A Tragédia e a Indiferença
A Tragédia
Um jovem morre, na flor da vida, de forma súbita e inesperada. Trágica e chocante como todas as mortes inesperadas, e mesmo esperadas, de jovens para quem se espera uma longa vida, eventualmente recheada de êxitos pessoais e profissionais.
Uma jovem vida que desaparece de repente - como tantas outras desaparecem todos os dias - seja na estrada ou no trabalho, no lazer ou na doença. Só que, neste caso, trata-se de um jogador de futebol de um grande clube e o episódio acontece, praticamente, em directo. E, alas, o assunto passa a assumir proporções nacionais com horas inteiras de “prime time” televisivo com todos os ingredientes próprios de uma novela em directo, numa verdadeira catartase nacional.
Se o mesmo jovem, da mesma idade tivesse morrido das mesma causas só que noutro contexto e sem ser jogador de futebol (ainda que relativamente obscuro) não teria sido sequer notícia em telejornal, quanto mais objecto de tal dilúvio mediático. Nem que porventura tal morte tivesse envolvimentos pessoais e familiares bem mais trágicos.
Não seria notícia e não teria os ingredientes necessários para provocar o choro em directo. O país continuaria a sua vida, pacato e sereno. Seria apenas uma morte precoce como tantas acontecem sem que o país disso tomasse conhecimento ou se preocupasse minimamente. Mesmo que uma de uma morte perfeitamente evitável se tratasse - essa sim uma verdadeira tragédia pela sua evitabilidade e pelo seu desperdício.
Para quê tantas lágrimas inúteis e tantos holofotes efémeros gastos quando não somos, crescentemente, capazes de ser solidários uns com os outros a uma escala de vizinhos?
A Indiferença
Um ministro de estado, munido das suas vestes ministeriais, terá evitado numa sala de VIP’S um ex-presidente da Nação por causa de desamores públicos. A tal ponto que terá decidido anular a seu bilhete em avião de carreira e mandar buscar o dispendioso avião Falcon das deslocações oficiais para se furtar a um encontro desagradável.
Sendo ou não verdade a história circulou nos jornais e nunca foi, que se saiba, desmentida. Mas mais importante do que confirmar ou não tão caricata hipótese interessa assinalar a indiferença que gerou. Num país em que se faz o discurso oficial de contenção e se tomam medidas draconianas para conter o putativo defice orçamental ainda é possível que uma história assim não passe de um rodapé!
Mais importante do que fazer um linchamento político importa constatar o comportamento da nossa classe política que torna verosímeis tais episódios e, sobretudo, acentuar a indiferença pública que geram como se de outro fatalismo lusitano se tratasse. Os políticos são mesmo assim, lê-se nas entrelinhas...
Não houve directos na SIC-Notícias, não houve folhetim mediático logo não houve notícia. Mesmo que o erário público tenha sido prejudicado e que andemos, todos nós, a pagar as birras de um ministro.
Pior que as lágrimas inúteis do circo mediático só mesmo a indiferença patológica de um país que “não” existe para além das luzes da ribalta e do politicamente correcto e que prescinde do exercício diário da sua cidadania em troca por brandos costumes que nos corroem a alma e matam a esperança.
Um jovem morre, na flor da vida, de forma súbita e inesperada. Trágica e chocante como todas as mortes inesperadas, e mesmo esperadas, de jovens para quem se espera uma longa vida, eventualmente recheada de êxitos pessoais e profissionais.
Uma jovem vida que desaparece de repente - como tantas outras desaparecem todos os dias - seja na estrada ou no trabalho, no lazer ou na doença. Só que, neste caso, trata-se de um jogador de futebol de um grande clube e o episódio acontece, praticamente, em directo. E, alas, o assunto passa a assumir proporções nacionais com horas inteiras de “prime time” televisivo com todos os ingredientes próprios de uma novela em directo, numa verdadeira catartase nacional.
Se o mesmo jovem, da mesma idade tivesse morrido das mesma causas só que noutro contexto e sem ser jogador de futebol (ainda que relativamente obscuro) não teria sido sequer notícia em telejornal, quanto mais objecto de tal dilúvio mediático. Nem que porventura tal morte tivesse envolvimentos pessoais e familiares bem mais trágicos.
Não seria notícia e não teria os ingredientes necessários para provocar o choro em directo. O país continuaria a sua vida, pacato e sereno. Seria apenas uma morte precoce como tantas acontecem sem que o país disso tomasse conhecimento ou se preocupasse minimamente. Mesmo que uma de uma morte perfeitamente evitável se tratasse - essa sim uma verdadeira tragédia pela sua evitabilidade e pelo seu desperdício.
Para quê tantas lágrimas inúteis e tantos holofotes efémeros gastos quando não somos, crescentemente, capazes de ser solidários uns com os outros a uma escala de vizinhos?
A Indiferença
Um ministro de estado, munido das suas vestes ministeriais, terá evitado numa sala de VIP’S um ex-presidente da Nação por causa de desamores públicos. A tal ponto que terá decidido anular a seu bilhete em avião de carreira e mandar buscar o dispendioso avião Falcon das deslocações oficiais para se furtar a um encontro desagradável.
Sendo ou não verdade a história circulou nos jornais e nunca foi, que se saiba, desmentida. Mas mais importante do que confirmar ou não tão caricata hipótese interessa assinalar a indiferença que gerou. Num país em que se faz o discurso oficial de contenção e se tomam medidas draconianas para conter o putativo defice orçamental ainda é possível que uma história assim não passe de um rodapé!
Mais importante do que fazer um linchamento político importa constatar o comportamento da nossa classe política que torna verosímeis tais episódios e, sobretudo, acentuar a indiferença pública que geram como se de outro fatalismo lusitano se tratasse. Os políticos são mesmo assim, lê-se nas entrelinhas...
Não houve directos na SIC-Notícias, não houve folhetim mediático logo não houve notícia. Mesmo que o erário público tenha sido prejudicado e que andemos, todos nós, a pagar as birras de um ministro.
Pior que as lágrimas inúteis do circo mediático só mesmo a indiferença patológica de um país que “não” existe para além das luzes da ribalta e do politicamente correcto e que prescinde do exercício diário da sua cidadania em troca por brandos costumes que nos corroem a alma e matam a esperança.
PEDRO DAMASCENO
Sem comentários:
Enviar um comentário