F A C E O C U L T A
“Não é por 0,20 centavos, é por direitos”
Frase
Viral das Redes Sociais Brasileiras
A “Revolução” da Classe Média
Bem longe andava Carl Marx de
imaginar que um dia a Classe Média se iria revoltar em manifestações inorgânicas
e dar origem a movimentos cujas consequências poderão despertar uma nova ordem
mundial.
Começou pelos Estados Unidos, passou
à Turquia, daqui ao Brasil e, qualquer dia, passará inexoravelmente à China. Tendo
tido como ponto de partida as manifestações da “Primavera Árabe”, fenómenos gerados
pela era digital e ampliados pela internet.
Tendo todos esses movimentos tido causas
com origem na classe média.
Nos Estados Unidos (Occupy Wall Street) os protestos foram contra o modelo
económico e o empobrecimento da classe média, enquanto a parcela mais rica da
população, os chamados 1%, continuavam a ser premiados com descontos nos
impostos.
Na Turquia “foi para a rua uma
classe média instruída, secular, liberal e contrária a concentração de poder na
figura do primeiro-ministro e à islamização do estado laico”.
No Brasil a crítica é feita contra a
forma como o dinheiro público é gasto, contra a qualidade dos serviços públicos
e contra a corrupção. O debate centra-se no Brasil que os brasileiros querem
ter, com múltiplas de causas de direita e de esquerda.
As manifestações passaram, num ápice, das críticas dos preços dos
transporte públicos para os elevados gastos com a organização de eventos
desportivos como o Mundial 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, em detrimento de
outras áreas como a saúde e a educação.
Uma das grandes novidades políticas,
para além da origem de classe, é o facto de não estarem envolvidos nem partidos
nem sindicatos como acontecia tradicionalmente. Talvez porque essas
organizações não têm uma presença nas redes sociais que lhe permitam perceber o
novo paradigma reivindicativo.
Fenómeno que atinge os partidos
transversalmente e que começa a tornar um pouco obsoleto o sistema democrático tradicional, face
à capacidade de luta que a sociedade tem, inorganicamente, demonstrado.
Em Portugal ainda nada aconteceu
nesta escala mas será de esperar que possa ocorrer face ao elevado grau de
cepticismo e mesmo desconfiança que os partidos/políticos despertam numa classe
média progressivamente empobrecida e encurralada.
A classe média, mais informada e
culta, aceita mal a iniquidade, a má gestão dos dinheiros públicos, a baixa
qualidade dos serviços oficiais, a corrupção, a falta de diálogo entre
governantes e governados e, progressivamente, não se revê nos partidos
tradicionais cuja vocação principal é o poder.
O resultado só poderá ser o
aparecimento crescente de movimentos inorgânicos que consigam captar a larga
fatia da classe média que, cada vez mais, se abstém de votar mas que quer participar
politicamente sem ser dentro de um quadro partidário clássico.
Tendência que só poderá contrariada
por uma profunda reforma dos partidos do dito eixo governativo que terão de
adoptar uma cultura democrática aberta e uma prática de competência e de
mérito, eliminando o caminho estreito dos aparelhos partidários e das benesses
pessoais.
A “revolução da classe média” veio
para ficar, não se tratando de um fenómeno passageiro que poderá ser disperso
por discursos de circunstância ou demagogias eleitorais. Apenas a governação
competente, honesta, equitativa e respeitosa poderá dar resposta ao novo ciclo
que se está a iniciar.
São disso prova as denuncias das
perversões do sistema que têm vindo a ser feitas como o já famoso Wikileaks que
veio por em polvorosa o mundo inteiro e mais recentemente a denuncia das
violações dos direitos humanos por parte da Agência Nacional de Segurança dos EUA desencadeada por Edward Snowden e que tanta tinta
já faz correr.
A bola de neve começou e não vai
parar apenas com conversa e/ou repressão.
P E D R O D A M A S C E N O