quinta-feira, novembro 30, 1995

Esquecimento ou desinteresse?

FACE OCULTA


ESQUECIMENTO OU DESINTERESSE?



Em vésperas de discussão e aprovação do orçamento regional, a questão do aeroporto do Pico parece ter entrado no esquecimento (?). À parte a intervenção genérica de um deputado da oposição que ao assunto se referiu, a temática parece ter desaparecido da lista de prioridades dos vários responsáveis, nomeadamente dos presidentes de câmara da ilha.

Após o voluntarismo demonstrado no passado, tudo indica que o assunto aeroporto foi deixado cair. E nem a decisão conciliatória tomada na apreciação do último orçamento de dotar o Pico de uma verba para estudar (?) o assunto, teve qualquer seguimento.

Ninguém sabe se o estudo que foi dotado de verba foi efectuado e, muito menos, quais as suas eventuais conclusões. Quando o teria feito sentido era que esse estudo – perfeitamente questionável, tivesse sido feito de imediato de molde a poder instruir e fundamentar uma decisão em sede de orçamento no presente ano.

Foi para isso que aliás, alertámos a quem de direito nesta coluna. Que o trabalho preparatório para a inclusão do orçamento regional para 1996 de uma verba significativa para o aeroporto do Pico teria quer ser iniciado no dia seguinte à aprovação do orçamento de 1995. Para que, com tempo, os necessários consensos tivessem sido assegurados.

Mas infelizmente tudo ficou em águas de bacalhau e o assunto parece ter morrido, pelo menos a nível dos responsáveis. Isso após o Conselho de Ilha ter, muito claramente definido a questão da pista como fundamental. Decisão, de resto, apoiada por todas as forças políticas e pela população em geral.

Circunstância que torna a presente cortina de silêncio mais pesada, estranha e inexplicável.

Independentemente de qualquer outra análise, o aumento da pista do Pico, em conjunto com as estradas, continua a ser a grande prioridade para o desenvolvimento da ilha. Sobretudo tendo em atenção que o grande sector do turismo se perfilha como a grande alternativa para o desenvolvimento económico.

Embora se possa perceber que a Região atravessa dificuldades de carácter financeiro que possam dificultar a execução imediata do aumento e reformulação da pista, não se pode perceber que o assunto tenha sido deixado cair, pura e simplesmente. O que pode, inclusive, fundamentar raciocínios sobre eventuais arranjos políticos de bastidores, em que a questão da pista tenha servido como moeda de troca para qualquer outra coisa.

Então, meus senhores, o assunto da pista é ou não é prioritário?

Se, final de contas, mudaram de opinião e chegaram à conclusão que não é, terão que assumir isso publicamente e o respectivo ónus. Se continuam a pensar que é, então terão que explicar porque deixaram cair o assunto.

Porque as eventuais dificuldades financeiras do governo não explicam a razão pela qual o estudo previsto nunca se chegou a fazer ou se chegou porque é que as suas conclusões não foram tornadas públicas.

A questão de fundo continua a ser saber se há ou não vontade política de tornar a pisa do Pico operacional. Quer por parte do Governo Regional quer por parte dos responsáveis políticos do Pico.
O resto resumir-se-á a questões técnicas e de calendarização.

O que é essencial para o Pico é uma decisão política governamental inequívoca. Para a qual são imprescindíveis todo o tipo de pressões por parte dos deputados, câmaras, conselho de ilha, etc..

E, portanto, o que nos preocupa é que não tenha sido tomada qualquer decisão e que quem, ontem, se debatia por esse desiderato tenha, agora, deixado cair os braços.

A questão do aeroporto do Pico, pese a quem pesar, continua a ser a grande prioridade da ilha, logo de seguida das estradas e das ligações marítima no triângulo. E as prioridades, obviamente, não são flutuantes ao sabor de qualquer tipo de conveniências.

Como alertamos no passado, este tipo de decisões não pode ser deixado para a última hora quando o plano e orçamento já estão feitos e nada de fundo vai ser alterado.

Custa a crer que os políticos do Pico, nomeadamente os do PSD, tenham deixado passar mais um ano sem se terem esforçado para obter os apoios e consensos prévios indispensáveis para consagração no plano e orçamento de uma reivindicação tão fulcral. Não seria fundamental que udo fosse executado em 1996 mas era imprescindível que a decisão estivesse tomada e fosse, ao menos, dotada de uma verba simbólica.

Uma nota muito negativa para os nossos políticos, sobretudo para os da maioria. Não é assim que se faz desenvolvimento.



P E D R O  DA M A S C E N O

quarta-feira, novembro 15, 1995

Uma Secretaria Regional no Pico

FACE OCULTA

À CONSIDERAÇÃO DO/A PRÓXIMO/A PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL

UMA SECRETARIA REGIONAL NO PICO


É um dado adquirido e pacífico que o Turismo é o sector que, nos Açores, poderá desempenha um papel estruturante decisivo na economia e constituir a grande vocação de uma região de parcos recursos. Sendo que o grande trunfo que o arquipélago tem para fazer face a uma feroz concorrência internacional, e mesmo nacional, na área do turismo são os nossos excepcionais recursos naturais.

O destino Açores é, face ao preço dos transportes, um destino, necessariamente, caro mas não, necessariamente, condenado a sucumbir às inexoráveis leis do mercado. Para tanto bastará que o sector ofereça atractivos específicos e exclusivos. E de todos eles avulta, sem dúvida, a natureza e o ambiente.

Os Açores são ao nível da Europa uma autêntica reserva natural com níveis de usufruto, tranquilidade e segurança muito elevados e com índices de poluição muito baixos. Factores que aliados a uma boa retaguarda hoteleira e de animação poderão tornar o arquipélago num caso sério de turismo de qualidade.

Contudo, a preservação da nossa natureza/ambiente está longe de ser apenas uma questão do foro do turismo. Bem pelo contrário. A saúde e a qualidade de vida estão lhe, indissociavelmente, ligadas. O grande mal da modernidade – o stress – está, em primeira linha, ligado à quebra de um relacionamento do homem para com o seu habitat natural.

O stress conhecer o seu início nas servas de betão e poluição que são as grandes cidades. E, como uma nódoa, tem vindo a alargar-se inexoravelmente ao campo e à periferia, mercê da ânsia imparável do crescimento económico cego e depredador. Em poucas décadas o homem sofreu alterações do seu habitat natural extremamente severas e que nos conduzem a doenças perfeitamente evitáveis.

Circunstâncias que levaram ao surgimento dos movimentos ecologistas europeus que continuam em franco crescimento e que vieram influenciar decisivamente os partidos clássicos que se viram na contingência de perder o comboio. E nenhum político que se preze deixa de incluir, hoje, no seu discurso, o tema da ecologia.

Infelizmente em muitas regiões do mundo, incluindo a Europa, não será fácil corrigir os muitos e graves erros cometidos. Noutras, como a nossa, a situação é bem diferente sobretudo por causa do atraso no desenvolvimento económico – neste aspecto providencial. Circunstância que nos permitirá aprender com os erros dos outros e, se formos capazes, de desenvolver sem poluir ou agredir a natureza.

Razões mais do que suficientes para que o Ambiente deixe de ser apenas uma direcção regional integrada numa secretaria que, embora se designe do turismo e ambiente, é muito mais daquele do que deste. E para além disso o ambiente, embora deva estar sempre na mente de quem quiser desenvolver a sério o sector do turismo nos Açores, é muito mais do que isso. É condição “sine qua non” para a nossa saúde e, sobretudo, para a nossa qualidade de vida.

E não há desenvolvimento económico que valha a pena se puser em causa a nossa saúde, a nossa qualidade de vida – únicas razões, aliás, porque valerá a pena desenvolver. O consumo só pelo consumo é uma perspectiva que apenas poderá conduzir à exaustação cega dos nossos recursos naturais e à doença. Quantas inutilidades compramos todos os dias que apenas nos vêm complicar a vida?


Senhor/a futuro/a Presidente do Governo dos Açores


Sobram, assim, argumentos para que V. Exª. crie no seu governo, saído das próximas eleições regionais, a Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais. Secretaria da maior importância para a preservação e defesa daquilo que é nosso maior património e que deverá deixar de estar debaixo da alçada dos sectores económicos mas que, bem pelo contrário, os deverá vir a condicionar.

Para isso será necessária coragem política e uma boa dose de lucidez intelectual. Mas não tenha V. Exª. duvidas que de si rezará a história.

Sem pretender entrar em polémicas antecipadas mas dado que esse departamento governamental terá que existir fisicamente algures, porque não no Pico? Porque não sediar na Ilha do Futuro uma Secretaria do Futuro?

Não está escrito em parte nenhuma e por conseguinte não tem força de lei que as sedes de todos os departamentos governamentais se tenham que se situar sempre em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta. A autonomia já amadureceu o suficiente para que os delicados arranjos políticos da sua arrancada tenham de se manter imutáveis.

Que ilha melhor que o Pico, na sua majestade rural e na sua diversificada natureza, poderá dar acolhimento a um departamento cujo objectivo primordial deverá ser justamente a defesa de todos esses valores que ela tão bem representa?



P E D R O  DA M A S C E N O