FACE OCULTA
OS MAMARRACHOS
Mamarracho é uma palavra pouco
habitual mas que significa «obra mal feita / pinta-monos» e que, sobretudo, se
apropria para classificar muitas construções que, cada vez mais, surgem nesta
ilha.
Se é certo que o gosto é uma questão
eminentemente pessoal e que deve ser respeitada como parte da liberdade
individual, não é menos certo que o ambiente é de todos, verdadeiro património
comunitário. Desse modo há que respeitar o gosto pessoal mas há, também, que
condicioná-lo a regras que respeitem o ambiente.
O ambiente que deve ser entendido
num sentido lato: desde os aspectos eminentemente naturais a intervenções
humanas. O Pico tem uma face própria que não se resume à montanha, aos verdes
ou aos mistérios. Tem também um património arquitectural com características
próprias que vão desde tipologias de construção até à volumetria dos edifícios.
Basta atentar-se em certas povoações
que ainda estão pouco alteradas para se perceber que o Pico tinha e tem (?) uma
linguagem arquitectural própria e tipologias bem definidas. Linguagem que
integrava plenamente na natureza circundante, criando valores estéticos muito
interessantes.
Contudo o grande surto de construção
dos últimos dez anos tem vindo a fazer-se, quer a nível oficial quer privado,
de forma caótica e desordenada acarretando grandes agressões da unidade arquitectural
e paisagística da ilha.
Os maus exemplos, infelizmente,
abundam. E tantas vezes da responsabilidade do Estado que, antes de todos,
deveria velar pela manutenção e enriquecimento do Património.
E, assim, a face do Pico tem vindo,
perigosamente, a transformar-se – perdendo identidade.
O progresso é necessário, mesmo
imprescindível, mas pode fazer-se de forma a valorizar o património existente.
Para isso há que respeitar a matriz arquitectónica tradicional da ilha
condicionando as construções a regras que terão de ser definidas por critérios
culturais, técnicos e políticos devidamente amadurecidos. Papel que cabe, em primeira
linha, às autarquias que devem impedir as agressões que diariamente, surgem na
paisagem picoense. O exercício do gosto pessoal deverá ter balizas bem
definidas e uma eficaz fiscalização terá que ser exercida.
Finalmente chegaram os planos gerais
de urbanização e os planos directores municipais. Ainda bem, sejam bem-vindos,
mas que sejam instrumentos vivos da transformação criteriosa que a Ilha tem,
necessariamente, que sofrer e não se transformem em resmas de papel nas
gavetas.
Para isso é importante que haja a
maior participação possível de toda a gente que tem uma palavra a dizer sobre o
futuro do Pico. Porque só assim esses planos atingirão os seus objectivos e os
picoenses serão co-autores na definição das linhas de força que a todos nós
irão condicionar.
Sendo o ambiente o património
colectivo por excelência, maior é a nossa responsabilidade na sua defesa.
Defesa que bem pode começar pelo refrear e impulsos de gosto mais do que
duvidoso que tanto abundam!
Abaixo os mamarrachos.
P
E D R O D A M A S C E N O