Paquistão, um estado que não existe enquanto tal, seria o grande trunfo para travar Bin Laden e as sua hostes. E o presidente Pervez Musharraf, que nem nas “suas” tropas tem mão, seria a melhor aposta do ocidente para travar a jihad islâmica.
Poderá dizer-se que não havia outras hipóteses e que Musharraf seria o menor dos males mas a verdade é que foi um aliado tão mau como Saddam Hussein foi um mau inimigo. Derrubar Saddam com uma invasão militar foi um erro tão crasso como apoiar em meios o presidente paquistanês.
Em ambos as situações abrimos terríveis caixas de Pandora que não nos deixaram nem a pé nem a cavalo. O Iraque é um país devastado por uma guerra civil sem fim à vista e o Paquistão é um feudo islâmico dos talibans e seus aliados.
E por cima de tudo isto paira a grande sombra que dá pelo nome de Irão. Um Irão que, por sua vez, já foi o resultado da ingenuidade do ocidente que deixou cair o Xá pro-ocidental e abriu a porta ao Ayatollah Komenei, o pai do islamismo radical e da sua luta pela tomada do poder político.
Tentar instalar regimes democráticos à europeia em países sem qualquer cultura de liberdades, direitos e garantias, por intervenções militares ou por apoios económicos a líderes corruptos e sem formação democrática são apostas perdidas à partida.
Como está provado até à saciedade.
O processo de democratização resulta sempre de um amadurecimento progressivo de elites que vão criando as condições culturais e cívicas para a sua implantação. Vejamos o caso de Portugal que, passados todos estes anos, ainda experimenta dificuldades no seu exercício pleno.
Não é derrubando tigres de papel como Saddam Hussein nem apoiando políticos de opereta como Musharraf que o Ocidente vai travar a vaga islâmica e a mais do que séria ameaça nuclear iraniana como acaba, mais uma vez, de se provar.
O Ocidente tem, mais do que tudo, é de deixar de curvar a espinha perante os desígnios e a arrogância da nomenclatura dos ayatollahs, talibans e dos assustados xeiques do petróleo.
As cenas tristes que ainda recentemente ocorreram na Europa a propósito das famigeradas caricaturas de Maomé, com os líderes políticos a meterem o rabo entre as pernas, são disso prova cabal. Como foi possível titubear eventuais pedidos de desculpa (de quê?) perante a barbárie de multidões analfabetas e miseráveis manipuladas por líderes espirituais sem escrúpulos.
Religião é um assunto muito sério porque mexe com o íntimo e as convicções profundas de todos nós mas que tem que ocorrer, por isso mesmo, na maior liberdade. Sem chantagens, sem sentimentos de culpa, sem fogueiras ou autos de fé.
A Religião é para estar nas igrejas, mesquitas, sinagogas, templos e dentro de cada um de nós. Não é para se meter na política invocando a palavra de Deus em vão e, o que é pior, para oprimir, chacinar e fomentar o ódio e a discórdia.
Essa é a barbárie que vai no Paquistão e que não tardará a cá chegar se não soubermos defender os nossos valores e a nossa cultura com unhas e dentes e sem complexos de culpa. Nós também tivemos a Santa Inquisição mas soubemos derrubá-la.
Em Roma há que ser romano. Na Europa há que ser europeu: tolerante e amante de todas as liberdades, religiosas e cívicas. Quem isso não aceitar não pode cá ter lugar e muito menos ter oportunidade para nos tentar dar lições de moral.
P E D R O D A M A S C E N O