sexta-feira, novembro 25, 2011

Um novo paradigma

Um novo paradigma


Parece ser cada vez mais consensual a necessidade encontrar um novo modelo social para substituir o actual capitalismo cada vez mais incapaz de assegurar os equilíbrios indispensáveis ao bom funcionamento da economia.

As diferenças sociais crescentes e o alargamento do fosso entre pobres e ricos geraram, independentemente de perspectivas políticas, uma ingovernabilidade inultrapassável no actual modelo.

O modelo anglo-saxónico de capitalismo falhou e está, provavelmente, de saída. E o modelo europeu tem, também, grandes desequilíbrios estruturais bem patentes na actual crise que assola a comunidade dos 27.

Ambos promoveram o consumo desenfreado não estimulando a poupança mas sim o crédito/dívida. O seu crescimento foi primariamente gerado por esse consumo.

A bolhas imobiliárias, em ambos, criaram a ilusão de riqueza esquecendo o seu carácter especulativo. Ambos apostaram no crescimento ininterrupto como a solução. Mas o crescimento linear e contínuo não é possível num mundo de recursos finitos.

Tendo ambos falhado porque não é possível comprar o caminho para a prosperidade mas sim construi-lo. E essa construção passa por investir no capital humano, na investigação e no desenvolvimento estrutural. Desse modo satisfazendo as necessidades básicas do cidadão numa via para o contentamento/felicidade.

A via do ter, ter e ter em detrimento do ser está a levar a um estado de roptura. A satisfação do desejo ardente de ter isto ou mais aquilo é, normalmente, sol de pouca dura. Logo outro desejo “impossível” surge e o ciclo recomeça.

A ilusão de riqueza cria uma dependência incompreensível porquanto efectivamente o ser humano – pelo menos no mundo ocidental – nunca viveu com tanta abundância, conforto e facilidade como hoje. E mesmo assim continuamos insatisfeitos e a querer mais e mais.

Sendo os recursos finitos e a população cada vez maior é claro que o paradigma do crescimento continuo e da “invenção” imparável de novas necessidades deixou de ter sustentabilidade. Axioma, infelizmente, confirmado agora à saciedade.

Sendo necessário, como alguns já lhe chamaram, uma nova renascença ou a criação de um novo paradigma social que não se afirme na bebedeira colectiva de uma riqueza ilusória ou no primado do consumo cego.

Sendo para isso indispensável sair da caixa dos ismos (capitalismo, socialismo, liberalismo, etc) e procurar refundar os conceitos de cooperação e entreajuda, seja a nível individual seja a nível das nações.

Tornando possível viver vidas que valha a pena viver.

O que só se poderá acontecer com advento de uma economia que ponha o planeta e os recursos naturais no centro do palco e crie condições para o regresso da biodiversidade e da cooperação como condições nucleares da felicidade humana.

Uma economia que tenha lido com atenção os desvios e as perversões do vários “ismos” já experimentados e consiga encontrar uma bissectriz adequada que não nos leve de volta à idade da pedra mas que nos resgate de um tipo de vida manifestamente insustentável.

Utopia? Talvez...


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, novembro 11, 2011

POLITICOS - Precisam-se

POLÍTICOS
Precisam-se



Até bem recentemente vinha ganhando inúmeros adeptos a ideia de que as ideologias tinham morrido e que isso dos partidos ia tudo dar ao mesmo. Um fim anunciado das ideologias.

A política e os partidos seriam, desse modo, descartáveis. O bem estar que se vivia, sobretudo na Europa, confirmava que mais para aqui ou mais para ali não haveria grande diferença.

Os princípios e valores foram sendo substituídos pelo primado do consumismo e da gratificação imediata e pensava-se que estávamos à porta do reino dos céus. Uma nova geração, apenas com direitos, foi-se moldando nesse manancial de mel.

Até que a crise da bolsa de Nova Iorque e a falência do maior banco americano desencadearam um terramoto cujas réplicas (fortes) se continuam a sentir por todo o mundo, sobretudo no “paraíso” europeu.

O resto é conhecido.

O cidadão comum é encostado à parede e responsabilizado por ter vivido acima das suas possibilidades e assim ter levado o estado(s) à bancarrota. Sendo condenado, sem apelo nem agravo, a penosa e incontornável factura.

Ficando por esclarecer o falhanço clamoroso do estado providência e, sobretudo, das razões políticas que, embalando os incautos, caucionaram uma gigantesca bolha de especulação financeira que, progressivamente, aumentou o fosso entre pobres e ricos.

Nunca no mundo ocidental se viveram tamanhas diferenças sociais como consequência directa do fim anunciado das ideologias e do regabofe financeiro que a seu coberto se foi instalando.

As pessoas gastaram efectivamente demais. Mas a isso foram incentivadas não apenas porque quem queria vender dinheiro barato a todo o custo mas também pela administração publica e pelos políticos que levaram o desperdício e má gestão a níveis intoleráveis.

Tudo em nome de um maná que jorrava a rodos não se sabia bem de onde. Aceitou-se a legitimidade de fazer dinheiro com dinheiro sem regras e desvalorizou-se o princípio da criação de riqueza e do investimento produtivo.

Desvalorizou-se a ideologia para não a tornar um estorvo ao crescimento ganancioso e criou-se a ilusão que todos podiam ser e seriam ricos. Sem que para isso tivessem que fazer esforço especial. Bastaria tomar o ar e esperar.

Com a queda das ilusões percebe-se que o futuro não depende exclusivamente do cumprimento do acordo com a troika mas que terá que ser encontrado um rumo que ponha o trabalho, o mérito e a equidade à cabeça.

Esse rumo terá de ter necessariamente uma forte matriz política e ideológica. Estando esgotado e falido o actual modelo económico e social torna-se imprescindível encontrar outro paradigma para a nossa vida.

A ideologia e os políticos voltam , por isso, a ser novamente um bem de primeira necessidade. A economia deixada à solta já mostrou do que é capaz mas não serão saídas totalitárias que resolverão o que quer que seja.

O debate esta aberto e é urgente.

Políticos, precisam-se.



PEDRO DAMASCENO