sexta-feira, dezembro 16, 2005

Envelhecer para quê?

Envelhecer para quê?

Neste princípio de século a obsessão com a longevidade tornou-se num verdadeiro paradigma, um objectivo supremo. E a morte uma inimiga que se deve fintar a qualquer custo.

Curiosamente essa mesma morte que nasce connosco e que apenas nos larga quando cumpre a sua missão!

E é, justamente, nesta sociedade em que se estimula o culto da longevidade, da vaidade física e do terror da morte que se desvalorizam os idosos.

Á medida que aumenta a esperança de vida ao nascer aumenta, obviamente, o número de idosos. Idosos que, em número crescente, não conseguem usufruir a velhice em ambiente familiar e com real qualidade de vida.

Tendo que demandar lares que jamais lhe poderão proporcionar a atenção e o afecto de que necessitam. Instituições que, no entanto, preenchem lacunas gritantes e que fazem, em grande parte dos casos, um trabalho inestimável.

Uma sociedade que valoriza, cada vez mais, a longevidade e, cada vez menos, os idosos. Uma contradição flagrante e que torna os grandes investimentos feitos na saúde, sobretudo, na área da geriatria contraproducentes!

O estado de arte a que muitos cuidados médicos chegaram e que permitem prolongar vidas - de forma impensável há poucos anos - não consegue, afinal, assegurar aquilo que verdadeiramente interessa: a qualidade de vida.

E aqueles que, pela sua experiência e sabedoria acumuladas, deveriam ser a nata da nossa sociedade tornam-se, em termos práticos, empecilhos. Não só pelos vultuosos montantes de pensões que determinam mas pela chatice que representam.

Uma sociedade que valoriza a competição desenfreada e a eterna beleza (cirurgias plásticas, depilações, liposucções, etc) de capa de revista torna a velhice, em que investe tanto dinheiro, numa “inutilidade” consentida.

Sendo certo que um pôr-do-sol pode ser tão belo como o seu nascer, dificilmente se compreende porque se persegue a eterna juventude e se procura ocultar a idade. Será porque a velhice faz lembrar, mais, a morte?

A idade é um sinal de experiência, de milhas passadas. Que implica, inevitavelmente, menor vigor físico mas que proporciona, em contrapartida, um insubstituível acumular de saber. Um capital humano que civilizações milenares souberam aproveitar.

Mas no tempo do fast-food e do fast-tudo não há tempo nem paciência para “aturar” velhos que deveriam, como tudo, ser descartáveis. “Velhos” em que se investiram vultuosos recursos para afinal serem empurrados para o canto.

Sem desvalorizar as acções de animação e de ocupação dos tempos livres dos idosos que se tem vindo a por em prática, não deixam de ser actividades que ocorrem, essencialmente, à margem da sociedade dita activa.

A verdadeira qualidade de vida dos idosos só poderá ser atingida quando foram considerados parte integrante e activa da sociedade, em contacto permanente com todos os grupos etários nomeadamente com crianças e jovens.

Crianças e jovens para cuja educação deveriam contribuir de forma decisiva e não serem apenas os “cotas” que se toleram. Educação que não é sinónimo de instrução e terá sempre que caber, em primeiro lugar, às famílias e, dentro destas, obviamente, a quem mais experiência e saber detêm.

Mal vai uma civilização que não “tira” o máximo proveito dos seus idosos e não os considera uma referência central e um recurso inestimável. Dando-lhes um merecido papel activo que os mantenha vivos, muito para além do bater do coração e do tomar o folgo.

Doutro modo, envelhecer para quê?


PE DRO DAMASCENO

2 comentários:

oextase disse...

Que é envelhecer? Essa deveria ser a primeira pergunta da vida,pois todo o processo é nessa direção. Quando a idade chega tida como velhice derruba os valores, a força física. a visão , e outros orgãos, mas não se torna necessário derrubar a alma. Uma Idéia me acompanha , deveriam as autoridades criarem lugares tipo um município para idosos, ohde alí os velhos poderiam produzir os seus ultimos momentos da vida com mwnos sofrimwnto.Nuito Bom. Feliz Festas são os votos de http:oextase.blogspot.com

Anónimo disse...

e a instrução tambem deve ser continua. Por isso, creio que quando escreveu "folgo" queria dizer "folego".