terça-feira, agosto 30, 1994

UMA CUNHA PARA A COMISSÃO POLÍTICA


FACE OCULTA


UMA CUNHA PARA A COMISSÃO POLÍTICA DE ILHA DO PICO DO PSD


O recente sucesso da actuação política de ilha do Pico do PSD na questão do bloco operatório do futuro Centro de Saúde de S. Roque, em relação ao governo que apoia e à oposição, veio abrir novos horizontes para uma ilha a que tem faltado fôlego para reivindicar, de forma eficaz, o seu direito à qualidade de vida e ao desenvolvimento.

Pela primeira vez na história democrática da Ilha do Pico o PSD local foi capaz de, pública e frontalmente, criticar o «seu» governo e concertar algum tipo de actuação política com a oposição. E os resultados estão à vista: em vez de, uma vez mais, ser defraudado um compromisso assumido tudo acabou por voltar ao projecto inicial. E toda a gente lucrou com isso, incluindo o próprio PSD.

De modo que, porventura, estão criadas novas condições para que o Pico passe a defender os seus interesses de forma mais hábil e eficaz perdendo os tradicionais e reverenciais temores partidários.

Se faz sentido que os partidos procurarem manter uma imagem exterior de unidade e coerência não faz menos sentido que essa imagem não seja conseguida à custa de interesses legítimos dos seus eleitores. Só assim a democracia se poderá dignificar e os partidos recuperarem alguma da muita credibilidade que já perderam.

Resta agora saber se o que se passou foi apenas um acto isolado e fortuito ou se foi primeiro passo numa nova via.

Segundo o primeiro responsável pela estrutura máxima do partido de governo na Ilha do Pico tratou-se de um aviso à navegação com vista a outras situações que poderão vir a verificar-se!... E presume-se que está a falar do alargamento da pista, das estradas do Pico e de Escola da Madalena. Situações sobre as quais também se presume que tenha a legítima suspeita de que poderão vir a ser vítimas de iguais tentativas de poupanças orçamentais que o governo nos possa a vir a querer fazer à custa das ilhas de baixo.

E, se não se questiona a importância do bloco operatório de centro de saúde de S. Roque, há que lembrar, contudo, outras prioridades que estão, indiscutivelmente, num plano superior como é o caso da pista, pois do seu alargamento dependerá o futuro da ilha. Porque não há ilha que se possa desenvolver sem portas de entrada e saída adequadas. Razão pela qual a presente pista é o estrangulamento número um do Pico, em conjunção com as surrealistas ligações marítimas da Transmaçor e os preconceitos da SATA.

Ou seja: enquanto chegar ao e sair do Pico continua a ser o autêntico martírio que – tantas vezes – é, não há santo nem santa que nos valha. Para, ainda por cima, sermos despejados em estradas que estão em estado de conservação e traçado completamente escandaloso e incompatíveis com qualquer coluna civilizada por muito resistente que seja.

E não vale a pena argumentar que o alargamento da pista do Pico está contemplado no plano médio prazo. Porque isso não passa de uma declaração de intenções da mesma forma que o bloco cirúrgico estava previsto no projecto inicial e nas declarações dos responsáveis e, depois, foi sub-repticiamente retirado. E não fora ter-se detectado esse «truque», a tempo, e não teria sido simplesmente feita uma valência que o tempo se encarregará de demonstrar como é importante para a ilha.

Portanto um novo modelo de actuação política poderá estar lançado no Pico se houver essa vontade e algumas repreensões partidárias não vieram refrear, afinal, os nossos ânimos que pareceram ter surgido neste ano de ressurgimento autárquico do PSD no Pico. Mas, em qualquer caso, alguma coisa se terá passado ao nível de subserviência – atenta, veneradora e obrigada – que tem caracterizado, ao longo dos anos, as hostes picoenses daquele partido. o que quer que seja, esperemos que se mantenha.

E já agora uma cunha para a Comissão Política de Ilha do Pico do PSD: apliquem o que aprenderam nesses novos voos a todas as outras coisas que são supostas fazer ou que já deveriam ter sido feitas e que nunca se fizeram.


P E D R O  D A M A S C E N O