terça-feira, maio 24, 2005

Maremotos silenciosos


É tempo de agir
Jamie Drummond




Maremotos silenciosos


Ainda está bem presente na memória de todos nós o maremoto que devastou grandes áreas do sudoeste asiático e trouxe imagens trágicas de sofrimento e terror.

Imagens que desencadearam um grande movimento de solidariedade mundial e nacional, atestando a nossa capacidade de identificação com os outros e de sermos capazes de ser generosos em causa alheia.

E esse momento – único - poderá tornar possíveis grandes mudanças. A confluência de circunstâncias políticas e o aparecimento de fortes movimentos populares proactivos determinaram dinâmicas que podem levar os políticos a dar novos e ousados passos.

“Com cerca de 0,5% da riqueza colectiva, os cidadãos das nações desenvolvidas poderão – num prazo de 10 anos – assegurar a frequência de escola primária de todas as crianças do planeta, abastecer de água potável um bilião de pessoas, vencer a sida, a tuberculose e a malária e fazer baixar para metade a fome no globo!”

De facto, enquanto respondemos com tanta generosidade ao último desastre televisionado em directo, ignoramos verdadeiros maremotos silenciosos como são a extrema pobreza que provoca a morte a 30.000 crianças por dia ou as 6.000 pessoas que morrem, também por dia, de sida em África.

Ao mesmo tempo que ocorrem verdadeiras insanidades como é o caso da política agrícola comum da Europa ou da carta americana da agricultura que subsidiam uma produção agro-industrial excessiva colocando esses produtos de falso baixo preço em países não industrializados, pondo em causa os produtores locais.

Tecnicamente a extrema probreza que ainda, hoje, se vive em grandes áreas do globo é evitável e solucionável desde que haja a necessária vontade política e os nossos líderes se convençam que começou uma nova era de solidariedade global. O que faz perfeito sentido quando tanto se fala de globalização, a propósito de tudo e de nada.

E - mesmo para aqueles menos sensíveis aos argumentos da compaixão, da justiça e da sustentabilidade do ambiente - há argumentos de sobra para que mudem a sua atitude. Como é a situação incontornável de ser, precisamente, a extrema pobreza que leva a práticas insustentáveis para o ambiente com consequências que, em última análise, nos vêm cair à porta.

E são, também, as nações mais pobres e fracas que se tornam mais susceptíveis à falência do próprio estado com a consequente “tomada do poder” pelos traficantes de drogas, de armas e de todo tipo de extremistas. Abrindo a porta a conflitos militares e políticos que criam a destabilização e o clima propício ao terrorismo.

A sida, a tuberculose,a malária e a extrema pobreza são verdadeiros maremotos silenciosos que, sem as honras de directos em todas as televisões, atingem o nosso mundo de conforto com uma gravidade de proporções catastróficas, ainda que de forma bem mais insidosa.

Mais do nunca é indispensável actuar localmente mas pensar globalmente. O nosso destino está cada vez mais ligado ao que se passa no mundo seja em Nova Iorque, Bagdade ou Medelin. As repercussões no nosso dia a dia são, crescentemente, evidentes. Não vale a pena esconder o sol com a peneira.

É tempo de agir.




P E D R O D A M A S C E N O