sexta-feira, dezembro 07, 2012

INSACIABILIDADE


F A C E    O C U L T A



                        Quem é rico? Aquele que não deseja coisa alguma. Quem é pobre? O avarento.
                                                                                                                                               Ausonius



INSACIABILIDADE



            Insaciabilidade é a nossa disposição psicológica para querer sempre mais e mais. Seja para bem materiais ou outros e que nos faz correr, tantas vezes, atrás de verdadeiras quimeras como a alquimia que nunca conseguiu a transmutação dos metais inferiores em ouro ou o elixir da longa vida.

            Insaciabilidade que tornou obsessiva a crença de que o progresso está indissociavelmente associado ao crescimento contínuo do BIB (Produto Interno Buto) e que deste depende a nossa felicidade – leia-se – a nossa capacidade consumista.

            Sendo certo que este conceito se aplica, essencialmente, aos países ditos ricos já que há nações em que milhões de seres humanos que se situam no limiar da sobrevivência mergulhados no caos e na doença e para quem a actual crise económica mundial “apenas” teve reflexos marginais.

            Mas para essa insaciabilidade da nossa cultura muito contou o estímulo constante ao consumo, a ter mais e mais coisas para as quais, cada vez menos, temos tempo. Consumo que tem sustentado o crescimento do PIB e que se tornou numa verdadeira espada de dois gumes.

            Crescimento que possibilitou grande melhoria das condições de vida por um lado mas que estimulou ganância, inveja e avareza por outro. Estimulando uma sociedade altamente competitiva e, crescentemente, falha de princípios e valores de solidariedade e entreajuda.

            Nos Açores essa deriva – por muito recente – é bem visível.

            Em pouco mais de trinta anos os comportamentos sociais, e mesmo morais, sofreram modificações radicais nos nossos meios rurais. A grande melhoria das condições de vida e de conforto não foi acompanhada por igual progressão ao nível da vida comunitária e dos valores comportamentais.
           
Males como a inveja social, a irresponsabilidade, a corrupção, a promiscuidade foram, infelizmente, a moeda de troca. A educação tem-se vindo a perder a um ritmo frenético e a instrução, embora de mais anos, tem vindo a decrescer em qualidade.

            O advento da crise, iniciada em 2008 com o colapso de sistema bancário internacional e as consequências em cadeia que desencadeou, veio acordar-nos, subitamente, para a realidade da nossa grande vulnerabilidade de pequeno país adormecido nos braços da “doce fada” consumista.

            De um dia para o outro os nossos credores passaram de 80 para 8. De estimados clientes passamos a mal-amados devedores. De crédito para tudo e para nada passamos à falta de crédito para o que quer que seja. De cidadãos felizes e estimados à-beira-mar-plantados passamos para pagantes toma-e-cala-te do sul preguiçoso e incumpridor.

            Uma história mal contada e que tem muito mais a ver com os defeitos morais e conceptuais do nosso sistema do que com as pessoas individualmente consideradas. O próprio John Maynard Keynes, economista de grande estatura, se enganou quando pensou que a abundância iria conduzir ao progressivo aumento do lazer das pessoas e à sua felicidade.

            Talvez seja tempo, por tudo isso e aproveitando a crise, para nos questionarmos sobre os nossos objectivos de vida e deixarmos de considerar o dinheiro como principal receita para a felicidade. Ou, usando outras palavras, decidir do que realmente precisamos para ter uma vida boa retirando ao dinheiro o estatuto de amo e senhor para o tornar num simples criado ao nosso serviço.

            Possivelmente será a única maneira de nos libertarmos das grilhetas que hoje, tão pesadamente, nos limitam.

           

P E D R O     D A  M  A  S  C  E  N  O 

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