sexta-feira, novembro 02, 2012

Democracia e representatividade


F A C E    O C U L T A





Democracia e Representatividade




            Um grupo de cidadãos de variadas tendências e antecedentes como são o caso de Campos e Cunha (ex-ministro da Economia de um governo socialista), Gentil Martins (antigo Bastonário da Ordem dos Médicos) e Ribeiro Castro (ex-líder do CDS) lançaram uma petição a propor a alteração da Constituição a fim de permitir candidaturas independentes à Assembleia da República.

            Esta iniciativa está, porventura, ligada ao desgaste e à falta de credibilidade de muitos agentes políticos e à sensação de que os partidos continuam virados mais para dentro do que para fora assumindo um papel mais corporativo do que representativo. Factores que pesarão na nossa elevada taxa de abstenção.

            Sendo os partidos a espinha dorsal da democracia representativa não deveriam, mesmo assim, ter o monopólio da representação na Assembleia da república. O que está na linha do que já acontece nas autarquias locais e que veio promover um aperfeiçoamento cívico e participativo.

            Há todas as vantagens – e desconhecem-se as desvantagens – de os cidadãos se poderem apresentar a sufrágio para deputado nacional ou regional quer integrando uma força partidária quer representando um grupo de cidadãos ou, porque não, defendendo apenas uma plataforma individual destinada a criar o seu próprio ciclo de eleitores.

            A consolidação do sistema parlamentar e o papel central dos partidos nessa consolidação teve um papel da maior importância no robustecimento da democracia e no enterro, com pompa e circunstância, de qualquer tentativa totalitária mas será agora necessário ascender a um outro patamar.

            E esse patamar significará a possibilidade de os debates e actividade política da Assembleia da República – a Casa da Democracia – saírem da lógica estritamente partidária para serem enriquecidos por contributos de quem não se revê em qualquer dos partidos com assento parlamentar.

            Sendo um objectivo que encerra alguma utopia não deixa de ser importante ou defensável até porque, como está provado, as utopias de hoje são, quase sempre, as realidades de amanha. E que um novo caminho começa sempre com um primeiro passo.
           
E a lógica que se defende para a Assembleia Regional é mesma com que se poderá defender a possibilidade de existência de candidaturas independentes às Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira. Afloramento aliás verificado nas últimas regionais com a Plataforma de Independentes.

            O valor da estabilidade governativa é inquestionável mas nada impede que esse valor seja atingido com a participação de independentes cujo número será, por muitos e bons anos, relativamente insignificante. Que será a consequência da escassez de meios que essas candidaturas irão, inevitavelmente, ter.
           
            Mas será uma nova avenida de participação cívica e política que deverá ser apoiada por todos os democratas e pelos próprios partidos que, desse modo, darão provas de vitalidade e de capacidade de auto-reforma. Os monopólios apenas servem interesses instalados que não querem perder privilégios.

            Este debate agora iniciado a propósito da moção será um grande teste à nossa capacidade para sair dos velhos paradigmas e encontrar um modo de recuperar para o processo participativo um grande número de cidadãos que tendo muito a dar não se “encaixam” no actual quadro político-partidário.
         
                                                       
                      
       

P E D R O    D A M A S C E N O
           
           
           


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