sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Consumismo e animais de estimação

Consumismo e animais de estimação


A obsessão do consumo, como é sabido, já atinge as nossas ilhas, mesmo as mais rurais. Sendo o consumismo uma forma de gratificação sensorial imediata (leia-se básica), tem alastrado por todo o mundo de forma estonteante.

Tendo como base a aquisição de “bens” - com caracter eminentemente descartável - cuja posse tem a ver, sobretudo, com capacidade económica e a existência de um mercado com produtos em constante mutação/moda.

O consumismo vive da produção, em larga escala, de produtos que se torna “indispensável” adquirir para se estar na moda. Sendo irrelevante que se sejam ou não necessários para quem os compra.

Consumismo que usa, o forte apelo aos sentidos e ao imediatismo e o estar ou não na moda, como iscos. Seja vestuário, carros, telemóveis e toda uma panóplia de equipamentos e acessórios.

Não vestir à moda ou não ter isto ou aquilo que é suposto ter – mesmo que não seja de todo necessário – tornou-se uma anátema social que leva as pessoas a endividamentos e a sacrifícios pessoais que poderiam perfeitamente evitar.

Em vez de usufruir o que podem ter e disso fazerem o melhor uso, correm atrás de coisas que acabam por pouco ou nada usar. Apenas porque fazem parte das fantasias de ostentação do grupo social a que julgam pertencer.

Mas, infelizmente, a moda não se cinge a objectos. Tem vindo a atingir os chamados animais de estimação que, pela mesma lógica, são adquiridos em função do que se estima ser uma forma de importância social.

Não importando que se tratem de animais vivos que, ao fim e ao cabo, são os nossos companheiros nesta aventura que é a vida e cuja essência reside na biodiversidade. Eles próprios são, grande parte das vezes, adquiridos em função da raça/marca e do preço.

Sendo os cães o caso mais paradigmático.

Porque só gente sem imperativos sociais adopta um dos muitos rafeiros que por aí andam abandonados. Rafeiros que não dão estatuto social e, ainda por cima, são a consequência frequente dos devaneios dos animais de raça que obedecem mais aos seus instintos do que à sua casta...

De modo que há que os abandonar por aí como quem atira um objecto indesejável para o baldo do lixo. Mesmo que já mutilados (rabos e orelhas) em virtude da moda que nada se preocupa com o animal em si mas apenas com os caprichos dos donos.

O número de cães abandonados no Pico tem vindo a crescer sendo esse fenómeno consequência directa do consumismo que se aproveita da incapacidade dos animais para se defenderem para os tornar, também, em objectos descartáveis.

Um ser vivo não deveria, jamais, ser um objecto de moda. Ter um animal de estimação deveria, sempre, implicar uma grande sentido responsabilidade e respeito. Afinal não consta que algum animal tenha jamais pedido para ser de estimação de quem quer que seja.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Lei e "leises"

Lei e “leises”
Como um estado de direito se põe em causa a si próprio


O Arcebispo de Canterbury (Reino Unido) foi, recentemente, centro de uma polémica que se gerou em torno de declarações que proferiu a propósito da sharia – a lei islâmica.

Disse o citado sacerdote, Dr Rowan Williams, que há cidadãos da Grã-bretanha que não se revêem no sistema legal britânico em virtude das suas convicções religiosas. Como é o caso dos muçulmanos.

Considera, por isso, que será inevitável adoptar naquele país medidas que reconheçam a sharia como forma de resolver certas disputas – maritais, financeiras, etc. – em detrimento do sistema legal do país!

Ou seja os muçulmanos a viver em Inglaterra poderiam, nessa perspectiva, optar pela respectiva lei religiosa – a sharia – para resolveram alguns dos seus problemas. O que levado ao absurdo iria conduzir o país, bastião das democracias europeias, a um sistema de lei e “leises” completamente surrealista e iníquo.

Retomando um dos exemplos citados pelo Arcebispo de Canterbury – as disputas maritais – fica sem saber como tal regime de excepção poderia ser invocado. Naturalmente apenas pelo marido porque, como é sabido, a mulher nas sociedades islâmicas tem um estatuto marginal e secundário.

A base de qualquer estado de direito é, em primeiro lugar, um sistema judicial independente de qualquer tipo de pressões ou influências que trate os cidadãos exactamente da mesma forma.

Em segundo lugar esse sistema tem que aplicar as leis imanadas de um órgão de representação democrática, livremente eleito. Não havendo nem podendo haver modificação dessa leis em virtude de qualquer factor de ordem ideológica ou religiosa.

Os juízes nos tribunais, os políticos nos órgãos de governo, os soldados nos quartéis e os religiosos nos templos. Todos devidamente respeitados mas estando cada “macaco” no seu respectivo galho.
Da mesma forma que é impensável que um cidadão de origem espanhola a viver num país islâmico venha aludir à lei dos casamentos de homossexuais a vigorar em Espanha para poder contrair matrimónio naquele país é, igualmente, impensável que um marido de confissão islâmica queira decidir legalmente em Inglaterra o destino do seu casamento com base na sharia.

As declarações do religioso britânico são um bom exemplo das perversões a que a democracia e a tolerância, levadas ao extremo, podem conduzir. Sobretudo na mesma altura em que foi desmontada uma operação de radicais islâmicos que pretendia executar o autor dinamarquês das caricaturas de Maomé.

A total liberdade de confissão religiosa é outro dos pilares fundamentais de um estado de direito. Mas uma coisa é a liberdade de prática religiosa e outra, bem diferente, é a “liberdade” de imposição religiosa.

Nada disto teria grande importância se tudo tivesse sido dito por um mullah a viver em Inglaterra. O grave é terem sido proferidas por uma figura alta da hierarquia religiosa inglesa que, obviamente, não sabe discernir entre liberdade e licenciosidade.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

AÇORIANICES


AÇORIANICES


Ficar retido em S. Jorge, por mau tempo no canal, sendo proveniente do Pico e não conseguir fazer prova de residência nos Açores para poder beneficiar da tarifa de residente na SATA é obra. Mas acontece. Tudo entre as duas margens do canal.

Basta sair do Pico de manhã e não conseguir regressar à tarde, como previsto, por causa da intempérie. Não interessa a carta de condução emitida nos Açores e indicando morada na ilha, não interessa a carteira profissional, não interessa as comprováveis causas da deslocação, o conhecimento pessoal. Não interessam, mesmo, os números dos documentos. Nada.
Ou tens o BI e Contribuinte ou pagas tudo, mesmo que por motivos perfeitamente imprevistos e dentro de portas, no âmbito pequenino do Triângulo que queríamos que fosse maior...

A mesma burocracia pesada e desligada da realidade apesar do cartão único, do simplex, etc. Um dificuldade quase congénita de distinguir entre o essencial e o acessório.
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Mas falando do Triângulo que queremos maior. Para voar do Pico para Lisboa só à terça-feira e viva o velho. Mesmo que voar nesse dia seja o mais inconveniente possível. E é!

Então a “alternativa” é o aeroporto da Horta. Mas se for nos dias em que voo sai de tarde só é possível apanhar o dito utilizando a lanchas das 10,45 e ficar horas perdidas de seca no Faial.
Chegando de Lisboa ao aeroporto de Castelo Branco de manhã só com muita sorte é possível apanhar a lancha que parte da Horta às 10,00 horas. O que significa, inexoravelmente, outra seca.

Não sendo apologista da ideia de que essas anomalias acontecem propositadamente não deixa de ser espantoso que ninguém (desde as transportadoras aéreas à Transmaçor e ao próprio Governo Regional) se tenha preocupado com o assunto.

Não é preciso fazer nenhum inquérito no aeroporto da Horta – como algumas pessoas advogam – para saber que o tráfego com origem e/ou destino no Pico, que se destina ou vem de Lisboa e que passa por Castelo Branco é extremamente significativo para não dizer que é, pelo menos, metade.

Só não vê quem não quer ver. E já agora é fantástico que os voos de manhã da TAP de Lisboa para a Horta partam a uma hora que inviabiliza, de todo, qualquer ligação a voos provenientes da Europa. Presumindo-se que se trata de mais uma ajuda no combate à sazonalidade do nosso turismo...
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Como alguém dizia, com muita piada, os carros no Pico podiam ser mais baratos dado que não carecem de pisca-piscas. Quase ninguém os usa. E não é preciso porque a PSP está demasiado ocupada com a caça aos papeis e a montar controles/armadilhas de velocidade à beira de sinais de 30 km e outros que tais.

Para o resto – as manobras perigosas, os excessos de velocidade de pesados que nada respeitam, os estacionamentos em contravenção, a falta de civismo, a droga, etc – não têm tempo. Com as desculpas de sempre: falta de efectivos e de meios e os tribunais que lhes tiram a autoridade.

E não vale a pena insistir porque é pregar no deserto tanto mais que os efectivos são na sua maioria de origem local o que lhes limita, à partida, o exercício de um actividade que tem de reprimir e punir para ser eficaz. E as chefias principais são de “fora” e temporárias o que só vem ajudar à festa.

E esse bem precioso (direito constitucional) tão típico das ilhas - a segurança de pessoas e bens - lá se vai esfumando mercê de uma combinação de brandos costumes, receio de confrontar amigos/vizinhos/família e vontade de fazer pouco.

P E D R O D A M A S C E N O