sexta-feira, dezembro 30, 2005

A guerra dos crucifixos

A guerra dos crucifixos


Durante dias vários articulistas de diferentes jornais dissertaram sobre o episódio da proibição da presença de um crucifixo numa escola portuguesa!

E quase todos concordaram que se tratou de um excesso de zelo e de uma interpretação, extremamente restritiva, da lei. Para além de que a cruz – sendo um símbolo religioso – não deixa, por esse facto, de ter uma enorme carga histórica para Portugal.

E o estado, por muito laico que seja, não deve, por via desse estatuto, ignorar que a maioria dos portugueses ainda se identificam como católicos – pese embora o carácter meramente tradicional e quase nada profundo da sua crença.

Facto que não devendo, em nada, condicionar o estado e o estatuto de igualdade de todos os cidadãos perante a lei, não deve – por outro lado – ser ignorado como se uma vergonha se tratasse.

E qualquer político, também por muito laico que seja (e deve sê-lo no exercício das suas funções), deverá saber respeitar, na íntegra, os seus constituintes e suas convicções, sejam elas profundas ou não.

E não será, certamente, a presença, de um crucifixo na parede de uma escola que virá atestar ou não a imparcialidade do estado ou o seu respeito da lei. Sobretudo se tal presença não representar mais do que um testemunho avulso de uma tradição religiosa.

Não será por aí que virá qualquer mal ao mundo.

De onde poderá vir muito mal ao mundo são os fenómenos de crescente radicalização religiosa, sejam eles provenientes do mullahs islâmicos do Irão, das comunidades protestantes super conservadoras dos Estados Unidos ou dos judeus ortodoxos dos guetos de Israel.

Tudo farinha do mesmo saco.

Gente que confunde tudo e que, numa auto proclamada representação de Deus, diz – em contravenção com os mais elementares conhecimentos científicos e práticas civilizadas – os maiores disparates e comete as mais sanguinárias atrocidades.

E não estando, propriamente, debaixo das nossas camas não andam lá muito longe. Sobretudo neste mundo globalizado em que as pessoas se deslocam por todo lado com a maior facilidade (Madrid, Londres, Nova Iorque).

Sendo essas práticas ditas religiosas – e não propriamente as religiões que dizem confessar – o verdadeiro inimigo dos estados laicos e da igualdade dos cidadãos perante a lei.

Não um simples crucifixo pendurado na parede de uma escola portuguesa que, provavelmente, não terá mais significado do que a maior parte das cruzes de ouro que vemos, todos os dias, pendurados nos mais inverosímeis pescoços!

O combate tem mesmo é que ser dirigido contra todo o tipo de extremismo religioso. Uma combate sem quartel que passa, principalmente, por uma luta empenhada contra todas as exclusões e desigualdades que são, ao fim e ao cabo, o seu nutriente principal.

Porque numa sociedade (verdadeiramente) livre, fraterna e igualitária não há lugar nem pretextos para extremismos.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Envelhecer para quê?

Envelhecer para quê?

Neste princípio de século a obsessão com a longevidade tornou-se num verdadeiro paradigma, um objectivo supremo. E a morte uma inimiga que se deve fintar a qualquer custo.

Curiosamente essa mesma morte que nasce connosco e que apenas nos larga quando cumpre a sua missão!

E é, justamente, nesta sociedade em que se estimula o culto da longevidade, da vaidade física e do terror da morte que se desvalorizam os idosos.

Á medida que aumenta a esperança de vida ao nascer aumenta, obviamente, o número de idosos. Idosos que, em número crescente, não conseguem usufruir a velhice em ambiente familiar e com real qualidade de vida.

Tendo que demandar lares que jamais lhe poderão proporcionar a atenção e o afecto de que necessitam. Instituições que, no entanto, preenchem lacunas gritantes e que fazem, em grande parte dos casos, um trabalho inestimável.

Uma sociedade que valoriza, cada vez mais, a longevidade e, cada vez menos, os idosos. Uma contradição flagrante e que torna os grandes investimentos feitos na saúde, sobretudo, na área da geriatria contraproducentes!

O estado de arte a que muitos cuidados médicos chegaram e que permitem prolongar vidas - de forma impensável há poucos anos - não consegue, afinal, assegurar aquilo que verdadeiramente interessa: a qualidade de vida.

E aqueles que, pela sua experiência e sabedoria acumuladas, deveriam ser a nata da nossa sociedade tornam-se, em termos práticos, empecilhos. Não só pelos vultuosos montantes de pensões que determinam mas pela chatice que representam.

Uma sociedade que valoriza a competição desenfreada e a eterna beleza (cirurgias plásticas, depilações, liposucções, etc) de capa de revista torna a velhice, em que investe tanto dinheiro, numa “inutilidade” consentida.

Sendo certo que um pôr-do-sol pode ser tão belo como o seu nascer, dificilmente se compreende porque se persegue a eterna juventude e se procura ocultar a idade. Será porque a velhice faz lembrar, mais, a morte?

A idade é um sinal de experiência, de milhas passadas. Que implica, inevitavelmente, menor vigor físico mas que proporciona, em contrapartida, um insubstituível acumular de saber. Um capital humano que civilizações milenares souberam aproveitar.

Mas no tempo do fast-food e do fast-tudo não há tempo nem paciência para “aturar” velhos que deveriam, como tudo, ser descartáveis. “Velhos” em que se investiram vultuosos recursos para afinal serem empurrados para o canto.

Sem desvalorizar as acções de animação e de ocupação dos tempos livres dos idosos que se tem vindo a por em prática, não deixam de ser actividades que ocorrem, essencialmente, à margem da sociedade dita activa.

A verdadeira qualidade de vida dos idosos só poderá ser atingida quando foram considerados parte integrante e activa da sociedade, em contacto permanente com todos os grupos etários nomeadamente com crianças e jovens.

Crianças e jovens para cuja educação deveriam contribuir de forma decisiva e não serem apenas os “cotas” que se toleram. Educação que não é sinónimo de instrução e terá sempre que caber, em primeiro lugar, às famílias e, dentro destas, obviamente, a quem mais experiência e saber detêm.

Mal vai uma civilização que não “tira” o máximo proveito dos seus idosos e não os considera uma referência central e um recurso inestimável. Dando-lhes um merecido papel activo que os mantenha vivos, muito para além do bater do coração e do tomar o folgo.

Doutro modo, envelhecer para quê?


PE DRO DAMASCENO

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Exibicionismos





E X I B I C I O N I S M O S


Os recentes episódios mediáticos que rodearam o caso da troca de beijos entre duas adolescentes homosexuais numa escola de Vila Nova de Gaia, bem podem servir de mote para algumas situações que se vivem nas escolas.

É diário encontrar nas nossas escolas secundárias cenas de beijos de língua prolongados e acompanhados de “esfreganços” despudorados, a qualquer hora e qualquer lugar incluindo halls de entrada, corredores etc.

Perante a complacência de contínuos, professores e conselhos directivos que, pelos vistos, não se querem arriscar a ter chatisses. E chatisses é o que ninguém quer neste país, assumidamente, na cauda da Europa.

E, assim, se passou - em pouco de 20 anos - de um extremo ao outro. De um opressivo obscurantismo sexual e de costumes para uma promiscuidade chocante. Sem que pelo meio tivesse havido qualquer tentativa consistente e sustentável de formação e esclarecimento.

E a escola tem vindo, progressivamente, a servir de palco a exibicionismos e comportamentos desviantes. Porque não lembra, nem ao diabo, que escolas que têm alunos a partir dos 10 anos não se preocupem em assegurar comportamentos adequados a um local de ensino.

Não estando em causa, nem por um segundo, o direito dos jovens a uma sexualidade livre e saudável (base indispensável para uma vida equilibrada) não se pode aceitar que – nem ao nível da escola – esse jovens sejam devidamente orientados para comportamentos cívicos e sociais aceitáveis e adequados.

Tudo sem o seu lugar e o seu tempo.

Faz tanto sentido que jovens se beijem e se acariciem despudoradamente na escola como os funcionários da câmara municipal façam o mesmo, publicamente, nas horas de serviço. Ou, como escrevia um cronista, dois militares o façam na parada do quartel!

Há coisas na vida que têm, apenas, a ver com bom senso e equilíbrio. Se há trinta anos, no calor da revolução, ainda se poderiam compreender certos excessos não faz, hoje, nexo que se tolerem situações que não fazem qualquer sentido num quadro democrático e de liberdade.

O sexo é, indiscutivelmente, uma área central da nossa vida íntima. Uma área em que cada um tem que procurar o seu caminho e inclinação – em total liberdade e responsabilidade. Mas, também por isso mesmo, uma área que não se pode impôr a ninguém.

Os pais que mandam os seus filhos de tenra idade para uma escola deveriam ter a garantia de que, ao menos dentro da escola, eles não fossem confrontados com práticas exibicionistas que, inevitavelmente, lhe criarão modelos e referências mais do que discutíveis.

E já agora votos de que a educação sexual passe a fazer, de facto, parte dos curriculos escolares. E de que a pedagogia e o saber substituam o filme pornográfico, único material “didáctico” de que os jovens, verdadeiramente, dispõem.


P E D R O D A M A S C E N O