terça-feira, fevereiro 17, 2004

Bravo Franceses!

“Nas escolas, colégios e liceus públicos, são proibidos os sinais e as vestes manifestam ostensivamente a confissão religiosa dos alunos”
Lei aprovada na Assembleia Francesa


Bravo Franceses!


É facto comprovado que as religiões, à medida que se institucionalizam, perdem a sua pureza original e passam a servir interesses, instalados ou a instalar, que pouco ou nada têm a ver com a sua filosofia original. Primordialmente interesses dos seus agentes, sejam eles políticos ou meramente económicos. Sem excepção.

E é, indiscutivelmente, esse o caso do Islamismo. Religião que persegue, em muitas partes do mundo, o controle político para melhor exercer o seu poder repressivo e castrante. Castrante, mesmo no sentido mais objectivo como é o caso da ablação do clitóris de jovens adolescentes. Religião que defende o papel secundário da mulher para quem concebeu vestes que têm como preocupação central mostrar, no dia a dia, esse ferrete.

Uma religião controlada por homens e para os homens. Uma religião que procura infiltrar todo o aparelho de estado e, se possível, controlá-lo em absoluto e que encontrou a sua expressão mais clara na antiga Pérsia, hoje o Irão dos mulahs. Sem que tudo isto tenha, necessariamente, alguma coisa a ver com os ensinamentos do profeta Maomé.

Sendo certo, também, que as sociedades dominadas, explicita ou implicitamente, pelo Islão não são sociedades abertas, tolerantes e democráticas como as nossas sociedades européias. São sociedades fechadas e autoritárias que procuram incutir nos seus jovens, desde o nascimento, o radicalismo religioso de modo a perpetuar e expandir o reino dos “donos” da palavra de Ala!

Embora este radicalismo não seja, apenas, apanágio dos muçulmanos. Todas as religiões, em maior ou menor grau, tem os seus radicalismos e o seu séqüito de fanáticos. Sejam eles católicos, judeus ou protestantes.

Mas na Europa moderna e laica esses excessos foram devidamente contidos e as escolas públicas vieram a assumir, progressivamente, um papel laico deixando as questões de religião para os agentes religiosos. E, desse modo, dando aos jovens a possibilidade de escolherem, em liberdade, o seu próprio caminho no domínio do espírito e da religião. Único caminho que, a nosso ver, pode conduzir a sociedades tolerantes e abertas.
Situação que começou a conhecer um claro retrocesso com o advento de grande número de emigrantes, sobretudo muçulmanos, que, numa lógica de preservação de identidade social e religiosa, começaram a “invadir” as escolas francesas (e não só) com sinais de ostentação religiosa nomeadamente o tristemente célebre véu – sinal externo do papel menor que atribuem às mulheres.

Naturalmente que sociedades, abertas e democráticas, devem respeitar as diferenças incluindo as religiosas. Da mesma forma que o estado deve assegurar a todos os jovens o mesmo grau de liberdade não permitindo quaisquer lavagens ao cérebro, seja a jovens origem francesa ou de qualquer outra.

Os emigrantes, muçulmanos ou não, quando procuram um outro país fazem-no pelos seus próprios interesses e porque não conseguiram lograr uma vida digna nos seus países de origem. O mínimo que podem, em contrapartida, fazer é saber respeitar o estilo de vida dos países anfitriões sem prejuízo de viverem, dentro de portas, uma vida ao seu jeito.

O papel da escola não deve ser apenas o de transmitir conhecimentos. Tem de ser também o de uma escola de civismo e de liberdade. E jamais poderá ser o palco de manifestações religiosas retrógradas e lesivas de direitos, liberdades e garantias.

Só não vê quem não quer: o espírito da lei francesa não é combater qualquer tipo de símbolo religioso nem combater qualquer convicção religiosa mas apenas aqueles símbolos que ostensivamente pretendem manifestar uma confissão religiosa que, obviamente, não sabe ou não quer respeitar as outras.

Bravo Franceses, pela coragem na defesa da conquista maior da vossa Revolução!


P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, fevereiro 03, 2004

A Tragédia e a Indiferença

A Tragédia e a Indiferença
A Tragédia


Um jovem morre, na flor da vida, de forma súbita e inesperada. Trágica e chocante como todas as mortes inesperadas, e mesmo esperadas, de jovens para quem se espera uma longa vida, eventualmente recheada de êxitos pessoais e profissionais.

Uma jovem vida que desaparece de repente - como tantas outras desaparecem todos os dias - seja na estrada ou no trabalho, no lazer ou na doença. Só que, neste caso, trata-se de um jogador de futebol de um grande clube e o episódio acontece, praticamente, em directo. E, alas, o assunto passa a assumir proporções nacionais com horas inteiras de “prime time” televisivo com todos os ingredientes próprios de uma novela em directo, numa verdadeira catartase nacional.

Se o mesmo jovem, da mesma idade tivesse morrido das mesma causas só que noutro contexto e sem ser jogador de futebol (ainda que relativamente obscuro) não teria sido sequer notícia em telejornal, quanto mais objecto de tal dilúvio mediático. Nem que porventura tal morte tivesse envolvimentos pessoais e familiares bem mais trágicos.

Não seria notícia e não teria os ingredientes necessários para provocar o choro em directo. O país continuaria a sua vida, pacato e sereno. Seria apenas uma morte precoce como tantas acontecem sem que o país disso tomasse conhecimento ou se preocupasse minimamente. Mesmo que uma de uma morte perfeitamente evitável se tratasse - essa sim uma verdadeira tragédia pela sua evitabilidade e pelo seu desperdício.

Para quê tantas lágrimas inúteis e tantos holofotes efémeros gastos quando não somos, crescentemente, capazes de ser solidários uns com os outros a uma escala de vizinhos?


A Indiferença


Um ministro de estado, munido das suas vestes ministeriais, terá evitado numa sala de VIP’S um ex-presidente da Nação por causa de desamores públicos. A tal ponto que terá decidido anular a seu bilhete em avião de carreira e mandar buscar o dispendioso avião Falcon das deslocações oficiais para se furtar a um encontro desagradável.

Sendo ou não verdade a história circulou nos jornais e nunca foi, que se saiba, desmentida. Mas mais importante do que confirmar ou não tão caricata hipótese interessa assinalar a indiferença que gerou. Num país em que se faz o discurso oficial de contenção e se tomam medidas draconianas para conter o putativo defice orçamental ainda é possível que uma história assim não passe de um rodapé!

Mais importante do que fazer um linchamento político importa constatar o comportamento da nossa classe política que torna verosímeis tais episódios e, sobretudo, acentuar a indiferença pública que geram como se de outro fatalismo lusitano se tratasse. Os políticos são mesmo assim, lê-se nas entrelinhas...

Não houve directos na SIC-Notícias, não houve folhetim mediático logo não houve notícia. Mesmo que o erário público tenha sido prejudicado e que andemos, todos nós, a pagar as birras de um ministro.

Pior que as lágrimas inúteis do circo mediático só mesmo a indiferença patológica de um país que “não” existe para além das luzes da ribalta e do politicamente correcto e que prescinde do exercício diário da sua cidadania em troca por brandos costumes que nos corroem a alma e matam a esperança.
PEDRO DAMASCENO