sexta-feira, dezembro 28, 2012

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F A C E    O C U L T A



Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela
                                                                                                                       John F. Kenedy                                                                               
                       
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            A poucos dias do fim de 2012 quase podemos tocar 2013. E sentir o cheirinho do já famoso OGE2013 que fez/faz correr tanta tinta e gastar tanto cuspe. O orçamento mais famoso e mais mal-amado da democracia.

            Sendo, pelos vistos, evidente que representará um aperto de cinto sem precedentes para o cidadão comum e será o selo branco da incapacidade do governo para encontrar soluções que honrem os compromissos mas que, simultaneamente, respeitem e fomentem o crescimento económico.

            Embora a Região tenha vindo a tolerar melhor a austeridade não só pelas sua melhores contas mas também pela sua grande ruralidade e proximidade de uma economia de subsistência vai, indubitavelmente, sentir na pele o torniquete nacional.

            De modo que os nossos desafios serão grandes exigindo lucidez, competência e determinação. O que, desde logo, torna a sua identificação imprescindível. E esses desafios não existem apenas para o lado do Governo mas também do lado de todos nós.

            Nesta altura do campeonato já toda a gente tem obrigação de ter percebido que o Estado não é uma entidade acima de todos nós, uma espécie de papá rico que nos pode estragar de mimos.

O Estado é, simplesmente, a administração do nosso País por políticos eleitos e os seus fundos são gerados pela economia e pelas nossas contribuições individuais. De modo que o mau funcionamento de um país ou de uma região não será nunca apenas culpa dos políticos/Governo.

Somos todos nós que os elegemos ou não, somos todos nós que nos alheámos ou não da indispensável participação cívica, somos todos nós que nos refugiamos ou não debaixo do grande guarda-chuva das benesses e do facilitismo do estado.

Somos todos nós ou não que praticamos corrupção: desde o roubo puro e simples até ao aproveitamento de influências, desde o não cumprimento das nossas obrigações laborais até ao encolher de ombros perante a prática de iniquidades mesmo em frente aos nossos olhos.

O exercício da democracia não serve apenas para o exercício/usufruto de direitos mas implica também o cumprimento de obrigações. Democracia não é um valor absoluto mas um trajecto que se faz e aperfeiçoa no dia-a-dia melhorando o nosso contributo e aguçando o nosso sentido crítico.

O Governo Regional dos Açores está confrontado com o grande desafio de estancar o flagelo do desemprego e, o mesmo é dizer, promover o crescimento da economia. Mas esse crescimento não se fará se não houver outros actores.

O Governo terá que ter cada vez melhores contas e aplicar com maior rigor dinheiro públicos. Terá que resolver o magno problema dos transportes e assegurar o relançamento inovador dos sectores tradicionais da economia regional e “agarrar” com determinação o turismo. Terá que ser inovador, criativo e incentivador.

Mas o resto do desafio estará com todos nós – os outros actores. Não importa se empresário ou trabalhador por conta de outrem, não importa se funcionário público ou trabalhador do sector privado. O nosso papel não é em nada menor.

Só quando todos nós formos capazes de transpor para a nossa prática diária as receitas milagrosas que apregoamos para os outros conseguiremos inverter a crise. Do mais rico ao mais pobre, do mais intelectual ao mais iliterato -num verdadeiro exercício democrático.

Os temperos são simples: trabalho, responsabilidade, competência, seriedade e uma grande pitada de coragem, sentido crítico e intervenção cívica. Não há omeletas sem ovos mas os ovos sozinhos, também, não fazem uma omeleta!

            Bom Ano de 2013 para todos.
           

P E D R O     D A  M  A  S  C  E  N  O 

sexta-feira, dezembro 07, 2012

INSACIABILIDADE


F A C E    O C U L T A



                        Quem é rico? Aquele que não deseja coisa alguma. Quem é pobre? O avarento.
                                                                                                                                               Ausonius



INSACIABILIDADE



            Insaciabilidade é a nossa disposição psicológica para querer sempre mais e mais. Seja para bem materiais ou outros e que nos faz correr, tantas vezes, atrás de verdadeiras quimeras como a alquimia que nunca conseguiu a transmutação dos metais inferiores em ouro ou o elixir da longa vida.

            Insaciabilidade que tornou obsessiva a crença de que o progresso está indissociavelmente associado ao crescimento contínuo do BIB (Produto Interno Buto) e que deste depende a nossa felicidade – leia-se – a nossa capacidade consumista.

            Sendo certo que este conceito se aplica, essencialmente, aos países ditos ricos já que há nações em que milhões de seres humanos que se situam no limiar da sobrevivência mergulhados no caos e na doença e para quem a actual crise económica mundial “apenas” teve reflexos marginais.

            Mas para essa insaciabilidade da nossa cultura muito contou o estímulo constante ao consumo, a ter mais e mais coisas para as quais, cada vez menos, temos tempo. Consumo que tem sustentado o crescimento do PIB e que se tornou numa verdadeira espada de dois gumes.

            Crescimento que possibilitou grande melhoria das condições de vida por um lado mas que estimulou ganância, inveja e avareza por outro. Estimulando uma sociedade altamente competitiva e, crescentemente, falha de princípios e valores de solidariedade e entreajuda.

            Nos Açores essa deriva – por muito recente – é bem visível.

            Em pouco mais de trinta anos os comportamentos sociais, e mesmo morais, sofreram modificações radicais nos nossos meios rurais. A grande melhoria das condições de vida e de conforto não foi acompanhada por igual progressão ao nível da vida comunitária e dos valores comportamentais.
           
Males como a inveja social, a irresponsabilidade, a corrupção, a promiscuidade foram, infelizmente, a moeda de troca. A educação tem-se vindo a perder a um ritmo frenético e a instrução, embora de mais anos, tem vindo a decrescer em qualidade.

            O advento da crise, iniciada em 2008 com o colapso de sistema bancário internacional e as consequências em cadeia que desencadeou, veio acordar-nos, subitamente, para a realidade da nossa grande vulnerabilidade de pequeno país adormecido nos braços da “doce fada” consumista.

            De um dia para o outro os nossos credores passaram de 80 para 8. De estimados clientes passamos a mal-amados devedores. De crédito para tudo e para nada passamos à falta de crédito para o que quer que seja. De cidadãos felizes e estimados à-beira-mar-plantados passamos para pagantes toma-e-cala-te do sul preguiçoso e incumpridor.

            Uma história mal contada e que tem muito mais a ver com os defeitos morais e conceptuais do nosso sistema do que com as pessoas individualmente consideradas. O próprio John Maynard Keynes, economista de grande estatura, se enganou quando pensou que a abundância iria conduzir ao progressivo aumento do lazer das pessoas e à sua felicidade.

            Talvez seja tempo, por tudo isso e aproveitando a crise, para nos questionarmos sobre os nossos objectivos de vida e deixarmos de considerar o dinheiro como principal receita para a felicidade. Ou, usando outras palavras, decidir do que realmente precisamos para ter uma vida boa retirando ao dinheiro o estatuto de amo e senhor para o tornar num simples criado ao nosso serviço.

            Possivelmente será a única maneira de nos libertarmos das grilhetas que hoje, tão pesadamente, nos limitam.

           

P E D R O     D A  M  A  S  C  E  N  O 

sexta-feira, novembro 02, 2012

Democracia e representatividade


F A C E    O C U L T A





Democracia e Representatividade




            Um grupo de cidadãos de variadas tendências e antecedentes como são o caso de Campos e Cunha (ex-ministro da Economia de um governo socialista), Gentil Martins (antigo Bastonário da Ordem dos Médicos) e Ribeiro Castro (ex-líder do CDS) lançaram uma petição a propor a alteração da Constituição a fim de permitir candidaturas independentes à Assembleia da República.

            Esta iniciativa está, porventura, ligada ao desgaste e à falta de credibilidade de muitos agentes políticos e à sensação de que os partidos continuam virados mais para dentro do que para fora assumindo um papel mais corporativo do que representativo. Factores que pesarão na nossa elevada taxa de abstenção.

            Sendo os partidos a espinha dorsal da democracia representativa não deveriam, mesmo assim, ter o monopólio da representação na Assembleia da república. O que está na linha do que já acontece nas autarquias locais e que veio promover um aperfeiçoamento cívico e participativo.

            Há todas as vantagens – e desconhecem-se as desvantagens – de os cidadãos se poderem apresentar a sufrágio para deputado nacional ou regional quer integrando uma força partidária quer representando um grupo de cidadãos ou, porque não, defendendo apenas uma plataforma individual destinada a criar o seu próprio ciclo de eleitores.

            A consolidação do sistema parlamentar e o papel central dos partidos nessa consolidação teve um papel da maior importância no robustecimento da democracia e no enterro, com pompa e circunstância, de qualquer tentativa totalitária mas será agora necessário ascender a um outro patamar.

            E esse patamar significará a possibilidade de os debates e actividade política da Assembleia da República – a Casa da Democracia – saírem da lógica estritamente partidária para serem enriquecidos por contributos de quem não se revê em qualquer dos partidos com assento parlamentar.

            Sendo um objectivo que encerra alguma utopia não deixa de ser importante ou defensável até porque, como está provado, as utopias de hoje são, quase sempre, as realidades de amanha. E que um novo caminho começa sempre com um primeiro passo.
           
E a lógica que se defende para a Assembleia Regional é mesma com que se poderá defender a possibilidade de existência de candidaturas independentes às Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira. Afloramento aliás verificado nas últimas regionais com a Plataforma de Independentes.

            O valor da estabilidade governativa é inquestionável mas nada impede que esse valor seja atingido com a participação de independentes cujo número será, por muitos e bons anos, relativamente insignificante. Que será a consequência da escassez de meios que essas candidaturas irão, inevitavelmente, ter.
           
            Mas será uma nova avenida de participação cívica e política que deverá ser apoiada por todos os democratas e pelos próprios partidos que, desse modo, darão provas de vitalidade e de capacidade de auto-reforma. Os monopólios apenas servem interesses instalados que não querem perder privilégios.

            Este debate agora iniciado a propósito da moção será um grande teste à nossa capacidade para sair dos velhos paradigmas e encontrar um modo de recuperar para o processo participativo um grande número de cidadãos que tendo muito a dar não se “encaixam” no actual quadro político-partidário.
         
                                                       
                      
       

P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
           


sexta-feira, outubro 19, 2012

No rescaldo dos votos


F A C E    O C U L T A





No rescaldo dos votos



            Como em tudo o resto houve quem gostasse (uma maioria confortável) e quem não gostasse dos resultados das eleições regionais. É a vida. Mas o que verdadeiramente marcou este acto eleitoral foi o seu elevado civismo.

            Facto que comentadores regionais e nacionais lembraram repetidamente. Mesmo na situação difícil que se vive no país, toda a campanha decorreu sem qualquer incidente digno de registo. E, mesmo, na hora da vitória/derrota o nível manteve-se.

            Houve quem não resistisse às comparações com a Madeira. E de facto era bom que isso fosse claro para toda a gente – como penso que é – nomeadamente para os decisores políticos da república. Quem cumpre compromissos e não utiliza a chantagem como arma política deverá ser objecto de discriminação positiva.

            Virada a página das eleições estamos agora com um horizonte de 4 anos difíceis em que os Açores e os Açorianos terão que estar primeiro. Os recursos financeiros são menores e o mercado preferencial do continente tem vindo – e continuará – a retrair-se. Teremos que contar essencialmente connosco e com os mercados europeus e norte-americanos.

            Apesar do grande desenvolvimento que conhecemos com o advento da autonomia ainda nos encontramos, felizmente, suficientemente perto das práticas da economia de subsistência que nos poderão fornecer preciosas ferramentas de sobrevivência. Com a excepção óbvia dos centros urbanos maiores.

            As palavras-chaves terão que ser criatividade, inovação e resiliência.

            Os recursos terão que ser geridos com grande rigor tendo que haver um combate sem tréguas a todas as situações de abuso/fraude dos apoios sociais e um seguimento apertado de todas iniciativas empresariais que tenham incentivos. Não é possível tolerar qualquer tipo de abuso/desvio.

            Os apoios sociais terão que ser mantidos e eventualmente reforçados para quem realmente precisa e os incentivos possivelmente majorados para as empresas viáveis que demonstrem condições de criatividade/inovação/exportação. Cortando na má despesa e reforçando a despesa indispensável para o crescimento da economia.


            Sendo, simultaneamente, estruturante estimular uma cultura de trabalho e produtividade que, ao longo dos anos de vacas gordas, se foi perdendo. Sejam actividades por conta de outrem sejam actividades próprias. O sentido de poupança e de ausência de desperdício terá que voltar às nossas vidas, sejam privadas sejam oficiais.

            Como nunca é preciso uma liderança forte e mobilizadora que consiga trazer ao de cima o melhor de todos nós e nos dê um sentido estratégico de desenvolvimento em que a política desempenhe um papel central. Se a economia é o motor do crescimento a política será sempre o seu painel de comando e o coração o seu veio de transmissão.

            Todos assistimos ao que leva uma economia em roda livre em que especulação financeira e os produtos tóxicos tomam a dianteira e jugulam o investimento produtivo. O próprio FMI recomenda maior regulação e melhor supervisão tendo percebido que o simples apertar do cinto não é solução única.

            Agora que nos Açores se dá início a um novo ciclo político e a uma nova liderança que tem pela frente desafios verdadeiramente colossais é, também, altura para estimular e apoiar. Todos não seremos demais.
           
       
                                              
                         
  P E D R O    D A M A S C E N O 

sexta-feira, outubro 05, 2012

Um vídeo tolo e um radicalismo manipulado


F A C E     O C U L T A




Muçulmanos querem leis contra incitamento ao ódio religioso
                                                                                                                                      Lusa




Um vídeo tolo e um radicalismo manipulado



           
O filme, se é que assim se pode chamar, “ A Inocência dos Muçulmanos” é liminarmente ridículo, tolo e desrespeitoso. Não tem humor, sentido estético ou mensagem. É simplesmente lamentável.

No entanto a liberdade de expressão, o expoente máximo de identidade democrática, significa isso mesmo: até quem não tem talento, ideias ou respeito pelos outros deve poder expressar-se. Sujeitando-se contudo, ao passar as marcas do legalmente consentido, a ser accionado judicialmente.

            Já no século XVII Bento Espinhosa, um filósofo de origem portuguesa, afirmava “que cada um pense o que quiser e diga o que pensa” considerando a liberdade de expressão como um valor crucial no desenvolvimento do ser humano o que lhe valeu perseguições e o desaparecimento dos seus restos mortais!

            Infelizmente, em pleno século XXI, as práticas persecutórias, obscurantistas e sanguinárias da “Santa” Inquisição parecem estar a ser retomadas por outra religião monoteísta que transforma o seu livro sagrado e o “seu” Deus em pretextos para a manifestações de ódio, intolerância e ignorância.

            Todas as religiões são teoricamente boas. Apenas da teoria à prática vai, muitas vezes, uma grande distância. Basta ver grupos armados rivais mas da mesma religião a matarem-se uns aos outros e apelar ao mesmo Deus!

            Percebe-se que as manifestações que têm varrido o mundo muçulmano são orquestradas e manipuladas porque ninguém verdadeiramente acredita que a generalidade dos manifestantes tenha visto o filme ou visite habitualmente o Youtube e muito menos use, regularmente a Internet.

            Tratou-se apenas de um pretexto.
   
O vídeo, como se disse, é simplesmente cretino e nunca chegaria a ter qualquer notoriedade não fosse a promoção gratuita que o radicalismo islâmico lhe garantiu. Nem representa, naturalmente, o ponto de vista dos Estados Unidos ou de qualquer outro país ocidental.

Tentar criar um caso com um vídeo que foi severamente criticado pela própria administração americana serviu apenas para tentar condicionar a liberdade de opinião que, felizmente, existe neste lado do mundo e não existe de todo na maior parte dos países de confissão muçulmana.

Não faltava mais nada que fossem, agora, terceiros a condicionar o que se pode ou não dizer. Esse é o princípio das ditaduras que utilizam a supressão da liberdade como uma das ferramentas mais importantes para manterem a opressão e a miséria.

A imbecilidade do vídeo que deve merecer a o nosso repúdio não poderá jamais servir para misturar alhos com bugalhos e sobretudo para tentar misturar estado e religião. Porque essa confusão só serve quem não acredita na causa da liberdade.

Cada macaco no seu galho.

Os negócios de Deus não são os negócios da terra nem estes são os negócios de Deus. A vida espiritual deve ser uma via para a paz, a concórdia e o perdão. Jamais uma desculpa para a violência, a intolerância e o ódio.

           


P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
            

sexta-feira, setembro 21, 2012

Fazer o favor de ser meu amigo


F A C E     O C U L T A




                                                                          Para A. que espero não faça o favor de ser meu amigo                                                              




Fazer o favor de ser meu amigo



            Esta de “fazer o favor de ser meu amigo” é uma das frases mais enigmáticas que transitaram do antigamente, carregada de rococós, e que condensa o deleite dos meandros da hipocrisia social.

         Como se ser amigo pudesse ser objecto de favor ou uma amizade de favor pudesse ter algum valor. Quando ser amigo só pode ser partilha e altruísmo ou, então, afecto e compaixão.

            Esta maneira, simultaneamente light e arcaica, de desvalorizar – fingindo valorizar – um sentimento tão denso e precioso só poderá encontrar explicação na desvalorização das palavras que, também, passaram de robustas a obesas.

Sendo de origem vetusta e salazarista “o fazer o favor de ser meu amigo” passou a fazer parte da gíria do fast-food cultural e do socialmente correcto. Não interessando se faz subir o colesterol ou a tensão arterial.

É mais uma maneira de não dizer nada, falando.

E não dizer nada falando é também um dos pilares da cultura que procura no verbo uma maneira de iludir a vida e açucarar a sensaboria em que se tornou grande parte das nossas existências.

Existências que procuram no efémero e na gratificação das papilas gustativas a ilusão vã de viver, não vivendo. Porque viver mesmo dói, machuca e desafia. Não cria barriga.

Mas vale a pena viver sem amigos que fazem o favor de ser nossos amigos. Para, alternativamente, viver com quem nos diz na cara o que é preciso ser dito e nos arranha a alma.

Amizade que é, possivelmente, mais importante que o amor. Sendo que este, talvez na maior parte das vezes, é da cinta para baixo ou da cabeça para cima. Poucas vezes no seu sítio certo.

Porventura o ingrediente certo será amar os amigos. Porque há quem ame o que não é amigo ou negue amizade a quem o ama. Voltas de sentimentos que de tanto mal serem usados se tornaram descartáveis.

Ou como diria Fernando Pessoa: Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.




P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
           


sexta-feira, setembro 07, 2012

PICO EM ALTA


F A C E    O C U L T A


                                                                             
                              



PICO  EM  ALTA
(a quem de direito)


            É oficial (SREA): a única ilha que cresceu no turismo no primeiro semestre de 2012 foi o Pico, 5,7 % para ser mais preciso. Todas as outras ilhas tiveram um decréscimo que chegou a um máximo de 30,7%!

            Não sendo este número, ainda que significativo, razão para embandeirar em arco não deixa de ser a confirmação daquilo que, intuitivamente, se vinha sentindo: a Ilha do Pico tem vindo a aumentar a sua notoriedade e a consolidar uma sustentabilidade significativa.

            Ou seja, a Ilha Montanha, começou a descolar claramente do seu fadário ancestral de “ilha do futuro” para se tornar num caso do sector do turismo açoriano. Passem embora todas as limitações bem conhecidas nas acessibilidades.

            Para isso contribuíram, e muito, os estatutos de Património Mundial da UNESCO e de uma das Sete Maravilhas Naturais de Portugal. Mas o resto estava cá e os galardões e reconhecimentos só o vieram confirmar.

            Tendo optado por um turismo de natureza e rural, fugindo à hotelaria tradicional, a ilha conseguiu subtrair-se à lógica dos grandes números/grandes operadores só viável para destinos com condições para turismo de massas.

            Sendo que os Açores jamais poderão ser um destino de massas, de grandes números. Não temos praias nem sol assegurado e ponto final parágrafo. Só poderemos ser um destino diferenciado e de qualidade. Quanto mais depressa isto for compreendido, melhor.

            Tendo concentrado o investimento em pequenas unidades, o Pico criou uma lógica de rede que gera uma sustentabilidade que não é tão fortemente dependente dos grandes operadores e que gera o seu próprio mercado, sobretudo pelo passa-palavra.
            
            Mas tudo leva crer que esta dinâmica veio para ficar. O crescimento, embora lento, tem sido contínuo e sente-se que quem cá esteve quer voltar e trazer amigos consigo. Não se trata, por conseguinte, de uma moda mas da descoberta de um gigante adormecido e afirmação de um destino apesar de todas as dificuldades de acessibilidade conhecidas.

            Por tudo isso não se percebe a situação ridícula de existência de um mísero voo semanal para Lisboa, ainda por cima, ao sábado. Bem como a falta de ligações consistentes com os voos quer dos Estados Unidos/Canadá quer com os voos directos da Europa.

            Não há razões nem económicas, operacionais ou mesmo teóricas que justifiquem tamanho disparate. O Pico dispõe hoje de uma excelente pista, devidamente equipada e que pode crescer quase ao preço da uva mijona. Só falta mesmo é perceber a direcção das mudanças e os novos paradigmas.

            Bem sabemos que o hábito é das condições humanas mais difíceis de vencer e que a inércia é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento mas mesmo tudo isso não consegue explicar as restrições do transporte aéreo de/para esta ilha.

            Não sendo adepto das teorias da conspiração ou de, odientas e poderosas, forças políticas ocultas suponho que se tratará, mais prosaicamente, de um misto de incompetência e comodismo de que quem podia e devia fazer e não fez/não faz. Seja lá quem for.

            Meus senhores – transportadoras, políticos, associações empresariais, grupos de cidadãos, jornalistas – vão, finalmente, arregaçar as mangas e olhar para isto com olhos de ver, deixando a zona de conforto e pondo de lado as tradicionais desculpas/explicações esfarrapadas?

            Números são números.

                     
          

P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
            

sexta-feira, agosto 24, 2012

Por quem os sinos não dobram


F A C E     O C U L T A



                                                          




Por quem os sinos não dobram



            Perante a impotência da comunidade internacional, os massacres na Síria continuam a um ritmo alucinante com perdas incontáveis de vidas e prejuízos pecuniários muito vultuosos.

            A própria comunidade islâmica que se mobilizou (ou para tal foi manipulada) de forma bem agressiva em torno da questão menor das caricaturas do Profeta Maomé parece estar, agora, quase indiferente perante a tragédia.

            Embora reconhecendo a delicadeza política da situação, nomeadamente tendo em conta os exemplos do Afeganistão e do Iraque, é impressionante a incapacidade da diplomacia convencional para mediar a verdadeira guerra civil que se vive no país

Como foi presenciado por jornalistas portugueses “mata-se às cegas e sem critério” numa chacina arrepiante e, o que ainda é pior, em nome de Alá que é grande. Num retrocesso civilizacional horrendo numa área de tantos pergaminhos.

Cerca de 2,5 milhões de sírios vivem numa situação de grande carência tendo cerca de 157.600 pessoas fugido da Síria com destino ao Líbano, Jordânia, Turquia e Iraque num ambiente de falta de alimentos, electricidade e material médico.

Factos que tornam a nossa crise quase numa brincadeira de crianças e todas as nossas carências num passeio tranquilo. O que não anulando as nossas dificuldades as põem numa outra perspectiva.

São coisas bem diferentes mas as comparações são inevitáveis.
             
Nem a mesmo a constante mediatização da destruição de pessoas e bens consegue mobilizar a comunidade internacional, sobretudo a árabe e muçulmana, e ajudar a criar condições para a paz.

            A situação da Síria é mais um barril pólvora na frágil situação do Médio Oriente que poderá ser agravada por um eventual conflito Irão-Israel que, a acontecer, teria consequências gravíssimas a nível mundial.

            A globalização e a rapidez das comunicações implicam riscos sistémicos evidentes que ultrapassam o folheto televisivo da guerra na Síria ou as afirmações irresponsáveis do Presidente do Irão.

            Um conflito bem mais alargado poderá ocorrer a qualquer momento. A pólvora e o lume estão lá e só o bom senso e um grande esforço internacional o poderá evitar. Nem Assad vai baixar os braços nem as forças “revolucionárias” vão depor as armas.

            As conversações entre líderes mundiais sucedem-se e as tentativas de mediação prosseguem mas sem fim à vista. Os sinos não dobram, realmente, pelos elos mais fracos da cadeia que são as populações indefesas de crianças, mulheres e idosos.
           
         

P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
            

sexta-feira, agosto 10, 2012

CURIOSITY


F A C E     O C U L T A



                                                         A curiosidade matou o gato
Ditado anglo-saxónico





CURIOSITY



 Curiosidade, assim se chama o robot espacial que aterrou em Marte na madrugada de segunda-feira passada e originou nos Estados Unidos muitas e variadas manifestações de euforia que contagiaram o próprio Presidente.

Saudada com um facto histórico da ciência e tecnologia a nova missão espacial americana propõe-se desvendar os mistérios daquela planeta, nomeadamente, a existência de vida.

Projecto de custos astronómicos – 2,5 mil milhões de dólares - e que chegou ao destino após uma viagem de 570 milhões de quilómetros que iniciou em Novembro de 2011.

Uma epopeia notável.

Contudo nós, aqui em baixo, continuamos a enfrentar problemas de fome e miséria profundas que afectam milhões de seres humanos. O que, sem cair em demagogias, não deixa de ser muito perturbante.

É estranho ver tantos recursos – humanos, científicos e pecuniários – serem afectados a objectivos que, ainda que importantes, se desviam muito daquilo que deviam ser as nossas preocupações prioritárias: a saúde do nosso próprio planeta e o conforto mínimo para os milhões de pessoas que vivem do quase nada.

Tudo isto no Ano da Graça de 2012, em plena crise que varre a Europa e os próprios Estados Unidos e no rescaldo do falhanço da Conferência Rio + 20 durante a qual, mais uma vez, não foi possível obter consensos ambientais convincentes.



Nada a opor ao avanço do conhecimento humano que nos venha dotar de ferramentas que tornem as nossas vidas mais longas, mais prósperas e mais felizes. Mas de pouco vale sonhar com a lua se nem a nossa própria casa conseguimos endireitar.

É irónico que, ao mesmo tempo que um robot chega a Marte e o desemprego atinge em Portugal níveis alarmantes, ainda seja possível obter nos Açores baixas fraudulentas para servirem fins inconfessáveis de quem se dá ao luxo de brincar com postos de trabalho.

Como é lamentável que enquanto o robot Curiosity seguia para um planeta distante se tenham sucedido graves assassínios em massa na América ou tenham sido executadas milhares de pessoas às mãos de um regime déspota na Síria.

Dir-me-ão que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas, infelizmente, tem. Não vale a pena tentar correr quando ainda não somos capazes de gatinhar. Não e possível separar o que é inseparável.

Temos hoje tecnologia e recursos para tornar o Planeta Terra numa casa confortável com pão e saúde para todos. Uma “utopia” que não passa disso mesmo apenas porque ainda a tal não nos propusemos.

Oxalá que, desta vez, a Curiosidade não ajude a matar o gato.





P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
           


sexta-feira, julho 27, 2012

Cultura, Títulos e Rock'n'rol


F A C E    O C U L T A


O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar.

Fernando Pessoa


Cultura, Títulos e Rock'n'rol



            Portugal, sobretudo depois da expulsão dos judeus e da perseguição aos jesuítas, nunca primou pelas suas elites culturais. E o que delas restava foi “primorosamente” espezinhado pelo Estado Novo.

 Ficaram uns quantos resistentes que acabaram levados pela enxurrada da “cultura de massas” e de quem se vêm, por vezes, alguns afloramentos. Mas que, geralmente, acabam perdidos num mar de lugares comuns e mediocridade.
           
As recentes polémicas sobre títulos académicos “turbojet” nada mais são do que a outra face da mesma moeda. Mesmo um cursinho tirado de fio-a-pavio não dá qualquer garantia, nem de qualidade técnica nem de valia cultural.

A inflação de “drs” em Portugal está associada à baixa de qualidade do ensino universitário e à proliferação de universidades e cursos. Tendo a louvável e progressista iniciativa de democratizar o ensino e dar iguais oportunidades a todos, aberto as portas a negócios de quase vão de escada.

Só assim se percebe a confrangedora mediocridade de fornadas de licenciados que, em muitos casos, mal sabem falar e escrever. Situação bem mais grave daquela em que ocasionais chico-espertos souberam aproveitar as debilidades do sistema e que, em alguns casos, estão mais preparados que os licenciados de carreira.

A universidade devia ser, antes de mais, uma escola para gerar gente de bitola intelectual e cultural superior, susceptível de acompanhar, pela vida fora, o ritmo alucinante do conhecimento e dos progressos técnicos. Talvez por isso mesmo ainda se chame ensino superior.

Não de drs para pôr em cheque ou em cartão-de-visita. Não de gente que foi convencida que o que era importante era ter um canudo e para quem essa palavra estranha - resiliência - era evitável com o recurso a um atalho proporcionado por uma universidade privada.

E com a enxurrada da cultura de massas vieram os Códigos da Vinci e agora o fenómeno Grey com as “As cinquenta Sombras de Grey”, livros para ler na praia e que constituem exemplos inquestionáveis da cultura instalada.
Bem pode o pobre José Luís Peixoto matar-se a escrever “Abraço’s” e outros livros que tais em que pondera o tempo, a reflexão e a sabedoria e em que a lucidez se torna milagre. Nunca poderá destronar uma porno-xaxada mal escrita mas que activa as feromonas das donas de casa.

Cultura e universidade deveriam andar, de mãos juntas. Não cultura no sentido bafiento e chato do salazarismo mas cultura no sentido mais universalista e polivalente e que as actuais facilidades digitais e da net permitem.

Tempo da música continuar a ser música sem perder, contudo, a contemporaneidade e a modernidade e da arte pode vingar sem se tornar no bezerro de plástico de qualquer governo mas antes modelando o talento aos novos desafios da vida e às grandes questões do tempo presente.

Estamos na época em que a cultura e arte abriram mão do seu papel de intérpretes e fieis depositários das nossas inquietações e da nossa sabedoria para se tornarem em produtos de prateleira de supermercado, ao lado dos detergentes e do papel higiénico.

Não admira, pois, que o ensino e os canudos andem pelas ruas da amargura. Entraram em saldo e de lá não sairão enquanto a inaptocracia (o sistema dos inaptos) continuar a ganhar raízes e arremedar-se de regime democrático e não prevalecerem os princípios do mérito e da competência.



P E D R O     D A M A S C E N O
           
           
           


sexta-feira, julho 13, 2012

Vai tudo correr bem


F A C E    O C U L T A


                                                                                 
           
Vai  tudo  correr  bem


           
            Perante as maratonas de notícias negativas, de manhã à noite, imprescindível se torna acreditar que nem tudo vai mal e que todos os sacrifícios/dificuldades não vão ser em vão.

            Mas para isso é preciso adoptar um atitude fortemente positiva que não pode ficar apenas por pensamentos filosóficos mais ou menos optimistas/irrealistas mas que se vá reflectir num empenho redobrado no nosso dia-a-dia.

            Não há outro caminho.

            Cada um, no seu posto de trabalho ou actividade,  tem de assumir uma luta pela excelência não alegando as dificuldades como desculpa para baixar os braços. Seja no sector publico ou no sector privado, o barco é o mesmo.

            Basta de falar apenas mal da política e dos políticos e começar a assumir progressivamente, ao nível pessoal, uma atitude de intervenção cívica e de luta perante a corrupção, o desleixo e a incompetência.

            O nosso destino está nas nas nossas mãos e não vale a pena procurar bodes expiatórios em tudo o que mexe. Havendo certamente culpados e muitos no que se está a passar tudo deslizou perante a nossa indiferença/laxismo.

            Seja ao nível do exercício do direito de voto – a abstenção é galopante – seja ao nível da pequena prepotência/incompetência/abuso de poder. O todo é o somatório das partes.

            Roosevelt dizia e bem que o que temos a fazer é fazer o melhor que podemos, aonde estamos e com os recursos que temos. O que soando a  banalidade é, realmente, uma grande verdade.

            Não vai haver primeiro-ministro, ministro ou partido que nos valha enquanto estivermos à espera que sejam sempre terceiros a tirar-nos as castanhas do lume. E muito menos a dita comunidade europeia como está visto e revisto.


            A única forma adequada de reagir é dar uma corrida para a frente e começar a deixar o sofá, as telenovelas e as conversas de xaxa  nos cafés. Voltando a assumir o espírito de luta e de sobrevivência.

            Temos que voltar a participar nos partidos, nas associações (cívicas, empresariais, sindicais, culturais, desportivas, etc) e assegurar que as mais diversas assembleias gerais não se continuem a fazer com meia dúzia de gatos pingados.

             Temos que abandonar o casulo individual e assumir as nossas responsabilidades comunitárias fomentando e apoiando iniciativas de carácter comum que visem resolver os nosso problemas não deixando as decisões sempre nas mesmas mãos.

            Para além da excelência do nosso trabalho teremos que assegurar que o mesmo se passe ao nível das empresas e da administração pública. Sendo necessário reivindicar, responsabilizar, denunciar (olhos nos olhos) mas também participar, ajudar e recompensar.

            Em democracia não pode haver lugar para medos a represálias ou intimidações. Em tempo de guerra não se limpam armas e os nossos brandos (fracos) costumes terão que dar lugar a rigor, competência e isenção.

            Na Islândia aconteceu isso mesmo e  a volta começou a ser dada em tempo recorde.  E lá e como cá  as pessoas são feitas da mesma massa. Falta apenas arregaçar as mangas e perder a barriga.

            Vai tudo correr bem, se assim for.

           


           

           

P E D R O     D A  M  A  S  C  E  N  O