sexta-feira, setembro 29, 1995

Novo ano, nova vida?

FACE OCULTA


NOVO ANO, NOVA VIDA?


As lanchas do Pico iniciaram o horário de Inverno, o que significa retroceder algumas décadas no tempo. Porque o tradicional horário de Inverno é isso mesmo – um retrocesso no tempo.

Só quem está completamente desfasado no tempo e alheado das novas (?) realidades que se vivem neste conjunto de ilhas e no mundo em geral poderá continuar a manter, ano após ano, um horário que servia bem há 30 ou 40 anos.

Basta atentar no aumento exponencial de passageiros que cruzam o canal e no aumento, também exponencial, do parque automóvel do Pico para se perceber que a realidade do canal mudou substancialmente e vai continuar a mudar. Nem a operação da TAP no aeroporto da Horta que naturalmente também tem – em pé de igualdade – o Pico como destino conseguiu fazer luz nalguns espíritos.

São as pessoas – que deveriam ser os destinatários privilegiados da filosofia dos horários das lanchas do canal – que tem que se condicionar as suas vidas ais horários e não o contrário.

Ou seja, são os utentes do aeroporto da Horta com destino ou origem no Pico, os picoenses que são obrigados a recorrer ao Hospital da Horta ou a um conjunto de serviços que não existem no Pico (desde o Centro de Emprego à Inspecção de Trabalho) que têm que andar a “dançar” em função de horários desajustados e desarticulados e que não têm qualquer lógica para os tempos que correm. Para não falar de outras áreas que têm vindo a adquirir peso crescente como é o caso do turismo que toda a gente pretende que seja cada vez menos sazonal mas que na prática é considerado sector não existente no Inverno.

Por tudo isso não cabe na cabeça de ninguém – nem do diabo – que durante largos meses do ano a última lancha do Faial para o Pico deixe a Horta às 16 horas! Não se percebe que um serviço público passe a condicionar, de forma muito gravosa e por razões incompreensíveis para o comum dos mortais, o bem estar e os interesses dos cidadãos e da comunidade durante a maior parte do ano.

Possivelmente durante alguns meses de inverno, não todos, três lanchas por dia continuam a ser suficientes. Mas é fundamental que os seus horários estejam de acordo com as necessidades e exigências de dealbar do ano 2000. E isso significa que deverá manter-se numa lancha matinal, de início de dia, uma a meio dia e, finalmente última que deverá uma lancha de fim de dia (o que deverá significar a saída da Hora entre as 17 e as 17H30) e que permita que as pessoas de ambos os lados do canal organizem e concretizem a sua vida de uma forma normal.

Seria interessante saber quantas pernoitas e refeições na Horta para além de todos os outros incómodos, já tiveram os picoenses ao longo destes últimos 20 anos. Os horários das lanchas do canal não podem continuar a ser elaborados apenas de acordo com os interesses do Faial ou da imprensa concessionária. Como serviço público terão que ter, também, em linha de conta os interesses e as necessidades (algumas delas inevitáveis) dos picoenses.

Os actuais horários de inverno não servem, objectivamente, os interesses do Pico por muitas desculpas (das quais uma das mais interessante é a questão das viagens de noite) que se arranjem. Seria, mesmo, interessante ouvir as câmaras picoenses e o próprio governo a pronunciarem-se sobre o assunto que toda a gente percebe e sente que está mal mas que continua a perpetuar-se, impunemente.

Da mesma forma que os horários da SATA não podem ser feitos apenas com base nos interesses de São Miguel, os horários da Transmaçor não podem ser feitos apenas a pensar no Faial ou nos interesses daquela empresa.

A alteração do horário da lancha da manhã aos domingos que se verificou este ano foi um facto positivo que se sublinha e que correspondeu á lógica de um serviço que deve ter interesse dos utentes na primeira linha das suas preocupações. Resta, agora, saber se essa alteração correspondeu, apenas, a um facto isolado ou se teve como causa uma nova atitude.

Curiosamente as alterações de clima tendo vindo, mesmo, a esbater as diferenças entre estações a ponto de não se poder falar já nestas como marcos objectivos mas apenas como referências históricas e culturais. Já ninguém sabe quando começa o inverno ou acaba o verão.

O novo “ano marítimo” aí será. Seria excelente que fosse ele a inaugurar a nova era das comunicações no canal trazendo para estas paragens um pouco de bom senso e criatividade.

Novo ano, nova vida?



P E D R O  DA M A S C E N O