas são o segundo maior ramo de crentes do Islão constituindo 16% do total. Todos seguidores do Profeta Maomé e, obviamente, de Ala.

No Iraque, contudo, os sunitas são a minoria. Tendo sido a base do poder de Saddam Hussein e estando agora fora do seu eixo uma vez que o governo de Bagdade é de base xiita. Tudo à volta da religião numa relação inteiramente promíscua entre fé e política.

Por um lado os xiitas aliados do Irão – fundamentalista, retrógrado e autoritário – e da Al-Qaeda e por outro os sunitas que os americanos apearam do poder ao derrubarem Saddam e que agora querem usar para combater os primeiros!

Sendo imagem frequente das televisões os funerais ululantes de militantes do Hamas na faixa de Gaza abatidos pelas forças israelitas e não verificando nada disso no Iraque torna-se licito presumir que muçulmano que mata muçulmano tem cem anos de perdão.

Todos em nome de Ala e alguns com o beneplácito dos barbudos mullahs mantêm uma luta fratricida que se cifra em centenas de milhares de mortos – incluindo crianças, mulheres e idosos numa demonstração da maior barbárie que não poupa ninguém.

E são os sunitas (pelo menos uma boa parte deles) que depois de apeados do poder pelos Estados Unidos se prestam, agora, a integrar milícias armadas pelos americanos e destinadas a combater os al-qaedistas apoiados pelos xiitas e pelo Irão.

Guerra é guerra e política é política mas surpreende que seja em nome de uma religião que, teoricamente, pugna pela elevação espiritual e pela paz que se comentam as maiores atrocidades num cenário que torna a Santa Inquisição quase numa brincadeira de crianças.

Sendo, como se disse, verdade que os americanos são os grandes responsáveis pelo despoletar desta guerra civil não é menos verdade que as baixas de iraquianos causadas por outros iraquianos deixam a perder de vista as baixas iraquianas causadas por americanos.

Tudo brandindo o Corão ou Alcorão que não tem culpa de nada e muito menos do que os homens fazem daquilo que acreditam ser a palavra de Deus.

O que se passa no Iraque e entre iraquianos é a melhor prova do que os homens são capazes de fazer pelo poder e pelo controle e uma boa lição para quem, ingenuamente, pensa que a progressiva influência do Islão na Europa não é uma questão da maior actualidade e gravidade.


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quarta-feira, outubro 10, 2007

Assistência ou Fraude Social?

Assistência ou Fraude Social?



Tudo na vida é relativo e não há, por conseguinte, verdades universais e indiscutíveis. Mas há, certamente, parâmetros de senso comum e abordagens da realidade que por serem multidisciplinares adquirem consistência.

Portugal – passados 33 anos do 25 de Abril – ainda continua a ter, infelizmente, um elevado grau de ileteracia em conjunção com problemas graves de marginalidade social e pobreza. Chagas que, em boa verdade, já deveriam ter sido colmatadas.

Um regime democrático que se preze deverá assegurar igualdade de oportunidades aos seus cidadãos e não pode deixar tudo ao cuidado da economia de mercado que tendo potencialidades indiscutíveis não tem vocação para assegurar o equilíbrio social indispensável à paz e ao progresso.

Paz e progresso sustentáveis que não são possíveis sem equilíbrio social. Isso mesmo devendo perceber os mais abastados sob pena de terem, cada vez mais, de se refugiar por trás das paredes de condomínios fechados e seguranças privadas.

Por isso mesmo, também, surgiu o conceito de Estado Providência, capaz de acautelar a protecção dos cidadãos mais carenciados e/ou mais desprotegidos num contexto de economia de mercado.

Em Portugal, só após Abril de 1974 se inicia o processo de institucionalização de uma rede de protecção social numa lógica universalista, construindo-se o seu primeiro patamar assente na pensão social de base não contributiva.

Até aí tudo dependia, essencialmente, de uma perspectiva de caridade tão querida do Estado Novo e tão própria dos regimes autoritários que achavam bem dar uma “coisinha” aos pobrezinhos.

Mas passados todos estes anos, Portugal continua a ter sérios problemas sociais de exclusão e de pobreza e continua a lidar com eles com a velha fórmula salazarista: a esmolazita!

Por isso é que as várias tentativas de solução desses problemas – desde o rendimento mínimo garantido ao rendimento social de inserção – sendo ideias teoricamente muito meritórias se descredibilizaram perante os portugueses e são, mesmo, motivo de chacota.

O essencial em qualquer regime de apoio social é assegurar a recuperação – quando é possível – dos cidadãos para a sua autonomia total abrindo portas à sua reintegração social e profissional.

Dar qualquer coisa deverá sempre gerar uma contrapartida. É dos livros e da sabedoria popular que “a cavalo dado não se olha o dente” e, assim, os apoios sociais nunca deveriam ser em dinheiro mas em bens alimentares, rendas de casa, contas da luz, formação profissional, procura de emprego, etc.

Os apoios só deveriam manter-se enquanto os apoiados demonstrassem inequívoca mudança de atitude e empenho de integração. Assim não sendo ficam abertas as portas para a manutenção da marginalidade à custa do Estado, ou seja de todo nós.

O dar só faz sentido se for uma ferramenta para valorizar e integrar. Doutro modo mais não será mais do que uma caridadezinha que desvaloriza e marginaliza e que, por isso mesmo, assume o carácter de fraude que só serve quem não quer trabalhar e aumenta, em vez de anular, a exclusão e a pobreza.


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sexta-feira, setembro 14, 2007

A MAGNA QUESTÃO DOS LIXOS

Antes de mais, há que ter contenção na produção de resíduos.




A MAGNA QUESTÃO DOS LIXOS
A quem de direito


Avizinha-se, a passos largos e por imperativo legal, o encerramento das lixeiras tradicionais existentes na Ilha do Pico. Passando a poder contar-se apenas com um aterro sanitário.

E tanto quanto é possível saber haverá uma política de custos acessível para o depósito de lixo no aterro, tentando penalizar os utentes o menos possível. Dois objectivos de carácter fortemente positivo.

Mas tais objectivos poderão não servir de nada (ou pelo menos de muito pouco) se as condições a montante do aterro não foram devidamente acauteladas. Nomeadamente o desencadeamento de acções para a educação ambiental e uma fiscalização efectiva e fortemente dissuasora.

Sendo pacífico que a política dos 3 R’s – reduzir, reutilizar e reciclar – é a única forma de se conseguir controlar o verdadeiro flagelo dos lixos. E que essa política para ser eficaz terá que contar com a participação activa das populações que para o efeito terão de ser, devidamente e prolongadamente, esclarecidas.

A cultura consumista do mundo moderno e o homem são, porventura, os maiores inimigos do ambiente Qualquer aterro sanitário é inevitavelmente finito sobretudo se os 3 R’s não forem devidamente assegurados:

Reduzir a quantidade de lixo produzido. Os consumidores devem adoptar comportamentos verdes, adquirindo materiais resistentes, que apresentem um maior tempo de vida útil, rejeitando tudo o que for de usar uma vez só.

Por exemplo adquirindo toalhas e guardanapos de pano, em vez de papel, evitar comprar rolos de alumínio e de plástico, evitar o uso de loiça de papel ou de plástico, espalmar as embalagens de forma a conseguir-se uma redução significativa do volume de resíduos.


Reutilizar significa utilizar mais do que uma vez um determinado produto. Com um pouco de imaginação e criatividade podemos reutilizar materiais, dando-lhes outra funcionalidade. Uma simples lata de rebuçados pode ser aproveitada para colocar canetas, material de costura ou para decoração.

As garrafas vazias de vidro ou plástico podem ser utilizadas para armazenar outras bebidas, as embalagens podem ser aproveitadas para outros fins, os electrodomésticos, os móveis, os brinquedos podem ser doados a pessoas carenciadas ou vendidos como objectos usados. As revistas, os jornais e os livros podem ser entregues em escolas, instituições, bibliotecas, centros de convívio e hospitais.

Reciclar é um processo de transformação dos resíduos em novos produtos ou matérias-primas. Materiais como o papel, o plástico, o metal, a borracha, o vidro e a madeira, que já não satisfaçam as necessidades do seu possuidor devem ser separados selectivamente. Estes materiais entrarão assim no circuito de reciclagem, dando origem a novos objectos que, de outra forma, seriam descartados como lixo;

Práticas que se não forem asseguradas irão tornar insuficiente a nova política a ser adoptada, o mesmo acontecendo se a fiscalização continuar a ser o que tem sido ao longo dos anos: inexistente. Sobretudo conhecendo, como conhecemos, os hábitos existentes de deitar lixo em todo e qualquer lado

De boas intenções está o inferno cheio e não será o encerramento das lixeiras a céu aberto que irá, por si só, resolver o problema sendo mesmo possível que passem a proliferar, ainda mais, as pequenas lixeiras por todo o lado.

Eu diria que o ponto de partida deveria ser o dos 5 R’s: Reeducar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Reprimir. Sem isso poderemos estar, apenas, a brandir uma faca de dois gumes em nome de uma política de fachada.




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sexta-feira, agosto 31, 2007

ECOLOGIA E ECONOMIA

A Natureza é o nosso verdadeiro capital
E. Schumacher



ECOLOGIA E ECONOMIA


Apesar da crescente sensibilização da opinião pública para as questões do ambiente nomeadamente a propósito das, cada vez mais visíveis, consequências do aquecimento global continua a ver-se a defesa do ambiente como um inimigo do progresso económico.

Como se ecologia e economia fossem incompatíveis ou na melhor das hipóteses, antagónicos. Mas o que passa, na realidade, é precisamente o oposto: o ambiente – a nossa casa global – é base de uma economia saudável mas, sobretudo, da nossa sobrevivência.

Tendo as palavras ecologia e economia a mesma raiz Grega – oikos ou seja casa – estão intimamente relacionadas. Significando ecologia, literalmente, o conhecimento da casa e economia, por outro lado, a gestão da casa.

Não se vislumbrando como é possível gerir em condições uma casa sem a conhecer previamente. Não fazendo sentido, também, que seja possível gerir bem uma economia mundial sem conhecer, em profundidade, o planeta.

E as provas, para os mais cépticos, abundam. Sendo já bem perceptível uma crescente insegurança de pessoas e bens directamente imputável às alterações climáticas e a uma política económica de delapidação sistemáticas dos recursos naturais.

A economia não pode explorar agressivamente esses recursos e depois procurar, atabalhoadamente, compensar os prejuízos mediante a tomada de medidas avulsos que apenas vêm minorar o problema.

O problema de fundo tem a ver com a convicção – ainda generalizada – de que o ambiente e o os recursos naturais estão ali, à nossa disposição, podendo ser utilizados e desbaratados para que as metas de crescimento da economia, sobretudo das grandes multinacionais, sejam atingidas.

Uma economia que cresce à custa do definhar da ecologia é uma economia perigosamente não sustentável e a primeira causa do aquecimento global. Sendo que valor (o Deus da economia) não é apenas dinheiro mas deverá ser, sobretudo, bem-estar e qualidade de vida.

Um futuro sustentável só será possível (sobretudo para os nossos filhos) se conseguirmos resolver o problema das mudanças climatéricas protegendo e mantendo ecossistemas que são indispensáveis à vida. Como, por exemplo, as florestas da chuva e a agricultura biológica.

Mas o caso dos Açores é exemplar de tudo isto. Toda a gente já percebeu que o turismo é o nosso futuro em termos de desenvolvimento e que as nossas condições naturais são a galinha de ovos de ouro. Não fazendo, por conseguinte, qualquer sentido que se mate a galinha!

Um excelente exemplo da ligação e cooperação que tem que existir entre ecologia e economia. Se assim não for teremos tempos negros para economia regional e poremos em causa a nossa própria saúde /bem-estar.


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sábado, agosto 18, 2007

EDUCAÇÃO E RESILIÊNCIA

Resiliência é a capacidade de resistir a situações adversas (choque, stress, etc.)
Wikipédia


EDUCAÇÃO E RESILIÊNCIA




Resiliência é um daqueles “palavrões” que é fundamental reter apesar do seu uso, por incrível que pareça, não fazer parte do nosso quotidiano sobretudo em contextos educativos.

A resiliência – essa capacidade de enfrentar as dificuldades e a adversidade – é uma ferramenta essencial para garantir a sobrevivência sendo esta, por seu turno, o instinto mais forte dos seres vivos.

A vida não é fácil, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, bastando apenas pensar nas secas e nas inundações que têm atingido o globo e criado tantas situações de precariedade e morte.

O stress, outro palavrão, mas este muito em uso, vem precisamente atestar as dificuldades da vida moderna. Que não sendo de sobrevivência imediata são, sobretudo, de qualidade de vida e de saúde.

Possivelmente, mais do nunca, a resiliência é um factor de sucesso e de felicidade num mundo altamente competitivo em que o ser humano se afasta do seu habitat natural para se integrar nas selvas de betão.

O êxodo da periferia para os centros urbanos é um fenómeno que, pelo menos em Portugal, não parece ter entrado em decréscimo. E viver em grandes centros urbanos é um desafio pesado em termos de qualidade de vida e de capacidade de resistência.

Todas as estatísticas de saúde aí estão a apontar o stress como grande factor provocador de doença e de morte, desde os acidentes cardiovasculares até às depressões não esquecendo, naturalmente, o flagelo do tabagismo e da droga.

O ser humano parece desprovido de ferramentas essenciais de defesa e sobrevivência num mundo como o nosso. Não morremos (pelo menos deste lado do mundo) tanto de fome ou de frio mas morremos – como tordos – de enfartos, cancros e outros mimos.

Circunstância que torna ainda menos compreensível a ausência da palavra resiliência das nossa famílias e das nossas escolas.

Os pais, talvez por falta de tempo e sentimentos de culpa, criam os filhos na convicção de que são uma espécie de génios de Aladine cuja função principal é satisfazer todos os seus desejos e tolerarem todas as suas birras e desaforos.

As crianças crescem, por conseguinte, com expectativas completamente irrealistas em relação ao futuro numa visão quase exclusivamente hedonista (o prazer pessoal como bem supremo) da vida. Para, depois, serem confrontados com uma realidade dura e altamente competitiva.

Nas escolas, com outros matizes, a situação é idêntica. Os alunos não são minimamente disciplinados nem adquirem competências cívicas. Voam por currículos frequentemente desprovidos de qualquer aplicação prática para aterrarem, de súbito, num mundo que não tem nada de banda desenhada ou de jogos de computadores.

Aterrando numa sociedade de consumo, pura e dura. Sendo organismos sem defesas que o facilitismo e mimo dos pais e o laxismo das escolas eliminaram. As defesas criam-se pela luta e pelo estímulo, nunca pela protecção excessiva e pela falta de disciplina.

A resiliência adquire-se pelo sacrifício, pela disciplina e pelo estímulo. Educação e resiliência têm, por isso, que ser as duas faces da mesma moeda. Só assim estaremos aptos a viver – pelo menos com alguma saúde e qualidade – o nosso futuro incerto.



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sexta-feira, agosto 03, 2007

REPÚBLICA POPULAR DA MADEIRA

quando a legislação não é aplicada, os cidadãos podem recorrer a instâncias próprias, ao sistema de Justiça”
Presidente da República a propósito da não aplicação da leia da IVG na Madeira




REPÚBLICA POPULAR DA MADEIRA
Um caso para estudo



Compete ao Presidente da República ser “garante …. do regular funcionamento das instituições democráticas” – artigo 120.º da Constituição da República Portuguesa.

A não aplicação de uma lei da República, nomeadamente, quando consequência de um referendo nacional (a forma mais democrática de decidir) atinge claramente esse regular funcionamento.

Mesmo que o Presidente da República seja, no seu íntimo, contra a lei da Interrupçao Voluntária da Gravidez (IVG) não pode remeter os cidadãos para os tribunais não cumprindo o seu dever constitucional. É seu dever e competência assegurar que o regime democrático e a lei funcionem para todos.

Naturalmente que o Presidente do Governo Regional da Madeira tem todo direito de discordar da lei e teve toda a liberdade para o expressar durante a campanha do referendo. Não tem, nem pode ter, todavia o direito de decidir não aplicar uma lei que seguiu toda a tramitação legal e constitucional.

E muito menos pode um Secretário Regional vir afirmar que o “Governo da República não pode impor colonialmente” essa lei. Para além de um destempero de linguagem é uma afirmação que põe em causa a unidade do próprio Estado.

Portugal e a Madeira – com os elevados niveis de iliteracia e de incultura que se lhe conhecem – precisam, acima de tudo, de gente com cultura democrática e boa educação. Gente que nos traga para cima e que faça o povo acreditar na política e nos políticos.

Gente que nos venha ensinar a sermos mais tolerantes e correctos porque o exemplo tem de vir de cima. Se altos responsáveis políticos são os primeiros a cair em peixeiradas, na falta de respeito e na irresponsabilidade o que se poderá esperar do povo mais simples?

Para isso já tínhamos o futebol e os seus caciques com as suas intermináveis novelas. Mas futebol é futebol e não passa disso mesmo: um negócio milionário que vive à custa da peixeirada, da intriga e da corrupção. Mas que só compra quem quer.

O caso da Madeira é, indiscutivelmente, um caso para estudo em que uma região da periferia europeia tem uma classe dirigente que pede meças a qualquer uma das inúmeras repúblicas das Caraíbas de cujo nome nem nos lembramos. Em que políticos se demitem para se recandidatar tendo para governar as mesmas condições porque se demitiram!

A Madeira e Portugal merecem e precisam de melhor.

O que está em causa, no fundo, é muito mais do que a não aplicação da lei da IVG e os direitos das mulheres madeirenses. É o próprio regular funcionamento das instituições democráticas e a credibilidade do regime no seu todo.


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quinta-feira, julho 19, 2007

A 2ª Guerra Mundial existiu?

O 25 de Abril foi responsável pelo fim da 2ª Guerra Mundial
finalista de Escola Profissional





A 2ª Guerra Mundial existiu?


Desconhecer que duas bombas nucleares foram usadas na 2ª Guerra Mundial é muito mau mas pensar que o 25 de Abril foi o responsável pelo fim do conflito é imperdoável.

Sobretudo tratando-se de um aluno que termina um curso com equivalência ao 12º ano de escolaridade. Não sendo o conhecimento livresco uma competência indispensável à felicidade há défices de conhecimento que são imperdoáveis.

Há marcos fundamentais na história da humanidade que é imperioso conhecer sob pena de estarmos na senda dos mesmos erros que levaram a atrocidades sem conta.

Como é o caso do regime nazi que exterminou milhões de pessoas e se propunha conquistar o mundo em nome de um ideal racista e totalitário. Naturalmente que quem não sabe das bombas atómicas e quem libertou a Europa desconhece, em absoluto, o nazismo.

E desconhecer o nazismo é não saber do que é capaz o ser humano. Há memórias que não se podem perder sob pena de estarem criadas as condições para se repetirem os campos de concentração nazis, os extermínios no Ruanda ou o genocídio em Darfour.

Muita gente se preocupa, e bem, com a ileteracia dos nossos jovens e com o insucesso em matemática nas escolas portuguesas. Mas a inexistência de consciência cívica baseada em memórias colectivas que deveriam ser avivadas no dia a dia pode ser trágico.

Sendo, a propósito, um bom exemplo o que se passa na nossa Europa com o fundamentalismo religioso islâmico que, como uma sombra negra, se estende sobre as nossas comunidades criando o medo e condicionando a nossa vida.

Como é possível que jovens com o 12º ano de escolaridades sejam tão profundamente ignorantes? Como é possível esperar que esses mesmos jovens apreendam os sinais do tempo e assumam uma atitude cívica crítica?

Ninguém precisa de saber os nomes das estações de caminho de ferro de Portugal nem os afluentes dos rios do nosso paraíso à beira mar plantado mas á fundamental que toda a gente saiba o que foi o nazismo e o salazarismo, que o ser humano já usou a bomba atómica e que, neste preciso momento, morrem diariamente milhares de pessoas à fome e em conflitos armados.

Como também é indispensável conhecer os gravíssimos problemas ambientais com que nos defrontamos e estão a determinar alterações climáticas que, no limite, poderão pôr em causa a nossa própria sobrevivência.

Será que a 2ª Guerra Mundial existiu?



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sexta-feira, junho 22, 2007

O cúmulo do desaforo

Um muçulmano, com o tempo, vai deixar de ser muçulmano, não no sentido religioso, que isso é do domínio da fé, pessoal, mas no sentido político, pois será só cidadão do Estado.
Muhammed Ali Jinnah


O cúmulo do desaforo


A religião islâmica é, rigorosamente, igual a qualquer outra em termos de direito à sua existência. Não devendo, por conseguinte ter a pretensão de se arrogar a direitos especiais.

Como resulta bem claro da citação acima referida da autoria de Muhammed Ali Jinnah, o próprio “pai” da nação Paquistanesa, a fé é a uma questão de foro exclusivamente pessoal que jamais deveria estender-se ao Estado que tem de ser de todos os cidadãos.

Como é possível, então, que o Ministro dos Assuntos Religiosos (?) do Paquistão se tenha atrevido vir publicamente ameaçar de morte o cidadão britânico Salman Rushdie pelo “crime” de ter sido condecorado pela Rainha Isabel II de Inglaterra?!

Como é possível que um membro, embora titular de uma pasta atípica, de um governo de um país que é membro das Nações Unidas se arrogue o direito de pôr em causa – da forma como o fez – um decisão soberana de um país soberano com base em argumentos de carácter estritamente confessional e por alegado delito de opinião?

Pondo, desse modo, em causa a liberdade de expressão e o direito à produção artística sem censura. Tudo o que Salman Rushdie, prestigiado escritor britânico de origem indiana, fez foi exprimir, na sua escrita, uma perspectiva crítica sobre a religião muçulmana.

Ou fosse sobre o que fosse. Esse direito é que melhor consubstancia a matriz da liberdade e a essência de um estado democrático que não pode tolerar que, em nome do que quer que seja, se venha pôr em causa – ainda por cima de forma inteiramente terrorista e trauliteira – os seus próprios fundamentos.

Quem que é o senhor Ejaz-ul-Haq, sombrio ministro de um governo não democrático, julga que é para se arrogar ao direito de por em causa o regular funcionamento das instituições democráticas do mais antiga democracia europeia?


Porventura o representante de Ala na terra? E, mesmo admitindo que o seja, teve a oportunidade de conversar com Ele para saber a Sua opinião sobre a bondade de uma condecoração concedida pela monarca britânica no exercício de um poder legítimo?

E aonde estavam agora Blair e Bush? Debaixo da mesa? Por razões geo – estratégicas ou simplesmente por falta de coragem cívica e por temor pelo dito mundo islâmico?

O Islamismo é uma das três religiões monoteístas que teve a sua origem em Abraão, o pai também comum ao Judaísmo e ao Cristianismo, e que – como todas as outras e não mais nem um milímetro – deve merecer o nosso inteiro respeito.

Mas apenas enquanto se mantiver na sua estrita condição de fé religiosa e de instrumento de concórdia e elevação espiritual do homem.

Ao ultrapassar esse limites e ao tentar impor, pela ameaça e pela violência, ao mundo laico e democrático a sua visão radical e intolerante torna-se numa força que é preciso combater com a mesma determinação com que teve de se combater o regime nazi.

Pobre Salman Rushdie! Depois da condenação à morte pelo Ayatollah Komenei, só te faltava mais esta. Já nem sequer se pode ser promovido a “sir” em paz!

Acorda Reino Unido, acorda Europa!


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sexta-feira, junho 08, 2007

America de Todos Nós

América de Todos Nós



Nos tempos que correm é políticamente correcto dizer mal dos Estados Unidos da América do Norte. Tendo como temas principais a guerra no Iraque e o presidente George W. Bush.

Dois temas, indissociavelmente, ligados aos sectores políticos e religiosos norte-americanos mais conservadores e à sua visão americo-cêntrica do mundo, obcecada com o terror e com o eixo do mal.

Bem lá para trás ficaram o desembarque na Normandia e a libertação europeia do jugo nazi bem como o Eldorado – a terra das oportunidades – para tantos milhões de emigrantes que, ao fim e ao cabo, moldaram a cultura e a vida daquele país.

Um país imenso (9.363.123 quilómetros quadrados) de 300 milhões de habitantes que tem de tudo um pouco. Desde minoras étnicas provenientes de todas as partes do globo a um passado de escravidão e quase extinção dos índios mas também a uma tradição de liberdades democráticas.

Um país que vai do Atlântico ao Pacífico e do Canadá à América do Sul e que é o maior consumidor mundial de bens e de recursos naturais. Um país virado para o crescimento permanente da economia e com o maior número de multimilionários do mundo.

O país da abundância e do esbanjamento mas também de situações de grande pobreza e exclusão. O país dos prémios nobeis e de Holywood mas também o pai da fast-food e da obesidade – a grande pandemia do século XXI.

A terra da Ku Klux Klan mas também dos hippies das flores, do amor livre e da não-violência. Pátria do McCarthy da caça às bruxas mas também de Luther King e John F Kennedy.

A América não é apenas um distante e rico país do continente americano. É um pouco obra de todos nós, incluindo os milhões (?) de açorianos e seus descendentes que lá se radicaram da costa leste até à Califórnia.


Os Estados Unidos representam bem o que de melhor e pior têm o homem. Um país novo, um caldo de efervescente de culturas e um alheamento quase total ao que se passa no resto mundo.

Um país extenso aonde cabem todo o tipo de destinos, de paisagens e de climas. Um país que demora tanto a atravessar de lado a lado como demora a ir dos Açores a Bóston.

Tentar reduzir a realidade fascinante de tal país a uma determinada conjectura política é o mesmo que tentar meter o Rossio na Betesga.

Talvez por tudo isso, talvez pelos excessos hegemónicos que tem assumido e pelos amargos de boca que tem tido quando tenta intervir em realidades tão longínquas quão diferentes como o Vietname e o Iraque, possa vir a dar um grande salto qualitativo.

O resultado das próximas eleições presidenciais poderá ser mesmo o pontapé de saída para uma ruptura com o lado conservador, racista e ultra religioso e para o ressurgimento de uma nova cultura política.

A América do Iraque e de Bush está moribunda. Que viva agora uma América esclarecida que saiba abraçar as grandes causas da paz, do combate à pobreza e à exclusão e da defesa do ambiente.

América!


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sexta-feira, maio 25, 2007

T R I A N G U L O - Uma realidade incontornável

São Jorge, Pico e Faial, integram-se no Grupo Central, formando, devido à sua disposição geográfica, “as Ilhas do Triângulo”



T R I Â N G U L O
Uma realidade incontornável


Não perceber a centralidade do Triângulo com as suas duas getways, a esplendorosa diversidade de três ilhas vizinhas e uma multiplicidade de produtos turísticos que já oferece; é não ter percebido nada da geografia turística da Região.

Tentar agarrar-se a uma tri-polaridade defunta – mas, infelizmente, ainda não enterrada – é não se ter conformado com o novo ordenamento jurídico e político trazido pela Autonomia e persistir em manter privilégios indevidos.

O Triângulo é, hoje, um sub-destino turístico açoriano em visível crescimento/afirmação e um objectivo estratégico essencial para o desenvolvimento do conjunto de ilhas que o integram.

É indispensável que haja, agora, por parte do Governo, deputados e autarquias desta área e do sector empresarial das três ilhas uma união de esforços que venha dotar este arquipélago-dentro-do-arquipélago dos necessários meios humanos, financeiros e técnicos.

Saúda-se, por isso, a iniciativa da Associação de Município do Triângulo e da Adeliaçor de ter encomendado um Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo no Triângulo cuja apresentação pública se aguarda com elevada expectativa.

É fundamental encontrar uma actividade económica complementar à agricultura e às pescas, capaz de captar população e investimento e de lançar toda esta zona num novo ciclo de desenvolvimento.

Objectivo que só será conseguido mediante a conceitualização de um Modelo Turístico e a definição de uma estratégia para o Triângulo que visem assegurar o seu posicionamento como destino turístico.

Sem desvalorizar a divulgação institucional dos Açores que tem sido uma aposta inequívoca do Governo Regional importa, agora, criar a marca Triângulo com uma imagem forte que passe a beneficiar, ainda mais, dessa divulgação.

Com uma população que ronda os 39.510 habitantes e uma área de cerca 861,7 km2 o Triângulo tem condições para corporizar uma aposta num turismo não massificado que passa por uma baixa densidade de construção e por um enquadramento ambiental de nível superior.

Essa será mesmo uma das mais hábeis e criativas formas de contrariar as graves assimetrias que se sentem na Região promovendo a descompressão dos centros urbanos e evitando erros – hoje perfeitamente claros – cometidos noutras áreas do país e do estrangeiro.

Os Açores – mesmo que se quisesse – não têm condições objectivas para um turismo de massas que requer como produto de base o sol/praia que não temos. Assim sendo só fará sentido investir um turismo assente em segmentações que visem nichos de mercado bem definidos.

Sendo a Natureza o nosso produto nuclear toda a estratégia para o Triângulo terá que assentar na definição de nichos de mercados com ele fortemente relacionados. Devendo dessa estratégia nascer uma política de rigor na provação de projectos na área do turismo, quer a nível do governo quer a nível das autarquias.

Que permita garantir qualidade à marca Triângulo. Qualidade que tem a ver com bons projectos mas, também e muito (recorde-se), com serviço e excelências ambiental e paisagística

O Triângulo é, hoje, nos Açores uma realidade incontornável.


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sexta-feira, maio 11, 2007

A dança das malas (perversidade de monopólio)

A dança das malas
(Perversidades de monopólio)


A TAP sempre primou por falta de profissionalismo na sua maneira de lidar com o público. Talvez pelos seus funcionários/as se assumirem como uma elite com a correlativa arrogância.

Provavelmente toda a gente tem uma história de má memória ocorrida com pessoal da transportadora nacional e de bandeira. E toda a gente tem, também, memórias de secas enormes em aeroportos sem qualquer informação.

E, na mesma linha, muita gente (a viajar na TAP) terá decerto tido a experiência de chegar ao destino sem malas. Possivelmente em circuntâncias inverosimeis como malas despachadas juntas chegando umas e outras não.

Tudo isso faz parte do património de uma companhia que sempre soube tirar o melhor proveito de uma situação de monopólio sobretudo nas ligações para os Açores.

Vindo tudo isto a propósito dos recordes de malas que não chegam ao seu destino juntamente com os respectivos proprietários que vêm ocorrendo no aeroporto da Horta em voos provenientes de Lisboa.

Já era relativamente comum esse tipo de situações mas no último ano não há voo em que não hajam bagagens que não chegam. Problema que afecta os locais mas que sobretudo se torna particularmente desagradável para os visitantes.

Sendo o turismo uma actividade transversal cujo sucesso depende de um conjunto de factores o assunto assume proporções deveras preocupantes. Não é difícil imaginar a frustração de quem vem passar, entre nós, 4 ou 5 dias e chega sem a sua bagagem.

É uma marca que fica e que vem descredibilizar o destino. O problema das acessibilidades é crucial para o sector mas a qualidade dos transportes e a sua eficiência não é nada menos importante.

Pelos vistos a criação da Ground Force, empesa que trata das bagagens, tem se vindo a cifrar num verdadeiro pesadelo sendo a TAP a segunda companha aérea que mais malas perde!

E, perante tal estado de coisas, não é apenas essa companhia que fica em causa mas o próprio destino. Sobretudo o destino Aores/Triângulo que, não oferecendo alternativa de operador de transportes, se vê confrontado com um péssimo cartaz de visita.

É interessante que muitos táxis de Lisboa exibam nas suas portas um rabo de baleia e a inscrição Açores – natureza mágica. Mas é imprescindível que as autoridades responsaveis pelo turismo tomem posição firme sobre assuntos como este.

Porque não se trata apenas de um problema interno de uma empresa mas de um serviço público que está a falhar clamorosamente pondo em causa, da pior maneira, um crescimento turístico que se procura.

Para não falar na situação, ainda mais ridícula, dos passageiros com destino ao Pico em que a TAP se atreve a sugerir que sejam os próprio lesados a ir levantar as malas ao porto da Madalena por causa de uma anacrónica regulamentação interna!

Perversidades de um monopólio que urge acabar sobretudo em tempos de política europeia de céu aberto.


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sexta-feira, abril 27, 2007

A segunda bofetada sem mão

A segunda bofetada sem mão


Já lá vão um bom par de anos desde que Malcom Clark criou e abriu ao público o seu museu de Cachalotes & Lulas em S. João do Pico. Depois de lhe terem virado as costas e ignorado a sua excelência científica.

Essa foi a primeira bofetada sem mão: um cientista de renome mundial vê-se constrangido a criar um museu particular de cetáceos perante a incapacidade (ou desinteresse?) institucional.

Agora um estudioso e homem de cultura – professor universitário – viu-se, também obrigado a encetar uma experiência piloto na área da agricultura orgânica e sustentável totalmente a expensas próprias.

Depois de ter visto o seu projecto recusado por instâncias educativas e pedagógicas ficou, por seu turno, constrangido a avançar para uma iniciativa que, pelo menos até à data, não despertou interesse oficial.

Com grande esforço de estudo, investimento e mesmo de trabalho físico, a experiência toma forma e já é possível apreciar uma exploração agrícola que caminha para se tornar totalmente sustentável.

Com base em investigação e experimentação tem sido possível criar no Pico uma exploração que tendo em linha de conta todos os factores locais tem vindo a desenvolver soluções que a irão tornar um caso de estudo.

Envolvendo pecuária, horto-fruticultura e alguma transformação como queijo e doces vem se tornando muma actividade capaz de manter um agregado familiar e, simultâmeamente, melhorar a qualidade do solo e produzir produtos quase inteiramente biológicos.

O que é crucial tendo em conta que a questão da qualidade alimentar se vem tornando central para a manutenção da saúde e a prevenção da doença e que localmente já quase tudo o que se come é importado.

Por outro lado é lugar comum falar na monocultura da vaca e no minifúndio agrícola que obrigam os agricultores a passarem a vida a transportarem gado e água entre pastagens. Situação que acarreta índices de produtividade baixos e custos de produção muito elevados.

O agricultor mantendo, na generalidade, baixos grau de escolaridade e não tendo adequado apoio técnico e científico tem uma actividade essencialmente empírica e tradicional. E que não sendo diversificada os coloca à mercê do mercado leite e da carne

Sendo, por conseguinte, indispensável incutir nas futuras gerações de agricultores, que agora estão na escola, gosto pelo estudo e pela criatividade. Ser agricultor não se compadece, nos dias que correm, com instrução básica.

Os novos agricultores – para terem sucesso – terão que adquirir muito mais competências das que têm presentemente. Competências que não se poderão ficar apenas por conhecimentos teóricos.

Sendo indispensável o trabalho de campo, a experimentação e a concretização de alternativas válidas e testadas para um sector que ameaça entrar em crise profunda.

Razões que tornam a indiferença oficial e oficiosa, perante um projecto-piloto de grande valia pedagógica e teórica, tanto mais graves. E que, também, o tornam numa verdadeira segunda bofetada sem mão.

Pelos vistos nós, que tão pouco temos, podemos continuar a dar nos ao luxo de desbaratar tão excelentes recursos humanos e patrimoniais e tal empenhamento no devir da nossa terra!




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sexta-feira, abril 13, 2007

Mesquinhices

O Sócrates afinal não é engenheiro
O Al Gore gasta tanta luz em casa como a Vila das Lajes!
Vox Populi




M E S Q U I N H I C E S


Se é verdade que o Primeiro-ministro, ou alguém por sua incumbência, fez pressão sobre a comunicação social para abafar o caso do diploma de engenharia, fez mal.

Em primeiro lugar porque uma figura política, que o é por opção pessoal, tem que saber encarar com naturalidade e fair-play as inevitáveis intromissões na sua vida privada.

Em segundo porque o assunto sendo totalmente tolo não deveria merecer sequer uma pestanejar de olhos ou, quando muito, um seco “ninguém tem nada com isso”.

Em terceiro porque é uma regra de ouro da democracia não usar cargos de poder para tentar restringir, ou pelo menos, condicionar a liberdade de imprensa ou o direito à informação.

Contudo José Sócrates ocupa um cargo para o qual foi eleito democraticamente. Eleição para a qual não dependeu, de certeza absoluta, o facto de ser engenheiro ou não.

O exercício do cargo de Primeiro-ministro não implica habilitações especiais. Como não o implicam o exercício de funções de presidente do Governo Regional, ministro, presidente de Câmara, etc.

O que leva a que este episódio do diploma faça lembrar – salvaguardadas as devidas diferenças – o caso Mónica Levinsky! Um assunto, exclusivamente do foro íntimo e pessoal, que fez gastar milhões de dólares ao erário público que poderiam ter sido usados para combater a exclusão e a pobreza.

Para ser presidente dos USA não é necessário um voto de castidade e não estava em causa qualquer crime mas tão-somente um comportamento privado, eventualmente menos próprio, que apenas ao visado e à família diziam respeito.

José Sócrates, engenheiro ou não, é o Primeiro-ministro deste país e é o seu desempenho, enquanto tal, que deveria ser a preocupação central de todos nós. Se o dito cidadão cometeu ou cometer algum crime ou ilegalidade caberá aos tribunais investigar e julgar.

Ponto final, parágrafo.

Al Gore, o ex Vice-presidente dos USA que perdeu na secretaria uma eleição que ganhou nos votos, decidiu dedicar a sua actividade pública à defesa do ambiente e ao combate ao aquecimento global do planeta.

Questão da maior importância e que se não for combatida com grande eficácia irá tornar, a médio prazo, o planeta inabitável.

Para alertar toda a gente, Al Gore concebeu um documentário brilhante chamado “Um Verdade Inconveniente” que ganhou, alias, o Óscar deste ano para melhor documentário.

Pois bem: mais preocupados em descredibilizar o homem do que pensar no seu alerta não tardaram os boatos. Que de tão repetidos se tornam verdades. E para traz fica um drama ambiental que pode tornar-se catastrófico.

Importa é que o homem tenha uma mansão imensa que gasta mais electricidade do que a Vila das Lajes, que ande de jacto particular ou que leve uma fortuna pelas conferências que faz?!

A tomada de consciência da imprescindibilidade da redução de emissão de dióxido de carbono que passa por gestos tão simples como apagar luzes desnecessárias ou não tomar um duche com a água sempre a correr – isso, pelos vistos, não tem importância!

Mesquinhices que, apenas, nos diminuem e limitam.


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terça-feira, março 20, 2007

SALAZAR

Se soubesses quanto custa mandar, obedecerias toda a tua vida
Citação do Estado Novo


S A L A Z A R



António de Oliveira Salazar continua, decorridos quase 33 anos após o 25 de Abril, a ser uma figura pública que suscita fortes paixões – seja no sentido negativo ou positivo.

Uma personalidade reservada e distante que ainda, recentemente, conseguiu a melhor votação de notoriedade num polémico programa de televisão. Que valeu apenas pela curiosidade sociológica que constituiu.

A democracia esta definitivamente instalada em Portugal e, tirando uma minoria muito pouco significativa, ninguém neste país quer a sério perder as liberdades que conquistou.

O Estado Novo não foi um fascismo no mesmo sentido em que o foram o regime de Mussolini ou de Franco e muito menos o hediondo regime nazi. O Estado Novo foi – antes de tudo – uma ditadura austera, provinciana e analfabeta.

Tendo sido Salazar um aluno de elevadas notas e um prestigiado professor universitário nunca conseguiu descolar da sua origem pobre e do seu passado de seminarista.

Sendo, segundo se diz, um apreciador do belo feminino sempre se comportou de uma forma misógina tendo incentivado um machismo radical que se cifrou por uma anulação da mulher como cidadã de pleno direito.

Possivelmente gostando de mulheres tinha, claramente, medo delas. Ou melhor, medo do mal que os prazeres do sexo pudessem trazer à sua vida de recolhimento e austeridade lembrando-se, talvez, da fábula da maça e da cobra!

Sendo um professor de economia geriu o estado com a contabilidade dos antigos merceeiros: dever, haver e pouco mais. Tendo o horror à inovação não tinha para o país uma visão estratégica de futuro.

Pobritos mas alegritos – uma frase que bem podia fazer parte do epitáfio do salazarismo.

Salazar sanou as contas do país, meteu ordem na administração pública e acabou com o regabofe político da I Republica. Depois meteu férias e geriu, durante o resto do seu consulado, a nação como quem gere um negóciozito em Santa Comba Dão.

Salazar era um homem inteligente, com princípios e acima de qualquer corrupção. Mas era, também, um homem seco, autoritário e sem sombra de criatividade: um eucalipto que secou tudo à sua volta.

Salazar deixou um país pobre e analfabeto e um povo atrofiado e castrado.

Passados todos estes anos perdura, ainda, na nossa paisagem sociológica a sua herança: ileteracia, provincianismo, mesquinhez, hipocrisia, submissão, machismo, religiosismo, falta de iniciativa, défice cívico, etc.

O que explica a vitória de Salazar no programa da RTP e que torna necessário um debate sobre as sequelas do salazarismo que, apesar da Europa e de trinta anos de democracia, ainda condicionam – de forma determinante – a nossa vida colectiva.

Salazar morreu e a democracia está consolidada mas o salazarismo ainda está longe de ter sido erradicado das nossas cabeças e comportamentos.



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sexta-feira, março 16, 2007

Economia Espiritual

Vivemos uma vida de alto nível de toxicidade – material e espiritual
Alfredo Sfeir-Younis



Economia Espiritual

Na época da entronização da economia de mercado como o motor essencial do crescimento e do progresso torna-se essencial avaliar a direcção em que segue o nosso estilo de vida e os valores pelos quais nos regemos.

Sobretudo num mundo em que 2% da população mundial possui metade da riqueza do planeta ao mesmo tempo que os 50% mais pobres não possuem sequer 1% dessa riqueza!

Não basta analisar o volume de riqueza criada. É preciso, sobretudo, analisar no que ela é utilizada e, ainda mais, como ela é distribuída.

Sem pôr em causa os princípios do mérito, da iniciativa e do trabalho não é possível ignorar que riqueza gera riqueza e que a igualdade de oportunidades é uma meta bem longínqua na maior parte do planeta.

Igualdade de oportunidades implica idêntico acesso ao ensino e ao conhecimento para além do sítio em que se nasceu ou da família de que provêm. Para pessoas com capacidades semelhantes faz toda diferença ter nascido na Etiópia ou nos Estados Unidos.

Da mesma forma que ter nascido de uma família com posses e cultura dá uma vantagem à partida totalmente diferente de quem nasceu num meio familiar de exclusão e marginalidade.

Pelo que uma economia mundial que não se reja com base nos direitos humanos mas que procure uma globalização que beneficie em primeiro lugar as economias já mais privilegiadas terá sempre que se basear no primado da força.

Sem esquecer, também, que nos ditos custos de produção que classicamente têm a ver com mão-de-obra, utilização de equipamentos e energia, matérias-primas, etc. não são, por norma, contabilizados os custos ambientais.

Mas como os nossos recursos naturais são finitos e o ambiente é extremamente sensível faz todo sentido que esses custos para além de deverem ser minimizados deveriam, também, ser contabilizados como custos e reinvestidos na preservação da natureza.

Objectivos que só poderão atingidos quando a economia mundial se começar a orientar por princípios espirituais e, o mesmo é dizer, por princípios de liberdade, solidariedade, justiça, paz e amor.

Sendo o amor a palavra que, porventura, soará mais estranha aos apologistas da economia pura e dura – virada essencialmente para o lucro e para o seu crescimento contínuo.

Uma economia para ser viável tem que se reger, necessariamente, por boa gestão e por normas de cálculo mas pode e deve ter valores de equilíbrio e justiça para se poder tornar sustentável.

Quantas guerras, quantas tragédias não têm ocorrido e continuam a ocorrer em nome de interesses económicos que mais não visam que um lucro desenfreado? Quantas tentativas de ajuda humanitária não têm chegado aos seus destinatários por causa da usura e da corrupção?

Havendo “gente que come demais e gente que não têm de comer” algo vai mal sendo, por isso, indispensável que a felicidade do homem passe a ser um factor de avaliação do sucesso da economia.

Uma economia sem coração será sempre, a curto ou a longo prazo, votada ao insucesso. E os sinais andam todos por aí.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, março 02, 2007

O Pavão da Madeira - o último ditador no poder na Europa?

O Pavão da Madeira
O último ditador no poder na Europa?


Cavaco Silva (na dupla condição de Presidente e figura de vulto do PSD), José Sócrates (como Primeiro-Ministro) e Marque Mendes (como líder do PSD) têm na figura de Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim um grande sarilho institucional.

Terão todos que fingir que estão perante um episódio normal em democracia. O que sendo, formalmente e juridicamente, verdade não deixa de ser mais um lamentável episódio de descredibilização do estado de direito.

Há muito tempo que Jardim deixou de ser o bobo da corte/palhaço de serviço ou o enfant-terrible da política portuguesa – um político que ninguém levava muito a sério mas que tinha, às vezes, a sua piada.

Hoje é, simplesmente, um político cujo prazo de validade já expirou: um sexagenário sem brilho, um expoente (no poder) de uma forma truculenta e trauliteira de fazer política que em nada contribui para o prestígio da democracia e das suas instituições.

Jardim é grosseiro e prepotente.

Sem questionar o surto de desenvolvimento económico da Madeira que obedeceu a determinado modelo – esse porventura questionável – é completamente questionável o ambiente de intimidação e arruaça que se vive naquela Região Autónoma.

Ambiente que em nada tem contribuído para a maturação social, cultural, cívica e política do povo madeirense. Fazer política na Madeira deve ser bem mais complicado do que andar num autocarro de dois andares nas ruas esburacadas de Luanda!

Jardim, por todas essas razões, é uma verdadeira dor de cabeça para o PSD nomeadamente para um homem moderado como Marques Mendes. Mas… política a quando obrigas... é um sapo que, pelos vistos, terá que engolir.

O presidente demissionário da Madeira tem/tinha legitimidade legal para governar mas não para governar da forma como governa. Os casos de ditadores eleitos são para todos os gostos: desde Hitler a Salazar ou de Fidel Castro a Mahmoud Ahmadinejad.

Da mesma forma que tinha toda a legitimidade para questionar a Lei das Finanças Locais e lutar contra ela mas não para, em nome dos putativos interesses da Madeira, insultar tudo e todos e desrespeitar as mais relevantes instituições do País e as mais elementares regras de cortesia.

É essa prática que tem de ser expurgada de um país civilizado, moderno e europeu. Por muitos votos que quem quer que seja consiga arrebanhar com uma máquina de lobis, compadrios, ameaças, chantagens etc.

Seja autarca, presidente de governo regional ou primeiro-ministro.

Não lembra ao diabo que alguém que se queixe de falta de dinheiro e venha, com esse mesmo pretexto, criar uma situação com custos elevadíssimos para além de se dar ao luxo de pagar o maior (?) fogo de artifício da Europa.

E para quê? Apenas para servir os desígnios de poder e de vaidade de quem deles faz um modo de vida e um fim em si.

Patético.



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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Referendo, assimetrias e alguns disparates

Prof. Marcelo é o grande ilusionista da Nação Helena Matos


Referendo, assimetrias e alguns disparates


Numa percentagem significativa – apesar do mau tempo e do carácter delicado do assunto – os portugueses votaram e foram muito claros no que disseram.

Sendo a questão do carácter não vinculativo da consulta um detalhe essencialmente jurídico. Não me parece que alguém sensato tenha ficado com dúvidas ou que, quem está no poder, possa dar o dito por não dito.

Apesar de na RTP Açores, uma jovem jornalista, ter defendido a tese mirabolante de que à semelhança do anterior (?!) este referendo não devia ser aplicado…

Tendo o anterior sido respeitado e a lei não ter sido mudada será, apenas do mais elementar bom senso e sentido democrático, que agora a lei mude. Sob pena de desmobilizar, ainda mais, o cidadão já de si pouco crente na seriedade do sistema.

Se o resultado tivesse sido tangencial tudo mudaria de figura e seria de ponderar uma proposta de lei de compromisso entre o sim e o não. Assim não sendo é uma tese inteiramente espúria e antidemocrática.

Mas um dos aspectos que deve ser salientado é a diferença no sentido de voto entre sul/norte, litoral/interior e continente/regiões autónomas. Valores perfeitamente discrepantes nalguns casos atingido os 100% para o sim e noutros os 100% para o não.

O que, com a excepção dos Açores, corresponde às votações partidárias à esquerda e à direita. No Alentejo o sim na zona de grande influência do PCP, no Minho e nas zonas de grande influência do PSD e do CDS/PP o não.

O que significa que ainda há três Portugal: o de cima, o de baixo e o das ilhas sobretudo da Madeira que continua ser um “case study” da democracia portuguesa.

Embora esta realidade não deva ser ignorada é totalmente caricato que um desnorteado deputado regional de S. Miguel chegue ao cúmulo do ridículo de pretender apresentar uma proposta para que a lei não seja aplicável na Região Autónoma dos Açores!

Faz lembrar a história, verídica ou não, do Concílio de Trento em que um bispo português pediu a isenção do celibato, ao menos para os padres de Barroso…

Portugal é um todo e não uma manta de remendos. Uma realidade em que todos devem ser respeitados e aonde deve prevalecer a união do estado. Levado ao extremo poderíamos ter Mirandela, também a pedir a não aplicação da lei e por aí fora.

Como afirmamos antes do início da campanha a opção era, tipicamente, do foro íntimo e pessoal. Vemos, contudo, assimetrias que denunciam sistemas de valores muito diferentes que, por coincidência ou não, correspondem a opções partidárias.

O Prof. Marcelo, cidadão superiormente inteligente, foi o exemplo mais acabado de malabarismos intelectuais tentando demonstrar que o não também era sim e o inverso. Não contribuindo, assim, para a imprescindível clareza cristalina do debate.

Anular essas assimetrias parece-me ser um combate cultural e político da maior importância: aproximar os cidadãos buscando um largo denominador comum que nos faça sentir – a todos – melhor.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Negociar com firmeza

Mesmo os fanáticos mais radicais possuem instinto de sobrevivência
José Manuel Fernandes



Negociar com firmeza


A actual situação do Iraque veio demonstrar, para quem tivesse dúvidas, que o simples uso da força pode ser contraproducente criando um cenário, porventura, pior do que o previamente existente.

O estado de guerra civil instalado naquele país criou uma situação humana, social e económica bem mais negativa da que existia ao tempo do ditador Saddam Hussein.

O voluntarismo americano baseado numa mentira e apoiado por um desconhecimento profundo do terreno abriu a porta a uma situação que deixou de ter solução militar.

Como é evidente não serão mais uns milhares de soldados ianques que irão resolver o que quer que seja. Serão mais jovens a morrer, mais atentados a serem perpetrados e mais radicalismos.

Uma escalada imparável.

É lamentável que se tenha tornado tão banal a notícia diária de mais um atentado suicídio bombista em Bagdad com dezenas de mortos a que já ninguém liga. Tornou-se “normal” morrer por atentado na antiga Mesopotâmia.

Numa demonstração inequívoca de como é possível que em 2007 se assista a tamanhas barbaridades perante uma comunidade internacional castrada e bloqueada.

Com as Nações Unidas lamentando tal estado de coisas mas sem serem capazes de fazer nada. E com George W. Bush patenteando uma total incapacidade para perceber que a guerra está perdida e que, apenas, resta a via diplomática.

Negociar a paz no Iraque será uma tarefa ciclópica e que exigirá grande capacidade diplomático, conhecimento profundo do terreno e uma enorme firmeza mas será, inevitavelmente, a única saída.

Não sendo sequer necessário relembrar o conflito do Vietname que teve outros contornos mas que, também, foi uma claríssima derrota militar dos americanos. Sendo certo que a guerra do Iraque está, objectivamente, perdida.

Os Estados Unidos e os seus aliados militares não conseguem, nem ao menos, assegurar minimamente a ordem pública quanto mais assegurar a transição pacífica para uma democracia. Democracia que, alias, não é possível criar por decreto.

Compreensão que Bush e o seu núcleo duro continuam a não querer assumir: o tempo para uma solução militar está, há muito ultrapassado e para uma saída airosa também.

Apenas negociações conduzidas com base num consenso negociado entre republicanos e democratas e com as forças democráticas do resto do mundo poderão dar início a uma solução que será, mesmo assim, imperfeita.

Negociações que, por serem consensuais, poderão exercer um efeito dissuasor mesmo junto dos sectores mais radicais. Que sendo radicais tem, mesmo assim, instinto de sobrevivência e sabem distinguir muito bem entre firmeza real e radicalismo verbal inconsequente.

A diplomacia só é efectiva quando acompanhada de uma pressão forte e credível.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Despenalização do aborto - uma questão de direitos, liberdades e garantias

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento legalmente autorizado?
Pergunta do referendo a
efectuar em 11.02.2007



Despenalização do aborto
Uma questão de direitos, liberdades e garantias


Todas as discussões de caracter moral, religioso ou filosófico sobre o tema do aborto e/ou quando começa a vida são legítimas e desejáveis. São questões que têm a ver com o foro íntimo de cada um e que se revestem da maior delicadeza.

Ninguém tem, por conseguinte, lições para dar a ninguém. Todos devem ser inteiramente livres para formar uma convição no âmbito das respectivas confissões religiosas e/ou opções morais.

O Estado Português é um estado de direito completamente independente de qualquer religião ou credo moral em que todos os cidadãos têm os mesmos direitos, independentemente da sua orientação religiosa.

Segundo a lei portuguesa um(a) cidadão/ã só adquire personalidade jurídica, ou seja, só é considerado/a pessoa, depois de nascer. Antes disso faz apenas parte integrante da mãe, seja na condição de embrião ou de feto.

Também segundo a lei portuguesa efectuar um aborto com o consentimento da mãe é púnivel com uma pena de prisão até 3 anos. A mulher que recorrer ao aborto incorre, também, numa pena de prisão até 3 anos.

Em Portugal são praticados por ano, pelo menos, 20.000 abortos ilegais. Uma grande parte enchendo os bolsos a gente sem princípios que se aproveita dessa ilegalidade e muitos outros praticados sem um mínimo de condições técnicas e sanitárias por falta de capacidade económica.

Quem tiver dinheiro pode ir fazer um aborto legal a Espanha ou fazer um clandestino numa das clínicas de luxo de Portugal que se dedicam a esse negócio. Quem recorre ao aborto sem condições são, geralmente, mulheres pobres, menores de idade, com menos acesso à informação e residentes em áreas rurais.


Os dados disponíveis demonstram que a penalização do aborto não tem sido uma forma eficaz de o combater mas antes tem mantido a porta aberta a situações de exclusão, morte e doença para quem não tem meios. E de especulação para quem não tem escrúpulos.

A pergunta que será feita aos portugueses, e que acima se transcreveu, não tem nada a ver com o estar de acordo ou não com o aborto mas tão sómente se pretende saber se as mulheres que o fizerem, de livre vontade, antes das 10 semanas devem ser punidas ou não.

Presumindo-se que uma mulher que faz, voluntáriamente, um aborto antes das 10 semanas sabe o que faz e não tem objecções morais insuperáveis a que isso seja feito. Sendo que jamais se poderá pôr a questão de alguém ser obrigada a fazer um aborto seja na condição de grávida ou de técnico/a de saúde.

Conjunto de factos e constatações que levam a que questão que vai ser posta aos portugueses se situe, essencialmente, no campo dos direitos, liberdades e garantias e seja, por isso, uma questão política e jurídica.

Ninguém vai decidir se o aborto é pecado ou quando começa a vida.

Irá apenas decidir-se se as mulheres que abortarem, voluntáriamente, antes das 10 semanas e os técnicos/as de saúde que fizerem o aborto deverão ou não ser puníveis perante a lei.

Cada um deverá decidir, como é próprio de um estado democrático, conforme a sua consciência e as suas convicções mas tendo plena noção do âmbito e consequências dessa decisão, numa atmosfera de tolerância e serenidade.

A paixão é inimiga da razão. Como qualquer fundamentalismo é inimigo da Verdade. E a Verdade é, sempre, um somatório complexo de muitas verdades.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 05, 2007

A execução de Saddam Hussein

Execução de Saddam Hussein é "um marco importante no rumo seguido pelo Iraque no seu caminho em direcção à democracia”
Geroge W. Bush


A execução de Saddam Hussein
Um erro clamoroso



Ninguém questiona a estirpe de facínora que era Saddam Hussein, caído em desgraça após invasão anglo-americana do Iraque. Ninguém informado desconhece os crimes que cometeu, nomeadamente, contra os curdos.

Ninguém desconhece o carácter totalmente ditatorial e criminoso do seu regime. Ele próprio não se cansou de passear a sua petulância, arrogância e falta de respeito pelos mais elementares direitos, liberdades e garantias.

Muito de nós, lembrados dos seus hediondos crimes, sentimos que uma execução nunca seria de mais para punir tal barbárie. Sentimentos compreensíveis mas, essencialmente, reactivos e emocionais.

Mas – e este mas é crucial – o regime de Saddam foi, supostamente, derrubado para possibilitar a instalação de uma democracia e de um estado de direito no Iraque. Tal como os conhecemos na Europa.

E, tirando a muito controversa situação dos USA, a pena de morte foi há muito afastada das democracias consolidadas e a sua abolição tornou-se mesmo um símbolo civilizacional ocidental e europeu.

Apenas alguém tão míope, medíocre e falto de sentido de estado e de história (e de convicções democráticas?) como George W. Bush poderia ter dito o que disse: que uma execução possa ser um marco no caminho em direcção à democracia de onde quer que seja!

E o julgamento de Saddam Hussein não correu nada bem, antes parecendo uma opereta de baixo nível que não convenceu ninguém, nem pela sua isenção nem pela sua qualidade técnica.

A decisão de lhe ter aplicado, portanto, a pena de morte era de todo previsível e não surpreendeu. Mas era exactamente aqui que o novo regime do Iraque deveria ter mostrado a diferença.

Ou Saddam Hussein tinha sido abatido num cenário de guerra e o seu cadáver mostrado ao mundo como aconteceu – num dejá vu – com Jonas Savimbi. Ou teria que ter sido julgado num cenário de independência judicial com monitorização internacional.

Uma condenação à morte e respectiva execução não veio trazer ao Iraque pos-Saddam nenhum valor civilizacional diferente nem mostrar a diferença entre o antes e o depois. Irá, sim, acicatar mais o ódio e os extremismos entre sunitas e xiitas.

E – o que ainda o que é pior – poderá ajudar a promover um eventual “mártir” sunita.

A verdadeira humilhação que poderia ser infligida a Saddam seria, precisamente, fazê-lo passar o resto dos seus dias atrás das grades de uma prisão de delito comum após ter sido julgado por todos os crimes que cometeu.

Ter executado Saddam Hussein foi um erro clamoroso e uma forma primária de punição.


P E D R O D A M A S C E N O