sexta-feira, julho 23, 2010

O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS

O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS


O gajo porreiro é uma instituição em Portugal.

Não havendo uma definição objectiva sobre o que isso quer dizer é uma das bengalas mais usadas no português coloquial. Sendo o porreirismo um neologismo que traduz, na perfeição, muito do nosso modo de estar.

Porreiro, pá! Foi uma expressão que entrou no anedotário nacional e que revela bem o seu carácter abrangente e universal. Isto é porreiro, uma coisa porreira, uns gajos porreiros. E por aí fora.

Sendo, às tantas, a palavra facilitador a que mais se aproxima de porreiro. “Vai ter com ele que é um gajo porreiro” quer dizer isso mesmo: um gajo que desenrasca e que não chateia.

O gajo porreiro é, talvez, a figura moderna que mais se aproxima do Zé Povinho do Bordalo Pinheiro. Falta o seu talento para o desenhar e dar mais um alento à olaria tradicional que bem precisaria de um estímulo.

Aqui fica a sugestão: se se promova um concurso de âmbito nacional para encontrar um talento que traduza em imagens o gajo porreiro.

O gajo porreiro é, consensualmente, um gajo que não chateia e que não tem nenhuma daquelas posturas de rigor e exigência germânicas. Uma pessoa que nos faz sentir seguros neste nosso quotidiano delicodoce que detesta o confronto e adora a manta que nos cobre a todos nós.

Há quem ache que ser porreiro é ser meio tótó, um tipo sem personalidade, pouco criativo, pouco atraente e incapaz de ameaçar quem quer que seja. O gajo que achamos inferior a nós, o gajo que nunca na vida nos irá roubar a namorada ou ensombrar o nosso “brilho”. O tipo em que se vota para a junta de freguesia.

Mas essa versão do gajo porreiro é, talvez, exagerada. O gajo porreiro basicamente é um tipo que não complica e que ajuda a que este país continue a ser um feudo da mediocridade e o habitat natural para quem não quer ser nem deixar de ser.

Não ameaçando ninguém o gajo porreiro permitiu que este país tenha chegado aonde chegou - em que ninguém acredita em ninguém. Sabendo-se que o porreirismo não puxa carroça promoveu o facilitismo, a corrupção e o horror generalizado por tudo a que cheira a trabalho e a esforço.

Possivelmente há vários tipo de gajos porreiros. Havendo alguns que, embora sendo “porreiros”, conseguem promover o mérito e o esforço mas esses serão uma minoria que não conta para esta estória.

O gajo porreiro, no fundo, é a caricatura dos nossos brandos costumes. Todos matamos e esfaqueamos mas – quando chega a hora da verdade – metemos o rabo entre as pernas porque, afinal, somos todos uns gajos porreiros e uns coitadinhos.

Traduzindo, às tantas, aquilo que realmente somos: boa gente. O que sendo uma grande qualidade abre, contudo, a porta à balda, à irresponsabilidade e à nossa crónica incapacidade para meter a nação na ordem.

Tornando-nos, inevitavelmente, num país de gajos porreiros.


P E D R O D A M A S C E N O